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Quando 1+1+1>3, Observações nº 2, dezembro

Saúde”, selecionada de forma probabilística a partir das listas telefónicas da Portugal Telecom, segundo os câno- nes dos métodos de amostragem e recorrendo ao famo- so “método da régua”, desenvolvido numa das reuniões de serviço do Observatório Nacional de Saúde.

Tudo, claro, sempre na perspetiva de cruzar fontes de informação de várias origens, desde a comunitária aos serviços de saúde, de forma a melhor descrever a Epidemiologia de uma doença ou de um fenómeno.

Confesso que foi, não só entusiasmante, mas tam- bém determinante, para mim, jovem estatista e saído há pouco tempo da faculdade, ser desafiado sistema- ticamente, principalmente à segunda-feira de manhã, com ideias novas. O Dr. Marinho Falcão chegava de um fim-de-semana, passado, talvez, em Lagos, sentava-se numa cadeira da sala que eu e o meu colega Paulo No- gueira partilhávamos e a que ele, carinhosamente, cha- mava o “antro dos estatistas” e começava: “Então o que

acham de nós…”. Essas ideias novas implicavam, quase

sempre, desenvolver ou adaptar métodos estatísticos rigorosos, mas práticos, para colher e analisar dados, em tempo útil, de forma a produzirmos e disseminarmos in- formação a quem dela precisava. Na maior parte das vezes não havia a preocupação primária da publicação em revista indexada, com revisão por pares; e isto era algo que também caracterizava o chefe. O conhecimen- to deve servir, em primeiro lugar, para a ação em tempo útil e não foi por acaso que a newsletter do ONSA se chamou “observ-ações”.

Esta forma de “pensar fora da caixa”, tão familiar no Dr. Marinho Falcão e que incutiu em todos os que tiveram o privilégio de trabalhar com ele, é, nos nossos dias, cada vez mais necessária, frequente e com o maior grau de so- fisticação que a tecnologia permite. Na atualidade, o cru- zamento e interseção de várias fontes de informação é usado cada vez mais na decisão clínica ou em Saúde Pú- blica, recebendo o nome pomposo de Evidence Synthesis

em que se recorre a métodos de meta-análise e de pro- pagação da incerteza (Bayesian Evidence Synthesis), para, de forma probabilística, conjugar informação de várias fontes para descrever a Epidemiologia de uma doença ou problema de saúde e dar referências para a tomada de decisão e intervenção em saúde.

Quando voltei a ler este editorial, assim como outros, presentes neste livro e publicados no Observações, senti, mais uma vez, que fui um privilegiado por ter iniciado a minha carreira trabalhando com o Dr. Marinho Falcão. Foram 12 anos de exemplo, na sua forma de chefiar equi- pas, criando sinergias e valor acrescentado nas pessoas que com ele colaboravam. Disto é exemplo a interpreta- ção secundária do título deste editorial, 1+1+1>3. A forma como nos ensinou o rigor, a transparência e independên- cia no processo epidemiológico, foi marcante. Recordo- -me das vezes (poucas!) em que eu entrava pelo seu gabinete, que tinha sempre a porta aberta, dizendo que tudo indicava a existência de um erro na base de dados ou na análise estatística e perguntando “o que fazer?”. Virava-se para mim, pedia para me sentar e explicar o sucedido e respondia-me citando, de forma adaptada, George Orwell: ”Dizer a verdade é que é revolucionário.” E era óbvio o que eu precisava de fazer.

O mais enriquecedor é que não foram só os ensina- mentos, aliás nunca foi meu professor formal; foram, acima de tudo, experiências de trabalho conjunto, ombro-a-ombro, de “mangas arregaçadas”, como des- crevia a forma como trabalhava com os seus colabora- dores e que, ainda hoje, recordo e tento seguir, para que este modo de estar com os colegas, ao serviço da população e esta forma de aplicar o método epidemio- lógico, tendo em vista a criação de conhecimento para a ação em Saúde Pública, seja uma prática cada vez mais comum.

Até sempre, chefe!

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Na apresentação de “OBSERVAÇÕES” dissemos querer contribuir para aproximar dados e indicadores de saúde daqueles que os utilizam. Essa aproximação exige divul- gação oportuna e célere que não pode ser alcançada através de publicações científicas ou técnicas formais cujos atrasos são grandes.

Com os olhos postos nessa aproximação, o ONSA vai pas- sar a editar uma segunda publicação, dando a “OBSERVA- ÇÕES” um companheiro!

Chamámos-lhe NOTAS SOBRE…!!!

Com um ar um pouco mais sério do que OBSERVAÇÕES e com uma tiragem menor NOTAS SOBRE… será usada pelo ONSA para dar a conhecer, com atraso mínimo, mui- tos dos resultados que gera.

NOTAS SOBRE… terá carácter monográfico: cada número

acolherá apenas um único tema, abordando-o com pro- fundidade e rigor científico adequados.

E será intencionalmente aperiódica: cada número será editado assim que resultados relevantes estiverem dis- poníveis! Em regra, esses resultados serão preliminares embora próximos dos definitivos: estes últimos serão publicados, mais tarde, em revistas científicas.

Atenção! Não se espere que NOTAS SOBRE… seja uma publicação graficamente sofisticada: a sua produção será célere e de baixo custo. Editá-la-emos em papel recicla- do: gostamos dele e a informação pode ter consciência ecológica.

A partir de Abril, NOTAS SOBRE… será distribuída gratuita- mente.

A propósito, o 1º número de NOTAS SOBRE… é dedicado às diferenças no consumo de tabaco que se verificam entre os portugueses de vários níveis socio-económicos.