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Termino .por .onde .provavelmente .deveria .ter .começado .se .tivesse .tido . a .intenção .de .elaborar .um .discurso .lógico .e .completo .sobre .a .questão . dos .conflitos .de .paradigmas .nas .ciências .sociais .e .humanas, .referindo .o . sentido .que .Thomas .S .Khun .dá .ao .conceito, .tomando .menos .em .conta . o .seu .livro .do .que .o .postfácio .escrito .para .a .segunda .edição .de .1969 .

Refere .o .autor .que .o .termo .paradigma .é .utilizado .num .duplo .sentido: .«a . constelação .de .crenças, .valores .técnicas, .etc , .partilhadas .pelos .membros . de .uma .dada .comunidade»; .e .os .elementos .«nesta .constelação, .[ou .seja], . as .soluções .concretas .de .um .enigma .que, .empregues .como .modelos . ou .exemplos, .podem .substituir .regas .básicas .na .solução .dos .restantes . enigmas .da .ciência .normal » .(Kuhn .1970: .175) .O .autor .chama .ao .primeiro . sentido .sociológico .e .considera .o .segundo .mais .aprofundado .

Independentemente .de .ser .ou .não .claro .o .pensamento .do .autor .– . um .leitor .seu .encontrou .22 .sentidos .da .palavra .paradigma .no .texto .ori- ginal, .como .ele .próprio .admite .– .o .que .dele .retiro, .sem .preocupação .de . grande .fidelidade, .é .que .o .paradigma .em .termos .sociológicos .se .aproxima . da .noção .mais .ampla, .e .para .mim .faz .mais .rica, .das .cultura .de .grupo .As . culturas .específicas .das .comunidades .cientificas .ou .profissionais .– .filo- sóficas .ou .sociológicas, .psicológicas .ou .psicanalistas, .técnicas .ou .mana- jeirais .– .exprimem-se .em .linguagens .próprias, .por .vezes .herméticas, .que . criam .formas .particulares .de .olhar .o .mundo .e .de .se .distanciar .daqueles . que .a .não .dominam .porque .não .conhecem .os .códigos .que .dão .acesso . a .esse .saber .Por .outro .lado, .se .podemos .considerar .que .o .pensamento . de .Khun .pode .ser .sintetizado .em .três .dos .subtítulos .do .seu .postfácio . – .«Paradigmas .como .constelação .de .comprometimentos .dos .grupos», . «Paradigmas .como .exemplos .partilhados», .«Paradigmas .como .formas .de . conhecimento .e .intuição .tácitas» .– .temos .de .dizer .que .os .paradigmas . hoje .existentes .nas .comunidades .constituídas .por .saberes .específicos . contribuem .cada .vez .mais .para .a .formação .de .classes .diferenciadas, .não . já .com .base .na .apropriação .dos .modos .de .produção, .mas .nos .modos . de .conhecimento

Mas .se .as .culturas .de .grupo .determinam .muito .do .que .conhecemos . acerca .da .sociedade, .a .questão .de .fundo .é .a .dos .modos .de .produção . das .ciências, .sejam .humanas .sejam .naturais .A .diferença .está, .porém, . mais .nos .objectos .de .estudo .e .nas .teorias .que .os .explicam .ou .com- preendem .do .que .nos .métodos .de .recolha .de .informação .e .de .análise . específica .de .cada .uma .das .ciências .Embora .haja .diferenças .na .expli- cação .ou .na .compreensão .dos .respectivos .objectos, .trata-se .de .diferen- ças .de .grau .e .não .de .atitude .O .maior .avanço .de .algumas .ciências .da . natureza .estaria .assim .dependente .da .estabilidade .e .imutabilidade .do . seu .objecto .de .estudo .

Conflitos .de .paradigmas .nas .Ciências .Sociais .| 139 .

O .desafio .que .a .modernidade .tardia .nos .coloca .é .a .da .síntese .do . conhecimento .e .da .compatibilização .das .teorias .acerca .do .homem, . seja .qual .for .a .origem .dos .conhecimentos .que .conduzem .a .essa .sín- tese .Entendo, .por .outro .lado, .que .para .progredir .em .termos .científicos, . mais .do .que .falar .de .conflitos .de .paradigmas, .será .necessário .ver .como . as .teorias .de .cada .uma .das .ciências .podem .ser .integradas .em .sínteses . amplas .onde .as .diferenças .de .método .sejam .menos .referidas .do .que .é . comum .fazer .E .não .será .necessário .ter .má .consciência .pelo .facto .de .as . ciências .humanas .não .terem .o .mesmo .estatuto .de .isenção .e .distância . das .ciências .da .natureza, .pois .também .o .homem, .na .riqueza .das .suas . manifestações .individuais, .sociais .e .culturais, .precisa .de .ser .compreen- dido .com .instrumentos .analíticos .e .teóricos .que .ultrapassem .a .simples . empiria .acrítica

Necessário .é .criar .comunidades .científicas .que .não .fiquem .acantona- das .ao .seu .saber .específico .e .deixem .que .as .suas .ciências .fiquem .poli- nizadas .por .ideias .e .processos .cultivados .por .outras .ciências, .de .forma .a . chegar .a .patamares .de .formalização .cada .vez .mais .avançados .Esta .mútua . polinização .científica, .quer .em .termos .de .metodológicos .quer .teóricos, . não .poderá .deixar .de .ser .vantajosa, .como .já .acontece .em .muitas .ciências . sociais .e .humanas, .como .na .economia, .onde .algumas .das .teorias .mais . avançadas .incluem .componentes .psicológicas .notórias .

Esta .permeação .de .ideias .tem .tido, .aliás, .resultados .interessantes: .a .his- tória .tem .ido .buscar .às .preocupações .sociológicas .temas .e .métodos .de . análise, .a .sociologia .vai .à .biologia .imagens .para .compreender .alguns .dos . processos .que .nela .são .fundamentais, .a .etnologia .vai .buscar .à .linguística . ou .à .psicologia .alguns .dos .esquemas .que .lhe .permitem .compreender .a . maneira .como .o .pensamento .se .estrutura .simbolicamente .

Nada .disto .é .feito .sem .riscos .Os .pressupostos .do .contrato .de .emprés- timo .precisam .de .ser .criticados, .tal .como .não .podem .deixar .de .ser .situ- adas .e .contextualizadas .as .imagens .desencadeadoras .de .intuições, .se . quisermos .tornar .rentáveis .os .empréstimos .feitos .

Sabendo .nós .que .a .crítica .interna .que .cada .ciência .faz .dos .pressupos- tos .das .teorias .elaboradas .no .seu .seio .raramente .leva .à .sua .renovação, .e . que .ela .só .é .conseguida .mediante .a .inspiração .colhida .nas .ideias .e .proces- sos .analíticos .de .outras .ciências, .forçoso .é .que .passemos .dos .paradigmas .

próprios .de .cada .ciência .para .uma .comunalidade .de .métodos .e .teorias, . não .retornando .à .filosofia, .mas .sob .a .sua .inspiração .

Bibliografia

Kuhn, .Thomas .S , .1970, .The Structure of Scientific Revolutions, Chicago, .The .University .of . Chicago .Press, .2nd .ed

Lages, .Mário .F , .2006, .Vida/Morte e diafania do mundo na história de carochinha, .Lisboa, . CEPCEP

Lévi-Strauss, .Cl , .1971, .Mythologiques, IV, L’homme nu, .Paris, .Plon Lévi-Strauss, .Cl , .1973, .Anthroplogie strucurale deux, .Paris, .Plon .

Mário F. Lages

A viragem da maré: