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2 ANÁLISE CRÍTICA DA EQUAÇÃO DE EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO

QUANTO À ESTABILIDADE

> 1 > 1 A = B Situação ideal. Parceria estável

> 1 > 1 A > B

A leva vantagem em relação a B, mas B também aufere benefícios no

negócio.

Parceria pouco estável

< 1 > 1 A < B A está em desvantagem em relação aB, tendo perdas no negócio. Parceria altamenteinstável < 1 < 1 A = B

Embora o negócio esteja em equilíbrio,

ambas as partes sofrem perdas. Parceria instável < 1 < 1 A > B

Há desequilíbrio no negócio; ambas as partes sofrem perdas, mas uma relativamente mais do que a outra .

Parceria altamente instável

Notas sobre a tabela:

⇒ As colunas “A” e “B” apresentam supostos resultados da relação benefícios/custos dos parceiros A e B, respectivamente;

⇒ A coluna “A x B” apresenta hipóteses relativas à comparação dos resultados da coluna “A” com os da coluna “B”;

⇒ As duas colunas restantes são auto-elucidativas.

As situações descritas na tabela acima são básicas, as outras, que porventura possam existir, são variações em termos de: grau de intensidade do desequilíbrio; grau de intensidade da situação de ganho ou de perda na parceria em equilíbrio, tornando-a mais ou menos estável ou mais ou menos instável, respectivamente; e inversão de posição dos partícipes no contexto dos resultados comparativos.

2.4 - Escolha entre dois ou mais Projetos de Parceria

Abstraindo-se da subjetividade gerada por fatores outros que não os econômico-financeiros que possam porventura estar associados à escolha, pelo administrador público, de apenas uma entre duas ou mais opções de parcerias público-privada, e considerando que a estabilidade do acordo entre as partes seja uma condição desejada e que haja recursos financeiros no setor público para atender aos custos de qualquer um dos projetos, é possível estabelecer um raciocínio lógico de decisão para as seguintes situações:

Caso A - dois ou mais projetos de parceria em equilíbrio que apresentem razões benefícios/custos iguais;

Caso B - dois ou mais projetos de parceria em equilíbrio que apresentem razões benefícios/custos diferentes; e

Caso C - projetos heterogêneos — uns em equilíbrio, outros não; alguns com razões benefícios/custos iguais, outros não.

A primeira situação mencionada acima, o Caso A, pode parecer, à primeira vista, difícil de ser levada a efeito, mas resolve-se facilmente quando se tem em mente a noção de valor presente líquido (VPL). Diferentemente da razão benefícios/custos, que se traduz pelo valor presente dos benefícios dividido pelo valor presente dos custos, o VPL é dado pela subtração de um

pelo outro, ou seja, o valor presente dos benefícios menos o valor presente dos custos, podendo ser negativo, se o último for maior que o primeiro, ou nulo, se ambos forem iguais.

Matematicamente, o VPL pode ser expresso da seguinte maneira:

Onde:

⇒ “VPL” é o valor presente líquido;

⇒ “ (VPB)” representa o somatório dos valores presentes dos benefícios, à taxa de desconto considerada; e

⇒ “ (VPC)” representa o somatório dos valores presentes dos custos, à taxa de desconto considerada.

O VPL possui significado auto-elucidativo. Uma vez que se tenha a noção de que quanto maiores os benefícios sobre os custos, tanto melhor, tem-se, automaticamente, a idéia de que quanto maior o VPL, melhor é o projeto para o seu implementador.

Assim, se a decisão tem de ser feita entre projetos em equilíbrio e com a mesma razão benefícios/custos, opta-se por aquele que apresentar o maior VPL.

Exemplo: Três projetos de parceria apresentam equilíbrio econômico- financeiro entre os partícipes e a mesma razão benefícios sobre custos. Tem-

se que B/C é igual a 2 em todos os projetos e que os benefícios dos três projetos (denominados X, Y e Z) foram avaliados a valores presentes em $1.000, $1.500 e $2.000, respectivamente.

Pergunta: Qual o melhor projeto?

Solução: Se a razão B/C é igual a 2 nos três projetos, e os seus benefícios são $1.000, $1.500 e $2.000, isto implica dizer que os seus custos são: $500, $750 e $1.000, respectivamente. Tendo-se os benefícios e os custos a valores presentes, é possível calcular o VPL, assim:

• VPLX = $1.000 - $500 = $500;

• VPLY = $1.500 - $750 = $750; e

• VPLZ = $2.000 - $1.000 = $1.000.

Conclui-se, pois, que o melhor projeto é o Z, por apresentar o maior valor presente líquido. (FIM DO EXEMPLO).

A situação seguinte, ou seja, o Caso B — opção entre dois ou mais projetos de parceria em equilíbrio que apresentem diferentes relações benefícios/custos — pode ensejar equívoco na hora da escolha de um projeto. Uma vez que se tenha a noção de que quanto maiores os benefícios sobre os custos, tanto melhor, pode-se concluir que o melhor projeto numa situação desse tipo seja aquele que apresente a maior razão benefícios/custos. Tal raciocínio é correto quando se comparam projetos com custos presentes

iguais. Porém, quando os custos são diferentes, a decisão se torna mais complicada.

Estudos mostram que tal critério (o da razão benefícios/custos) sozinho pode ser distorcivo e que o critério do maior VPL9 é o que deverá primeiramente nortear a decisão também neste caso. O critério da razão benefícios/custos deverá ser usado em casos de empate — projetos com o mesmo VPL.

O Caso C, situação na qual se depara com projetos heterogêneos, sendo alguns de parceria em equilíbrio, enquanto outros em desequilíbrio, e, entre eles, alguns com relações benefícios/custos iguais, enquanto outros com razões diferentes, é o caso mais complexo de ser resolvido.

Nestes casos, esforços deverão ser feitos para se enquadrar a situação em um dos dois casos anteriores. Para tanto, os negociadores deverão implementar ajustes nas parcerias em desequilíbrio a fim de que as mesmas se tornem equilibradas.

Tais ajustes podem ser feitos adotando-se uma das seguintes medidas: a) compartilhamento dos benefícios da parte relativamente mais

favorecida com o parceiro em desvantagem;

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Um outro método, chamado Método da Razão (benefício/custo) Incremental, conduziria aos mesmos resultados do método do VPL, no entanto o mesmo tem sido preterido por ser mais trabalhoso. Outro método que poderia ser aventado é o da Taxa Interna de Retorno (TIR), mas a literatura mostra que ele sozinho também é distorcivo.

b) transferência de uma parcela dos custos do parceiro mais onerado para o outro partícipe; ou

c) uma combinação das duas medidas acima.

Após terem sido feitos os ajustes necessários para que haja equilíbrio em todos os projetos, depara-se com uma das situações anteriores, Caso A ou Caso B, sempre lembrando que o primeiro critério para escolha do melhor projeto é o do VPL, seguido da razão benefícios/custos nos casos de empate.

As considerações acima foram feitas para a escolha de somente um dentre dois ou mais projetos analisados, porém a técnica ora preconizadas permite também classificar projetos por ordem de prioridade, no caso de haver recursos disponíveis e interesse na implantação de mais de um projeto

A Tabela 6 esquematiza as diversas situações possíveis quando se tem de escolhar uma parceria dentre várias opções disponíveis, com a indicação da decisão a ser tomada ou dos procedimentos a serem observados, conforme a lógica ora adotada.

Tabela 6 - TABELA DE DECISÃO PARA ESCOLHA DE UMA PARCERIA

Situação Econômico- Financeira das Parcerias

Razões Benefícios/Custos Valores Presentes Líquidos Decisão ou Procedimentos Escolha indiferente Quaisquer que sejam Quaisquer que sejam Primeiro: equilibrar as parcerias, aplicando os ajustes necessários; Segundo: reconhecer

uma das situações acima e proceder de acordo com a mesma.

Exemplo: Suponha que o governo local tenha que decidir que projetos deverá implementar dentre sete projetos de empreendimentos em parceria com a iniciativa privada. Acrescentem-se as seguintes informações:

⇒ As parcerias visam à prestação de serviços à comunidade;

⇒ Todos os projetos apresentam equilíbrio econômico-financeiro;

⇒ O total de recursos de que o governo dispõe é de $3.800.

⇒ A taxa de desconto utilizada nos cálculos do governo é de 8%.

⇒ O valor residual de todos os projetos é zero.

⇒ Os dados de cada projeto constam da Tabela 7.

Tabela 7 - DADOS DO PROBLEMA PROPOSTO

Iguais Iguais Diferentes Diferentes Iguais Diferentes Equilíbrio Desequilíbrio O projeto de maior VPL O projeto de maior B/C O projeto de maior VPL

Projeto no. Custo Inicial (Em $) Vida Econômica Mudança estimada em custos de manutenção (Em $)

Mudança esperada para custos dos usuários

(Em $) 01 1.800 30 anos - 10 - 180 02 400 15 anos - 55 - 10 03 600 30 anos - 60 0 04 400 20 anos 0 - 50 05 1.100 30 anos 0 - 100 06 300 15 anos + 30 - 110 07 500 30 anos + 5 - 100

Fonte: Adaptação de PUCCINI, 1969, p.111. Notas sobre a tabela:

⇒ O sinal negativo representa uma poupança adicional em relação à situação anterior; e

⇒ O sinal positivo representa um custo adicional em relação à situação anterior.

Desenvolvimento: Calculando o VPL e a razão B/C de cada projeto, obtém- se a Tabela 8.

Tabela 8 - VPL E B/C COM BASE NOS DADOS FORNECIDOS

PROJ. Nº VPL (Em $) B/C 01 338,98 1,19 02 156,37 1,39 03 75,47 1,12 04 90,91 1,23 05 25,78 1,02 06 384,76 2,28 07 569,49 2,14

Solução: Como os projetos de parceria estão todos em equilíbrio, as razões benefícios/custos são todas diferentes e os valores presentes líquidos também,

decorre que a prioridade será dos projetos com maiores VPL. Logo, a ordem de prioridade fica sendo a ordem decrescente dos VPL, portanto: projetos de n.º 07, 06, 01, 02, 04, 03 e 05. Mas como não há dinheiro suficiente para implementar todos os projetos, pois para isso seria necessário um aporte de $5.100, os projetos de n.º 05 e 03 ficam descartados por ora, sendo levados a efeitos os demais: 07, 06, 01, 02 e 04. (FIM DO EXEMPLO10).

Embora tenha sido apresentado como o método mais indicado para as situações abordadas, o método do VPL mostrar-se-á fraco quando o interesse do setor público for implementar o maior número possível de parcerias em equilíbrio, mediante a utilização de um determinado montante total de recursos financeiros, e os custos dos projetos disponíveis forem muito discrepantes entre si. Poderá ocorrer, neste caso, de os projetos com os maiores VPL serem aqueles que também apresentem os maiores custos, fazendo com que a escolha dos mesmos acarrete o abandono de várias outras parcerias de menor custo, reduzindo, assim, a quantidade total de negócios a serem implementados com os recursos previstos.

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O exemplo acima, além de ilustrar o assunto que o motivou, é interessante também por simular uma situação na qual o setor público insere nos seus cálculos valores referentes a redução de custos para os usuários dos serviços, computando-os como benefícios, o que dá uma idéia da elasticidade do conceito de benefícios, conforme já discutido anteriormente.

3 - CONCLUSÕES

O fim do modelo de gestão pública reinante no período do Welfare

State, no qual o Estado exerceu o papel de provedor direto dos bens e

serviços públicos demandados pela Sociedade, é uma verdade inexorável. Propostas de novos paradigmas tendem a flexibilizar as relações entre a Administração Pública e seus administrados, conferindo à iniciativa privada um papel mais atuante no tocante ao fornecimento de bens e na prestação de serviços públicos à população.

No contexto que se vislumbra, as atuações governamentais em conjunto com agentes da iniciativa privada serão cada vez mais freqüentes, e a expressão público-privado tornar-se-á lugar-comum. Embora esta seja a tendência, na maioria das vezes, porém, será preferível não começar um negócio em parceria a começar e interrompê-lo antes de seu prazo de duração esperado.

O equilíbrio econômico-financeiro de uma parceria não confere à mesma garantia absoluta de que ela será duradoura, mas constitui fator relevante para que a estabilidade desejada ocorra. Por outro lado, pode-se depreender da

pesquisa feita que o desequilíbrio não deliberado e não corrigido a tempo em uma parceria é causa quase certa de rompimento do negócio.

O trabalho apresentado por Robinson (1979) propõe uma equação matemática bastante simples para a verificação do equilíbrio econômico- financeiro, baseada na razão benefícios/custos. Tal equação, por ser muito simples, não atende a todas as situações possíveis, mas pode ser facilmente aperfeiçoada se combinada a algumas técnicas de uso freqüente na área da Administração Financeira.

A análise do equilíbrio econômico-financeiro de uma “joint” público- privada, mediante a aplicação da equação proposta por Robinson, combinada a algumas das técnicas utilizadas em Administração Financeira, pode ser um instrumento útil e prático na escolha e no acompanhamento de projetos de natureza conjunta que se enquadrem na categoria de parcerias denominada neste trabalho de “side-by-side”. Ficou demonstrado que a equação de Robinson, devidamente adaptada para cada situação, poderá ser empregada em qualquer fase de um projeto em parceria: no planejamento, durante e após a execução.

Quanto aos valores que devam ser levados à equação de Robinson, preconiza-se a adoção do conceito de fluxos de caixa, em vez de fluxos contábeis, por serem aqueles mais condizentes com a realidade. Não

obstante, haverá situações em que raciocinar somente em termos de fluxos de caixa, no sentido de entradas e saídas efetivas de caixa, poderá fazer com que fiquem de fora da equação certos benefícios oriundos de economias verificadas em relação à situação anteriormente vigente, as quais não constituem entradas efetivas de dinheiro, mas saídas menores de recursos financeiros. O administrador público deverá estar atento a este tipo de situação. Daí a importância do conceito de benefício, conforme salientado neste trabalho, cuja linha de raciocínio no sentido de uma definição mais elástica deve ser estendida também no caso dos custos.

Outro cuidado a ser tomado pelo administrador público quando de uma análise de equilíbrio econômico-financeiro é o de não ater-se tão-somente à questão da repartição do lucro do negócio, quando for o caso, incorrendo, assim, na confusão entre lucro e benefício.

A literatura aponta como sendo uma grande fragilidade da análise do tipo “benefícios sobre custos”, no qual a equação de Robinson se enquadra, o fato de interpretações aparentemente intercambiáveis entre si — referindo-se às reduções de custos que poderiam ser interpretadas como benefícios, ou vice-versa — levarem a resultados completamente diferentes. Esta falha do modelo é irrefutável, podendo ser amenizada (mas não eliminada) por meio de convenções entre as partes. Tais convenções, porém, deverão ser

cuidadosamente estudadas antes de sua adoção, pois poderão beneficiar a uma das partes em detrimento da outra.

A esquematização das transações que ocorrem ao redor de um negócio público-privado, conforme visto nos Quadros 2 e 3, com a discriminação dos fluxos típicos e das chamadas “transações interpartes”, mostra-se bastante didática e elucidativa, levando à percepção de que o projeto de uma “joint” deva preocupar-se com o levantamento dos tipos de transações que poderão surgir com a implementação da parceria e suas repercussões sobre o equilíbrio econômico-financeiro do negócio.

Levando-se em consideração que os projetos devam apresentar equilíbrio e que não haja outras injunções que não as de ordem econômico- financeira, conclui-se, ainda, que a equação de Robinson, combinada à técnica do VPL, é útil na determinação do melhor projeto de parceria público- privada, dentre vários que se apresentem.

É possível concluir, ainda, que, para se alcançar o equilíbrio econômico- financeiro numa parceria público-privada, é necessário todo um processo de negociação entre as partes; para que tal negociação seja coroada de êxito, é preciso haver total transparência de parte a parte; o grau de transparência demonstrado pelas partes será um dos fatores determinantes da confiança

mútua, quiçá o principal; a confiança mútua, por sua vez, tem relação intrínseca com a estabilidade da “joint”.

Por fim, é possível que o governo, em determinadas situações, premido por fatores outros que não os de ordem econômico-financeira, firme acordo de parceria em posição de desvantagem frente ao particular. Contudo, o administrador público deve ter em mente que tal situação só deve ser admitida, ou tolerada, se o referido negócio público-privado trouxer benefícios sociais que sejam relevantes e que não possam ser traduzidos em termos monetários.

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