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SERVIÇO SOCIAL SOBRE POPULAÇÃO EM

N. ANO PESQUISADOR ORIENTADOR NÍVEL IES 01 2005 OURIQUES, Ciberen

2.1 Quanto à análise do ano das produções

É importante mencionar que partimos das informações reunidas no quadro 1 para que pudessemos realizar a análise do ano das produções. Tal análise toma como referencia esse período histórico (2004-2014) – portanto, são interpretações provisórias sobre tema PSR no Serviço Social e que se fossem analisadas em outro momento poderia ter uma intepretação diferente.

Mencionamos que nos anos de 2004 e 2009 não foram encontradas produções no Serviço Social sobre o tema da PSR nos programas de Pós-graduação. Destaca-se 2008, com três; 2012, com seis e 2014, com quatro. Os demais anos mantiveram a média de um a dois trabalhos por ano. Segundo a pesquisadora Silva (2012), o Serviço Social é a área de conhecimento que produziu o maior número de trabalhos nas duas últimas décadas. No seu estudo (período entre 1993 e 2010) 19% das produções eram do Serviço Social. Em 2008 houve a maior concentração, com cinco trabalhos. Já em nosso estudo, ocorreu um aumento, se compararmos 2008 com 2012 e 2014 (média de acréscimo de dois trabalhos a cada ano). A pesquisadora afirma que foi

a partir de 2000 que ocorreu o crescimento em relação às produções no Serviço Social, com a qual concordamos (SILVA, 2012).

A questão que se coloca não é o ano em si como dado isolado, mas suas conexões para melhor compreensão. Silva (2009) menciona que foi na segunda metade da década de 1990 que surgiram os primeiros estudos sobre população em situação de rua no Brasil, junto com a ampliação das iniciativas de enfrentamento do poder público acerca da temática.

A pesquisadora Silva (2012) argumenta, em concordância com Silva (2009), que houve um aumento das produções nos Programas de Pós em Serviço Social — devido ao próprio amadurecimento intelectual do meio profissional após o movimento de reconceituação, ao absorver uma perspectiva crítica para análise da realidade.

Concordamos com as pesquisadoras em que o aumento ocorreu em decorrência das alterações no mundo do trabalho e na sociedade capitalista, com graves reflexos no agravamento da questão social, refletindo no aumento de pessoas vivendo nas ruas em precárias condições de vida, utilizando o espaço público como moradia e sobrevivência.

Esta condição, coloca uma nova demanda ao Estado, às políticas sociais, às organizações não governamentais e aos vários profissionais, dentre eles, os assistentes sociais. É uma demanda que antes não se apresentava na pauta das políticas, embora já existisse essa população, assim como práticas profissionais junto a esses sujeitos. A questão principal que se coloca aqui é o reconhecimento dessa população antes inviabilizada e que passa não apenas a apresentar-se em maior

quantidade, mas, principalmente, a ser reconhecida como sujeito de direitos.

Diante disso, aumenta a preocupação da sociedade, das universidades e das ciências sociais e humanas em desvendar o modo de vida dessas pessoas e as alternativas de superação dessa condição.

Outro ponto é a questão política, econômica e cultural, quando o assunto é tratado pela mídia nos últimos anos, atendendo somente os interesses da burguesia — de higienizar a cidade para implantação de projetos urbanísticos e de embelezamento das áreas urbanas, expulsando essa população das áreas ditas valorizadas pelo setor imobiliário. O assunto tem sido tratado como se a PSR fosse uma poluição visual e um impedimento para atender os interesses de venda de imóveis de alto padrão.

Percebemos que o foco das grandes redes de comunicação tem sido a retirada à força dessa população das vias públicas forçando o Estado a agir com internações compulsórias para os dependentes de crack, bem como outras ações de higiene urbana (queima de seus pertences pessoais ou recolhimento compulsório em abrigos), etc.

Ressaltamos que não foram encontradas a partir de 2004 produções sobre crianças e adolescentes em situação de rua — embora seja necessário ponderar que foram pesquisadas somente as produções dos Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil. O estudo de Silva (2012) apontou que, no período em que analisou o fenômeno, não pesquisou a temática (criança e adolescente) por considerar diferente a análise de estudos de “população adulta” e de “criança e adolescente” em situação de rua. No entanto, essa questão não é um detalhe, observamos na produção acadêmica do país nos Programas de

Pós-Graduação em Serviço Social dos últimos 10 anos uma diminuição dos estudos sobre “criança e adolescente em situação de rua”.

Numa primeira impressão, parece não “existir” essa preocupação na área de Serviço Social ou não haver mais profissionais que desenvolvem processos de trabalho junto a esse público ou pesquisando acerca dessa demanda, mas, se analisarmos mais profundamente, perceberemos que o foco dos estudos desses profissionais que buscam a pós-graduação está sendo discutida por outro viés — a partir de violações de direitos, não exatamente a “rua” como uma condição e um modo de vida das crianças e dos adolescentes.

Essa visão está sendo utilizada não para justificar que uma criança é de rua, mas para problematizar e pesquisar as razões que levam esses sujeitos precocemente a utilizarem a rua como moradia e sobrevivência. Os estudos estão sendo direcionados para as violações de direitos de quem está vivendo nessa condição: o trabalho infantil, a exploração sexual, a violência doméstica, entre outras violações. Todas essas situações são pesquisadas no âmbito da proteção social dos indivíduos e das famílias.2

Segundo Mota (2009)

[...] as políticas de proteção social, nas quais se incluem a saúde, a previdência e a assistência social, são consideradas produto histórico das lutas do trabalho, na medida em que respondem pelo atendimento de necessidades inspiradas em

2

Existe uma Campanha Nacional de Enfrentamento à Situação de Moradia nas Ruas de Crianças e Adolescentes — Criança Não é de Rua. É uma ação de mobilização nacional em Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes em Situação de Moradia nas Ruas. Para essa temática, sugerimos um estudo específico, uma vez que não é tema desta tese. Para maiores informações: (CAMPANHA CRIANÇA NÃO É DE RUA, s/a).

princípios e valores socializados pelos trabalhadores e reconhecidos pelo Estado e pelo patronato. Quaisquer que sejam seus objetos específicos de intervenção, saúde, previdência ou assistência social, o escopo da seguridade depende tanto do nível de socialização da política conquistado pelas classes trabalhadoras, como das estratégias do capital na incorporação das necessidades do trabalho (MOTA, 2009).

Mota (2009) refere ainda que se trata de uma contradição da sociedade capitalista, cujas mediações econômicas e políticas imprimem um movimento dinâmico e dialético: se, do ponto de vista lógico, atender às necessidades do trabalho é negar as necessidades do capital, do ponto de vista histórico, a seguridade social é, por definição, esfera de disputas e negociações na ordem burguesa. Erigida no campo de luta dos trabalhadores, ela é sempre e continuamente objeto de investidas do capital no sentido de “adequá-la” aos seus interesses.