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Qualificação da Intervenção e dos Interventores

I – A INSTITUCIONALIZAÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS EM PORTUGAL

Medida 2 Qualificação da Intervenção e dos Interventores

 Desenvolvimento de ações de formação para as Direções das Instituições e respetivas Equipas Técnicas e Educativas;

 Dotação de Planos de Supervisão para as Equipas Técnicas e Equipas Educativas;

 Construção/reformulação de instrumentos técnicos de suporte à intervenção.

O Plano DOM destina-se aos Lares de Infância e Juventude, com ou sem Acordo de Cooperação ou Gestão com o ISS, IP e esta enquadrado juridicamente no Despacho n.º 8393/2007, de 10 de Maio, que determina a criação do Plano DOM - Desafios, Oportunidades e Mudanças, de âmbito nacional, com o objetivo de implementar medidas de qualificação da rede de lares de infância e juventude. Em Portugal, pelo menos 8.938 crianças e jovens estão em situação de acolhimento institucional, ou seja, estão entregues aos cuidados de uma entidade, (Casa, 2011).

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1.4–SÍNTESE DO CAPÍTULO I

Privilegiando uma abordagem sociológica, a investigação começa por apresentar e discutir uma das vertentes paradoxais da família moderna. A representação da infância como tempo único do investimento e cuidados afetivos contrastam com a existência das práticas brutais de abuso e negligência contra as crianças. Não sendo um fato inédito a realidade violenta de algumas infâncias impõe-se, hoje (ao contrário do passado) como um problema relevante e socialmente intolerável, a sua visibilidade crescente atrai a atenção e o debate público. Nesse sentido, a história da infância surge como possibilidade para muitas reflexões sobre a forma como entendemos e nos relacionamos atualmente com a criança.

As alterações em relação ao cuidado com a criança ocorreram com maior visibilidade no século XVII, com a interferência dos poderes públicos e com a preocupação da Igreja em não aceitar passivamente o infanticídio. Durante este século surge nas classes dominantes, a primeira conceção real de infância. Os adultos passaram a preocupar-se com a criança, enquanto ser dependente de cuidados, a palavra infância passou assim, a designar a primeira fase da vida, ou seja a idade da necessidade de proteção, que perdura até aos dias de hoje. A mudança cultural, social, politica e económica sofrida ao longo do século XVIII, apontou para mudanças no interior da família e das relações estabelecidas entre pais e filhos. As crianças passam a ser educadas pela própria família, o que proporcionou o despertar de um novo sentimento por ela. A História carateriza o momento como o surgimento do sentimento de infância, (Martins, 2005).

Com a evolução nas relações sociais, ao longo do século XX, a criança passa a ter um papel central nas preocupações da família e da sociedade. A nova perceção e organização social fizeram com que os laços entre adultos e crianças, pais e filhos, fossem fortalecidos. A partir deste momento, a criança começa a ser vista como indivíduo social dentro da coletividade, passando a família a ter como preocupação central o cuidado com a sua saúde e educação. Tais elementos foram fatores imprescindíveis para a mudança de toda a relação social e familiar.

A família moderna é, portanto, uma «família educativa», na medida em que aposta na socialização escolar da criança. Esta torna-se uma das grandes prioridades das estratégias parentais, (Almeida e André, 1995).

45 Neste quadro envolvente percebe-se, os contornos por que passa a infância moderna. Neles surgem os traços de uma criança – mimo, amada pelos seus progenitores, que nela vêem encanto, doçura e ingenuidade. Ou de uma criança – aluna, que cresce e aprende na escola, onde os seus comportamentos são pedagogicamente moralizados, disciplinados e uniformizados. Uma criança - sujeito, que se desenvolve e progressivamente adquire a sua autonomia individual num jogo socializador entre a família e a escola. Uma criança bem - estar, a quem se asseguram formas de crescimento e desenvolvimento saudáveis. Uma criança – cidadã, protegida pelos adultos – educadores ou pelos poderes públicos nos seus direitos inalienáveis e nas suas várias formas de vulnerabilidade.

Autores como os historiadores De Mause ou Phillipe Àries, dramatizam as transformações sociais contemporâneas, que se repercutem ao nível da infância, assinalando a queda do reinado absoluto da criança, que passa a ser percepcionada como obstáculo à realização individual e conjugal. Opinião claramente distinta é a de Casas que descreve uma evolução social globalmente favorável à infância, o reconhecimento da sua importância e da especificidade de um tempo de desenvolvimento único, com a consequente responsabilização parental crescente, seriam reveladores de um interesse e de uma preocupação ímpares pela sua condição e pelos seus problemas, (Martins, 2005).

Com o surgimento desta nova perceção da infância aparecem também as primeiras instituições educacionais, permitindo a conceção de que os adultos compreenderam a particularidade da infância e a importância tanto moral como social e metódica das crianças em instituições especiais, adaptadas a essas finalidades. A primeira manifestação internacional em prol dos direitos das crianças e dos adolescentes deu-se em 1924, com a Declaração de Genebra. Entretanto 35 anos mais tarde, em 1959, surge a Declaração Universal dos Direitos da Criança, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, cujo principal objetivo era assegurar uma infância feliz, com direito à proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social, à alimentação, moradia e assistência médica adequados, ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade, direito de ser protegida contra o abandono e a exploração no trabalho, reconhecendo a necessidade de proteção das crianças, em virtude de sua imaturidade física e mental. Em 1961 a Academia Americana de Pediatria reconheceu a Síndrome da Criança Espancada, identificada por uma série de sinais de violência. Em 1979, foi

46 declarado o «Ano Internacional dos Direitos Humanos» e, consequentemente, é realizada a Convenção dos Direitos da Criança. Nas últimas décadas, o reconhecimento da necessidade de proteger as crianças e adolescentes, a fim de contribuir para seu crescimento e desenvolvimento, veio ampliar as políticas e estratégias voltadas para a emergente questão da violência contra a criança e o adolescente, (Leandro, 1998).

Em Portugal, a primeira legislação que punia os pais maltratantes encontra-se contemplada na Lei Penal de 1886, que previa o crime de exposição e abandono de infantes. O grande passo é dado, em 1911 com a promulgação do Decreto com força de Lei de 27 de Maio, designado por Lei de Proteção à Infância. Esta lei veio a constituir mais tarde os alicerces do Direito Tutelar que vigorou até 1962. Em 1978, entra em vigor o Decreto – Lei que aprova a Organização Tutelar de Menores e que veio orientar o funcionamento dos Tribunais de Menores, acentuando-se o seu carácter protetor e pedagógico. Na década de 80 surge o aparecimento de uma série de organismos públicos e privados que desenvolveram a sua linha de ação no apoio e proteção dos menores em risco, tais como, o surgimento das Linhas SOS, uma grande diversidade de Instituições Particulares de Solidariedade Social e as Comissões de Proteção de Menores. Contudo a situação existente, revelava a persistência de uma ideologia institucional ainda facilitadora dos riscos, não configurava a solução mais adequada ao âmbito da proteção dos menores. Em 1998 dá-se a expansão das Comissões de Proteção a todos os concelhos do território nacional, (Leandro, 1998).

A estas Comissões foram-lhes atribuídas competência de planificação de intervenção do Estado, coordenação, acompanhamento e avaliação da ação dos organismos públicos e da comunidade na proteção de crianças e jovens em risco. Todavia a grande reforma concretizou-se com a entrada em vigor da Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo (Lei n.º 147/99 de 1 de setembro e alterada posteriormente pela Lei n.º 31/2003, de 22 de agosto) e Lei Tutelar Educativa (Lei n.º 166/99, de 14 de setembro).

O Estado e a Sociedade têm conjugado alguns esforços no sentido de potenciar políticas integradas e eficientes na proteção das crianças e jovens em risco. Considera- se que estudar e pesquisar sobre estas formas de intervenção nunca será esgotável, uma vez que se esta perante realidades que mudam de uma forma veloz. Desta forma, o presente estudo procura estudar e esclarecer, o problema da Institucionalização de Crianças e Jovens, no Alentejo.

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