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Conforme prevista na metodologia de pesquisa, propõe-se que as metodologias sejam avaliadas ao serem respondidas oito questões relacionadas a sua aplicabilidade, usabilidade e adaptabilidade e demais elementos citados no item 3.3.1 deste trabalho. Sendo importante verificar os aspectos epistemológicos, técnicos, formais, éticos e políticos que possam influenciar, potencializar ou contraindicar o seu uso em determinados contextos, locais e situações. Atendendo aos critérios estabelecidos previamente – apresentados no Capítulo 1 – as questões são:

a) Apresenta as bases epistemológicas sobre necessidade de informação?

Calva González realiza uma retrospectiva histórica e a indicação dos teóricos que embasam a estruturação do seu modelo NEIN. Considerando que um dos desdobramentos desse modelo é a proposição de uma metodologia, podemos considerar que o autor dispôs, para conhecimento mais aprofundado, as bases epistêmicas, citando diversos estudiosos, que situam as necessidades de informação no prisma da Ciência da Informação, apresentando os contextos de surgimento, dependência, consequência da necessidade de informação, além de suas características, tipologias, atores, fatores de influência.

Yves Le Coadic (1998) apresenta superficialmente, mas com propriedade, aspectos relacionados aos estudos realizados sobre o assunto e suas reflexões teóricas que dão consistência a sua metodologia. Relacionado diretamente ao processo de identificação, apresenta os autores que interagem nessa atividade. Esclarece sobre as tipologias, fatores de influência, contextualizações de surgimento das necessidades. De forma negativa, superficialidades epistêmicas apresentadas não auxiliam ao leitor uma compreensão completa sobre o assunto, entretanto, oferece conhecimentos necessários para aplicar, com qualidade a sua metodologia

Devadason e Pratap Lingam (1996) são sintéticos e diretos na sua metodologia, remetendo a um guia prático de realização da atividade. Limitam-se a expor sua reflexão citando aspectos mais importantes em cada etapa, características e fatores que podem influenciar o surgimento da necessidade de informação.

Neste quesito, as metodologias de Calva Gonzáles (2004) e Le Coadic (1998) atendem o requisito que permite ao investigador, ou ao planejador, conhecer com maior particularidade o assunto que será investigado. Ao conhecer o objeto de trabalho, o investigador saberá identificar com mais clareza o que deve observar.

b) Apresenta e explica os métodos e técnicas para identificação?

Devadason e Pratap Lingam apresentam sua metodologia dividindo-a em etapas, cada qual, ao serem abordadas, indicam os melhores métodos e técnicas para alçar seu êxito e prosseguir com a investigação. Entretanto, não detalha, não explica, nem justifica os métodos e técnicas indicadas. Obriga o investigador a ter o conhecimento e domínio prévio dessas técnicas ou apresentar para utilizá-las acessando outras fontes.

As três etapas de investigação de necessidade de informação planejadas por Le Coadic (1996) não apresentam, durante a sua explanação, os métodos e técnicas a serem adotadas, estas são apresentadas e abordadas apenas ao final do livro. O autor justifica as indicações dos métodos e técnicas, apresentando brevemente o que esperar da adoção de cada uma delas e como proceder.

A investigação da NEIN, proposta por Calva González (2004), é acompanhada pela indicação de métodos e técnicas que podem ser utilizadas visando ao sucesso na realização do processo. O autor investe na avaliação e reflexão das vantagens e possibilidades de uso de diversas técnicas e métodos. O investigador tem a possibilidade de selecionar qual será a mais adequada para a sua condição ambiental, financeira e contextual.

O agravo nesta metodologia é o fato de que os procedimentos e etapas de investigação não são definidas, mas são indicados assuntos que podem ser explorados para identificar a necessidade de informação, necessitando que a sua aplicação dependa da leitura integral da metodologia para sua, compreensão e apropriação.

Neste aspecto, as três metodologias atendem ao pré-requisito, porém, Calva González (2004) contribui de maneira mais relevante acerca dos métodos e técnicas que podem ser utilizados.

c) Apresenta exemplos prontos, ou para produção, de modelos ou estruturas de aplicação e desenvolvimentos prático da metodologia, com as devidas orientações de uso?

Das três metodologias, apenas Le Coadic (1998) apresenta modelos estruturados de instrumentos de aplicação e desenvolvimento de sua metodologia. Entretanto, esses exemplos são baseados no contexto vivenciado em bibliotecas. O autor confirma a possibilidade de aplicação similar nos demais tipos de unidade de informação, porém, sua constatação não pode ser realizada sem a prática.

Dos demais autores, Devadason e Pratap Lingam (1996), nada apresentam e Calva González (2004) apenas tece considerações sobre a aplicação das técnicas, assim, possibilitando que o usuário possa as compreender e melhor selecionar.

d) Há consideração aos aspectos políticos e éticos no processo?

Os três autores apresentam, com maior ou menor profundidade, os aspectos políticos e éticos aos quais suas metodologias podem estar expostas. Todos consideram os fatores de interesse e envolvimento humano e institucional como potencializadores da realização e sucesso do processo de identificação. Há, ainda, a preocupação de que essa investigação considere os aspectos sociais e psicológicos do usuário evidenciando, portanto, a atenção necessária às inferências e interferências de cunho político e ético no processo de aplicação das metodologias.

e) Apresenta claramente o papel dos atores envolvidos no processo?

Nas metodologias de Calva González e de Devadason os atores são indiretamente citados. Porém, ficam claras, pela exposição das ideias, as posições dos usuários, dos intermediários, da instituição, da comunidade e dos investigadores dentro do processo.

Devadason e Pratap Ligam apresentam os usuários de forma indireta, porém, deixam clara a participação do Identificador de Necessidades de Informação (INI) (1996, p. 4), destacando as qualidades e aptidões que devem possuir para realizar essa atividade. Todavia, esses autores colocam o investigador como elemento externo ao processo.

Le Coadic apresenta os mesmos atores dos dois outros estudiosos, porém, define claramente o papel do intermediário do serviço de informação como interferente direto no processo para identificar a necessidade do usuário. Inclusive o destaca como elemento privilegiado da interação, percebida no processo de busca de informação pelo usuário e a

manifestação da necessidade de informação. Para o autor, o mediador pode – e preferencialmente deve – ser o investigador.

Neste quesito, os três autores apresentam, caracterizam e responsabilizam os atores envolvidos no processo. O destaque deve ser dado à Devadason e Pratap Lingam e Le Coadic, pois apresentam duas possibilidades de definir quem irá realizar o processo de investigação.

f) Há definição e orientação das etapas de planejamento, execução, checagem e ação?

As metodologias de Le Coadic e de Devadason e Pratap Lingam apresentam claramente as etapas e estratégias de aplicação de sua metodologia, permitindo o planejamento e a realização das demais etapas. Entretanto, o “o que fazer” de forma efetiva com o resultado – ou seja, agir ou usar – não são abordadas por essas metodologias. Há indicações de onde podem ser utilizados os resultados, no entanto, não demonstram de forma prática ou por simulação.

Em situação análoga, está a metodologia de Calva González, mas com o diferencial de que as etapas e sequências de atuação não estão claras. A metodologia não prima por prender o investigador em um processo fechado. As fases de investigação apresentadas no modelo NEIN idealiza o processo, mas não obriga a utilização da sequência apresentada.

g) Expõe de forma clara, orientações para participação do investigador (para sua capacitação ou atitude) no processo de identificação?

Calva González não define o indivíduo que deve realizar o trabalho de investigação, ou seja, qualquer indivíduo pode ser capaz proceder o processo investigativo. Devadason e Pratap Lingam (1996, p. 4) sugerem a definição de um indivíduo para realizar a investigação, o (INI), mas não orienta efetivamente sobre como deve proceder. Ao investigado cabe compreender a sua metodologia, traçar suas estratégias de aplicação e a colocar em prática.

Por sua vez, Le Coadic aponta para que o intermediário, já vinculado à unidade de informação, é quem seja capacitado para investigar as necessidades, entretanto, apenas indica que o intermediário deve aprender a como ser interativo (1998, p. 162), não instruindo sobre, mas destacando pontos que devem ser dominados pelo investigador como, hospitalidade e o conversação (diálogo).

São três percepções diferentes, mas que não impossibilitam a aplicação das metodologias correspondentes. Entretanto, pela proposta de Le Coadic, o investigador pode ter maior chance de êxito em sua atividade por já conhecer, do seu cotidiano de trabalho, o sistema

de informação e os usuários, conhecendo contextos e situações que podem não estar acessíveis a um investigador externo.

h) Apresenta os meios de possibilidades concreta de adequação para os diferentes perfis de unidade de informação?

Os três autores mencionam a possibilidade de uso das metodologias em diferentes unidades de informação. Porém, nenhum apresenta exemplos concretos de sua aplicação, por exemplo, em museus e arquivos.

Neste quesito, nenhuma das metodologias podem ser qualificadas de imediato. A sua aplicação em outros perfis de unidade de informação vai depender de estudo que permita verificar sua adaptação.