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O que são as representações sociais?

A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

2.1 O que são as representações sociais?

Almeida aponta algumas propriedades do fenômeno das representações sociais que devem ser consideradas em sua caracterização:

Trata-se de uma forma de conhecimento corrente, dito do “senso-comum”, caracterizado pelas seguintes propriedades: 1. Socialmente elaborado e partilhado; 2. Ter uma orientação prática de organização, de domínio de meio (material, social, ideal) e de orientação das condutas e da comunicação; 3. Participa do estabelecimento de uma visão de realidade comum a um dado conjunto social (grupo, classe etc) ou cultural (JODELET, 1991, p.668 apud ALMEIDA, 2005).

A Teoria das Representações Sociais, como aponta Santos (2005), concebe o sujeito como um ser ativo, construtor da realidade social e nela construído. Ainda segundo a autora, falar na Teoria das Representações Sociais é estar se referindo a um tipo de modelo

teórico, um conhecimento científico que busca compreender as teorias do conhecimento leigo. A proposta básica da Teoria das Representações Sociais é a busca de compreensão do processo de construção social do conhecimento sobre a realidade.

Herzlich (2005) afirma que uma representação social não constitui um simples reflexo do real, mas sim o seu processo de construção, que ultrapassa cada pessoa individualmente e vai além dela. Desse modo, não podemos pensar que, por ser uma teoria que abraça o conhecimento leigo, ou seja, as narrativas do senso comum, tal discurso deve ser tomado de forma literal. Ao contrário, deve-se ir além, já que é apenas a primeira impressão do que é absorvido no contato com o coletivo.

A Teoria das Representações Sociais, como afirma Moscovici (2003), prioriza a dinâmica das relações sociais no contexto da ação e da comunicação. E, assim como os homens, seus vetores não são nem muito organizados, nem muito rígidos. É uma teoria que pode abarcar um vasto campo de estudos. Em suma, Moscovici (2009) aponta que as representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica de compreender e comunicar o que nós já sabemos.

Cromack, Bursztyn e Tura (2009) apontam que é a partir das representações sociais que se apreendem os fatos da vida cotidiana, o conhecimento do senso comum, constituído a partir de nossas experiências e saberes. Santos chama a atenção para a nova perspectiva de análise do senso comum proporcionada por Moscovici:

[...] não se contrapõe ao conhecimento científico. Ele se inscreve numa outra ordem de conhecimento da realidade, é uma forma de saber diferenciado tanto no que se refere a sua elaboração como na sua função, [...] o conhecimento do senso comum é elaborado a partir de processos de objetivação e ancoragem, segue uma lógica natural e tem como funções orientar condutas, possibilitar a comunicação, compreender e explicar a realidade social... (2005, p. 20-21).

Anchieta e Galinkin (2005) revelam que, no processo que envolve a elaboração das representações sociais nas sociedades modernas, tais ideias e teorias científicas se integram ao conhecimento elaborado por uma coletividade sobre fenômenos que lhes são significativos. Tudo isso reforça a importância do conhecimento comum a todos, o discurso do senso comum. E é justamente esse tipo de conhecimento que as pesquisas anteriores sobre jogos eletrônicos (mídia) e violência não davam ênfase. Esse é um dos motivos, como já pontuado, de termos escolhido a Teoria das Representações Sociais para o presente estudo.

Sá (1996) afirma que as representações sociais podem ser descritas como um conjunto de conceitos e explicações, dentro das comunicações interpessoais, que emergem das vivências cotidianas. Segundo Minayo (1995), as representações sociais se manifestam em palavras, tendo como mediação principal a linguagem, tomada como forma de conhecimento e de interação social. Ainda de acordo com Almeida (2005) as representações sociais podem ser vistas como uma resposta aos problemas emergentes da vida cotidiana. Nesse processo, as pessoas são chamadas a se posicionarem ao invés de tomarem os dados para si.

Moscovici (2003) cita que a finalidade de todas as representações sociais é tornar familiar algo não-familiar. Entendemos isso como a apoderação de formas de pensamentos baseados na memória e em conclusões passadas. Consistiria em um processo que implica na construção feita pelos sujeitos após “consumirem” novas informações; o objeto novo e não palpável ganharia materialidade e credibilidade, recebendo o estatuto de realidade natural compartilhada e aceita por todos. As representações sociais buscam questionar, ao invés de adaptar-se, procuram o novo lá mesmo onde o peso hegemônico do tradicional impõe as suas contradições. Pode-se considerar que as representações sociais fazem parte dos processos de influência social, uma vez que são usadas pelas pessoas para se posicionarem social e politicamente.

De acordo com Moscovici (2009), quando estudamos as representações sociais nós estudamos, concomitantemente, o ser humano. O objetivo de tal teoria é estudar o homem quando ele faz perguntas e procura respostas ou pensa, e não apenas enquanto ele processa informação ou se comporta. De fato, o enfoque pertence ao campo da compreensão dos processos sociais e não da explicação do comportamento propriamente dito. Moscovici comenta que uma vez criadas, as representações sociais:

[...] adquirem uma vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações, enquanto velhas representações morrem. Como consequência disso, para se compreender e explicar uma representação, é necessário começar com aquela, ou aquelas, das quais ela nasceu (2009, p.41).

Almeida, paralelamente, pontua que, “ como uma forma de saber, as representações sociais permitem aos indivíduos compreenderem e explicarem a realidade, construindo novos conhecimentos” (2005, p. 123). Indo mais além, Almeida (2005) aponta funções que a Teoria das Representações Sociais permite:

Função do saber: processo de integrar um novo conhecimento a saberes

anteriores, ou seja, fazer do novo algo assimilável e compreensível;

Função identitária: situar os indivíduos e os grupos no campo social. Tal função

permite-lhes a elaboração de uma identidade social e pessoal gratificante;

Função de orientação: orientar os comportamentos e as práticas dos indivíduos na

medida em que tais ações definem o que é aceitável em determinado contexto social;

Função justificadora: partindo do pressuposto que uma representação desempenha

um papel importante na determinação de ações, tais representações também possuem o poder de intervir após a realização da ação. Vemos com isso que tal função permite aos sujeitos explicarem e justificarem suas ações.

Outro questionamento que podemos fazer é: por que construímos representações sociais acerca de determinados objetos? Moscovici (apud Santos, 2005) delimitou três determinantes sociais das representações:

A pressão à inferência: parte do pressuposto de que o sujeito busca frequentemente o consenso com o seu grupo, com isso, tal pressão de estar inserido nesse meio tende a influenciar a natureza dos julgamentos. Com isso, são montadas respostas pré- estabelecidas, forçando, além disso, um consenso de opinião objetivando garantir a comunicação e assegurar a validade de tal representação a partir da legitimação social;

A focalização: o sujeito proporcionará uma opinião baseada em características próprias como as suas tradições históricas ou hábitos lógicos, por exemplo. O sujeito tende, então, a dar uma atenção variável aos aspectos do ambiente social;

Defasagem e dispersão de informação: são as condições que o sujeito possui de

chegar a tal informação disponível. Empecilhos são: falta de tempo e barreiras educativas, por exemplo.