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Capítulo 6 Análise dos dados da aplicação do produto

6.2 Análise da avaliação ao final da aplicação

6.2.2 Questão 2

O objetivo desta questão foi verificar se os alunos conseguem expressar suas opiniões sobre o tema, considerando diversos elementos CTS pertinentes e embasados em conhecimentos sólidos.

17 alunos se posicionaram a favor, 14 se posicionaram contra e apenas 3 se abstiveram. Este equilíbrio indica que a proposta aplicada não foi tendenciosa. Pelo contrário, trabalhou diversos pontos de vista e diferentes aspectos CTS. Várias vezes, os alunos solicitaram que o professor expusesse sua opinião. Isto não foi atendido justamente para não influenciar na formação das opiniões dos aprendizes.

Pode-se se observar no APÊNDICE D que os aspectos mais apresentados foram (em ordem decrescente): riscos; aspectos socioambientais; aspectos sociopolíticos; aspectos político-econômicos; planos de emergência. Como exemplo, vejamos trechos de uma das redações que apresentaram maior variedade de aspectos.

Aluno 9

Opinião: “O investimento em energia nuclear no Brasil é algo bastante

polêmico, mas no meu ponto de vista é algo desnecessário para o Brasil, ...”

Contexto no Brasil, custos e fontes alternativas: “..., porque ele já está cheio de

problemas econômicos e sociais; e as usinas são extremamente caras para serem montadas e desmontadas. O Brasil tem muitos outros recursos para poder adquir energia e diferentes formas para empregar uma população se esse realmente for o argumento de que o país precisa das usinas; ...”

Riscos: “... Só que eles não pensam no perigo que isso pode acarretar para a

população e para o meio ambiente (duas coisas que não podem ser substituídas nem com a maior das inteligências), mesmo que a segurança e a tecnologia seja 90% confiável, ainda existe 10% de chance de dar errado. O lixo atômico não pode ser descartado em qualquer lugar, ou seja, daqui a pouco não haverá mais espaço pra tanto lixo, as pessoas que trabalham nas minas são expostas a ambientes contaminados e não possuem muitos dispos de preparos ou cuidados.”

Aspectos sociopolíticos e político-econômicos: “Para que esse problema seja

desenvolvido (em todos os aspectos) para que a população esteje preparada com os bônus e ônus das usinas.”

A apresentação destes argumentos indica que a metodologia pode ter propiciado oportunidades para os alunos discutirem questões que envolvem ciência, tecnologia e sociedade. Discussões estas que não se detiveram nos conceitos físicos envolvidos no funcionamento de uma usina nuclear, mas foram além, conforme foi detectado nas redações. Os alunos escreveram sobre questões como os riscos e os sentimentos das populações vizinhas, as oportunidades de trabalho, a eficiência e os impactos socioambientais deste tipo de usina, a estrutura do local onde as usinas estão instaladas, a necessidade de energia para o desenvolvimento econômico e a necessidade do conhecimento para possibilitar a exploração de fontes alternativas de energia, entre diversos outros aspectos.

Conclusão

O objetivo desta dissertação foi apresentar uma proposta de ensino de física nuclear, envolvendo a dimensão social da temática e incluindo as discussões pertinentes que vivemos hoje no Brasil. Além disso, objetivou-se proporcionar, aos alunos, o desenvolvimento de suas competências em adquirir conhecimento, de modo a se tornarem cidadãos críticos capazes de opinar de maneira fundamentada sobre questões sociais relevantes, de modo a participar de processos de tomada de decisão.

Analisando a evolução das concepções acerca da ciência, os documentos oficiais e o desenvolvimento da pesquisa em ensino de física, constatou-se que a abordagem CTS é adequada à aquisição destes objetivos.

O desenvolvimento da proposta passou por levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos, leitura e análise de textos relacionados ao assunto, atividades de investigação voltadas aos conceitos físicos envolvidos, discussões acerca de opiniões divergentes de especialistas, sistematização dos conceitos físicos e debate entre grupos. Soma-se a estas atividades, o instrumento avaliativo, consistindo de questões conceituais e elaboração de texto dissertativo-argumentativo expressando posicionamentos individuais.

Considera-se que esta proposta pode contribuir para o professor que busca atender a diversidade de interesses de seus alunos. Estes interesses podem ser uma formação que dê ferramentas para prosseguir nos estudos da área, como também podem ser uma formação que permite o entendimento dos processos naturais, do funcionamento de artefatos tecnológicos e participação em contextos de tomada de decisão.

Analisando os relatos de aplicação e a avaliação ao final do processo, pode-se considerar que os alunos sinalizam que desenvolveram a compreensão dos conceitos físicos e, juntamente com o conhecimento de outros aspectos CTS envolvendo a questão, usaram-nos para formar suas opiniões e posicionarem-se sobre o assunto. Desta forma, considera-se que o objetivo do trabalho foi atingido.

Apêndice A

Material do aluno

Apêndice A.1 Primeiro encontro: Apresentação da proposta e

do tema a ser explorado

2

1º) Para esta atividade, a turma deve se dividir em grupos de três alunos. Nas reportagens abaixo:

2º) Sublinhem no texto, com caneta vermelha, os aspectos técnico-científicos que surgiram;

3º) Agora façam o mesmo, com caneta azul ou preta, para os aspecto sociopolíticos; 4º) Elaborem uma lista com os aspectos técnico-científicos sublinhados constituída

por itens formados por frases curtas ou apenas uma palavra, mesmo que esses conceitos não tenham significado ainda para vocês;

5º) Façam uma lista similar agora constituída pelos aspectos sócio-políticos;

Entreguem as listas para o seu professor.

Riscos e benefícios de usinas dividem moradores de Angra3

26/04/2011 Júlia Dias Carneiro Enviada especial da BBC Brasil a Angra dos Reis

A presença em Angra dos Reis, no Estado do Rio, das duas centrais nucleares em operação no Brasil divide a opinião dos moradores, que encaram as usinas como parte da rotina local, mas alternam sentimentos de aprovação, indiferença ou resistência.

2 Adaptado da dissertação “Ondas de rádio no Ensino Médio com ênfase CTS” / Ana Paula Damato Bemfeito.—2008, páginas 51 a 55.

A cada dia 10 do mês, uma sirene toca na comunidade do Frade. Os moradores todos já sabem: é o teste de rotina do sistema de alerta instalado pela Eletronuclear nos bairros que ficam no perímetro de cinco quilômetros da usina.

Todo mês, o sistema de alerta é testado na comunidade do Frade

Mesmo sabendo ser apenas uma medida de segurança, a dona de casa Elisabete Moreira Rodrigues, de 41 anos, diz que fica "alarmada" toda vez que a sirene toca. "Eu fico com medo mesmo, e penso: 'será que está acontecendo alguma coisa? Será que vai ser preciso a gente abandonar os nossos lares?' Aí penso que não, que não vai acontecer nada, não, que é só lá longe que acontece. Mas no fundo não é, né? Para a nossa redondeza todinha, é perigoso."

A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto é composta pelas usinas de Angra 1, 2 e 3 - a terceira ainda em construção. O complexo é instalado à beira do mar no Estado do Rio, a cerca de 200 km da capital, entre os destinos turísticos de Angra dos Reis e Paraty.

Saindo da usina, a sinuosa Rodovia Rio-Santos (BR-101) leva aos bairros mais próximos, como Parque Mambucaba e Frade, que pertencem ao município de Angra e têm cerca de 50 mil moradores. São bairros humildes, com comércio simples, prédios baixos, muitas bicicletas e moradores sentados na calçada em frente às suas casas.

Elisabete tem medo da sirene porque se lembra de quando, em 1989, o alarme disparou no meio de uma chuva e os moradores acharam que era para valer. "Todo mundo abandonou tudo, correu para a pista, veio até gente embrulhada na toalha. Não tinha socorro na hora, mas o pessoal conseguiu sair de carro e caminhão até Angra dos Reis. Aí adianta? Se acontecer um desastre desses, acho que morreria todo mundo."

Era alarme falso. A sirene teria disparado por causa de um raio, conta a moradora. Mas o acidente na usina de Fukushima, no Japão, novamente acendeu o alarme entre alguns dos moradores da comunidade. "Só quando acontece isso que a gente passa a ter noção do perigo que é", diz a dona de casa Maria Lúcia de Oliveira Figueira, de 46 anos. "Isso mexeu com muita gente do bairro", afirma ela, moradora do Frade.

Logo após o acidente causado por um tsunami no Japão, a Eletronuclear anunciou medidas para aumentar a segurança na operação da usinas de Angra e aprimorar o plano de emergência.

De acordo com o coordenador de Comunicação e Segurança da empresa, José Manuel Diaz Francisco, as medidas já estavam sendo estudadas, mas serão "aceleradas" após o ocorrido em Fukushima.

A empresa estuda construir uma pequena central hidrelétrica como mais uma alternativa para suprir energia em caso de acidentes (as usinas já contam com geradores a diesel para emergências).

A Eletronuclear também planeja construir píeres nas praias vizinhas para que moradores possam ser transportados pelo mar caso uma evacuação seja necessária. E contratou uma empresa para monitorar as encostas próximas à usina e beirando a estrada, que são suscetíveis a deslizamentos em épocas de chuva.

Fonte de empregos

Para muitos moradores de Angra, porém, a convivência com a usina é matéria pacífica, e isso não mudou após Fukushima.

"Eu acredito que existem lugares muito mais perigosos, como o Rio de Janeiro", diz o inspetor de controle de qualidade Maurício Gomes da Silva, que já trabalhou na usina.

"A violência preocupa muito mais do que a gente estar vivendo perto de uma usina nuclear, uma unidade que nós acreditamos que seja muito segura", acrescenta o morador de Parque Mambuca.

Assim como Gomes da Silva, muitos moradores da vizinhança trabalham ou já trabalharam no complexo de Angra, e apontam que é uma fonte de empregos importante para a região.

"Gera bastante emprego. Os únicos benefícios que a gente tem aqui são através da usina", diz o comerciante Moacir Viana Rabello, dono de um mercado no Residencial Paraíso, comunidade no Parque Mambucaba.

Presidente da Associação de Moradores do Residencial Paraíso, Carlos Alberto dos Santos diz que a usina beneficia a comunidade com ônibus, programas sociais e ajuda para fazer obras e festas de fim de ano.

"A usina é de muito benefício porque repassa uma verba para a Prefeitura de Angra, que distribui os investimentos entre os bairros. Deveria até dar mais para a nossa região, pois somos os que estão mais próximos", cobra.

Estrada estreita

Em contrapartida, Santos diz que a comunidade se preocupa com o lixo nuclear e o plano de evacuação da Eletronuclear.

"Esse resíduo que é retirado da usina é de grande proporção, e agora que estão fazendo Angra 3, esse lixo será de uma quantidade muito maior", afirma. "A nossa preocupação é onde vão pôr esse lixo, como vai ser guardado esse rejeito."

Santos considera ainda que o plano de evacuação é precário e que a população ficaria "à deriva" em caso de acidente. O principal entrave, avalia, é a Rodovia Rio- Santos, onde frequentemente caem barreiras quando chove e mesmo em dias normais há engarrafamentos na entrada de Angra dos Reis.

Renato Seixas, um dos diretores da Associação de Moradores do Frade, também cobra providências. "Nós não temos pista para tirar esse povo todo do Frade. Estão querendo melhorar, a rodovia vai aumentar, mas vai demorar dois ou três anos para ficar pronto. E se acontecer algo agora? A gente vai esperar dois, três anos para ser evacuado?", questiona.

No fim do ano passado, o Ministério dos Transportes anunciou que a duplicação da rodovia entre Itacuruçá e Paraty seria incluída no PAC 2 - segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento.

O trecho, de 160 quilômetros, contempla o percurso das usinas de Angra até a capital do Rio de Janeiro. A obra deverá ser licitada no meio deste ano e levar no mínimo 18 meses para ficar pronta.

Em dezembro último, foram inauguradas obras de duplicação de 26 quilômetros da rodovia entre Itacuruçá e Santa Cruz (na entrada da capital fluminense), que levaram quatro anos e custaram R$ 245 milhões.

Brasil necessita da energia nuclear para crescer, avalia engenheiro da Eletronuclear4

15/03/2011 Alana Gandra Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A questão da energia nuclear no Brasil está relacionada à necessidade do país de energia para o seu crescimento, afirmou hoje (15) à Agência Brasil o supervisor de Novas Usinas da Eletronuclear, Dráuzio Lima Atalla. “Nós somos subconsumidores de energia elétrica. Nós somos imensamente pobres em energia elétrica”, disse. Com um consumo de energia elétrica per capita, isto é, por habitante, da ordem de 2,4 mil quilowatts-hora (kWh) por ano, o Brasil está distante de países desenvolvidos, como a Alemanha, Suíça e os Estados Unidos, cujo consumo por pessoa alcança até 15 mil kWh por ano.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o limite do consumo de energia por pessoa para um país entrar no rol das nações desenvolvidas é de 5 mil kWh por ano. “Mesmo considerando esse patamar de entrada, nós ainda [o Brasil] consumimos a metade disso”.

Segundo Atalla, a energia elétrica se manifesta em todas as atividades da vida, englobando áreas como a saúde, o transporte, a segurança, educação, entre outras. A eletricidade é um dos insumos mais vitais com que a sociedade moderna conta para obter um índice de desenvolvimento razoável, disse. “Não tem como nosso povo avançar sem que o consumo de eletricidade aumente”.

Engenheiro da Eletronuclear, onde atua há cerca de 33 anos, Dráuzio Atalla informou que não existe fonte de energia elétrica que seja totalmente isenta de problemas. “Como o Brasil necessita dobrar, no mínimo, o consumo, nós precisamos de todas as energias. Existe espaço para todas elas. Só que cada energia tem um aspecto mais positivo ou mais negativo”.

No caso da energia eólica, por exemplo, disse que seriam necessárias 1,5 mil turbinas para gerar a mesma quantidade de energia da Usina Nuclear Angra 2 (1.350 megawatts). “O vento é descontínuo e pouco previsível. Existe espaço para eólica. Mas,

nós não vamos ter um país de 200 milhões de habitantes, com a nossa extensão, só em cima de eólica. É um sonho”. O mesmo ocorre em relação à energia solar. Também as fontes hidráulicas têm seus problemas, disse. “Você imagina um abalo sísmico desses [no Japão] perto de uma represa? O que iria acontecer?”

Dráuzio Atalla afirmou que os estudos que vêm sendo feitos pela Eletronuclear para escolha dos sítios onde serão construídas novas usinas nucleares no país levam em consideração novos conhecimentos e tecnologias. “É lógico que os nossos conhecimentos são mais avançados para localizar as usinas nas posições mais adequadas sob a ótica de controle de risco”.

Os processos em curso indicam posições longe de áreas densamente povoadas, mas que tenham trabalhadores, áreas geologicamente favoráveis, com possibilidade de sismo reduzida. Para isso, são seguidos cerca de 40 a 50 critérios, distribuídos em aspectos ambientais, de saúde e segurança, socioeconômico e de custos, que indicam áreas mais favoráveis do que as existentes atualmente, afirmou Atalla, referindo-se ao Japão e ao município fluminense de Angra dos Reis. Ali está situada a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, que abriga as usinas Angra 1 e 2 e o terreno onde está sendo construída Angra 3.

Ele acrescentou que as novas tecnologias utilizadas no setor nuclear incorporam vantagens. Uma delas são os reatores passivos, que não precisam de energia elétrica para se protegerem. “Os sistemas de segurança são passivos. Lançam mão da natureza, quer dizer, gravidade, convecção [a forma de transmissão do calor que ocorre principalmente nos fluidos - líquidos e gases]. Se tivéssemos nessa área [no Japão] um reator passivo, não tinha problema nenhum, porque a refrigeração se faz com as leis da natureza”.

O Brasil não precisa de mais usinas nucleares5

Joaquim Francisco de Carvalho e Ildo Luis Sauer

5 Disponível em <https://professorildosauer.wordpress.com/2012/06/02/o-brasil-nao-precisa-de-mais- usinas-nucleares/>. Acesso em 08/05/2015.

O acidente de Fukushima aconteceu 25 anos depois do de Chernobyl (ex-União Soviética, atual Ucrânia), que aconteceu sete anos depois do de Three Mile Island (Estados Unidos).

Essa sequência de acidentes jogou por terra as conclusões do mais importante estudo sobre segurança de reatores nucleares, segundo o qual a probabilidade de acidentes graves em centrais nucleares é tão pequena, que só a cada 35 mil anos poderia acontecer um. A metodologia desenvolvida nesse estudo – que foi feito em 1975, por um grupo dirigido pelo professor Norman Rassmussem, do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT) para a Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos (Relatório Wash 1400) – serviu de base para as análises de segurança de praticamente todas as centrais nucleares desde então implantadas no mundo.

Não existe máquina infalível nem obra de engenharia 100% segura. Haja vista os inúmeros acidentes de avião, automóvel e trem que acontecem pelo mundo. Entretanto os acidentes nucleares têm dimensões que os outros não têm. Eles se propagam pelo espaço – continentes inteiros – e pelo tempo – décadas, senão séculos.

Um desastre de avião, por exemplo, atinge diretamente os passageiros e, por mais traumático que seja, este tipo de acidente termina no local e no instante em que acontece. Um acidente em central nuclear apenas começa no instante e no local em que ocorre. Alguns anos depois centenas de pessoas em regiões inteiras sofrerão males induzidos por exposição a radiações ionizantes. E em algumas décadas crianças nascerão com aberrações cromossômicas e desenvolverão leucemia e desordens endócrinas e imunológicas, provocadas pela absorção, por seus genitores, de doses de radiação acima do tolerável, como acontece até hoje em consequência do acidente de Chernobyl com a população que permaneceu nas cidades próximas.

O Brasil não precisa correr risco semelhante, porque dispõe de abundantes recursos energéticos renováveis e capacidade técnica para aproveitá-los. De fato, em adição aos 100 GW de potencial das grandes hidrelétricas que já estão em operação ou em implantação, ainda restam por aproveitar 150 GW. Além disso, há o potencial das pequenas hidrelétricas, que é de 17 GW. E ainda há o potencial resultante da modernização das usinas em operação e da racionalização do uso da energia.

mais eficientes e torres mais altas, esse potencial é estimado em 300 GW. Para as térmicas a bagaço de cana, o potencial é de 15 GW. Há, ainda, a opção fotovoltaica, que já é uma realidade em países tecnologicamente avançados.

No lugar das usinas nucleares planejadas pelo governo, várias combinações de fontes renováveis são possíveis, todas elas com custos de investimento inicial de cerca da metade da opção nuclear. Ademais, é evidente que as alternativas renováveis prescindem de combustíveis, ao contrário das usinas nucleares, que consomem montanhas de minério de urânio e, ao final de suas vidas úteis, deixam a herança dos combustíveis irradiados, que, devido à sua alta radiotoxidade, requerem tratamento especial e uma estocagem sob vigilância 24 horas por dia. A estocagem pode durar de centenas de anos, se os combustíveis forem desmontados e reprocessados, até milhares de anos, se forem guardados tal como saem dos reatores. Tudo isso sob rigorosa vigilância de forças policiais especialmente treinadas, para evitar que grupos anarquistas ou terroristas se apropriem desses materiais.

Tal vigilância é muito onerosa e contribui para aumentar o custo da energia nuclear. Aliás, nos recentes leilões promovidos pelo governo, a energia hidrelétrica e a energia eólica foram negociadas pela metade do preço calculado para energia nuclear – apesar de ser esta favorecida por importantes subsídios.

Se, por motivos sociais, ambientais e políticos, aproveitarmos apenas 70% da capacidade hidráulica ainda por explorar na Amazônia, 80% da capacidade das demais regiões e 50% da capacidade eólica, poderemos estruturar um sistema interligado inteligente (“smart grid”) capaz de oferecer anualmente cerca de 1,4 bilhão de MWh a partir de fontes inteiramente renováveis, o que será suficiente para atender a uma demanda per capita da ordem de 6.600 kWh (semelhante ao padrão atual da Alemanha) na década de 2040, quando, segundo o IBGE, a população estará estabilizada em 215 milhões de habitantes.

Há uma tendência natural de complementaridade das disponibilidades energéticas entre os ciclos hídrico e eólico no Brasil. Além disso, uma eventual complementação com usinas térmicas, com suprimento flexível de gás natural, para operação em períodos hidroeólicos críticos, permitiria aumentar a confiabilidade e reduzir custos.

Se o potencial elétrico renovável fosse aproveitado de maneira inteligente, os brasileiros teriam energia elétrica por custos dos mais baixos do mundo, o que, entre outros benefícios, daria um grande poder de competitividade à nossa indústria,

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