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Quando a solução se torna problema: do Camelódromo ao Shopping Popular (2005-2011)

3. NEM BRAUDELAIRE, NEM LIMA BARRETO: ONDE ACABA O PASSEIO E INICIA O CONFLITO.

3.2 Quando a solução se torna problema: do Camelódromo ao Shopping Popular (2005-2011)

Quando o ano de 2005 se iniciou, a situação dos vendedores informais já era tida como algo prejudicial para a cidade. Não havia controle do que se comercializava no Camelódromo, tão pouco os comerciantes achavam que aquela situação era correta. A antiga localização havia sido alargada para mais uma quadra abaixo. Ou seja, não somente o trecho entre a Rua Venâncio Aires e a Rua dos Andradas comportava o centro comercial informal, a quadra da Rua Silva Jardim também era tomada por aquelas barracas e suas lonas de cor laranja.

Além disso, o comércio pelas esquinas do centro da cidade permanecia a todo vapor. Os CDs e DVDs eram facilmente encontrados e a fiscalização nada fazia para impedir tal comércio, pois a participação da mesma no Camelódromo também era quase inexistente:

Olha, a fiscalização, havia, havia a fiscalização, mas havia uma fiscalização para poucos. Aqueles que obedeciam sempre estavam sendo fiscalizados, aqueles que não obedeciam nunca eram fiscalizados (MAFALDA, 2012). O quadro não permitia demora na tomada de atitudes. O Poder Executivo Municipal estava sob o comando do Prefeito Valdeci de Oliveira (PT – Partido dos Trabalhadores) e este passou a ser o alvo de cobranças pela situação do Camelódromo e do centro da cidade. Sendo assim, segundo Mafalda (2012),

um projeto visando a retirada dos vendedores informais da Avenida Rio Branco passou a ser elaborado. Depois de 15 anos, uma nova mudança

seria proposta e todas as partes envolvidas esperavam que não somente o local fosse mudado, mas também a realidade do comércio informal de Santa Maria.

A partir de meados de 2005, as notícias sobre o Shopping Popular tornaram- se recorrentes na mídia eletrônica. Todavia, os jornais da época pareciam ignorar a temática, fazendo com que as fontes dos acontecimentos fossem basicamente advindas da internet. Cabe destacar que nem as pesquisas feitas no Arquivo Histórico Municipal, nem na Casa de Memória Edmundo Cardoso (CMEC) puderam sanar tais fragilidades. Muito disto pode estar relacionado à ideia de que História do Tempo Presente não é o campo dos historiadores, mas de jornalistas.

A primeira notícia da qual se teve acesso trata de um encontro do Prefeito Municipal Valdeci de Oliveira (PT) com os vendedores informais de Santa Maria para discutir a implementação do Shopping Independência:

Valdeci conversou com os camelôs e ambulantes. As duas audiências duraram cerca de uma hora e trinta minutos. Nas reuniões, Valdeci esclareceu que o projeto apresentado é um esboço e que há possibilidade de sugestões e modificações. O prefeito afirmou que o projeto inicial prevê a existência de 194 estandes no Shopping Popular distribuídos em três pavimentos, sendo que cada categoria atuaria em um andar determinado,

conforme reivindicação feita pelos trabalhadores ao Executivo41.

Claro está o sentimento de diferenciação entre os vendedores ambulantes da cidade. O afastamento proposto, se sugere, aponta uma fragilidade de consciência de classe, pois ainda com as mesmas reivindicações, as relações não se demonstravam amistosas.

Ainda no ano de 2005, o prédio onde funcionava o antigo Cine Independência foi escolhido como o local do Shopping Popular na cidade e a compra foi concluída pelo Poder Executivo Municipal no mesmo ano. Os valores giraram em torno de 1,2 milhões de reais que seriam pagos em 22 parcelas, sendo 21 parcelas de 55 mil reais e a última de 45 mil42.

A transferência dos vendedores informais da Avenida Rio Branco para o Shopping Popular não resultava somente de motivações econômicas e de

41 Segundo reportagem produzida por MACHADO, Thiago (2005), disponível em:

http:www.santamaria.rs.gov.br/índex.php?secao=noticias&id=5656&arq_db=1&pchave=ambulantes. Acesso em: 13 mar 2012.

42 Segundo reportagem produzida por PREVEDELLO, Carine (2005), disponível em:

http://www.santamaria.rs.gov.br/index.php?secao=noticias&id=6769&arq_db=1&pchave=ambulantes. Acesso em: 12 de mar. 2012.

segurança. A (re) organização urbana também estava em pauta. Tendo sido um dos cartões postais de Santa Maria, imponente e majestosa em tempos de ferrovia, a Avenida Rio Branco - anteriormente Avenida Progresso - convivia com dias nebulosos. A proliferação das bancas com suas lonas chamativas deixavam aquele espaço de passeio urbano cinzento e ‘mal habitado’.

Sobre este pensamento, o Secretário do Turismo e Eventos da época, Paulo Abelin Ceccim acena que43,

O espaço público tem de ser da população, e não de poucas pessoas [...] Começamos a discussão oferecendo aos ambulantes uma alternativa de muita qualidade, que vai dar condições de que eles possam fazer o seu trabalho com dignidade [...]. Estamos discutindo o espaço público como um todo, como a localização de trailers e feiras. Eu defendo e sempre vou defender, estando na condição de secretário ou de cidadão, que o Município nunca pode abrir mão de devolver o espaço público ao cidadão. Uma praça tem de ser uma área verde, de lazer, de descanso, em que pode haver no máximo intervenções culturais, tendo sempre como eixo central o cidadão, e nada mais do que isso. Tudo o que acontecer fora disso é deturpação. A situação de tensão entre os vendedores informais e o poder público passava a ser constante. O discurso do Prefeito Municipal era o de erradicar os problemas enfrentados por estas práticas. Para tal, tornou-se recorrente a apreensão de artigos comercializados nas ruas da cidade44. Contudo, os primeiros anos de governo do prefeito municipal Valdeci de Oliveira, pautou-se por um considerável alargamento do setor informal da cidade.

Sobre tal assertiva, ouviu-se que

tinha muita gente de fora e eu acho que essas pessoas tinham que ficar nas cidades delas. Havia uma crise de emprego e o Valdeci de Oliveira começou a dar alvará pra todo mundo e daí veio essa pressão (MAFALDA, 2012).

Com este crescimento desordenado, claro estava que o controle do espaço não seria fácil, tão pouco rápido. A liberação de alvarás para mais vendedores

43

Segundo reportagem produzida por PREVEDELLO, Carine (2005), disponível em:

http://www.santamaria.rs.gov.br/index.php?secao=noticias&id=7907&arq_db=1&pchave=ambulantes. Acesso em: 13 de mar. 2012.

44 Segundo MACHADO, Fabiane (2006), em reportagem disponível em:

http://www.santamaria.rs.gov.br/index.php?secao=noticias&id=7907&arq_db=1&pchave=ambulantes. Acesso em: 13 mar de 2012. “Na manhã desta sexta (17), cinco fiscais da Prefeitura de Santa Maria e quatro fiscais da Receita Federal apreenderam mercadorias vendidas por comerciantes ambulantes. O foco da operação foram os CD's e DVD's piratas. Foram recolhidos materiais de três bancas: duas instaladas na esquina da Rua Floriano Peixoto com a Rua Doutor Bozzano e outra, que estava funcionando na esquina da Rua Floriano Peixoto com a Rua Venâncio Aires”.

resultou no recrudescimento da situação, já que os mecanismos que deveriam controlar estas atividades não passaram pelas melhorias necessárias.

A fiscalização “era muito deficiente, pois naquela época os fiscais da Prefeitura eram mínimos” (GAIGER, 2012). Esperava-se que em 2007 as obras do Shopping Popular estivessem prontas45:

Já em agosto de 2007, os santa-marienses serão contemplados com mais um importante projeto, o Shopping Popular, que vai destinar espaços de comercialização para artesãos, camelôs e vendedores ambulantes. O [...] Shopping Popular terá outros atrativos, como um espaço destinado à realização de eventos culturais no andar térreo e uma praça de alimentação no segundo andar. No último pavimento, junto com o restante dos estandes, deverá ficar a administração do shopping. O empreendimento terá ainda elevador para acesso dos portadores de necessidades especiais ao segundo e terceiro pavimentos, assim como banheiros adaptados. Em junho deste ano, o município conseguiu junto ao Governo Federal um recurso no valor de R$ 290 mil para o projeto.

Além do interesse político e de reordenação urbana, há o viés econômico da empreitada, não apenas se referindo aos ambulantes, mas também da parceria firmada entre a Prefeitura Municipal e a Rede de hipermercados francesa Carrefour, a ser fixada próxima aos vendedores ambulantes. Tal empresa firmou um acordo que ajudaria no levantamento das obras do Shopping Popular com a quantia de um milhão de reais.

O total de investimentos para a implantação do Shopping será de cerca de R$ 1,3 milhão. A obra de restauração do prédio, na Praça Saldanha Marinho, que deve iniciar em 15 dias, será realizada pela BK Construções, mesma empresa que está trabalhando para a instalação do Carrefour. O Hipermercado firmou a parceria através da destinação de R$ 1 milhão, a fundo perdido, como contrapartida pelos investimentos no município. O valor restante é proveniente de uma emenda parlamentar do Deputado Federal Paulo Pimenta, através do Projeto de Inclusão Produtiva do

Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). 46

O Shopping Popular seria a solução para as fragilidades no centro da cidade (segurança, emprego formal, iluminação, revitalização da Avenida Rio Branco). Também maior controle na fiscalização do comércio informal. Além disso, a ideia de

45 Segundo reportagem produzida por ROSA, Francielli (2006), disponível em

:http://www.santamaria.rs.gov.br/index.php?secao=noticias&id=11202&arq_db=1&pchave=ambulante s. Acesso em 16 de mar. 2012.

46 O restante da verba, R$ 290 mil, seria proveniente de uma emenda parlamentar do deputado

federal Paulo Pimenta (PT), através do Projeto de Inclusão Produtiva do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).

que todos os vendedores fossem contribuintes tributários, como os outros setores do comércio local.

Obras do Shopping Popular (ainda sem nome na época), o qual seria instalado no antigo Cine Independência (na Praça Central) e contaria com uma área de 1050 metros quadrados, abrigando 194 bancas. O projeto prometia “tirar os profissionais das ruas, além de dar melhores condições de atuação, com a qualificação das alternativas de geração de trabalho e renda”. Anunciava-se que poderiam ir para o local todos os trabalhadores informais que já fossem cadastrados no município, fossem eles camelôs, artesãos ou ambulantes (eram cerca de 100 camelôs, 56 ambulantes e 50 artesãos cadastrados) (POSEBON, 2011, p. 61).

Contudo, nem todas as expectativas estavam sendo cumpridas. Nem na organização dos vendedores informais, que permanecia caótica e em expansão pelas ruas da cidade, tão pouco nas obras do Shopping Popular, as quais não estavam sendo prosseguidas como era esperado:

Preocupado em dar andamento ao projeto de revitalização do Centro de Santa Maria, o prefeito Cezar Schirmer constituiu nesta terça-feira (20), um grupo de trabalho para tratar da ocupação do espaço do shopping popular, no antigo Cine Independência. O grupo é integrado por três ex-secretários de Desenvolvimento Econômico do município, de governos anteriores, Walter Bianchini, Renan Kurtz e Zoé Dalmora, além do chefe de Gabinete

da prefeitura, Giovani Manica47.

Além desta preocupação com as obras do Shopping Popular, o prefeito Cezar Schirmer (2008-2012) demonstrava a intenção de legalizar os vendedores informais da cidade, por meio de uma lei ou de um decreto relacionado ao artigo 200 do Código de Posturas. Isso permitiria o comércio de ambulantes em vias públicas do município, ou através de Lei Ordinária, com aprovação de projeto pela Câmara de Vereadores, tal qual como ocorrera com a transferência dos ambulantes da Rua do Acampamento para a Avenida Rio Branco, no início da década de 1990. A “transferência é legal e como pode ser regulamentado o funcionamento [...], afinal, é uma área pública que será ocupada por atividade privada”, afirmava o Chefe de Gabinete da Prefeitura, Giovanni Mânica (A Razão, 2009).

A reportagem ainda trata das dificuldades enfrentadas para o levantamento da verba para a conclusão das obras do Shopping Popular:

47 Segundo reportagem produzida por ROSA, Francielli (2009), disponível em

:http://www.santamaria.rs.gov.br/index.php?secao=noticias&id=18138&arq_db=1&pchave=ambulante s. Acesso em 23 de mar. 2012.

O Escritório das cidades já apurou o custo para a conclusão do prédio onde funcionava o antigo Cine Independência, na Praça Saldanha Marinho. A colocação dos 194 estandes vai custar cerca R$ 600 mil. Dinheiro, que segundo o presidente do Escritório, Júlio Rasquin, a Prefeitura não tem. Os recursos serão buscados junto a Ministérios, emendas parlamentares e iniciativa privada. Enquanto a verba não chega, o processo de licitação para definir a empresa que dará andamento a obra não sai.

Os impasses perduraram até o mês de outubro de 2009, quando foi firmada uma parceria entre o poder público e o poder privado, para tirar o projeto do papel:

Em uma coletiva de imprensa no Gabinete do Prefeito, será lançado o edital de licitação da empresa que realizará as obras necessárias no prédio e que administrará o empreendimento por um prazo de cerca de dez nos. De acordo com o prefeito Cezar Schirmer (PMDB), o Executivo não tem

recursos para o projeto que custaria em torno de R$ 1 milhão. ‘A empresa

que vencer a licitação realizará a obra em troca da administração do local’,

explica. Os responsáveis terão a livre utilização do local e a fonte de lucro poderia vir da utilização de uma praça de alimentação e de terminais bancários que devem ser instalados (Jornal A Razão, 2009).

Em novembro de 2009, a Prefeitura publicou o edital para a abertura de licitação para a contratação da empresa, que concluiria as obras internas do Shopping Popular. A empresa vencedora estaria obrigada a cumprir, no prazo de três meses, as reformas planejadas e, com seus recursos, deixar o espaço apto para as práticas comerciárias o mais rápido possível. A vencedora da licitação foi a empresa CPC, de Santa Maria, a única que decidiu participar da disputa e conseguiu o direito de administrar o local durante dez anos, com a possibilidade de prorrogação de mais dez anos. Em pronunciamento48, o prefeito Cezar Schirmer fez questão de destacar a coragem da empresa e de parabenizar a mesma pela iniciativa:

Após a conclusão da obra, que prevê a construção de 224 estandes internos em dois pavimentos. [...] A construtora terá que fornecer os equipamentos necessários à empreitada, serviços de engenharia e de manutenção e administração. No primeiro pavimento serão disponibilizados espaços para livre adequação de 100 estandes na edificação já existente, cuja área é de 832,19m². Já no segundo pavimento serão instalados 105 estandes, em uma área de 733,37m². No terceiro piso haverá praça de

48

Segundo a publicação “Após a assinatura do contrato e da Ordem de Serviço, em um ato simbólico o prefeito entregou as chaves do local para o empresário Rafaelle Barbosa, diretor da empresa. Schirmer elogiou a coragem do empresário que foi o único que se interessou e apresentou proposta no processo de licitação. Em seu pronunciamento, o prefeito ressaltou que aquele é um espaço nobre, que dará dignidade as pessoas que estão na rua. Além disso, segundo o prefeito, os comerciantes estarão ao abrigo do tempo, com segurança e condições de higiene: “este ato se reveste de um simbolismo dos novos tempos”, salientou o prefeito se referindo à recuperação e revitalização do centro “que está tão pouco a altura de uma cidade que se ama e se respeita”. Disponível em: <www.santamaria.rs.gov.br/index.php?secao=noticias&id=19425&arq_db=1>. Acesso em 12 de abril 2012.

alimentação, lotérica, correios, caixa eletrônico, farmácia e espaço cultural. No total, a empresa vencedora da licitação deverá fornecer e implantar, conforme o projeto arquitetônico, no mínimo 205 estandes em estrutura metálica removível, com iluminação individual, cortina metálica frontal

conforme especificações técnicas49 (A Razão, 2010).

Um dos focos que seria fortemente combatido após a transferência para o Shopping Independência50, era a pirataria. Era de conhecimento público que um dos

principais meios de obtenção do lucro dos camelôs era com os produtos ilegais51 (óculos, brinquedos, eletroeletrônicos, roupas, calçados, relógios, bonés) que vinham, principalmente, de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, bem como de outros países, como o Paraguai.

Nota-se que naquele momento já havia se tornado difícil qualquer forma de questionamento acerca da mudança programada para os vendedores informais da cidade. Era apenas uma questão de tempo para que todos os artesãos, ambulantes e camelôs de Santa Maria fossem realocados. Contudo, não havia como deixar de ouvir os próprios vendedores informais nesse processo de mudança física de seus estabelecimentos. Como eles entendiam essas mudanças? Eles aceitavam trocar de lugar novamente? O governo pediu sua participação na elaboração do projeto e levou em conta as necessidades dos mesmos?

Uma das maiores reclamações dos camelôs foi a total falta de diálogo entre o governo municipal e os maiores interessados. Nem o nome do Shopping foi escolhido por eles, o que denuncia o quão unilateral foram as decisões sobre o futuro do comércio informal em Santa Maria.

49 Disponível em: http://arazao.com.br/economia/centro-sera-desocupado-em-noventa-dias. Acesso

em: 15 de abril de 2012.

50 Segundo Posebon

(2011) “Em 10 de maio de 2010, noticia-se que foi escolhido o nome do novo Shopping Popular de Santa Maria: “Shopping Independência”, localizado no antigo espaço onde funcionou tradicional cinema com o mesmo nome. A escolha foi realizada através de uma campanha, chamada “Escolha o Nome”, promovida pela empresa CPC, responsável pela administração do local, e com apoio da Prefeitura Municipal. Durante cerca de um mês, a campanha disponibilizou cupons em pontos de informações turísticas de Santa Maria” (p. 64).

51 Segundo a reportagem do jornal A Razão, do dia 22 de mar 2010, disponível em:

www.arazão.com.br/geral/na-mira-dos-produtos-piratas/. “O Ministério Público, com a finalidade de

intensificar o combate à pirataria e a concorrência desleal, vem promovendo reuniões entre promotores, membros do Comitê Interinstitucional de Combate à Pirataria e com representantes de diferentes setores afetados por esses problemas. O promotor João Marcos Adede y Castro, afirma que ações de combate devem ser feitas de forma permanente, pois a venda destes produtos implica em prejuízos aos cofres públicos e ao consumidor por serem confeccionados a partir de materiais sem qualidade. As operações geralmente são realizadas por iniciativa da polícia, mas qualquer

Muitos comerciantes não queriam sair da Avenida Rio Branco, mesmo sabendo que a situação do Camelódromo fosse insustentável. “Eu fui um dos que lutou até o fim pra não vim pra cá [sic]. Lutei para que ficássemos lá ou que fossemos para outro lugar na Avenida Rio Branco [...] O ponto de partida do discurso das autoridades era sempre o mesmo: a organização, a questão do abrigo e da segurança, problemas enfrentados pelos comerciantes”. (MAFALDA, 2012).

Nós viemos pra cá porque foi uma ordem. Se nós pudéssemos escolher, nós gostaríamos de um lugar com mais espaço, mais digno. Sobre o espaço, até hoje é terrível mesmo. Agora, a avaliação, eu acho que a mudança, no fundo, no fundo foi necessária. E todos aprendem com isso. Como ser um comerciante melhor. O nosso grande problema são os impostos, a burocracia. Não é que nós não queremos pagar os impostos, nós queremos um imposto justo. Tem que haver uma revisão nos impostos para os microempresários (FRANCHI, 2012).

As críticas não cessavam para ambos os lados dessa querela. A postura tomada pela prefeitura afinal, não foi democrática, nem respeitosa. Os vereadores Sérgio Cechim (PP) e João Carlos Maciel (PMDB) expuseram suas opiniões: “Faltou diálogo, faltou bom senso, [...] Faltou que uma comissão se apresente e convença os camelôs que vai ser ótimo aqui”. Por seu turno, a empresa responsável pelas obras do Shopping (CPC), afirmava: “a empresa é responsável somente pela conclusão da obra e pela administração. A negociação com os camelôs e com os artesãos é com a prefeitura”(Jornal A Razão, 2010)52.

Contudo, a categoria dos vendedores informais não agia de maneira coesa e homogênea, havendo lideranças que fizessem pressões aos outros. Na mudança para o Shopping Independência não foi diferente: “Prefeitura não volta atrás” (A RAZÃO, 2010). Após uma reunião com a presença do Prefeito Cezar Schirmer, ficou claro que mais da metade dos comerciantes do Camelódromo53 queriam mudar para o novo local:

52 “Já o representante dos Camelôs, Paulão, garante que os informais não querem sair de onde

estão. Não é bem assim. Eles vão ter de conversar, comenta Paulão. Segundo o representante, as informações que os Camelôs têm sobre o local é que os estandes são muito pequenos. A metragem de um metro e meio por um metro e oitenta, não seria a ideal. Nós não vamos aceitar ir para lá, porque não tem as mínimas condições. O espaço é mínimo, é impossível trabalhar num local desses”. Disponível em: www.arazao.com.br/economia/prefeitura-e-camelos-deveram-conversar/. Acesso em: 25 mar 2012.

53“Na manhã de ontem houve o cadastramento dos ambulantes no auditório da Prefeitura. No total

foram 67 pessoas cadastradas como ambulantes, segundo o vereador Cláudio Rosa. A Prefeitura

havia feito um pré-cadastro que listava 45 ambulantes no centro da cidade”. Disponível em: