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3. Estudo crítico da evolução histórica da Páscoa de Castelo de Vide

3.3. A Páscoa de Castelo de Vide: comparação entre a sua constituição até aos anos 50 do século passado e a actualidade

3.3.1. A Páscoa em Castelo de Vide

3.3.1.1. Quaresma e Semana Santa

A Quaresma tem início na Quarta-feira de Cinzas e prolonga-se até à tarde de Quinta-feira Santa, num total de quarenta dias. A história da Quaresma, de acordo com Mota (2007), remonta ao século II, em que os cristãos faziam um jejum de dois dias, na sexta-feira e sábado anteriores à Vigília. De acordo com o mesmo autor, este período de jejum começou a prolongar-se, como se regista no Egipto nos finais do século III, associando-se aos quarenta dias que Jesus permaneceu no deserto em oração, “(R) preparando-se para a manifestação transcendente da Sua Morte e Ressurreição por Amor aos Homens” (Catana,2004:21).

O simbolismo do número quarenta está também associado aos quarenta dias que Moisés jejuou no Monte Sinai, que o profeta Elias caminhou até Horeb, o Monte de Deus, e também os quarenta anos que o Povo de Israel peregrinou através do deserto.

A entrada no período quaresmal representa um tempo de conversão, “(R) de maior meditação entre a graça e o pecado, entre o bem e o mal, entre Deus e o Diabo” (Catana,2004:21), sendo por isso uma época de oração, de sacrifício e de esperança, o mesmo será dizer, de preparação para a Páscoa.

Durante a Quaresma a Capelinha do Calvário está aberta todas as sextas- feiras, com a imagem de Nossa Senhora da Soledade9.

É habitual não se comer carne durante as sextas-feiras da Quaresma, bem como entre Quinta-Feira e Sexta-

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Esta imagem do século XVII, é uma santa de vestir e é propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Castelo de Vide.

Figura 3 - Matracas Fonte: Própria

Feira Santa e Sábado de Aleluia. Esta tradição, praticada pelos católicos, e que ainda hoje é bastante respeitada pelas gentes de Castelo de Vide, deve-se ao facto de Jesus ter sido maltratado e o seu sangue derramado, por isso não se come carne em respeito à sua morte e pelo que sofreu por nós (Alexandre, 1976).

Na Quaresma, devido ao carácter religioso, não se realizam bailes; os casamentos e baptizados devem ser evitados, bem como as canções populares, consideradas profanas (Alexandre, 1976).

Desde a quinta-feira até ao Sábado de Aleluia, os sinos não tocam nas igrejas, como forma de luto pela morte do Senhor. Até ao aparecimento da Aleluia, são as matracas que substituem o tocar dos sinos, quer no início de uma procissão quer para anunciar a morte de alguém.

A partir da quarta-feira até à madrugada de Domingo da Ressurreição todos os fornos da vila coziam os bolos de festa, queijadas e folares, de modo a abastecer as famílias que por esta altura faziam vários jantares e merendas, nos campos que começavam a florir. Estes bolos continuam a fazer parte da dieta pascal, mas na maioria das vezes são comprados nas várias pastelarias de Castelo de Vide e já não são exclusivos desta época, com excepção dos folares, que são confeccionados apenas nesta altura do ano.

Até uma certa época, os andores nas procissões eram atribuídos aos irmãos das diferentes confrarias por hierarquias, dos irmãos mais velhos aos mais novos, com excepção da Procissão da Ressurreição, cuja organização estava a cargo da Câmara Municipal.

O canto surge de forma espontânea e saudável nas populações rurais nos seus tempos de lazer, fervor religioso ou nas fainas Catana (2004). Relativamente aos cânticos de teor religioso, são segundo o mesmo autor, aqueles que se entoam durante a Quaresma os que melhor expressam o sentimento religioso do povo português. Em Castelo de Vide eram cantadas quadras de índole religiosa10.

10“Dizei Madalena Santa,

Se Jesus vistes passar.

Por mim aqui não passou, Senhora, Antes do galo cantar.

Levava uma cruz aos ombros, Mas não podia levarR

Os grupos de mulheres que trabalhavam no campo, em mondas e sachas, passavam o seu tempo a entoar estas canções. Também o faziam quando iam à fonte buscar água, ao lavar a roupa no rio ou então nas suas lides domésticas.

Em Castelo de Vide, o período pascal pode ser divido em duas fases: uma dita católica e outra mais sincrética. Desde o Domingo de Ramos até à Sexta-Feira Santa, todas as celebrações são católicas, cujas cerimónias seguem um certo ritual e hierarquia. Esta fase termina com a “Procissão do Enterro do Senhor”. Já o Sábado de Aleluia e o Domingo de Páscoa denotam “ (R) costumes de outras influências, especialmente judaica (R) ” (Fauvrel 1994: 62).

Existem três maneiras de celebrar a Páscoa. A primeira pelas pessoas mais velhas, sobretudo mulheres, que assistem aos serviços litúrgicos. Uma segunda por algumas pessoas de meia-idade, alguns adolescentes e crianças,

E uma corda ao pescoço, Que o fazia ajoelhar!

Não posso João, não posso, Eu vou cheia de ternura! Não posso ver meu filho, Preso a uma coluna!... Ó meu filho, Ó meu filho, Quem te tratou da má sorte? Tão pobremente nascestes, Tão triste tendes a morte! Indo eu para o calvário, Nas minhas costas rezando, Os caminhos me disseram: - A Senhora está chorando Pelo seu amado filho, Que lho estão martirizando! Ó calvário, ó calvário Ó calvário de ternura Onde está o Senhor morto, São João e a Virgem pura! Senhor padre João de Deus, Raminho de salsa crua! Anda pregando pelo mundo,

que participam nas procissões. Por último os homens e a maioria dos adolescentes que se afastam do ambiente religioso e apenas aproveitam as festas.

Durante a Semana Santa, todas as celebrações religiosas são habitualmente realizadas na Igreja Matriz. Passo a descrever as actividades que se realizam durante a Semana Santa, algumas já não se realizam, como é o caso de Quarta-Feira e Quinta-Feira, mas faziam parte da tradição nos anos 50, segundo Gordo (2004).

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