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Vejamos agora como se comportou a Lei em outro caso. Esta vez não temos dois elementos opostos; um seguindo o caminho do bem e conseguindo um resultado para ele positivo; e outro seguindo o caminho do mal e conseguindo um resultado para ele negativo. O caso agora é mais simples porque temos somente o primeiro elemento, aquele que termina bem. O outro torna-se secundário.

Trata-se de um jovem de cerca de 35 anos, que vivia só com a velha mãe a quem era afeiçoadíssimo. Era trabalhador, fiel, honesto, mas não sabia ser egoísta no sentido de pensar somente em si. Não se pode considerá-lo um fraco, apenas porque generosamente corria, em primeiro lugar, a favor dos outros, antes de cuidar de si mesmo. O resultado disso era que qualquer um que dele se avizinhasse, aproveitava-se de sua bondade, utilizando-a em vantagem própria. Ele não fazia mal aos outros, mas eram os outros que lho faziam. Não fazia vítimas porque a vítima era ele mesmo.

Ele se encontrava perfeitamente colocado perante a Lei, razão por que, neste caso, ela devia intervir em sentido benéfico. Isso explica-nos como foi exatamente aquilo que aconteceu. Em sua idade era necessário que ele tomasse uma decisão. Permanecer naquelas condições significava piorar sempre até atingir a velhice sozinho, abandonado e pobre. Se a Lei desejava salvá-lo, deveria fazê-lo imediatamente. A mãe envelhecia e, nas suas condições de saúde, em vez de ser um auxílio, tornava-se um peso sempre maior. Os indivíduos de seu ambiente, aproveitando-se de sua bondade, tornavam-se cada vez mais audaciosos e maléficos em prejuízo dele. Assim ele encontrava-se continuamente atacado por eles. Havia neste caso, como nos outros, também, o setor das forças do mal, mas composto de grãos de poeira de elementos negativos, cada um de per si de pouca importância, mas danosos em seu conjunto. Nestas condições o caso tornava-se cada vez mais grave para o jovem.

Observemos agora como funciona a Lei. Ela resolveu o problema no sentido completamente positivo, benéfico, salvando cada coisa e satisfazendo de um golpe todas as exigências, de forma adequada e em perfeita ligação com a natureza do caso. Aquele indivíduo carecia de uma defesa que o protegesse na luta pela vida. Este era o ponto a ser defendido e a Lei demonstrou conhecê-lo. Desde moço ele estava noivo de um a moça conterrânea, sua parente, mas depois a coisa, por circunstâncias várias, parou como se quisesse ficar guardada para este momento, no qual se reavivou e se concluiu. Assim, casaram-se.

Ela parecia feita sob medida para cumprir a tarefa para qual a Lei a chamava. Inteligente, trabalhadora, honesta, temperamento prático, de ação, juntava-se no sentido do bem às qualidades dele, enquanto as completava nos seus pontos fracos. Assim os dois elementos foram unidos por uma perfeita complementação, convergente, em cada ponto, sentido positivo. Dissemos que o elemento negativo não tinha tomado um corpo definido em um só indivíduo, mas encontrava-se em estado indefinido, de tantos elementos mínimos separados, que foi fácil liquidá-lo. Eles, de fato, farejando o novo ambiente, eclipsaram-se por si, pouco a pouco. O procedimento foi automático e, assim levado avante em pequenas doses, não foi necessário um provimento explícito por parte da Lei.

Permaneceu em campo, visível, a vitória do bem. Sob a nova direção, entregue à mulher, organizou-se a nova família. Ela juntou seu salário ao do marido e com cuidadosa economia conseguiram comprar uma casinha e elevar seu nível social. Tudo mudou do mal para o bem. A Lei havia conseguido, com uma pequena combinação de elementos preexistentes, salvar uma posição que ameaçava atingir um final desastroso. Porque a Lei quis salvar a situação com este seu movimento? É certo que a coisa foi bem feita, segundo a bondade e sabedoria da Lei, para poder ser atribuída ao acaso.

A primeira razão que levou a Lei a operar este salvamento foi o mérito do indivíduo. Se ele tivesse merecido o contrário, a Lei teria feito o oposto. Neste caso vemos então a aplicação do princípio do mérito. É verdade que aquele indivíduo era fraco e devia ser corrigido neste ponto. Mas a sua fraqueza era só em favor dos outros, por excesso de bondade e altruísmo. E este seu defeito continha, então, o germe de uma grande virtude, tão pouco comum mas cuja aquisição será indispensável a todos no futuro estado de coletividade orgânica, do qual a humanidade está sempre mais se avizinhando. Então, se o seu era um defeito, ele já lhe havia sofrido bastante as conseqüências. Mas, neste caso, mais do que um defeito a ser eliminado, tratava-se de uma virtude a ser desenvolvida. Foi assim que a Lei não a reprimiu,

mas ajudou, provocando o salvamento. Ela fez todos os seus cálculos na avaliação das forças que se moviam no fenômeno e, se se comportou como o fez, isto significa que neste caso existiam impulsos positivos, valores deste sinal que impunham uma intervenção neste sentido.

Neste ponto vemos na Lei a presença de um outro princípio que ela aplica em sua economia: o de retidão e justiça pele qual são respeitados os valores, que devem ser protegidos e ajudados para produzirem o seu maior rendimento. O elemento bom é um valor positivo, não desperdiçado, mas feito para frutificar. E a Lei, por coerência, não pode deixar de aplicar este seu princípio. Ela não pode contradizer a si mesma e, quando contém uma norma, fica-lhe primeiramente sujeita. Se assim não fosse, ela não representaria um princípio de ordem, mas de desordem, que, em vez de manter tudo organizado dentro de uma disciplina, terminaria por desintegrá-lo no caos. Isto é o que o homem desejaria fazer com seu egocentrismo. Mas quando ele viola a Lei, tem somente o poder de arruinar a si mesmo, mas não o de interromper o funcionamento dela.

A Lei é a primeira serva dos princípios sobre os quais se baseia. É a primeira a pô-los em ação, porque não pratica de modo diferente aquilo que prega. É por ser antes de tudo uma lei que ela se sente autorizada a exigir observância dos outros, pelo fato de que primeiramente a exige de si mesma. Cai assim completamente o conceito humano de autoridade usada em vantagem de quem comanda para impor-se aos próprios dependentes, sendo substituído por este outro método: comandar é fazer primeiro o que se exige dos outros. Este é o novo conceito de autoridade que a Lei nos ensina.

Esta é uma das coisas que nos diz a análise dos casos que aqui estamos observando Estamos desmontando o mecanismo da Lei para ver como é feito. A diversidade dos casos nos mostra a diversidade dos modos pelos quais a Lei pode comportar-se. Porém o leitor terá notado que seu funcionamento nestas diversas posições repete-se seguindo um mesmo princípio, isto é, por exemplo, que o bem é ajudado a vencer, que o mal leva à ruína, que os valores positivos lançam-se em direção oposta àquela dos negativos etc. . É natural que, apesar dos casos serem tantos, os princípios sejam fundidos em unidade, poucos e repetidos em cada caso.

Esta é a razão pela qual pode parecer que nesta obra tantas vezes nos repetimos. Estamos fazendo um trabalho de análise, no qual a observação é tanto mais comprovada, quanto mais numerosos são os casos com os quais os princípios são postos em contato, e ainda mais numerosos são os fatos que os confirmam. Eis a necessidade de repetir a observação. A cada uma destas, perguntamo-nos: mas é mesmo verdade?

Aqui não fazemos exposição de teorias filosóficas ou religiosas, mas de princípios que envolvem a realidade. O escopo desta obra não é literário, mas didático. Então fazemos o leitor assistir ao nosso trabalho de pesquisa, que necessita ser bem controlado antes de poder ser definitivamente afirmado. Em primeiro lugar, procuramos persuadir a nós mesmos, e conosco os leitores, porque as conclusões são graves, e, se são verdadeiras, mudam tudo de fundamento. Por isso, a cada passo, voltamos a olhar, mudando o ângulo visual, para assegurarmo-nos de sua veracidade.

Esta repetição corresponde a movimentos em sentido único nos vários casos. Tal fato revela-nos a presença de um ponto comum, de uma "constante" que exprime os princípios diretivos da Lei. A repetição é devida à contínua reaparição desta "constante". A observação de uma casuística pode permitir- nos chegar ao conhecimento do pensamento que aparece naquela constante. E assim que, tendo chegado a conhecer aquele pensamento, poderemos saber qual será o funcionamento da Lei para nós, no futuro, isto é, que acontecimentos virão a nosso encontro, segundo a premissa que propusemos com nossa conduta.

Estes conceitos põem-nos diante da vida em uma posição diversa daquela assumida pelo homem no passado. Não que a verdade do real possa ser mudada. Esta permaneceu a mesma de antes. O que hoje muda é o modo de vê-la, de enfrentar e resolver o mesmo problema. Encontrando-se diante dele, a humanidade do passado não podia pensar nele e compreendê-lo, dado o seu estado infantil, que, ao nível de sua forma mental emotiva, era fantástico, ligado a construções mitológicas consideradas como realidade. Aqui enfrentamos o mesmo problema, mas com outra forma mental para chegar a resultados positivos e adquirir uma certeza que a fé, somente, não pode dar. Não queremos negar, mas aperfeiçoar.

Substituir o sonho por um conhecimento objetivo apoiado sobre fatos, sem dúvida, é progresso. Respeita- se o coração, mas controla-se a mente. Assim elimina-se a elasticidade que a fé, permite e as acomodações possíveis com aquele sistema, mas que são já inadmissíveis em um regime mental de positividade. Isto não é negar, mas acrescentar, aprofundar para apoiar-se em bases mais sólidas e seguras.

A vantagem que se obtém de tudo isso é que se descobre algo que está acima de todos os valores humanos. Antigamente a questão fundamental era crer, de modo que cada um a resolvia a seu modo, podendo afirmar aquilo que quisesse, dado que não existia nenhum controle positivo. Assim se explica a diferença entre as opiniões, cada uma proclamada como a única verdade, condenando como erro as outras. O terreno religioso é um campo minado de exclusivismos e antagonismos. É por isso que a visão da verdade tanto mais poderá tornar-se única e igual para todos, quanto mais tornar-se objetiva, ligada à realidade como o é a ciência. E que aquela realidade é dirigida por um pensamento divino que organiza o funcionamento dela em cada tempo e lugar. Trata-se, então, de uma verdade objetivamente verdadeira e universal, porque está escrita nos fatos nos quais se pode lê-la e não é um produto desta ou daquela mente humana. É a verdade da qual o homem novo tem necessidade e que está procurando desesperadamente. O vácuo espiritual no qual o está lançando o desmoronamento do velho mundo é um abismo que faz medo. Todavia é necessário ir em frente, porque se torna cada vez mais inaceitável o fato de ter que viver com a psicologia adotada no passado.

Com o conhecimento da Lei, sabe-se que há um plano e uma meta na vida individual como no todo, que há uma ordem, uma salvação e meios para atingi-la. Sabe-se que se pode contar com a Lei e sabe-se isso não por uma fé que oscila sempre na dúvida, mas pela segurança que vem do ter analisado o problema e do conhecimento da técnica fundamental do fenômeno. Trata-se de uma religião a qual não se pode mais acusar de ser o ópio dos povos, porque é, ao contrário, um redespertar da consciência, baseado no conhecimento. Não se trata então de uma heterodoxia, porque aqui, pelo contrário, procuramos abrir sempre mais os caminhos do espírito, a fim de que este se torne a grande força que nos levará a vencer na vida. Uma demonstração clara é o único meio para evitar a descrença. Uma coisa é crer, e outra é saber; uma coisa é não ter certeza, e outra é a segurança de quem está convencido, porque observou e compreendeu. Finalmente, uma contabilidade esclarecida com Deus, uma providência cujo modo de funcionar já se conhece e na qual se pode logicamente confiar, provocando resultados com os quais se pode contar porque, segundo a justiça, pertencem-nos por direito.

Dissemos que a realidade dos fatos não está mudada, é sempre a mesma; mas o que mudou foi a mente que a vê, e é capaz de compreendê-la. A lei funcionou sempre como agora a vemos, porém não se tinha consciência deste seu funcionamento. Temos estado sempre todos inclusos em uma ordem universal, mas sem analisá-la e sem saber se mover nela, conscientes de sua estrutura. O que mais impressionará o homem novo será descobrir esta presença universal de um pensamento diretivo, tocar com as mãos esta realidade, até chegar ao diálogo e obter resposta, enfim o não se encontrar, como pode parecer, perdidos em um universo que nos ignora, mas cidadãos dele, fundidos e funcionantes em sua organicidade.

VIII