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A QUESTÃO DO TRABALHO INFORMAL

No documento FABIANE APARECIDA MORENO GARCIA (páginas 47-67)

Meu nome é trabalho, mas eu tô pegado A fim de um cascalho vou pra todo lado Tenho cinco pirralhos chorando um bocado Vê se quebra o galho doutor, tô desempregado Me arranja um trabalho doutor, tô desempregado Já fui pedreiro, carpinteiro Motorneiro e até motorista Já fui copeiro, fui caseiro Jornaleiro e até jornalista [...]. Arlindo Cruz Neste capítulo, a problemática dos ambulantes será tratada sob o escopo do trabalho informal. As reflexões propostas compreenderão o trabalho informal como um modo de orga- nização do trabalho na sociedade capitalista, cuja operacionalização se dá na própria engrena- gem da economia formalizada.

2.1 O trabalho informal no terreno árduo das definições

O termo trabalho informal é carregado de significados, os quais sugerem tendenciosa- mente a contraposição ao que é chamado e tratado convencionalmente de trabalho formal. Vale ressaltar que o aparecimento da terminologia trabalho formal só foi possível a partir das mudanças que se processaram no interior da sociedade moderna, entre os séculos XVIII e XIX, apresentando maior vigor no século XX – o século dos direitos sociais16. Mudanças es-

sas que incidiram nas relações e nos processos de trabalho. Anteriormente a tais mudanças, as relações de trabalho prevalecentes eram baseadas no em atividades sem regimentos determi- nados, sem regras delimitas, sem direitos constituídos, ou seja, as relações de trabalho eram baseadas em “acordos” entre o demandatário do trabalho e o executor. Cabe lembrar que a relação de compra e venda do trabalho era baseada na troca, assim como é feito hoje, no en- tanto hoje esta troca é materializadas no dinheiro (através do salário), e antes essa relação se baseava na troca de produtos. Vale ressaltar que não estamos considerando as relações de es-

16 Os direitos sociais iniciaram sua história na Europa a partir de dois grandes modelos: o primeiro, modelo Bis- marckiano de proteção social, nascido na Alemanha a partir de 1878, estabelece uma série de leis de proteção aos trabalhadores. Este modelo estendeu-se por grande parte da Europa entre o final do século XIX e inicio do século XX. O outro, modelo Beveridgiano, nasce na Grã-Bretanha no ano de 1911, cria um sistema obrigatório de seguro contra enfermidade e desemprego, datando o início do Estado de Bem-estar Social Inglês. Os dois modelos possuem algumas diferenciações no que tange à cobertura, já que o segundo caracterizou-se como um sistema mais abrangente que o primeiro por incluir alguns trabalhadores que não são inclusos no modelo alemão, como é o caso das mulheres exploradas e dos mineiros (VINDT, 2003).

cravidão, em que os trabalhadores (escravos) não tinham essa condição de troca, recebiam apenas o alimento necessário à sua sobrevivência.

O projeto da modernidade evidenciou o rompimento com a era anterior e propôs um novo ciclo de vida, um novo paradigma sociocultural com caminhos distintos do anterior, com mudanças radicais na sociedade cujo objetivo pautava-se no progresso da humanidade.

No mundo do trabalho, a modernidade é concretizada com a Revolução Industrial, o que, além de outros elementos, inaugura um novo locus de trabalho – a fábrica – e com ele surgem também novos modelos de processamento das atividades laborais.

Com a industrialização novas relações de trabalho passam a ser estabelecidas, os tra- balhadores obtêm17 direitos trabalhistas que os possibilita melhores condições de vida, de tra-

balho, melhores salários, mais estabilidade, etc. De tal forma que a modernidade processou profundas mudanças nas relações e nos processos de trabalho, extinguiu antigas formas e con- sagrou novos modelos que se pretendiam duradouros e eficientes.

Contudo, a modernidade não conseguiu extinguir algumas práticas, tal como a que veio a ser chamada trabalho informal, carregando uma conotação negativa e marginal, ao pas- so que o seu oposto – o trabalho formal – consagrado com o advento da modernidade, tem significações positivas. O primeiro representando a insegurança, o esporádico, o incerto, en- quanto que o segundo a segurança, a dignidade, a estabilidade.

2.1.1 O projeto de modernidade, entre o concreto e o abstrato

Para a modernidade o objeto teórico do progresso é o tempo, este representava a ri- queza, a fecundidade, o dialético, o progresso. Enquanto o espaço representava a morbidade, o fixo, o imóvel. As transformações do tempo e do espaço foram intrinsecamente decorrentes do projeto de modernidade. Giddens acentua que para entender a relação da modernidade com o tempo e espaço é necessário pontuar algumas questões sobre essas duas dimensões no mun- do pré-moderno:

Todas as culturas pré-modernas possuíam maneiras de calcular o tempo. O calendário, por exemplo, foi uma característica tão distintiva dos estados a- grários quanto a invenção da escrita. Mas o cálculo do tempo que constituía a base da vida cotidiana, certamente para a maioria da população, sempre vinculou tempo e lugar – e era geralmente impreciso e variável. Ninguém

17 Essa obtenção de direitos é entendida neste texto como as conquistas decorrentes das lutas e reivindicações da classe trabalhadora. Lutas estas que se estenderam por pelo menos dois séculos (XVIII e XIX), uma vez que os direitos sociais foram reconhecidos somente no século XX.

poderia dizer a hora do dia sem referência a outros marcadores socioespaci- ais [...] (1991, p. 25).

Então, na era pré-moderna o tempo era medido e verificado de acordo com o espaço, a relação simbiótica entre ambos era reconhecida socialmente e praticada no cotidiano das co- munidades.

Para Giddens (1991) a invenção do relógio mecânico (datado do final do século XVI- II) e “sua difusão entre virtualmente todos os membros da população” (p. 26), significou o elemento chave para a apartação entre o tempo e o espaço.

Esta apartação desencadeou um esvaziamento do tempo e do espaço, uma vez que es- sas duas dimensões se desenvolvem no cotidiano das pessoas.

Desse modo, Giddens avalia que:

O “esvaziamento do tempo” é em grande parte a pré-condição para o “esva- ziamento do espaço” e tem assim prioridade causal sobre eles. Pois a coor- denação através do tempo é a base do controle do espaço [...]. As organiza- ções modernas são capazes de conectar o local e o global de formas que seri- am impensáveis em sociedades mais tradicionais, e , assim fazendo, afetam rotineiramente a vida de milhões de pessoas (1991, p. 26).

Outra grande questão da modernidade diz respeito à tríade universalidade, individuali- dade e autonomia. Tríade esta composta por conceitos considerados fundantes para o projeto de modernidade, assim como apontado por Rouanet (1993, p. 9): “o projeto civilizatório da modernidade tem como ingredientes principais os conceitos de universalidade, individualida- de e autonomia”.

O autor explicita que a universalidade proposta pressupunha que a modernidade a- brangeria toda a humanidade, “independente de barreiras nacionais, étnicas ou culturais” (p. 9), o que representaria enorme avanço para a troca de conhecimentos, experiências entre os diferentes povos e suas culturas; por individualidade considerar-se-ia que as pessoas seriam percebidas como sujeitos concretos dentro da coletividade, o que indicava um caráter positivo para essa individualização; e por autonomia avaliava-se que estes seres humanos seriam capa- zes de pensar por si próprios e de tomar decisões conscientes “sem a tutela da religião ou da ideologia” (p. 9).

Seguindo, ainda, as observações de Rouanet (1993), percebe-se que o projeto de mo- dernidade apresentou muitas falhas no que diz respeito a esses três principais conceitos:

 A universalidade pretendida pela modernidade esbarrou em uma “proliferação de par- ticularismos” (p. 10). A criação de símbolos e regras universais, por exemplo, foram

feitas a partir de interesses que atenderiam a uma parcela específica da população mundial, enquanto o restante, a maioria, foi condenada a obedecê-las e a adaptá-las em sua vida. O que era chamado de universalidade passou a conotar uma diretiva de im- posições.

 A individualidade “submerge cada vez mais no anonimato do conformismo e da soci- edade do consumo” (p. 10). As pessoas passaram a se reconhecerem e a se identifica- rem com as outras a partir dos hábitos de consumo, a partir das formas de consumo. Gerando ainda, um individualismo exacerbado e a busca incessante de formas de auto- afirmação e identificação a partir da prática consumista.

 A autonomia é dividida em três dimensões: intelectual, política e econômica. Estas três dimensões tiveram seus objetivos desvirtuados e criaram três anomalias. A pri- meira se relaciona à autonomia intelectual e está associada ao “reencantamento do mundo” (p. 10), ou seja, fenômeno que retoma o misticismo e a superstição em con- traposição à visão secular do mundo; a da autonomia política enveredou-se pelo cami- nho de sua própria negação, a partir de ditaduras e regimes totalitários, além da ence- nação eleitoral realizada a cada quatro anos. E o da autonomia econômica “é uma mentira sádica para os três terços do gênero humano que vivem em condições de po- breza absoluta” (p. 10).

Portanto, esses três pilares da modernidade se esvaíram no espaço e no tempo, e a mo- dernidade passou a valorizar mais os meios em detrimento dos fins. Por esta razão verifica-se uma ruptura entre o imaginado e o concretizado.

Nesse contexto da modernidade é importante identificar o papel e a influência que a racionalidade exerceu. A modernidade trouxe para o centro da discussão a razão como único meio de obter a verdade absoluta e utilizou-se da ciência como sua principal ferramenta, insta- lando-se um processo de negação da cultura popular, do senso comum, das lendas, do mito, e de todas as manifestações não comprovadas cientificamente por esta razão universal. A pro- posta era de que a razão traria a iluminação para o obscurantismo, levando ao progresso e permitindo que a humanidade saísse da etapa primitiva para a moderna.

No entanto, a modernidade apresentou-se como superavitária em alguns aspectos (co- mo exemplo na ciência) enquanto, em outros, mostrou déficits assustadores para a humanida- de. Como afirma Sousa Santos:

É superação na medida em que a modernidade cumpriu algumas de suas promessas e, de resto, cumpriu-as em excesso. É obsolescência na medida em que a modernidade está irremediavelmente incapacitada de cumprir ou-

tras das suas promessas. Tanto o excesso no cumprimento de algumas pro- messas como o défice no cumprimento de outras são responsáveis pela situa- ção presente, que se apresenta superficialmente como de vazio ou de crise, mas que é, a nível mais profundo, uma situação de transição (1996, p. 76). Devido sua complexidade, o projeto de modernidade apresentou no decorrer da histó- ria inúmeras contradições: ao mesmo tempo em que era a ordem, era o caos; pregava a eman- cipação e utilizava-se da regulação; pela inclusão realizava a exclusão e vice e versa; apresen- tava-se como transitório e fugidio, e por outro lado era o eterno e imutável. Portanto, vê-se que a modernidade impregnou-se de ambivalências, o que provocou um descompasso em suas teorias totalizantes.

Souza Santos (1996), analisando o contexto da sociedade moderna, divide o sistema capitalista em três períodos, durante os quais se tentou viabilizar o projeto de modernidade: 1º período: século XIX – reconhecido como capitalismo liberal, evidenciou no plano social e político a ousadia do projeto de modernidade repleto de ambições e contradições, excesso de promessas e déficit no cumprimento;

2º período: final do século XIX – desenvolvimento do capitalismo – capitalismo organizado – tentativa de cumprimento das promessas;

3º período: atualidade – capitalismo financeiro desorganizado – constatação de que o déficit no cumprimento das promessas tornou-se irremediavelmente irreparável e que sua dimensão é maior do que se julgou anteriormente, “e de tal modo que não faz sentido continuar à espera de que o projeto de modernidade se cumpra no que até agora não se cumpriu” (p. 80).

Esses três períodos do capitalismo demonstram que o projeto de modernidade se mol- dou de acordo com os meios e se distanciou cada vez mais de suas finalidades. O apogeu da modernidade foi representado pelo descumprimento de algumas de suas promessas, talvez as mais fundantes, enquanto nas que conseguiu cumprir, cumpriu-as com intensidade e exagero.

[...] à medida que se sucedem os três períodos históricos do capitalismo, o projeto de modernidade, por um lado, afunila-se no seu âmbito de realização e, por outro lado, adquire uma intensidade total e até excessiva nas realiza- ções em que se concentra. Este processo pode ser simbolizado na sequência histórica e semântica de três conceitos, todos eles inscritos na raiz do projeto moderno: modernidade, modernismo e modernização (SOUZA SANTOS, 1996, p. 80).

Diante dessas transformações sociais, culturais, tecnológicas e artísticas ocorridas a partir da segunda metade do século XX, alguns intelectuais forjaram o conceito de pós- modernidade, numa tentativa de compreender os efeitos dessas mudanças e ao mesmo tempo chamar atenção para as implicações (negativas) na vida dos indivíduos.

A “pós-modernidade” nasce dentro da própria modernidade, para evidenciar todos os erros e fracassos ocorridos no período moderno, assim como as vantagens e progressos

Nesse sentido, o terceiro período histórico seria o correspondente à pós-modernidade, período teria seu início datado entre as décadas de 1960 e 1970. Harvey faz algumas pondera- ções com relação a esta afirmativa:

Com efeito, ocorrem grandes mudanças nas qualidades da vida urbana a par- tir de mais ou menos 1970. Mas determinar se essas mudanças merecem o nome de “pós-moderno” é outra questão. Na verdade, a resposta está na de- pendência direta do sentido específico que possamos dar a esse termo. E, nesse ponto, temos que nos ver às voltas com as últimas modas intelectuais importadas de Paris e com as mais novas reviravoltas do mercado de arte de Nova Iorque, visto ter sido a partir desses fermentos que surgiu o conceito de “pós-moderno” (1992, p. 18).

Sousa Santos (1996) também analisa este fenômeno, porém se opõe ao conceito da pós-modernidade. O autor compreende que ela ainda não existe e que estamos em um proces- so de transição; ele defende que a mudança do cenário está no ponto de observação. Neste processo de transição passa-se a valorizar o micro e o local, em contraponto com a moderni- dade que valorizava o macro e o global.

2.1.2 O capital, o boom tecnológico e o trabalhador, nesta ordem...

Nessa discussão da “pós-modernidade” um elemento invariavelmente importante é o trabalho – o mundo do trabalho – representado pelo conjunto de trabalhadores, pelos empre- gadores, pelos modelos de desenvolvimento das técnicas e todo o enredo que consagra e con- templa as relações de trabalho existentes na sociedade moderna.

Com efeito, as mudanças tecnológicas, as inovações que ocorrem cada vez num menor prazo de tempo e a entrada em cena da informática engendraram o fim de um modelo que parecia duradouro e inatingível: o sistema fordista e taylorista, frutos das Revoluções Técni- co-Científicas do começo do século XX. O modelo fordista tinha como essência o trabalho rotinizado e altamente burocratizado, buscando a máxima eficiência do trabalhador, como podemos perceber com a excelente obra cinematográfica de Charles Chaplin “Tempos Mo- dernos”. Trabalho típico industrial, num ambiente de produção em larga escala e grandes uni- dades de produção.

Com a entrada em cena da informática e decorrentes inovações tecnológicas, acelerou- se a troca do homem pela máquina, gerando altos índices de desemprego, o que nos leva, no

melhor sentido da dialética, a um quadro cujos vendedores da força de trabalho não têm con- dições de participar do mercado, deixando de consumir e, não obstante, arruinando a acumu- lação capitalista. Isto posto, a lógica capitalista é afetada em sua essência: se não há como consumir mais mercadorias, não há como as empresas reinvestirem seus lucros para aumentar sua produtividade, logo enfrentarão crises, deixarão de pagar impostos (fonte das receitas es- tatais) que reverberarão na crise do bem estar social.

Para fazer face a essa realidade, o capitalismo responde com a flexibilização que traz transformações significativas na relação capital/trabalho, que dentre outras consequências, afeta os vínculos entre trabalhador e empresas (isso inclui menos benefícios sociais). Por essa razão, o trabalhador tende a realizar trabalhos com atividades pontuais, demarcadas por uma necessidade específica, e ao fim dessa experiência o indivíduo encontra-se novamente desem- pregado, tendo que procurar por novos serviços. Se, de um lado, as empresas competem cada vez mais entre si buscando incessantemente novos nichos de mercado, do outro encontramos uma massa de indivíduos em constante mutação, não apenas de emprego, mas de moradia, de laços de amizade, de narrativa de vida.

No mundo fordista a relação empregatícia era duradoura, costumeiramente encontra- vam-se trabalhadores que passavam toda sua vida numa mesma organização, construindo uma narrativa linear sobre sua vida e tendo laços de amizade estreitos.

Nesse sentido, como é possível, num contexto de flexibilização, buscar objetivos de longo prazo, manter laços familiares e pessoais, criar vínculos?

O principal efeito da ausência de rotina pode ser percebido na reestruturação do tem- po, segundo Sennett:

A sociedade hoje busca meios de destruir os males da rotina com a criação de instituições mais flexíveis. As práticas de flexibilidade, porém, concen- tram-se mais nas forças que dobram as pessoas [...]. A repulsa à rotina buro- crática e a busca da flexibilidade produziram novas estruturas de poder e controle, em vez de criarem as condições que nos libertam. O sistema de po- der que se esconde nas modernas formas de flexibilidade consiste em três e- lementos: reinvenção descontínua de instituições; especialização flexível de produção; e concentração de poder sem centralização (2005, p. 53, 54). A especialização flexível consiste em mudanças no formato do trabalho tradicional (relação face a face) – como, por exemplo, trabalhar em equipe ou trabalhar em casa (por meio eletrônico) – que dão a impressão de maior poder do trabalhador, maior participação. Ledo engano, quem continua dando as cartas é o capitalista, o dono da empresa. Para Sennett (2005), essa flexibilização do tempo leva à uma degradação do caráter: ausência do apego,

ausência de história, tolerância com a fragmentação. O trabalho tornou-se fácil, superficial e ilegível, e da mesma forma o indivíduo descortinado, desprotegido.

Com isso, a nova ética do trabalho contribui para tal degradação humana. Nesse novo cenário a profundidade das experiências é contestada, supervaloriza-se o trabalho em equipe, os trabalhadores precisam ser polivalentes e adaptáveis às circunstâncias.

Uma questão interessante na discussão de Sennett (2005) é que embora o trabalho fle- xível tente romper com a rotina e a burocracia, não conseguiu ainda superar o trabalho fordis- ta, pelo contrário, precarizou as relações de trabalho (e os próprios homens) ao extremo, assim como também a ética do trabalho em equipe não superou a ética da rotina; as duas convivem em uma relação dialética.

Assim, a natureza do mundo pós-industrial coloca o indivíduo em situações parado- xais: parece estar mais livre, mas está preso. Parece estar mais feliz (remédios, consumo, aca- demia e lazer), mas está mais triste. E esse é apenas um dos pontos a ser pensado na “pós- modernidade”.

2.2 O espaço do trabalho informal

Designado por sua própria etimologia como algo sem forma determinada, destinado a incompletude e ao imperfeito, o trabalho informal resume-se na sociedade moderna (princi- palmente a partir do século XX18) à falta de formalidades. Seja na execução do trabalho, na

relação entre vendedor e comprador da força de trabalho ou na organização da empresa, essa ausência de formalidades contratuais apresenta-se em todas as instâncias do trabalho, impri- mindo ao trabalho informal um papel livre de compromissos.

Destaca-se que esta absolvição de compromissos é refletida com mais veemência no âmbito do comprador da força de trabalho (contratante19), ou seja, é esse que leva vantagem

na relação do trabalho informal. Ao passo que o trabalhador em atividade informal é, em to- dos os aspectos, extirpado dos direitos trabalhistas e assim, acaba assumindo, na maioria dos casos, o lado mais precarizado e vulnerável da cadeia produtiva.

No tangente à insegurança do trabalho informal, as duas partes (o contratante e o con- tratado) comungam-na mutuamente. Por um lado o trabalhador pode ser dispensado de suas

18 No Brasil a legislação trabalhista foi introduzida a partir dos anos 1930, no governo Getúlio Vargas com a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas, que possibilitou conteúdo e distinção entre o trabalho formal e informal (SINGER, 2008).

19 O termo contratante está sendo utilizado no sentido de contratação do serviço, não que este serviço seja exa- tamente firmado por meio de um contrato formal.

atividades pelo contratante a qualquer momento e sob qualquer alegação; e por outro o contra- tante pode ser “abandonado” pelo trabalhador em qualquer ocasião e também sob qualquer pretexto, inclusive, antes da finalização das atividades para o qual foi solicitado. Assim, fica evidente que a ausência de formalidades traz desvantagens às duas partes. Todavia, ressalta-se que ao trabalhador os danos são mais evidentes.

No documento FABIANE APARECIDA MORENO GARCIA (páginas 47-67)

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