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O QUE PENSAM OS PROFESSORES SOBRE ENSINO DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO AMBIENTAL, USO DO LIVRO DIDÁTICO E SOBRE SUA FORMAÇÃO

3.5. O que os professores pensam sobre a sua formação inicial e continuada

Com relação a como percebem sua formação inicial para trabalhar com as questões ambientais em sala de aula, a maioria dos professores (seis deles) respondeu ter tido pouca ou nenhuma orientação durante a graduação e quatro deles respondeu que recebeu algum tipo de formação. No Gráfico 11 apresentamos esses resultados.

Dentre os que afirmam ter recebido em sua formação inicial pouca ou nenhuma orientação para trabalhar as questões ambientais, apenas um professor é formado há menos de vinte anos. Dos professores formados há mais de vinte anos, alguns explicaram que, na época de sua formação, os temas ambientais não estavam em evidência como nos dias de hoje.

Dentre os que afirmaram ter recebido esse tipo de orientação em sua formação inicial, apenas um é formado há mais de vinte anos e os demais são formados há menos de dez anos. O docente formado há mais de vinte anos esclareceu que, durante a graduação, foi estagiário no Departamento de Zoologia da Universidade, o que lhe possibilitou estudos mais aprofundados sobre essa temática, inclusive com atividades em campo.

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receberam orientação nenhuma orientação

Gráfico 11: Respostas dos professores sobre orientações, em sua formação inicial, para trabalhar com a Educação Ambiental.

Sobre se consideram importante que os cursos de graduação preparem os futuros professores para trabalhar com a Educação Ambiental em suas práticas pedagógicas, os professores responderam afirmativamente. Selecionamos algumas falas dos entrevistados que indicam o que eles pensam a respeito dessa questão.

...tem que ter, lógico, desde o início tem que ser abordado, senão depois dificulta o trabalho, sem dúvida. (Prof C).

É muito importante [...] ele (o professor) com uma base boa ele já vai chegar e já vai tá trazendo incorporado aquilo no dia-a-dia dele [...] ele vai conseguir dar aula, ele vai elaborar o projeto dele [...] então eu acho que começa lá na formação inicial [...] depois aqui ele vai acabar repetindo aquilo que aprendeu lá. (Prof F).

São, porque habilita o professor a ter capacidade, conhecimento, pra transmitir isso às outras pessoas. Isso possibilita a ele um jogo de cintura de saber quando e como funciona e por que acontecem as coisas e passar isso aos professores e ligar essa teoria com os fatos que estão acontecendo no ambiente. (Prof J).

Res po sta s dos professo re s Número de respostas

Sobre se os conhecimentos adquiridos na formação inicial foram suficientes para se trabalhar a Educação Ambiental e se o professor se sente preparado para trabalhar com essa temática, alguns professores responderam negativamente, justificando que, na época em que cursaram a graduação, não se falava muito em problemas ambientais como atualmente. Alguns professores afirmaram que se sentem preparados para trabalhar com a Educação Ambiental em suas práticas porque buscam atualizar seus conhecimentos constantemente, por meio de livros, de reportagens de revistas, jornais, internet, televisão... Outros afirmaram que se atualizam por meio de cursos e palestras, envolvendo a temática ambiental. Selecionamos algumas falas dos professores que ilustram essa percepção.

Eu sou muito criativa, eu invento, eu leio, tudo que eu leio, eu vejo, eu trago pra escola [...] Eu pesquiso eu vou imaginando, vou criando, assim, projetos...(Prof B). Sempre procurei. Se tava me faltando informação eu ia por mim mesmo, procurava na biblioteca [...] ir atrás, correr atrás daquilo que estava me faltando. (Prof C).

...naquela época não se falava em aquecimento global [...] não tinha acontecido nem a Rio-92, desenvolvimento sustentável era algo assim que não se falava muito, então se eu tivesse ficado só naquilo [...] não procurasse frequentemente ampliar hoje estaria limitado o meu trabalho [...] Então é um aprendizado constante. (Prof F).

Não, não, como eu te falei, é continuamente, eu tenho que procurar fazer mais cursos, principalmente porque sempre está surgindo novidades... (Prof G).

Não foi suficiente, eu tive que fazer cursos à parte... (Prof I).

A gente cresce muito depois que começa a dar aula, você vai atrás de recursos [...] você acaba adquirindo conhecimento que durante aquele tempo você não tinha [...] não estavam ocorrendo naquela época. Então, vai-se atrás de novidades, o que apareça em jornais, revistas... (Prof J).

Alguns professores mencionaram que, se tivessem mais oportunidades, gostariam de realizar atividades envolvendo a Educação Ambiental por meio de passeios, excursões, porém hoje existe uma certa dificuldade em “tirar” o aluno da sala de aula, e o trabalho fica mais restrito ao que pode ser feito no interior da escola.

...eu me sinto às vezes insegura, porque eu não sei até aonde eu posso soltar o meu aluno [...] eu não posso, por exemplo, levar pra fazer um passeio na cidade [...] eu não posso sair da escola com os meus alunos, fazer uma excursãozinha [...] pra gente poder ir até o Bosque Municipal, a gente não tá tendo autorização pra sair. (Prof E).

Ah eu acho que o Estado limitou muito [...] hoje nós não podemos levar os alunos, a gente não pode sair da escola, tudo é muito programado, você não pode fazer uma programação pra levar o aluno a fazer visitações [...] nós tínhamos mais integridade, integrávamos mais com outras áreas e hoje não... (Prof H).

Sobre como poderia ser o aperfeiçoamento da prática docente com relação à Educação Ambiental, a maioria dos professores (nove dos docentes) respondeu que deveriam ser oferecidos mais cursos de formação continuada, de modo a atualizar os conhecimentos e aperfeiçoar o trabalho em sala de aula. Foram selecionadas algumas falas dos entrevistados que tocam nessa questão.

Olha, falta pra gente essa formação de cursos e materiais... (Prof B).

Atualmente eu acho que está assim é... nós, professores da rede pública, nós estamos muito assim sem cursos, que ofereça cursos interessantes nessa área, nós não estamos tendo. (Prof C).

...a gente precisaria ser mais capacitado, principalmente quem já faz tempo que saiu da faculdade, como eu [...] eu gostaria de ter uma... um curso de como aprender a fazer um projeto na sala de aula. (Prof D).

Ah, eu acharia muito bom se tivesse cursos, mostrando assim, como se faz determinada atividade, se alguém já fez, como aconteceu, os resultados... (Prof E).

Alguns professores responderam que gostariam que houvesse, no curso de graduação, uma disciplina específica para tratar de assuntos envolvendo a temática ambiental.

Devia ter uma matéria sobre meio ambiente [...] Na faculdade, como trabalho com os alunos sobre Educação Ambiental. (Prof D).

Deveria ter uma matéria específica sobre Educação Ambiental [...] na faculdade. (Prof I).

Embora a maioria dos professores tenha afirmado ser importante o oferecimento de cursos de capacitação envolvendo as questões ambientais, seis deles afirmaram que nunca realizaram um curso sobre essa temática.

Alguns professores justificaram o porquê de não realizarem cursos de formação continuada envolvendo a temática ambiental.

• Alguns argumentam que, no passado, havia mais cursos, e na atualidade a quantidade desses cursos diminuiu, como mostra a fala do Prof C.

Antigamente, assim, há uns dez anos atrás, dez, quinze anos atrás, tinha mais cursos [...] nós tínhamos bastante curso, antigamente, cursos bons, atualmente não observo. (Prof C).

• Já houve a participação em cursos, mas não com essa temática.

Não, eu já fiz vários, sobre drogas, sobre... [...] mas sobre Educação Ambiental eu não tive nenhum ainda. (Prof E).

Eu já fiz cursos, mas envolvendo especificamente a Educação Ambiental, não. (Prof G).

• A carga horária é grande e falta tempo para a realização de cursos de formação continuada.

...eu tenho 55 aulas semanais, a gente pode estudar, mas às vezes falta até tempo [...] mas a gente tem barreiras [...] a gente tinha [...] vinha alguém substituir, algum eventual e a gente ia lá, dois dias de formação, acabou, isso hoje não tem mais. (Prof F).

...eu tenho dois cargos, então eu trabalho cedo, a manhã toda, de tarde, a tarde toda e tenho uma carga de doze horas à noite. Então eu não tenho tempo hábil pra isso. O que me sobra é o sábado e o domingo, que eu uso pra descansar. (Prof J).

Por outro lado, pode-se perceber pelas falas dos professores que, apesar da dificuldade que encontram em seu dia-a-dia para tratar com as questões envolvendo a Educação Ambiental e apesar das deficiências de formação tanto inicial como continuada, eles procuram, por si próprios, atualizarem-se, buscando materiais, planejando atividades, e procurando cursos de aperfeiçoamento, quando possível. Isso indica que os professores percebem a relevância do tema e, apesar das inúmeras limitações, na medida do possível procuram incluí-lo em suas práticas pedagógicas.

Guimarães (2004) chama a atenção para a falta de preparação dos docentes para tratar dos assuntos envolvendo a temática ambiental, pois os órgãos públicos não estariam oferecendo subsídios para uma maior reflexão e teorização a respeito desse tema na formação acadêmica dos professores. Esse fato contribui de forma significativa para que os professores estejam

despreparados para lidar com as questões ambientais em suas práticas, além de resultar em concepções errôneas ou fragmentadas sobre meio ambiente, Educação Ambiental e desenvolvimento sustentável por parte deles.

Além disso, os professores alegam a falta de oferecimento de cursos de formação continuada pelos órgãos públicos, o que está previsto em documentos oficiais, como a Declaração de Brasília sobre a Educação Ambiental (1997) e a Lei 9.795/99, fato este que também contribui para a falta de preparo dos docentes para tratar dos temas envolvendo a Educação Ambiental.

Porém, não podemos deixar de ressaltar, conforme aponta nosso referencial teórico, que os debates sobre a Educação Ambiental no Brasil são relativamente recentes. Observando as falas dos entrevistados, vemos que muitos deles concluíram a graduação há mais de vinte anos, período em que as questões ambientais não estavam tão em evidência como nos dias de hoje.

Muitos dos professores entrevistados consideram importante o oferecimento de cursos abordando a temática ambiental e procuram atualização por meio de leituras e pesquisas. Acreditamos que é necessário o oferecimento de cursos que possam dar um maior suporte teórico aos docentes, contribuindo no aperfeiçoamento do tratamento dessa temática nas práticas de sala de aula. A carga horária semanal excessiva, que faz parte da rotina de muitos docentes, dificulta qualquer esforço de formação continuada e essa questão precisa ser equacionada para que se garanta um ensino de melhor qualidade.