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PARTE II – A CRIAÇÃO DA “NOVA INSTITUCIONALIDADE”

CAPÍTULO 3 – A ORGANIZAÇÃO DOS INSTITUTOS FEDERAIS NA

3.2 O que evidenciam as entrevistas

Conforme anunciado anteriormente, para ampliar as análises sobre a organização da “nova institucionalidade”, bem como aprofundar a compreensão

sobre as razões para a adesão e a resistência à proposta dos IFs, realizou-se

entrevistas semi-estruturadas com três gestores do CEFET-MG, um gestor do Coltec-UFMG, e cinco gestores de IFs mineiros. O roteiro da entrevista constava de dados de identificação dos sujeitos e contava com um conjunto de questões que se destinavam a levantar as opiniões dos gestores sobre os IFs (processo de adesão, ganhos e prejuízos, importância) e a atual estruturação da rede federal de EPT. Organizaram-se os dados em duas partes – a caracterização dos sujeitos e as opiniões dos entrevistados.

3.2.1 Os entrevistados

Conforme mencionou-se, foram entrevistados nove gestores, escolhidos aleatoriamente, observando a vivência do processo de criação dos IFs em Minas Gerais. Objetivando ampliar a compreensão sobre as razões pelos quais

determinadas instituições não aderiram à política dos IFs, optou-se por entrevistar gestores do CEFET e de uma ETV (o Coltec-UFMG). Para ampliar o entendimento sobre os motivos pelos quais determinadas instituições aderiram à política dos IFs entrevistaram-se gestores do IFMG, IFNMG e IFSulMG. As entrevistas duraram, em média, 50 minutos e foram realizadas entre janeiro e março de 2013. Para preservar a identidade dos entrevistados, a caracterização e os discursos dos mesmos serão trazidos para o corpo do texto mediante a utilização de nomes fictícios.

O primeiro entrevistado (Antônio) é Pró-Reitor no IFMG, graduado em economia com mestrado e doutorado em estatística, atua na EPT há aproximadamente sete anos. A segunda entrevistada (Bárbara) atuou como diretora de Campus no CEFET–MG por três anos, estando nesse cargo na ocasião da criação dos IF. Fez ensino técnico integrado. Possui graduação em pedagogia além de docência na área de construção civil. Fez especialização em pedagogia empresarial e materiais de construção e mestrado em educação tecnológica no CEFET-MG. Tem mais de 30 anos de atuação na EPT, sendo 23 anos no CEFET.

O terceiro entrevistado (Carlos) também é do CEFET. Atua na gestão da referida instituição desde 2011. É professor do mestrado em educação tecnológica. Na ocasião da criação dos IF, acompanhou as discussões como Conselheiro no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão do CEFET Minas. Fez ensino médio e técnico, graduação em filosofia e pedagogia, mestrado em educação tecnológica e doutorado em educação. Atua há mais de 30 anos na educação, sendo mais de 23 na educação profissional, 08 anos só no CEFET. A quarta entrevista foi realizada com uma Pró-Reitora do IFNMG (Diana). Ela cursou ensino médio e técnico, é graduada em Letras pela PUC-MG, fez especialização e mestrado em estudos linguísticos pela UFMG e cursa o doutorado em desenvolvimento rural pela UFRGS. Diana possui 17 anos de atuação na Educação Profissional.

A quinta entrevistada (Elena) atuou como assessora na gestão do CEFET-MG na ocasião da criação dos IF. Ela cursou ensino médio e técnico, é graduada em Pedagogia e Comunicação Social, é mestre em Educação pela FaE- UFMG e doutora em filosofia – PHD na área da Educação pela Flórida State University. Atua na Educação Profissional há 21 anos, desde 1992, quando entrou no CEFET, até hoje. O sexto entrevistado (Fernando) é Pró-Reitor no IFSul de Minas Gerais. Cursou ensino técnico (agropecuária) e graduação em ciências agrícolas (licenciatura). Fez especialização em metodologia do ensino e produção de

ruminantes e possui mestrado e doutorado em zootecnia. Está há 20 anos atuando na Educação Profissional.

A sétima entrevista foi realizada com um diretor de extensão do IFNMG (Geraldo). Na ocasião da criação do Instituto, ele atuava como pró-reitor e reitor substituto. Cursou ensino médio e graduou em administração de empresas e ciências contábeis. Também é licenciado em administração e economia rural. Possui especialização em gestão escolar, mestrado em administração de empresas e doutorado em desenvolvimento rural (em andamento). Conta com 16 anos de experiência na educação profissional. O oitavo entrevistado (Hélcio) atua como diretor geral de campus no IFNMG. Fez o ensino médio integrado (técnico em agropecuária). É licenciado em ciências agrícolas pela UFRRJ e tem mestrado e doutorado em agronomia pela UFV- Viçosa. Está há 24 anos atuando na Educação Profissional. O último entrevistado (Ivo) atuou na gestão do Coltec na época da criação dos IF. Cursou o ensino médio, é bacharel em física, mestre em engenharia mecânica e doutor em engenharia elétrica. Possui 20 anos de atuação na Educação Profissional.

3.2.2 As opiniões dos entrevistados

A primeira questão dirigida aos sujeitos objetivava averiguar os motivos que levaram as instituições a aderirem ou não aderirem à política de organização em IFs. Nas entrevistas, assim como nos questionários, os gestores das instituições que aderiram apontaram razões que ratificam dados apresentados por Otranto (2010): possibilidade de crescimento institucional, mais investimentos financeiros e pressão do MEC. As falas a seguir ilustram bem essa assertiva:

Inicialmente foi a questão mesmo da expansão, foi a questão de recursos, obter mais recursos, mais servidores para a instituição, mais recursos para aplicar em toda a região. Isso realmente surtiu efeito. Vamos colocar, o Campus Muzambinhoque eu sou lotado, na época tinha 2(dois) mil alunos, em dezembro de 2008, e hoje o campus, agora, no primeiro semestre de 2011, chega a 12.000 alunos. (Fernando; IFSulMG)

[...] havia possibilidade de um crescimento, de penetração dentro do estado de Minas Gerais, isso a gente tinha certeza! Uma maior visibilidade de Instituto, uma maior atração de alunos, uma maior oferta de possibilidades – isso havia certeza! Havia certeza também do desafio enorme porque não estava claro como se daria essa nova estrutura! (Geraldo; IFNMG).

Os dados indicam ainda que, além do crescimento institucional apontado por Otranto (2010), a busca por maior autonomia institucional seria um motivo para a adesão.

A partir da criação das UNEDs, todos os CEFET´s, em todo o país, estavam em um plano de expansão da educação profissional, todos estavam implantando unidades de ensino descentralizadas. Nesse período começou a se pensar no rearranjo, numa articulação de uma instituição que fosse mais fortalecida, que tivesse uma apresentação no cenário nacional e que pudesse trabalhar com todas as modalidades de ensino, que pudesse trabalhar com todos os níveis de ensino e trabalhar, principalmente, com ensino pesquisa e extensão. O que acontecia com o CEFET? A gente não tinha ainda total autonomia de implantação de todos os cursos superiores e não tinha a total autonomia que as universidades tinham, tanto na implantação desses cursos, quanto na questão legal de registro de diploma. (Diana; IFNMG)

Entretanto há um motivo que não figura entre os dados apresentados por Otranto (2010). A adesão se deu, entre outras razões,

Pelo potencial da região. [...] a localização geográfica, a região central de Minas Gerais tinha que ser contemplada, tem um potencial muito grande para a educação profissional. À época, tinha isso também, se sabia que o CEFET Minas não aderiria ao processo e ficaria um vácuo na região central, e que foi ocupado por esse projeto. (Antônio; IFMG).

A demanda por EPT que havia em uma dada região e o vácuo que ficaria em termos de oferta de EPT já que o CEFET-MG não aderiu, também justificou a adesão para um Instituto pesquisado. Para além do ganho em autonomia e do crescimento institucional, Diana acrescenta outra razão: o atendimento às demandas e às necessidades da sociedade. Diz:

Como instituto, as possibilidades de atendimento, de atender melhor à sociedade, e de atuação de uma forma que era o perfil de uma educação profissional e tecnológica e que era necessidade da sociedade, assim, a lógica, a pressão social, a demanda, e tudo aquilo que o instituto pode atender é muito, mas muito interessante para uma instituição pública, para o trabalho de uma instituição pública. É a questão da função social. (Diana; IFNMG).

Se o ganho de autonomia justifica a adesão, por outro lado, a perda de autonomia institucional e o desejo em transformar-se em UT figuram como motivos para a não adesão (Otranto, 2010). Embora considerem a perda de autonomia como razão para não adesão, no contexto pesquisado, os principais motivos apresentados pelos gestores do CEFET Minas foram o desejo em transformar-se em UT e o respeito à história da instituição. A fala de um dos entrevistados sintetiza bem a

posição do grupo: “A nossa resistência, a não transformação em instituto, foi por respeito a nossa própria história e ao nosso desejo e investimento na transformação em universidade, em outro projeto”. (Carlos; CEFET-MG).

Já no caso do Coltec o gestor informa que houve: “Pouco interesse da maioria ou, melhor dizendo, grande interesse da maioria em permanecer vinculada(s) a UFMG. O fato de estar dentro da UFMG talvez seja o maior e principal motivo”. (Ivo; Coltec). Segundo o entrevistado, é provável que “a maioria não saiba a essência da proposta”. Ao que parece, houve pouca discussão desse projeto no âmbito do Coltec. Ademais, embora o entrevistado ressalte que há uma desvalorização da EP na universidade, há um sentimento de orgulho por fazer parte da UFMG “considerada a maior/melhor UF”. Esse sentimento ajudaria a explicar a não adesão, aliado a uma incerteza em relação ao que estaria por vir. Nesse contexto, assim como no conjunto de escolas pesquisado por Otranto (2010), a vinculação à uma universidade constitui uma vantagem que justificou a não adesão.

No caso do CEFET-MG, a não adesão não ocorreu apenas por conta do desejo em transformar-se em UT e o respeito à história da instituição e da possível perda de autonomia. A longa fala de uma entrevistada recupera a história e acrescenta um ponto para a discussão.

Acho que teve uma razão histórica, uma razão que eu diria, se é que eu não corro risco de fazer uma classificação meio absurda, mas acho que teria também uma razão mais objetiva. Em relação à razão histórica eu poderia dizer assim, na segunda metade da década de 90 começou uma ênfase muito grande em uma ideia, um desejo, pelo trabalho que já vinha sendo feito há muito tempo atrás, no sentido de que algumas instituições da rede federal se desenvolvessem para se transformarem em universidades. Isso já era uma discussão de muitos anos atrás e, na segunda metade da década de 90, isso ficou muito enfatizado em algumas instituições, sobretudo naquelas instituições que eram denominadas os grandes CEFET´s, os CEFET´s históricos, que foram os três CEFET´s fruto da transformação das escolas técnicas federais, de três escolas técnicas que foram: a escola do Paraná, do Rio e de Minas Gerais. [...] no início da década de 90, houve a transformação da escola técnica federal da Bahia e da escola técnica do Maranhão em CEFETs. Então, além dos três grandes CEFET´s, havia mais dois, eram cinco CEFET´s. [...] Dentro desse quadro houve um incentivo dos órgãos de gestão do sistema, no sentido específico de que o CEFET Minas, Rio e Paraná se preparassem para tal. [...] O CEFET Minas [...] fez um esforço enorme no sentido de qualificar seu quadro docente em nível de pós – graduação scricto sensu, com mestrados, com doutorados, e fez um esforço no sentido de absorção das seleções de pessoal, valorizar a titulação, pensando nos critérios definidos pós LDB, para se transformar em universidade [...] universidade especializada por campo do saber. [...] Referindo-me agora a outra dimensão, uma dimensão objetiva, o projeto dos IFET´S, e a lei também, ele implica numa reserva de vagas [...] 50% de vagas para o Ensino Médio e 20% de vagas para o Ensino Superior licenciatura e o restante das vagas para a graduação