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Mapa 2 – Divisão político-administrativa do Rio Grande do Norte

4.4 Qualidade da urbanização

Antes de tratar de forma mais específica das variáveis que indicam a qualidade da urbanização de Pau dos Ferros, achamos por bem trazer algumas informações sobre a qualidade de vida de sua população. Atualmente o índice mais utilizado e aceito inclusive no âmbito internacional é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) calculado pelo Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD), tanto para o país como um todo, como também para estados e municípios. No nosso caso traremos o IDH-M, Índice de Desenvolvimento Humano para os Municípios65.

O Atlas do Desenvolvimento Humano (PNUD, 2013) aponta que o (IDH-M) de Pau dos Ferros em 2010, foi 0,678, índice que situa o município na faixa de IDH considerada IDH Médio (entre 0,6 e 0,699). No Rio Grande do Norte, Pau dos Ferros ocupa a 10ª posição, o maior IDH-M do Rio Grande do Norte é do Município de Parnamirim (0,766) seguido por Natal (0,763); os municípios de Mossoró e Caicó também apresentam IDH-M superior a 0,700 (0,720 e 0,710, respectivamente), portanto estão na faixa considerada alta. Os outros 05 municípios que apresentaram IDH-M superior a Pau dos Ferros (São José do Seridó, Currais Novos, Areia Branca, Ipueira e Acari) também estão na faixa média com índices um pouco acima ao de Pau dos Ferros, os demais 157 municípios apresentaram IDH-M inferior.

Entre 2000 e 2010, a dimensão que mais cresceu em termos absolutos foi a Educação (com crescimento de 0,143), seguida por Renda e por Longevidade. A tabela 19 traz a evolução dos componentes do IDH-M de Pau dos Ferros entre os anos de 2000 e 2010.

Apesar de ter sido a dimensão que mais cresceu no período, o IDH Educação ainda é o menor entre os três componentes do IDH-M, o que devido ao seu peso na composição do índice, faz com que o IDHM pauferrense fique abaixo de municípios menores e que apresentam o IDH renda e longevidade menor que Pau dos Ferros, como Areia Branca, Ipueira e Acari.

65 O último relatório (2013) traz inclusive a comparação entre os anos de 1991, 2000 e 2010. No

Tabela 19 - Pau dos Ferros – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e seus componentes (2000-2010) IDH/componentes 2000 2010 IDH-M 0,584 0,678 IDH-Educação 0,441 0,584 IDH-Renda 0,602 0,666 IDH-Longevidade 0,752 0,803

Fonte: PNUD (2013). Elaboração da autora.

Tomando como referência a apropriação da renda por estratos da população (Tabela 20), podemos observar que as alterações são mínimas entre 2000 e 2010, apesar de uma pequena queda na fatia apropriada pelos 20% mais ricos, eles ainda se apropriam de mais de 58% da renda em 2010, enquanto os 20% mais pobres mesmo tendo aumentado sua fatia, ficam apenas com 3,49% da renda. Na verdade esta não é apenas uma realidade de Pau dos Ferros, se tomarmos os dois municípios com o maior IDH-M do Rio Grande do Norte, Parnamirim e a capital Natal, ambos na RMNatal, a renda apropriada pelos 20% mais pobres é 2,96 e 2,29, respectivamente; por outro lado, os 20% mais ricos de Parnamirim se apropriam de 59,7 e os de Natal de 68,38. (PNUD, 2013).

Tabela 20 - Pau dos Ferros – Porcentagem da renda apropriada por estratos da população (2000-2010) Extratos de renda 2000 2010 20% mais pobres 2,88 3,49 40% mais pobres 9,51 11,05 60% mais pobres 20,85 22,82 80% mais pobres 38,91 41,13 20% mais ricos 61,09 58,87

Fonte: PNUD (2013). Elaboração da autora.

Apesar de pequena, a redução da renda apropriada pelos mais ricos e o

aumento da participação dos extratos mais pobres observada na análise por extratos de renda se confirma na queda do índice de Gini, indicador tradicional que mede a concentração de renda. De acordo com os dados do PNUD, o índice de Gini passa de 0,57 para 0,54 entre 2000 e 2010.

Nesse período a renda per capita (calculada em R$ de agosto de 2010) cresceu 67%. Outros indicadores sociais importantes como o percentual de pobres e

de pessoas que vivem na extrema pobreza diminuíram, do que se pode denotar que os rendimentos em 2010, mesmo que ainda concentrados, foram melhor distribuídos que em 2000. (Tabela 21, a seguir)

Tabela 21 - Pau dos Ferros – Renda, Pobreza e Desigualdade (2000-2010)

Indicadores 2000 2010

Renda per capita (R$) 338,63 504,82

% de extrema pobreza 15,38 6,13

% de pobres 37,63 19,54

Índice de Gini 0,57 0,54

Fonte: PNUD (2013). Elaboração da autora.

Apesar do destaque como centro regional e do crescimento econômico e social verificado na última década, a cidade de Pau dos Ferros ainda apresenta problemas internos que criam gargalos a um maior desenvolvimento socioeconômico e ao bem-estar da população que ali reside. Apesar de sua população estar concentrada na zona urbana, a cidade não apresenta uma divisão territorial do trabalho diversificada, estando a maioria dos trabalhadores concentrados nos setores de comércio e serviços.

A problemática em questão reflete a fragilidade desse município em relação a centros maiores representada pela dependência de transferências constitucionais de recursos, como o FPM, dada a carência do desenvolvimento de estratégias econômicas de atração de investimento e geração de emprego e renda e a falta de capacidade de produzir sua própria receita, bem como a vulnerabilidade das políticas públicas.

Os dados do DATASUS, apresentados por Dantas e Praxedes (2010), apontam para a existência de problemas estruturais e sociais em diversas áreas, bem como a diferenciação entre os bairros, o que influencia no perfil socioeconômico das pessoas que habitam este ou aquele espaço, o mesmo ocorrendo com os serviços que se deslocam de acordo com as classes de renda de um ou outro local.

Nessa pesquisa, as autoras trabalham com 04 bairros, 02 bairros considerados de classe média alta (Princesinha do Oeste e Nações Unidas) e dois bairros onde moram a população de baixa renda (Riacho do Meio e Manoel Deodato). Um dos aspectos que mostra essa diferenciação entre os bairros é o tipo de habitação existente nos bairros selecionados. Vejamos o gráfico 11 a seguir.

Gráfico 11 – Tipos de habitação existentes em Pau dos Ferros e bairros selecionados

Fonte: Dantas e Praxedes (2010)

O gráfico 11 comprova a existência de casa de taipas no município (cerca de 3%), concentradas em dois bairros periféricos da cidade, Riacho do Meio (1%) e conjunto habitacional Manoel Deodato (24%).

De acordo com os dados da pesquisa, a maioria dessas casas de taipa foi construída às margens do Rio Apodi-Mossoró, no bairro Manoel Deodato, ou próximo ao Açude 25 de Março, localizado no Riacho do Meio, em ruas não asfaltadas. Algumas não possuem sequer banheiros e sanitários e muitas vezes quando possuem são banheiros improvisados feitos e revestidos com material aproveitado (palhas, madeiras, pedaços de pau e outros), sem sanitário, com fezes e urinas sendo jogados a céu aberto, causando vários prejuízos a sua saúde e ao meio ambiente (DANTAS; PRAXEDES, 2010)

O gráfico 12 mostra a distribuição da rede de esgoto na cidade, o que comprova a problemática aqui levantada, haja vista retratar um problema básico que há muito deveria estar extinto dos problemas do urbano em nosso país e, hoje, se vê relatado quase que extensivamente no campo de nossas análises.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Nações Unidas Princesinha do Oeste

Riacho do Meio Manoel Deodato Pau dos Ferros

100% 100% 98.66% 75.55% 97.08% 0% 0% 0% 0% 0.27% 1.08% 4.50% 0.58% 19.71% 2.29% 0.03%

Gráfico 12 – Destino do esgoto em Pau dos Ferros e bairros selecionados

Fonte: Dantas e Praxedes (2010)

A deficiência na oferta de saneamento básico no município demonstra a vulnerabilidade vivenciada pela população residente, na medida em que apenas 12,82% das residências possuem sistema de esgotos, sendo as fossas o destino mais comum dos dejetos.

Ainda em relação ao sistema de esgotos, podemos observar a diferenciação entre os bairros, no conjunto Princesinha do Oeste estão localizadas 70% das residências ligadas ao sistema de esgoto em Pau dos Ferros. Entretanto, nesse caso, observamos que o bairro Nações Unidas, apesar de ser habitado por pessoas de poder aquisitivo considerado médio e médio alto para os parâmetros da cidade, não conta com nenhuma residência ligada ao sistema de esgoto, assim como não tinha, em 2010, nenhuma rua pavimentada.

Já em relação ao destino do lixo, apesar da coleta ser feita em sua maioria pela rede pública, cerca de 96,16%, o lixo recolhido é depositado em um local na zona rural, próximo à cidade, sem as devidas condições de tratamento (DANTAS; PRAXEDES, 2010). Além desses problemas, o “lixão” situa-se nas proximidades de riachos e pequenos açudes, com pessoas residindo em suas redondezas e com crianças e adultos catadores de lixo expostos a todos os problemas decorrentes de tal situação. Esse fato foi constatado pelo IICA (2006, p. 41), segundo o qual, “[...] os lixões a céu aberto, localizados nas imediações da cidade inscreveram-se na

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Nações Unidas Princesinha do Oeste

Riacho do Meio Manoel Deodato Pau dos Ferros 0% 56.37% 0.67% 22.26% 12.82% 100% 43.50% 95.56% 66.55% 84.38% 0% 0.13% 3.76% 11.19% 2.80%

paisagem constituindo uma agressão ao meio ambiente e à qualidade de vida da população que habita nas proximidades”.

O abastecimento de água é realizado em sua maioria pela rede pública 99,88%. Nos bairros Princesinha do Oeste e Nações Unidas todas as casas possuem o abastecimento de água ofertado pela rede pública; no Manoel Deodato e no Riacho do Meio ainda existem residências abastecidas por poços e nascentes ou utilizam outros meios para obter a água para o seu consumo, esse número apesar de pequeno, preocupa, pois são quase 50 casas, utilizando água de fontes não tratadas.

Já o número de pessoas de 15 anos e mais alfabetizadas, é mais elevado nos bairros Nações Unidas e Princesinha e menor nos bairros Manoel Deodato e Riacho do Meio. Na cidade, em sua totalidade, esses dados chegam a mais de 88%, conforme gráfico 13.

Gráfico 13 – População de 15 anos e mais alfabetizadas em Pau dos Ferros e bairros selecionados

Fonte: Dantas e Praxedes (2010)

Os dados obtidos referentes à saúde na cidade demonstram que há uma maior procura pelo atendimento público. De acordo com DATASUS (2009), o número de pessoas cobertas com plano de saúde privado é muito pequeno (4,02%). Nos conjuntos habitacionais Princesinha do Oeste e Nações Unidas se destacam

0.00% 10.00% 20.00% 30.00% 40.00% 50.00% 60.00% 70.00% 80.00% 90.00% 100.00%

Nações Unidas Princesinha do Oeste

Riacho do Meio Manoel Deodato

Pau dos Ferros 96.72%

93.13%

84.84%

73.14%

por apresentar uma maior quantidade de pessoas que usufruem do sistema privado de saúde, cerca de 7,19% e 5,20% respectivamente estando acima da média da cidade que é de cerca de 4,2%. Em contrapartida, nos bairros Riacho do Meio e Manoel Deodato, o número de pessoas que usufruem desse serviço é quase insignificante, aproximadamente 0,97% no primeiro e 0% no segundo.

Diante disso, observa-se que a cidade de Pau dos Ferros vem passando por um rápido crescimento econômico com uma elevada arrecadação do PIB, crescimento da malha urbana, setor terciário em fase de crescimento e se destacando cada vez mais na região em que se insere, mas o que se percebe também é que esse crescimento econômico não está sendo acompanhado pelas devidas melhoras sociais, como uma divisão equitativa da renda, que proporcione à população o acesso a uma educação, saúde e moradia de qualidades, além de lazer e manifestações culturais. Vale salientar que a atuação por parte do poder público para tentar solucionar os problemas existentes são insuficientes, e isso contribui para que esses problemas sociais e espaciais ainda permaneçam.

5 A CIDADE MÉDIA INTERIORIZADA: PAU DOS FERROS NO