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3. METODOLOGIA DA PESQUISA

4.1 Análise das provas de vestibular de língua espanhola

4.1.2 Sobre as questões

4.1.2.4 Questões de conhecimentos metalinguísticos dissociados do texto

Para esta categoria, enquadram-se os conhecimentos metalinguísticos que não possuem nenhuma relação com o(s) texto(s) do exame. As questões visam examinar a normatividade da língua por intermédio de regras gramaticais ou ainda o uso do conhecimento léxico-semântico para entrever a sinonímia ou antonímia de frases, além de escolher trechos, expressões, palavras para tradução.

Medeiros (1975) afirma que essa é uma das características das provas de língua estrangeira, ademais das questões de compreensão textual, haja vista o exame aferir de igual modo o reconhecimento do sistema da língua. É justamente este ponto criticado pelas OCNEM (BRASIL, 2006), pois ao valorizar o ensino da gramática reduzindo-a uma

concepção de linguagem “como algo homogêneo, fixo e abstrato, capaz de ser descrito,

ensinado e aprendido na forma de um sistema abstrato, composto por regras abstratas – tudo isso distante de qualquer contexto sociocultural específico” (p.107), contribui para formação

de indivíduos não críticos e que não se sentem motivados para estudar, ampliar os seus conhecimentos em uma LE, uma vez que não veem sentido no que trabalham.

A seguir, apresentamos os exemplos de cada instituição de acordo com a categoria conhecimentos metalinguísticos dissociados do texto.

27. De acuerdo con las informaciones del texto, marque V si la proposición es verdadera y F si es falsa en cuanto a la acentuación gráfica CORRECTA de las siguientes palabras:

( ) gárgola, páncreas, demérito, demasía ( ) demás, petróleo, pétalo, rustico ( ) vestuario, adiós, sábio, así

A) V, F, F B) V, F, V C) F, F, V D) F, V, F. E) V, V, V.

Fonte: Texto 11, questão 27, retirado da prova 8, universidade A, 2009.2.

Exemplo 19: conhecimento metalinguístico – dissociado do texto: gramatical

(Universidade A)

Segundo o enunciado da questão, o vestibulando deve levar em consideração as informações do texto (indicação de retomada), para marcar os itens verdadeiros e posteriormente a alternativa correta. Porém, um fato nos chama atenção na elaboração desta questão, já que o texto (T11) aborda como conteúdo a temática das tecnologias digitais e o uso crescente pelos jovens, não existindo relação com o que é solicitado logo em seguida pela questão, verificar segundo as regras de acentuação gráfica quais itens encontram-se sem erros.

Outro ponto, fez-nos classificar essa questão como metalinguístico dissociado do texto: os exemplos para serem verificados a correta acentuação gráfica não fazem parte do texto de origem. Ou seja, as palavras são descontextualizadas, não são retiradas nem do texto

fonte utilizado para o exame. Trata-se, portanto, de uma questão que seleciona conteúdo gramatical, mas que não possui nem uma relação discursiva, interpretativa e contextualizada do gênero.

40. “Pedreiro” en español es:

a.( ) peluquero b.( ) albañil c.( ) guantero d.( ) constructor

Fonte: Texto 17, questão 40, retirado da prova 11, universidade B, 2006.2.

Exemplo 20: conhecimento metalinguístico – dissociado do texto: tradução

(Universidade B)

O exemplo retirado da universidade B, trata de aferir a tradução do termo “pedreiro”

para o espanhol, sem nenhuma associação com o texto. Aliás, o texto 17 aborda a temática da cidade de Nápolis e seus mistérios, trazendo como título: Una ciudad construída en la Roca. Contudo, não há nenhuma menção ao trabalho no sentido de construção ou de execução de obras, sendo essas características do serviço do profissional “pedreiro”. Cabe ao concursante utilizar do seu conhecimento acerca do vocabulário da língua espanhola para responder o enunciado, e caso esse não saiba a tradução, não há como recuperar pelo contexto a resposta.

60. El uso de la preposición (en negrita) está INCORRECTO en:

A) vamos a Santiago de Chile en avión. B) don Quijote Cabalgaba a Rocinante. C) desde el edificio un pájaro se aleja. D) me responsabilizo por mis actitudes.

Fonte: Texto 33, questão 60, retirado da prova 27, universidade C, 2010.1.

Exemplo 21: conhecimento metalinguístico – dissociado do texto: gramatical

(Universidade A)

A amostra da universidade C traz em destaque em seu enunciado o que se quer aferir, trata-se, portanto, de um exemplo de questão negativa (MOSIER; MYERS; PRICE, 1945 apud VIANA, 1976). Uma vez que para responder a questão o candidato deverá identificar qual dos itens é o incorreto quanto ao uso da preposição.

Desta forma, o candidato faz uso do seu conhecimento gramatical para comprovar a

assertiva incorreta. No item a, o vestibulando deve saber que a preposição “en” tem a

finalidade de localização espacial, ademais que se trata de um transporte, no qual se está dentro dele, utiliza-se a preposição “en” e não “de”, como usualmente empregamos no português. No item b, também temos um exemplo de meio de transporte, porém não vamos dentro dele, mas sim encima, ressaltamos que a situação indica movimento, com isso usamos

a preposição “a”. Quanto ao item c, segundo Hermoso et al. (2004), a preposição “desde”

sinaliza um ponto de partida no espaço e no tempo, estando associado ao exemplo da assertiva

c. Já o item d, aborda o regime preposicional do verbo “responsabiliarse” que tem como estabilizado o uso de “de” (HERMOSO, 2004), logo “me responsabilizo de mis actitudes”

seria a forma correta.

Na instituição D não encontramos exemplos de acordo com a categoria metalinguística dissociado do texto. Ou seja, essa universidade foi a única que não adotou a verificação de conhecimentos relacionados à gramática, vocabulário ou tradução de forma aparte do texto, optando por abordá-lo como pretexto ou associado ao contexto textual.

Abordar os conhecimentos metalinguísticos de forma isolada, priorizando a forma e não a sua funcionalidade em determinados contextos, contribui para uma associação estrutural

da linguagem. Quando essa deveria ter papel de destaque “nas relações interpessoais e discursivas” (OCNEM, BRASIL, 2006, p. 144):

[...] O que efetivamente importa é mais como e o para que fazê-lo, é o não tornar a análise e a metalinguagem um fim em si mesmas, mas uma forma de avançar na compreensão, uma maneira de mostrar que as formas não são fruto de decisões arbitrárias, mas formas de dizer que se constroem na história e pela história, e que produzem sentido. (Idem, 2006, p.145).

Logo, o uso dos conhecimentos metalinguísticos seria uma ferramenta a mais para a reflexão da produção e construção de sentidos na relação com a leitura.

Conforme exposto, nesta subseção apresentamos exemplos de amostras retiradas das universidades pesquisadas, caso ocorresse alguma manifestação de acordo com as categorias elencadas. A seguir, expomos um resumo do que fora revelado por cada instituição no decorrer dos cinco anos.