No que tange à análise dos dados, efetuou-se, em primeiro lugar, uma revisão
bibliográfica a respeito da toponímia da cidade de Bento Gonçalves. Também foram
realizadas algumas entrevistas, por meio de instrumento semiestruturado, com moradores dos
bairros estudados, quando necessário, para esclarecimento sobre algumas denominações, bem
como para verificar a existência de nomes populares e possível percepção de transparência ou
opacidade. Os outros procedimentos adotados estão descritos nos itens que seguem.
10
Disponível em: <http://sapl.camarabento.rs.gov.br/sapl/sapl_documentos/norma_juridica/1529_texto_ integral>. Acesso em: 15 jun. 2014.
11
Disponível em: <http://sapl.camarabento.rs.gov.br/sapl/sapl_documentos/norma_juridica/11876_texto_ integral>. Acesso em: 15 jun. 2014.
12
Disponível em: <http://sapl.camarabento.rs.gov.br/sapl/sapl_documentos/norma_juridica/11278_texto_ integral>. Acesso em: 15 jun. 2014.
13
Disponível em: <http://sapl.camarabento.rs.gov.br/sapl/sapl_documentos/norma_juridica/12902_texto_ integral >. Acesso em: 15 jun. 2014.
4.2.1 Modelo de ficha lexicográfico-toponímica
Os quarenta e seis bairros da cidade de Bento Gonçalves, que foram o corpus dessa
pesquisa, serão analisados e classificados com base na ficha lexicográfico-toponímica
proposta por Dick (2004). Uma vez que a análise aqui proposta leve em conta apenas os
bairros da cidade, optou-se por se realizar algumas modificações no modelo original
elaborado pela pesquisadora a fim de que a ficha atendesse melhor aos objetivos aqui
propostos. O modelo da ficha lexicográfico-toponímica que será utilizado é apresentado
abaixo.
QUADRO 1 – Modelo de ficha lexicográfico-toponímica
Topônimo: Localização: Área de abrangência: AH: Taxonomia: Etimologia: Entrada lexical: Estrutura morfológica: Histórico: Informações enciclopédicas:
Imagem de Mapa: Imagem de Satélite:
FONTE: DICK, 2004 (com alterações).
A ficha utilizada contempla os seguintes dados: topônimo – nome do topônimo
estudado; localização – localização geográfica do topônimo dentro da área urbana; área de
abrangência – conjunto de ruas que compõem o bairro; AH (acidente humano) – nesse estudo,
serão apenas bairros; taxonomia – classificação toponímica com base na taxonomia proposta
por Dick (1990b); etimologia – registro etimológico do topônimo; entrada lexical – elemento
linguístico de entrada do topônimo; estrutura morfológica – descrição morfológica do
topônimo; histórico – registro histórico encontrado nas leis que denominam os bairros;
informações enciclopédicas – outras informações relevantes que extrapolem os dados oficiais;
imagem de mapa – imagem do bairro retirada do mapa oficial do município; imagem de
satélite – imagem do bairro capturada pelo Google Maps.
4.2.2 A taxonomia toponímica
Dick (1990b) propõe um modelo taxonômico para a classificação dos topônimos,
dividido entre os de natureza física e os de natureza antropocultural. No primeiro grupo,
encontram-se os astrotopônimos, topônimos relativos aos corpos celestes em geral; os
cardinotopônimos, relativos às posições geográficas em geral; os cromotopônimos, relativos à
escala cromática; os dimensiotopônimos, relativos às dimensões dos acidentes geográficos; os
fitotopônimos, relativos aos vegetais; os geomorfotopônimos, relativos às formas topográficas;
os hidrotopônimos, relativos aos acidentes hidrográficos em geral; os litotopônimos, relativos
aos minerais ou à constituição do solo; os meteorotopônimos, relativos aos fenômenos
atmosféricos; os morfotopônimos, relativos às formas geométricas; e os zootopônimos,
referentes aos animais.
O segundo grupo – taxonomias de natureza antropocultural – é constituído por
animotopônimos (ou nootopônimos), topônimos relativos à vida psíquica, à cultura espiritual;
antropotopônimos, relativos aos nomes próprios individuais; axiotopônimos, relativos aos
títulos e dignidades que acompanham nomes próprios individuais; corotopônimos, relativos a
nomes de cidades, países, estados, regiões e continentes; cronotopônimos, relativos aos
indicadores cronológicos representados pelos adjetivos novo(a) e velho(a); ecotopônimos,
relativos às habitações em geral; ergotopônimos, relativos aos elementos da cultura material;
etnotopônimos, relativos aos elementos étnicos; dirrematopônimos, topônimos constituídos de
frases ou enunciados linguísticos; hierotopônimos, relativos a nomes sagrados de crenças
diversas, a efemérides religiosas, às associações religiosas e aos locais de culto (essa categoria
subdivide-se em: hagiotopônimos, nomes de santos ou santas do hagiológio católico romano;
mitotopônimos: entidades mitológicas); historiotopônimos, topônimos relativos aos
movimentos de cunho histórico, a seus membros e às datas comemorativas; hodotopônimos,
relativos às vias de comunicação urbana ou rural; numerotopônimo, relativos aos adjetivos
numerais; poliotopônimos, relativos pelos vocábulos vila, aldeia, cidade, povoação, arraial;
sociotopônimos, relativos às atividades profissionais, aos locais de trabalho e aos pontos de
encontro da comunidade; somatopônimos, topônimos relativos metaforicamente às partes do
corpo humano ou animal.
A partir da taxonomia elaborada por Dick (1990b), outros estudiosos da área
propuseram novas classificações para a análise dos topônimos. Isquerdo (1996, apud Sousa,
2008), por exemplo, propõe uma subclassificação para a taxe dos animotopônimos, dividindo-
os entre eufóricos (os que marcam uma impressão agradável, otimista) e disfóricos (aqueles
que marcam uma impressão desagradável). Lima (1998, apud Sousa, 2008, p. 6), por sua vez,
apresenta uma subdivisão para os hagiotopônimos. O autor distingue os hagiotopônimos
autênticos (nomes de inspiração religiosa) dos hagiotopônimos aparentes (nomes de santos,
porém com inspiração política, como, por exemplo, uma homenagem a um padre). Já
Francisquini (1998, apud Sousa, 2008, p. 6), propõe o acréscimo das seguintes taxes:
acronimotopônimos (topônimos formados por siglas); estamatotopônimos (topônimos
relacionados aos sentidos); grafematopônimos (topônimos formados por letras do alfabeto);
higietopônimos (topônimos relativos à saúde, à higiene, ao estado de bem estar físico);
necrotopônimos (topônimos relativos ao que é ou está morto, a restos mortais).
4.2.3 Uma abordagem qualiquantitativa
Para atingir os objetivos aqui propostos, far-se-á uso tanto de uma abordagem
qualitativa quanto de uma quantitativa. Cada topônimo será estudado isoladamente,
pretendendo-se, assim, agregar o maior número possível de informações a esse estudo.
Dessa forma, nos casos que envolvem dados primários, exigir-se-á uma pesquisa
qualitativa de campo, que tem por objetivo “captar os significados atribuídos aos eventos
pelos participantes” (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p. 172). Para tanto,
trabalhar-se-á com entrevista semiestruturada, que permite
uma maior possibilidade de entendimento das questões estudadas nesse ambiente, uma vez que permite não somente a realização de perguntas que são necessárias à pesquisa e não podem ser deixadas de lado, mas também a relativização dessas perguntas, dando liberdade ao entrevistado e a possibilidade de surgir novos questionamentos não previstos pelo pesquisador, o que poderá ocasionar uma melhor compreensão do objeto em questão (OLIVEIRA, 2008, p. 12-13).