• Nenhum resultado encontrado

HISTÓRIA LITERÁRIA

ORGANIZAÇÃO GERAL DA OBRA

V. Questões de Método

Ítalo Calvino, em suas reflexões sobre “a palavra escrita e a não-escrita”, entre outras coisas, trabalha a sua relação de dependência como intelectual e de outros intelectuais também ao manuscrito ou “ao mundo feito de linhas horizontais, onde palavras seguem palavras, uma de cada vez, e cada frase e cada parágrafo ocupa seu lugar

estipulado, um mundo talvez muito rico, ainda mais rico do que o não-escrito, mas que, de qualquer forma, requer um ajuste especial, a fim de que possamos nos enquadrar nele”. E confessa: “Seja como for, não há como fugir de meu destino: na vida pública e na vida privada, mantendo sempre uma folha escrita a poucos palmos do nariz.”256 Para tanto, previamente, explica que “aqui estou eu, tendo cuidadosamente preparado minha fala, e as páginas que tenho nas mãos são o texto que escrevi. Não podendo improvisar, sou obrigado a ler, confortado pela etimologia latina da palavra lecture, também dada pelo Webster”.

Essas palavras introdutórias de Ítalo Calvino produziram forte efeito quando estudamos os textos de Sotero dos Reis, principalmente o Curso de literatura, e os relacionamos com a tradição retórica de estudo do século XIX em que a formação intelectual acontecia a partir da leitura em voz alta. O professor elaborava “preleções” na forma textual, assim como o texto de Calvino, e as proferiam ou ditavam-nas ao seu público alvo que eram os seus alunos. Os alunos, por conseguinte, aprendiam com eles e carregavam os efeitos desse processo pedagógico. Desde pequenos, os alunos das séries iniciais tinham como regras aprender a ler bem e ter uma boa leitura em detrimento da escrita, cujo ensino era deixado para depois que soubessem ler. De acordo com Zilberman

Nem leitura, nem literatura, contudo, têm consistência suficiente para se apresentarem como disciplinas autônomas. No século XIX e início do século XX, a leitura em voz alta formava o estudante no uso da língua, em essencial na expressão oral, respondendo às necessidades da Retórica ainda dominante na escola. Quando a leitura tornou-se passagem para a leitura, revelando a ênfase agora dado ao escrito, tomou acento na cadeira de Português, junto com seus companheiros de viagem, os textos literários. Mas nunca deixou de ser propedêutica, preparando pra o melhor que vem depois.257

No caso de Sotero dos Reis, tudo leva a crer que as suas aulas eram planejadas mediante a elaboração sistemática de lições – em forma textual - que eram proferidas aos alunos ao longo do período. Esses textos proferidos, tanto sobre gramática – portuguesa e latina – quanto sobre literatura – portuguesa e brasileira – eram coligidos e publicados em

256 CALVINO, Ítalo. A palavra escrita e a não-escrita. In: AMADO, Janaína et FERREIRA, Marieta de

Moraes (org.) Usos e abusos da história oral. 8ª. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 139-147.

257

volume, sem a preocupação de passá-los por um processo de adequação do “saber didático” às normas do “saber erudito”; pois justamente eram para aqueles estudantes de suas disciplinas que pudessem adquiri-los. As obras de Sotero dos Reis estão carregadas do aspecto oratório da retórica que, tudo indica, eram realmente lidas em voz alta na prática pedagógica. Do início ao fim, os leitores dessas obras podem constatar que elas se modelam de acordo com o discurso oratório, com suas expressões e cacoetes típicos da fala, dando a impressão de contato mais próximo do autor com o leitor; e até a interessante sensação de parecer vivenciar aquelas aulas no momento da leitura. Torna-se, então, muito corriqueiro o manuseio dos vocativos: “senhores”, “vos” ou de expressões como “vossa atenção, “vossa desculpa”, etc. A introdução da “Lição I” do Curso de Literatura representa o discurso típico de seu autor:

Bem ou mal collocado nesta cadeira, terei, senhores, de occupar a vossa attenção com uma serie de preleções sobre litteratura, assumpto tão importante como elevado, porque respeita essencialmente á cultura da inteligência, ou ao que há mais nobre no homem, e o assemelha á divindade. A tarefa de que me encarreguei por convite do illustrado diretor do Instituto de Humanidades, o sr. dr. Pedro Nunes Leal, para desenvolvimento dos alumnos mais adiantados do estabelecimento, é sem dúvida superior ao fraco cabedal de luzes de que posso dispôr; mas intimamente convencido de que ensinar é aprender, farei os possiveis esforços para dar cumprimento ao que de mim se exige, appellando para vossa benevolencia, que me desculpará os Eros para attender unicamente aos bons desejos de que me acho possuido. Peço pois a vossa benevola attenção por alguns momentos.258

A leitura recorrente do texto e, por extensão, do texto literário torna-se mais clara quando Sotero dos Reis aplica que, por exemplo, para “que façais ajustada idea desta soberba versão [dos salmos pelo Padre Sousa Caldas]” passará “a ler-vos della o primeiro, e o decimo oitavo psalmos, com suas variantes em versos da arte menor”, como exemplificação de um assunto específico abordado em determinada lição de matéria poética. Nesse caso, trata-se da explicação da tradução dos salmos de Padre Sousa Caldas que, segundo Sotero dos Reis, “superior a todas quantas se lêem em diversas linguas, é um

verdadeiro thesouro de poesia, com que forão enriquecidas as lettras no Brazil e em Portugal (...)”(grifos nossos)259

O aspecto didático, baseado no decoro da retórica educacional, torna-se determinante para definir a forma de abordagem do estudo da história das duas literaturas, ou seja, a metodologia historiográfica da qual Sotero dos Reis se vale para a construção de sua história literária. Embora preso a alguns padrões retóricos da tradição humanística, Sotero dos Reis se permitiu utilizar de novas perspectivas críticas, pois, dizia que “não quero com isto dizer que seja completo meu trabalho debaixo do ponto de vista em que o concebi; não, não nutro semelhante vaidade; o que apresento é apenas um imperfeito ensaio cuja idea me foi sucitada pela leitura das obras de alguns modernos litteratos francezes; ensaio que pode ser melhorado pelos que depois de mim trilharem a mesma estrada.”260. Como se pode observar, mais adiante, um desses “modernos literatos franceses” foi o professor Abel-Francois Villemain:

Os Francezes modernos, e nomeadamente Mr. Villemain, teem comprehendido melhor a necessidade de fazer um estudo serio e aprofundado desta segunda parte, dando-nos a analyse das producções do gênio em cursos especiaes, onde tudo quanto respeita á literatura de diversos povos é tratado e exposto com o preciso desenvolvimento.261

Sotero dos Reis foi adepto da nova metodologia francesa de crítica literária desse professor, visto, por muitos naquela época e também pela crítica contemporânea, como aquele que rejeitou a “velha retórica” e introduziu a “nova crítica literária”. Villemain tornou-se conhecido pelas suas aulas de literatura francesa, com a publicação dos seis volumes do Cours de littérature française (1828-1829). De acordo com Fernand Baldensperger, Villemain ficou popular dentro do grupo de críticos da “Critique de Mouvement” pela sua crítica de caráter persuasivo advindo da oratória acadêmica:

Dans la triade Guizot-Cousin-Villemain, si populaire parmi la jeunesse des Ecoles sous la Restauration, si intimement liée aux destinées de la Monarchie de Juillet, Guizot représentait um “juste mileu” de civilisation et

259 REIS, F. Sotero dos. Op. cit., t. IV, 1868, p. 243-244. 260 REIS, F. Sotero dos. Op. cit., t. I, 1866, p. XV-VI. 261

Victor Cousin, philosophe de l’ “éclectisme”, une sorte de séduisante indécision; Villemain est nettement l’orateur, et l’orateur académique. Lês avantages et lês inconvénients de la critique avaient été l’um de sés premiers écrits, encadré de deux “éloges”; les six volumes du Cours de littérature française (1828-1829) consacraient quatre volumes au XVIIIº. siècle, considéré dans sés mérites sociaux plus que dans sés réussites purement littéraires. Une critique persuasive par son accent plutôt que par sés preuves; une magnifique carrière faisant de l’académicien precoce um secrétaire perpétuel de la Compagnie, um depute, un pair de France et um ministre: cette destinée, brillante plus que féconde, était comme inscrite, pour-rait-on dire, dans les leçons de libéralisme et de rationalisme qui lui valaient tant d’applaudissements avant la Révolution de Juillet.262

Influenciadora de muitas mentes, a obra de Villemain surpreende por que coloca uma nova prática de crítica em que se quebram os vínculos “com a crítica dogmática e abstrata e com o exame das obras consideradas em si mesmas, ‘relacionadas com vagas teorias’. Fazendo entrar a biografia na crítica, buscou a influência da religião, dos costumes e das leis sobre a literatura.”263. Em resenha ao primeiro tomo do Curso de Literatura de Sotero dos Reis, o crítico Lafayette já percebia ser Villemain

na arte da crítica o grande mestre – o incomparável – diremos dele, como de Tucídides diziam aos gregos.

Villemain anima com o sopro vivificador de seu gênio os monumentos literários que escolhe para assunto da discussão; estuda-os em todos os sentidos, interroga a história e a biografia; explora todas as fontes de informação; institui paralelos; e de sua crítica profunda e luminosa ressalta fielmente interpretado o pensamento do escritor: a sublimidade da idéia, o movimento das paixões, a pintura dos caracteres, a urdidura da composição, os primores da forma, defeitos e desvios; tudo é julgado à luz de uma estética superior e de uma filosofia elevada.

A crítica assim praticada, é uma grande arte, fecunda em resultados, e que inspirando-se nas fontes do belo, enriquece as literaturas com suas produções, com obras-primas.264

Por outro lado, Wilson Martins considera que, mesmo sendo inovador, Villemain não deixava de ser

um clássico retardado (como Sotero dos Reis), acrescento por minha conta, condicionando a sua visão de letras por preocupações moralizantes. No que

262 BALDENSPERGER, Fernand. La Critique et l’Histoire Litteraires em France. Bretanos’s: s/d. p. 54. 263 MARTINS, Wilson. Op. cit., 1983, vol. I, p. 153.

aliás, respondia com fidelidade às concepções do seu tempo: pode-se pensar que foi influente, como sempre acontece, simplesmente porque refletia e exprimia a opinião generalizada e as verdades aceitas. Ainda em 1825, por exemplo, observava numa das suas lições ser impossível falar de Molière na Sorbonne “sem infringir o rigoroso decoro que nos é imposto”.265

De fato, do mesmo modo que Villemain e a maioria dos críticos da época, Sotero dos Reis também tinha a concepção educadora e moralizante do estudo das “belas letras” que, “sem cujo conhecimento não pode haver solida educação civil e scientifica.”266 Por isso, acreditava na eficácia do papel do crítico e historiador da literatura para “apontar o melhor caminho a seguir” e “aprender a formar o gosto” que se deve conseguir pela escolha do melhor método de estudo. O método de Villemain parecia a sua melhor opção para a abordagem das literaturas portuguesa e brasileira. Como já observamos, a qualidade de divisão e subdivisões do Curso de literatura inclui a sistemática que segue à risca o modo do conteúdo da disciplina de literatura ministrada em que as partes e seções revelam a temática do conjunto das aulas e, de fato, as “lições” correspondem a cada aula proferida pelo professor.

Nesse ritmo de lições, Sotero dos Reis concebeu um estudo historiográfico a partir do esquema em que o estudo da literatura envolvia em lições distintas o conhecimento histórico da biografia e a análise concentrada das obras mais importantes para representação literária do país estudado. Nesse sentido, cria na seleção criteriosa de autores e obras, de número reduzido, mas de “valor”; sem conceber que fizesse necessário aglomerar um número excessivo de nomes, os quais passariam por “exame (...) summamente ligeiro e infructifero, estendido a todas e quaesquer de centenas e centenas delles.” Quanto a isso, Sotero dos Reis parece estar ciente de seu trabalho historiográfico e faz crer em um possível “pioneirismo”, claro que “seja completo o meu trabalho debaixo do ponto de vista em que o concebi; não, não nutro semelhante vaidade; o que apresento é apenas um imperfeito ensaio (...)”:

265 MARTINS, Wilson. Op. cit., 1983, vol. I, p. 153. 266

Assim todos os que o tentarão, não teem feito mais que dar-nos resumos superficialissimos, em que pouco ou nada ha que aprender; porque o exame que podia ser proveitoso, concentrado nas melhores obras de algumas dezenas de auctores escolhidos, torna-se summamente ligeiro e infructifero, estendido a todas e quaesquer de centenas e centenas delles.

(...)

Pode ser que eu esteja enganado, mas parece-me que o methodo seguido até hoje nos dois paizes de lingua portugueza não é o mais apropriado ao fim que se tem em vista.267

E, assim, o

melhor meio pois de aprender a litteratura não é fazêl-o por compendios ou resumos de historia litteraria, que apenas nos apresentão um juizo succinto sobre o merito em geral de cada auctor com a data do seu nascimento, ou da época em que florecêo, e a enumeração das obras que compoz; é sim ouvir prelecções de litteratura, dadas em cursos publicos, onde se exponhão as bellezas e defeitos dos modelos que se offerecem ao nosso estudo, acompanhando-se a analyse de cada um delles com a noticia dos factos mais notaveis de sua vida.268

Essa prática era tradicional dos estudiosos latinistas. Márcia Abreu relata que, por exemplo, Pierre Chompré modificava a estrutura das obras latinas sem remorsos para “preservar uma certa moralidade e prender a atenção das crianças” e estruturava seus textos da forma que o brasileiro latinista Sotero dos Reis aderira os fundamentos na sua história literária:

Com esses pressupostos, são apresentados extratos, em latim, dos textos praticamente todos os autores clássicos, dos mais conhecidos aos de menor destaque. Os trechos escolhidos são precedidos de pequenas biografias de seus autores, de breves comentários sobre as obras, de indicações de edições que poderiam ser consultadas e de uma sumária bibliografia. Em duas ou três páginas, apresenta-se o período em que viveu o autor e sintetiza-se a avaliação crítica sobre ele, fornecendo assim os elementos necessários para a realização da boa leitura: examinar os textos a luz dos conhecimentos sobre a época e a vida dos autores.269

267

REIS, Francisco Sotero dos. Op. cit., t. I, 1866, p. XV-VI.

268 REIS, Francisco Sotero dos. Op. cit., t. I, 1866, p. 7.

269 ABREU, Márcia. Os caminhos dos livros. São Paulo: Mercado de Letras/Associação de Leitura do Brasil

Sotero dos Reis conseguiu manter-se firme em seu propósito e, realmente, ofereceu um estudo de autores e obras mais concentrado, selecionando apenas aqueles expoentes do sistema literário concebido por ele, dando-nos suas biografias, analisando-os textualmente nas suas mais diversas facetas dentro dos gêneros literários e detendo-se nas mais representativas. No tomo II, dos expoentes do segundo período literário português – a “idade de ouro das letras portuguesas”, por exemplo reserva espaço apenas a três expoentes literatos Antonio Ferreira, João de Barros e Luis de Camões, este último sendo trabalhado em 13 lições das 18 que completam esse tomo – duas de Antonio Ferreira e três, de João de Barros. De todos eles, como dissemos, Sotero dos Reis escolhe detalhar-se na obra mais expressiva do escritor, mas também reserva espaço as outras composições poéticas. Antonio Ferreira é estudado nas facetas poéticas dos gêneros lírico e didático, muito embora, para Sotero dos Reis, seja mais reconhecido pela tragédia Castro. Essa última analisada com mais parcimônia e exemplos. De Camões, sobressai a obra épica Lusíadas, a qual aparece estudada em seis preleções, nas quais acompanham-se longos trechos da obra. Nas demais, aparecem os sonetos e canções líricos e as poesias didáticas.

Para o caso brasileiro, continua-se a mesma sistemática, porém de maneira mais concentrada nas obras centrais de cada poeta. Dos poucos literatos escolhidos - o total de nove nomes-, todos eles são introduzidos pela lição biográfica e, para logo em seguida, apreciar os seus textos literários. Por exemplo, Santa Rita Durão aparece como escritor do

Caramuru; Basílio da Gama, de Uraguai; Odorico Mendes, da tradução de Eneida; assim

por diante. Há, porém, dois poetas mais privilegiados pelo professor Sotero dos Reis em que o número de obras analisadas é maior, quais sejam, os poetas Souza Caldas e Gonçalves Dias. Para eles, procura deter-se em mais de uma obra. Ele analisa as traduções, as poesias líricas e profanas de Souza e Caldas e os Primeiros, Segundo e Últimos Cantos, os Timbiras, Boabdil e o Brasil e a Oceania de Gonçalves Dias.

Levando-se em consideração a extensão da obra e o espírito nacionalista que tentava constituir o patrimônio literário da época, pressupunha que história literária de Sotero dos Reis viesse a reunir um número de nomes bem maior para a construção de um cânone literário aos moldes românticos do Brasil. Porém, pelo que parece, o pensamento

historiográfico de Sotero dos Reis percebe a produção literária muito mais através do viés “qualitativo” do que o “quantitativo” que era valorizado pela maioria dos intelectuais da época. Assim, para Sotero dos Reis, a configuração do cânone literário acontece apenas se o escritor elaborou uma produção significante dentro dos seus valores literários estilísticos e lingüísticos que pudesse significar o enriquecimento das belas letras. Tal funcionamento era aplicado tanto ao estudo da literatura portuguesa quanto da literatura brasileira. Claro que o cânone literário brasileiro perpassa a questão da avaliação dos caracteres nacionalizantes das obras, mas tudo analisado pelo viés da qualidade estilística. Veremos que, por outro lado, os conceitos de literatura nacional deixam ser operacionalizados na história literária de Sotero dos Reis da mesma forma que eram pela maioria dos historiadores nacionalistas da época que construíam um cânone literário propriamente nacionalista da história da literatura brasileira. A análise é bem mais estilística. Talvez, podemos ver que se esquece de pensar num cânone nacional para valorizar o que poderia ser um “cânone literário brasileiro”. Todavia, há uma pequena particularidade. Embora escape dessa restrição dos termos nacionalizantes, Sotero dos Reis recai no que podemos chamar talvez de “cânone provinciano”, uma vez que recheia seu Curso de Literatura com escritores maranhenses, deixando de lado grande parte de literatos que produziam também literatura de valores estilísticos que ele valorizava. Letícia Malard acredita que

O fato de o professor [Sotero dos Reis] escolher figuras locais como objeto de seu ensino seguramente não passaria, como hoje, por uma atitude consciente de valorização da literatura regional. Ainda mais porque nem mesmo conceitos de literatura nacional são operacionalizados por Sotero. Com o ensino da literatura brasileira não estava sistematizado – nem pela via da historiografia nem pela composição curricular – o cânon era estabelecido de forma aleatória pelo docente. Assim, em termos práticos, Sotero acabou por transformar seu curso de literatura brasileira em curso de literatura maranhense.270

Se a história literária de Sotero dos Reis se posiciona com distinção em alguns pontos das demais manifestações historiográficas da época, principalmente no que diz respeito à avaliação e seleção literária na constituição do cânone, convém refletirmos sobre os critérios de que se utilizou Sotero dos Reis para esse tipo de abordagem historiográfica. Primeiro de tudo, requer buscar qual base teórica de literatura em que se apóia para poder selecionar e avaliar os textos literários. Havíamos notado que, pelo discurso introdutório e a própria estrutura do Curso de Literatura, Sotero dos Reis preocupa-se com uma nova prática sistêmica de historiografia para estudar a história das literaturas portuguesa e brasileira, baseado em obras que diz serem dos “escritores franceses modernos”, os quais