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Transformação das Unidades de Significado em Expressões de Caráter Psicológico

1. E Há quanto tempo está a sua mãe

institucionalizada?

F6- Quatro anos, com um intervalo ali pelo meio, quis vir para casa, mas depois teve que voltar outra vez.

1 . F6 diz que a mãe está

institucionalizada há 4 anos, com uma pequena interrupção.

2 . E - E como é que foi tomar essa decisão? Quem é

que a tomou? Foi ela? Foram os filhos?

F6 - Foi mais ou menos entre os três, não é, o que é que a gente achou? Numa altura em que ela estava já sozinha lá em casa e que, às tantas, as coisas não estavam a começar a funcionar como funcionavam dantes, ela perdeu os medicamentos, mesmo que a gente fosse lá todos os dias era difícil, então, entre os três, ela aceitou que íamos fazer uma experiência para lá.

2 . F6 diz que a decisão da

institucionalização foi tomada, consensualmente, entre ele, o irmão e a mãe, que aceitou, numa fase da vida em que estava mais debilitada e já não conseguia tomar a medicação, sem ajuda dos filhos. Diz que a mãe aceitou experimentar o Lar, ou seja, não se tratou de uma decisão

definitiva da idosa, mas antes de um recurso temporário (foi assim que ela o viu) para uma fase de saúde menos boa.

3 . Aconteceu que ela melhorou. Lá, começou a tomar

tudo a horas, comia a comida que era necessária para ela, não era os outros doces, e pronto, não era o que ela lhe apetecia, e a partir daí, ela começou a melhorar. À medida que começou a melhorar,

começou a capacitar, a pensar que já tinha condições para se ir embora.

Dizia que estava capaz de ir embora sozinha para casa, e a gente disse sempre que não, e havia sempre atritos entre nós todos, que ela queria vir, queria vir, queria vir... e depois ofendia lá as pessoas e não sei o quê mais, e a gente às tantas" Ai sim? então vamos embora!”.

3 . A melhoria de saúde, devido à

medicação atempada e à alimentação cuidada, sem os excessos que fazia antes, devolveram-lhe energia, lucidez e a crença de que podia voltar à sua casa e a viver sozinha. Essa vontade de sair provocou atritos com os filhos e com as funcionárias da instituição, e a idosa acabou por regressar a casa.

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precisar, mas três, quatro meses (…) aquilo começou a piorar, não é, a fazer a mesma vida que fazia dantes, e ia sempre a piorar. Às tantas, tivemos que optar por colocá-la lá, mas não havia vagas e ela, depois já queria, não é, depois então levamo-la para o centro de dia, fazia lá as refeições todas s depois vinha para casa, mas pronto, porque não dava. Sempre a dizer que não queria lá estar, não sei o quê mais, e então às tantas, veio outra vez para casa. A partir daí, começou outra vez a piorar, até que às tantas não deu mesmo. (…), até que, pronto, ela capacitou-se que tinha que ir para lá outra vez, via que não podia estar ali (…) depois, combinou-se, arranjou-se uma vaga, e ela, por iniciativa própria, foi sozinha para lá. Ela é que foi para lá.(…) Também já ia um bocado debilitada.

e, passados alguns meses, os filhos recorreram ao Centro de Dia, onde a mãe fazia as refeições e tomava a medicação, indo dormir a casa. No entanto, também esta não se revelou a solução adequada, tendo voltado à institucionalização plena, após alguns meses à espera de vaga (que já não tinha). E aí, ela própria tomou a iniciativa de ir.

Como se trata de uma mulher que dificilmente aceita opiniões de terceiros, este processo foi sendo construído de acordo com o estado de saúde da mãe de F6, até à institucionalização definitiva. 5. Por mais que a gente fizesse, não podíamos estar

sempre ao pé dela, então ela saía, comia o que queria, comprava bolos, queria aquilo, não fazia uma refeição como devia de ser, apesar da gente dizer, mas… lá, pronto, é sempre diferente, e depois não estava acompanhada porque a gente só podia ir à noite.

5 . O filho justifica -se, dizendo que

não podia estar sempre com a mãe, que fazia o que queria, comia o que não devia (sofre de diabetes) e eles, filhos, não conseguiam controlar a situação.

6 . (…) e acontece que andou agarrando nos

saquinhos, outra vez, novamente para ir para lá e a partir daí ficou lá até hoje. Apesar de, depois, ao fim de dois meses, melhorar outra vez e quis-se vir embora. (…) agora nós temos andado a convencê-la para não vir e ..., mas pronto, agora em princípio já não vai sair.

6 . Em determinado momento, foi a

mãe que decidiu voltar para o Lar, mas, quando voltou a melhorar, quis sair de novo, no entanto, ainda lá continua, apesar das insistências para sair. Paira, nas palavras do filho, a dúvida sobre a continuação da mãe na instituição, embora ele diga que já

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7 . Colocámos outra hipótese, mas depois surgiu

aquela novamente e então, preferimos ali. Dos três lares, havia a opção de alterar, mas vimos que aquele era o melhor, então optámos por ficar lá, apesar de ser mais caro, pronto.

7 . F6 diz que consideraram três

lares, tendo optado pelo melhor, apesar de ser mais caro.

Consideraram que a instituição mais cara é a que apresenta melhores condições para a mãe.

8 . E - Como é que se sentiu, sentiu-se aliviado, sentiu-

se mal, como é que se sentiu?

F6 - A primeira vez, a gente não sabe como é que aquilo funciona, não é, e então a gente está, está sempre à espera que seja bom para ela, mas depois com a continuação, estamos sempre a ver como é que ela se adapta, se não se adapta, porque ela ainda estava um bocadinho debilitada, e então, com o continuar, vimos que foi a melhor coisa que fizemos, foi ela estar lá, está acompanhada, tem médicos, tem enfermeiros, tem as senhoras que estão lá que tratam delas, fazem-lhe tudo…

E - Está mais tranquilo agora do que no princípio, ou está igual?

F6 - Não, estou igual. (…) Tanto da primeira como da segunda, estou tranquilo.

8 . À pergunta direta sobre como é

que se sentiu aquando da primeira institucionalização, F6 rodeia a resposta, reconhecendo que o desconhecimento real do

funcionamento da instituição lhe provocou alguma apreensão, tendo- se mantido muito atento à adaptação da mãe, e tendo concluído, mais tarde, não haver razão para receios, devido às boas condições de

cuidados existentes. Não responde verdadeiramente à pergunta e só, após outra pergunta, diz que está tranquilo (e que já estava), o que parece uma contradição com o início da resposta dada.

9 . E - E quando ela diz que se quer vir embora,

quando ela melhora e depois se quer vir embora, como é que você se sente, quando ela lhe diz isso?

F6 - Sinto que era outra asneira, que já fizemos uma vez, e então, agora na segunda vez temos que... a voltar ao mesmo não dá, mas ela, neste momento, já se

9 . O filho revela algum receio de

que a mãe possa querer regressar a casa e é sempre com cautela que vai acompanhando a situação, dizendo que, agora que ela está mais calma, é porque ainda não está completamente

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sente mais..., agora precisamente depois de ter

acontecido aquilo que aconteceu, sente-se mais calma e sente-se que está lá bem, é porque ainda não está a cem por cento.

bem de saúde.

10 . E ela também se vai adaptando. Aquilo depende

dos dias, aquilo é dias, pronto, a idade também já é avançada e ela também, a mente também já não é o que era, mas pronto! Há dias que acorda como se não tivesse nada, há outros dias que aparece com ..., que elas dizem, não é, entre parenteses, com a veneta, que aquilo, pronto, mas aí a gente temos que dar desculpa, eu pelo menos dou e tento dizer a eles.

E - Nunca se viu tentado a trazê-la?

F6 - A tirá-la? Não, não. Não, porque já sei que vai acontecer novamente, então não, porque sei que ali é o melhor para ela estar.

10 . Diz também que o humor da

mãe é distímico, e que ele vai informando o pessoal da instituição de que não devem “ligar” muito quando ela acorda mal-humorada. Apesar dessas oscilações, afirma não pensar nunca em retirá-la de lá porque sabe, antecipadamente, o que vai acontecer, e que teria que voltar. Atribui as mudanças dela ao

envelhecimento, alternando dias bons com outros muito maus, situação que deve ser compreendida.

11 . Se a gente tivesse hipóteses de a termos na nossa

casa, mas a gente não está em casa, a gente trabalha. Então como é que vai para casa, para ficar sozinha outra vez? Não dá, então achamos que ali é o melhor (…) Em casa é sempre preferível, enquanto se pode…