• Nenhum resultado encontrado

Mapa 2 – Divisão político-administrativa do Rio Grande do Norte

4.1 A rede urbana do Rio Grande do Norte

No Rio Grande do Norte, as desigualdades intrarregionais refletem-se na concentração dos investimentos em algumas áreas, mais especificamente, em dois polos: o litoral oriental, que além de sediar a capital, conta com as atividades turísticas, industriais e comerciais, e a região de Mossoró, com a agricultura irrigada e a indústria extrativa (petróleo e sal). Enquanto isso, nas áreas não competitivas “são as aposentadorias e as transferências governamentais (FPM e ICMS) que movimentam a economia local” (CLEMENTINO, 2003, p.398).

Nessa situação, encontra-se a grande maioria dos 167 municípios que compõem o estado. Destes municípios, um número significativo foi criado no século XX. “Em 1950, o RN contava com 48 municípios, elevando-se em 1960 para 83 e em 1970, para 150. Entre 1970 e 1990 apenas mais um município foi criado” (CLEMENTINO, 1995, p. 159). Os 16 municípios restantes foram criados na década

de 1990, como resultado da Constituição de 1988, que “estabeleceu critérios pouco rígidos para a emancipação de distritos e criou atrativos como o Fundo de Participação dos Municípios sem exigir contrapartidas em serviços a ser prestado à população local” (CLEMENTINO, 1997, p. 5).

O resultado dessa expansão é o desenfreado processo de criação de cidades45 que tem levado ao desequilíbrio socioeconômico e populacional do estado evidenciado em algumas regiões menos favorecidas.

Vale destacar que dos 167 municípios potiguares, 147 (93,4%) estão localizados no semiárido. De acordo com Araújo e Lima (2009), o Rio Grande do Norte, por ser o estado com maior parte da sua área no semiárido, é o exemplo mais claro da desigualdade entre o Nordeste semiárido e o Nordeste fora do semiárido. Em termos de concentração espacial do PIB, “No Rio Grande do Norte, 43,2% das riquezas geradas pelo estado ficam na região semiárida. [...] os outros 56,8% da produção ficam em uma área correspondente a apenas 6% do território potiguar” (ARAUJO; LIMA, 2009, p. 53).

O Alto Oeste Potiguar é um desses casos. Encravado no semiárido, distante física e politicamente da capital não desenvolve atividades capazes de lhe garantir sustentação econômica e muito menos qualidade de vida para sua população. Segundo Bezerra (2008), esta região é a que concentra mais cidades por quilômetro quadrado no estado. Fato reiterado pela própria distância entre uma cidade e outra no Alto Oeste, que é em torno de 20 km, conforme exposto no mapa 2.

A rede urbana na região em análise apresenta irregularidades tal qual àquelas apontadas nas redes urbanas do Nordeste (CANO, 1989; IBGE, 2008) e do Rio Grande do Norte (CLEMENTINO, 1995). Costa (2010) destaca que a região Nordeste é a que detém o maior número de municípios com menos de 50 mil habitantes, 1.631 dos 1.793 municípios, o que equivale a mais de 90% dos municípios nordestinos. No Rio Grande do Norte, essa situação se agrava, 101 dos 167 municípios têm menos de 10 mil habitantes, e apenas 27 municípios tem mais de 20 mil habitantes (IBGE, 2010)

A maioria desses municípios tinha como base econômica a agricultura, em especial a cultura algodoeira, e, após a crise do algodão nos anos 1970, não surgiram novas atividades agrícolas ou industriais que lhe dessem sustentação.

Esse fato pode ser comprovado, inclusive, pela redução da participação do PIB do Alto Oeste na composição do PIB estadual de 4,42 em 1999 para 3,95 em 2002, neste mesmo ano a participação do setor de serviços no PIB foi de 75,54%. (IICA, 2006).

De uma forma geral podemos afirmar que a dinâmica econômica recente não contribuiu para uma desconcentração da riqueza ou melhoria da rede urbana, ao contrário, Clementino (2003) destaca que essa dinâmica reforça uma urbanização fortemente concentradora e polarizada que explicita sempre as mesmas cidades.

De acordo com a autora, as transformações ocorridas de forma seletiva pouco contribuíram para corrigir distorções na fragmentada e dispersa rede urbana potiguar. As relações econômicas e funcionais entre a Grande Natal e o hinterland potiguar se dão sobre forte liderança de Natal, devido sua importância econômica e concentração dos serviços públicos. Os indicadores referentes à concentração da população urbana atestam o papel de centro polarizador desempenhado historicamente pela capital do Estado. Segundo Clementino (2003, p. 400-401)

Em 1960, 62% da população do RN residia em área rural; em 1970, mais de 50% da população residia em áreas, vilas ou cidades com menos de 20 mil habitantes, com a singularidade de que dos 49% residentes em municípios com mais de 20 mil habitantes, 34,9% estavam concentrados em Natal e 10,8% em Mossoró. [...] Em 1991, a população rural é muito pequena e não há indícios de modificações na rede urbana do interior. Natal, sozinha, concentra 36,3% do Estado e o aglomerado urbano de Natal, 41,7% que acrescidos à população urbana de Mossoró, que é de 11,5%, somam 53,2%.

Ainda de acordo com Clementino (2003), os dados referentes ao Censo 2000 apontam uma pequena desconcentração relativa o município de Natal que reduz sua participação na população urbana do RN de 36,3% para 34,9% entre 1991 e 2000; entretanto o seu aglomerado urbano aumenta participação de 41,7% para 45,1% no período, e quando somados à população urbana de Mossoró (9,7%) passa para 54,8%.

Os dados do Censo 2010 reforçam a concentração da população potiguar na capital do Estado e no seu entorno. O maior crescimento populacional em termos absolutos se deu em Natal (712.317 em 2000 para 785.722 em 2010), seguido por Parnamirim (124.690 em 2000 para 195.274 em 2010). Importante registrar que

todos os municípios da região metropolitana registraram crescimento em sua população. Em contraposição, 41 municípios potiguares tiveram sua população reduzida, dentre eles municípios como Angicos localizado na Região Agreste, e Santana do Matos e Acari, no Seridó; o caso mais grave foi do município de Severiano Melo, localizado na região do Alto Oeste que, em 2000, tinha uma população de 10.579 habitantes e, em 2010, conta com apenas 5.752, uma redução de quase metade da população (IBGE, 2010).

Em termos de população urbana, a desconcentração relativa da população urbana de Natal verificada na década de 1990, continuou no período 2000-2010 (34,9% para 32,60%); entretanto, ao verificar seu aglomerado urbano, houve aumento de 45,1% para 49,30%, o que somado à população urbana de Mossoró (8,21%), chega a 58,92%, índice superior a 2000 (IBGE, 2010).

Em termos de crescimento econômico, Freire (2011a) aponta que o Rio Grande do Norte tem apresentado índices de crescimento do PIB (inconstantes) quando comparados à média de crescimento do PIB nacional e regional. “Vemos que entre 1996 e 2002 o RN cresceu sempre a uma taxa superior. No período seguinte esse crescimento ocorreu apenas em dois anos (2006 e 2009)”. (ver gráfico 4, a seguir).

Gráfico 4 – Taxa anual média de crescimento Real do PIB (% a.a.)

Fonte: Freire (2012, p.29)

Na distribuição espacial, apesar de Natal ter reduzido sua participação no PIB estadual, de 43,25% em 1999 para 37,16% em 2009, os ganhos continuaram concentrados nos municípios da Região Metropolitana e na região produtora de

petróleo. De acordo com Freire (2011b), os ganhos ficaram restritos principalmente aos 5 maiores PIBs municipais depois de Natal. Mossoró, Parnamirim, Guamaré, São Gonçalo do Amarante e Macaíba ampliaram sua participação de 18,95% em 1999 para 27% em 2009. Enquanto isso, o conjunto dos demais 161 municípios oscila entre 35% e 39% nesse mesmo período.

Importante ressaltar que apesar dessa concentração da dinâmica produtiva e populacional, a rede urbana potiguar conta com quatro centros intermediários, que desenvolvem atividades menos complexas, mas que desempenham importante papel para os municípios que se encontram no entorno, principalmente na prestação de serviços básicos como educação e saúde e ao comércio varejista; referimo-nos aqui aos centros classificados pelo IBGE como centros sub-regionais, são eles: Caicó e Pau dos Ferros (nível A); Assú e Currais Novos (nível B). 46

No gráfico 5, podemos ver a intensidade dos relacionamentos entre as cidades potiguares e os centros sub-regionais.

Gráfico 5 - Rio Grande do Norte - Intensidade de relacionamento com os centros sub-regionais (A e B) – REGIC (2007).

Fonte: IBGE (2008). Elaboração da autora.

46 A rede urbana potiguar, assim como o quadro comparativo dos centros urbanos potiguares, pode

ser visualizada no capítulo 2. 0 50 100 150 200 250 205 36 28 31 21 34 26 29 159 27 24 24 19 23 23 19 129 25 18 21 20 16 14 15 118 19 18 17 14 26 12 12

Com uma população de 27.733 habitantes, Pau dos Ferros pode ser caracterizado como um município eminentemente urbano, uma vez que mais de 92% de sua população reside em sua sede (IBGE, 2010).

Apesar de ter a menor dimensão populacional entre os centros do Rio Grande do Norte, Pau dos Ferros polariza uma região maior que Caicó, que também foi considerado pelo REGIC como centro sub-regional A. Essa polarização é mensurada pelo REGIC através dos relacionamentos entre os centros de zona e centros locais e os centros maiores (centros sub-regionais, capitais regionais, metrópoles)

Importante ressaltar que o destaque assumido por Pau dos Ferros nos relacionamentos com outras cidades deve-se em grande parte a sua localização às margens de duas rodovias federais (BR-405 e BR-226) e a proximidade das fronteiras da Paraíba e do Ceará.

Dantas e Silva (2011) destacam ainda que essa especificidade em relação aos demais centros sub-regionais, bem como a própria distância dos dois grandes centros do Estado (Natal e Mossoró) fazem com que haja grande convergência de pessoas em busca dos mais variados produtos e serviços em Pau dos Ferros.