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O propósito de inclusão da pessoa com deficiência nos diferentes segmentos da sociedade não é algo novo, mas ainda se constitui em tema de grande complexidade que precisa estar presente na pauta dos debates contemporâneos. Precisamos evoluir dos belos discursos para a implementação de políticas públicas que resultem na garantia dos direitos da pessoa com deficiência, mostrando-lhe que para além dos seus limites está a consequente possibilidade de superação.

As primeiras iniciativas brasileiras à organização de serviços para atendimento das pessoas com deficiência ocorreram com a criação do Instituto Imperial dos Meninos Cegos, em 1854 – atual Instituto Benjamim Constant (IBC), e o Instituto dos Surdos, em 1856 – hoje conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Nesta perspectiva Glat e Blanco (2007) destacam que neste período a deficiência era ligada ao modelo clínico, no qual o sujeito era submetido a exames médicos, psiquiátricos e psicológicos realizado pelos profissionais da área da saúde e por isso era necessário intervir para minimizá-la ou superá-la, e assim, não havendo expectativas destes sujeitos participarem nos ambientes acadêmicos e ingressarem no convívio social e cultural.

O modelo clínico-médico busca na pessoa as causas para seus problemas e tenta reabilitá-la para a vida em sociedade. Nessas instituições, privilegiavam-se atividades para a aprendizagem de comportamentos moldados para as “ações de vida diária” (alimentar-se, vestir-se, etc.), também eram ofertadas atividades em oficinas “protegidas” de trabalho e, para os que tinham condições, atividades pedagógicas de alfabetização. Tais ações oportunizadas nas instituições especializadas eram vistas como um grande avanço e como a única forma de reabilitação desses sujeitos, entretanto, limitavam suas interações e ações, uma vez que determinavam o que cada um poderia ou não fazer, onde cada um poderia ou não chegar.

Em 1973, com a criação do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), atual Secretaria de Educação Especial (SEESP)14, a Educação Especial foi institucionalizada. Todavia, continuava

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Em 2011, com a extinção da Secretaria de Educação Especial (SEESP), os programas e políticas no campo da Educação Especial foram incorporados pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECADI)

caracterizando-se majoritariamente como um sistema de ensino segregado, com profissionais e serviços específicos. (PLETSCH 2014).

De certa forma o conceito de integração/inclusão chega ao Brasil, conforme lembra Miranda (2003) na década de 1970, e opondo- se aos modelos de segregação e defendendo a ideia de possibilitar, às pessoas que apresentavam deficiência, condições de vida o mais normal possível, assemelhando com a de todas as pessoas consideradas normais. Assim, as propostas de definição das políticas públicas da década de 1980 foram norteadas pelos princípios da normalização e da integração.

Conforme já vimos anteriormente os eventos internacionais como “Declaração Mundial sobre Educação para Todos”, promovido em Jomtien, em 1990, a “Declaração de Salamanca”, o “Encontro de Dakar” e a “Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”, foram significativos na organização, elaboração e implementação das políticas e diretrizes educacional brasileira. Em especial, é importante referendar neste cenário que a “Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais”, realizada em Salamanca na Espanha em 1994, foi um encontro com intuito de analisar as mudanças fundamentais nas políticas necessárias para fortalecer o enfoque da educação para Todas as pessoas, inclusive sujeitos com deficiência, e assim, tornando um documento balizador de “princípios, políticas e práticas” no campo educacional da deficiência para os países. (UNESCO, 2011b).

Esses e outros eventos similares tiveram repercussão no Brasil, influenciando o surgimento de um novo paradigma educacional. Entre os marcos nacionais, destacam-se a Constituição Federal de 1988; a LDB 9394/96; o Plano Nacional de Educação para Todos de 2001; a Resolução CNE/CEB n. 2/2001, que institui diretrizes nacionais para a educação básica; o documento do Ministério Público Federal “O acesso de estudantes com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular”, editado em 2004 pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão; a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008).

Em Santa Catarina, a Política de Educação Inclusiva teve seu marco inicial no campo da Educação Especial, no ano de 1954, efetivada pelo professor João Barroso Júnior, técnico de Educação do Ministério de Educação e Cultura. No entanto, oficialmente em 1957 em que se inicia o atendimento ao público na área da educação especial, com o funcionamento de uma classe especial para crianças deficientes,

no Grupo Escolar Dias Velho, posteriormente denominado Grupo Escolar Barreiros Filho, localizado em Florianópolis/SC. Neste espaço especializado o atendimento à pessoa com deficiência, assumia um caráter assistencial e terapêutico, baseado na vertente do modelo clínico- médico, pois se entendia que essa clientela necessitava de um tratamento clínico, ao invés de Educação. (SANTA CATARINA, 2006).

Por outro lado, as ações com vistas à integração escolar de pessoas com deficiência foram intensificadas a partir de 1987, com a reformulação do sistema estadual de ensino e com a deflagração da matrícula compulsória, estabelecida no plano de matrícula escolar 1988- 1997. Posteriormente, foi elaborada e aprovada, em 1998, a Proposta Curricular de Santa Catarina com bases em pressupostos histórico- culturais (SANTA CATARINA, 2006). Outros documentos orientam a educação inclusiva no estado, a exemplo da Política de Educação de Surdos no Estado de Santa Catarina (2004) e da Política de Educação Especial para o Estado de Santa Catarina, regulamentada pela Resolução 112/2006 do Conselho Estadual de Educação.

No Brasil, a integração das pessoas com deficiência nos sistemas educacionais regulares foi regulamentada com a implantação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva15 de 2008. O texto introdutório dessa Política destaca o movimento mundial pela inclusão como uma “ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os estudantes de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação”. (BRASIL, 2008, p.56).

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006, da qual o Brasil é signatário, desloca a ideia da limitação presente na pessoa para sua interação com o espaço social, definindo em seu documento da Constituição da República Federativa do Brasil no artigo 1º do decreto n° 6.949 de 25 de agosto de 2009 que:

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Nesta perspectiva, o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão apresenta a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que acompanha os avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os estudantes. (BRASIL, 2008).

Pessoas com deficiências são aquelas que têm impedimento de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas barreiras podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas. (BRASIL, 2012, p.149)

No contexto da educação inclusiva é um direito incondicional que as pessoas com deficiência possam viver de forma independente e que tenham garantido as condições de acessibilidades nos espaços onde convivem socialmente para participar plenamente de todos os aspectos da vida. De acordo com o art. 24 da ONU, trata sobre o direito da pessoa com deficiência à educação, é fundamental “[...] efetivar esse direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os estados partes assegurarão sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida [...]” (ONU, 2006, p.76).

Neste mesmo período, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da Educação, da Justiça e a UNESCO lançam o “Pano Nacional de Educação em Direitos Humanos” de 2009, envolvendo o Brasil na Década da Educação em Direitos Humanos prevista no “Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos”. Para tal, o documento define ações para fomentar no currículo da educação básica, temáticas relativas às pessoas com deficiência e para desenvolver ações afirmativas que possibilitem o processo de inclusão no ambiente escolar.

Neste prisma, Mazzota (2002) enfatiza que o documento elaborado apresenta disposições legais e normativas que celebra uma acepção democrática da educação escolar na premissa que não excluir nenhum sujeito devido sua condição social, como também, elucida claramente o papel da educação especial dentro de uma estrutura e proposta de ensino inclusivo para todos os indivíduos.

No campo da educação inclusiva na gestão do governo Lula foi e continua sendo realizado investimentos financeiros e políticas com intuito de promover a inclusão social e educacional, em especial, é importante destacar o “Programa Federal Educação Inclusiva: direito à Diversidade”, implementado em diferentes municípios do território brasileiro, com objetivo de desenvolver a política de “Educação Inclusiva” de pessoas com deficiência. (PLETSCH, 2014)

Com base nessa política, no ano de 2009 foi homologado o Parecer 13 (BRASIL, 2012) que instituiu as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado (AEE)16 no ensino regular na modalidade de Educação Especial em conformidade como Decreto n°6.571 de setembro de 2008 que foi revogado pelo decreto 7.611 de novembro de 2011, o qual dispõe sobre apoio financeiro e técnico aos sistemas públicos de ensino à nível de Estados, do Distrito Federal e municípios que desenvolvem atendimento educacional especializados. (BRASIL, 2008).

É perceptível que o processo de inclusão no território brasileiro tem avançado por meio de políticas educacionais bem como tem levado muitas pessoas a estarem mais atentas às discussões com relação aos direitos dos cidadãos. Sobretudo é importante destacar neste contexto que a inclusão escolar no Brasil não aconteceu com a participação efetiva de familiares e das unidades escolares, não houve um movimento gradativo de tomadas de decisões conjuntas e adaptação de escolas e docentes na direção de um processo inclusivo. (NOGUEIRA, 2014).

Assim, a inclusão compreendida como processo planejado, gradativo deve ser compromisso de toda sociedade, compartilhando responsabilidades entre organizações governamentais e não- governamentais, voltadas à garantia da dignidade da pessoa humana como fundamento de uma sociedade livre, democrática e justa.