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4. FORMAÇÃO EM ORGANIZAÇÃO DA CULTURA NO BRASIL: APORTES CONCEITUAIS

4.3 CENÁRIO CONTEMPORÂNEO DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

4.3.2 Questões legislativas

Segundo a Lei de n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabeleceu as novas Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)134, a educação superior tem entre as suas finalidades:

I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; (...)

V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração (...); (MEC, 1996:16).

Na LDB as universidades são entendidas como:

Art. 52º. As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por:

I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional (...); (MEC, 1996:18-19).

Ainda no quarto capítulo, que versa sobre a educação superior, o artigo de número 53 elenca entre as atribuições das universidades: “II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes” (MEC, 1996:19).

No que tange a definição dos diferentes tipos e níveis de formação da educação superior, apresentamos abaixo a abrangência descrita pela LDB:

Art. 44º. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas: I - cursos seqüenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino;

II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo;

III - de pós -graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos

139 diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino;

IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino (MEC, 1996:17).

Podemos perceber, nos diferentes tipos de cursos, a existência de cursos seqüenciais, modalidade não tão utilizada hoje em dia e que se assemelha aos cursos tecnológicos pelo aspecto da sua curta duração. De acordo com a portaria de nº 4.363, de 29 de dezembro de 2004, que dispõe sobre a autorização e reconhecimento de cursos seqüenciais da educação superior, os cursos seqüenciais são integrantes de uma formação superior, mas o aluno que cursar esse nível de formação estaria apto apenas a continuar os estudos numa especialização, e não em cursos de mestrado e doutorado – diferente da carreira acadêmica de uma graduação ou de uma graduação tecnológica. “Art. 2º. Os cursos superiores de formação específica reconhecidos conduzem à obtenção de diploma de curso superior (...). Parágrafo Único. O diploma expedido (...) habilita seus portadores a cursar regularmente cursos de especialização” (MEC, 2004:02).

Os cursos de graduação tecnológica, não apontados num primeiro momento na LDB de 1996, são cursos superiores que possuem em seu projeto pedagógico os elementos para uma formação profissionalizante dentro de uma linha específica de conhecimento (sem um caráter generalista), de um modo mais denso do que o proposto nos cursos seqüenciais. Conforme podemos aferir na Resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno (CNE/CP) n° 03, de 18 de dezembro de 2002:

Art. 1º A educação profissional de nível tecnológico, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, objetiva garantir aos cidadãos o direito à aquisição de competências profissionais que os tornem aptos para a inserção em setores profissionais nos quais haja utilização de tecnologias. (...)

Art. 6º A organização curricular dos cursos superiores de tecnologia deverá contemplar o desenvolvimento de competências profissionais e será formulada em consonância com o perfil profissional de conclusão do curso, o qual define a identidade do mesmo e caracteriza o compromisso ético da instituição com os seus alunos e a sociedade. (...)

Art. 7º Entende-se por competência profissional a capacidade pessoal de mobilizar, articular e colocar em ação conhecimentos, habilidades, atitudes e valores necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho e pelo desenvolvimento tecnológico (MEC, 2002:01).

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Os cursos tecnológicos têm como principal objetivo formar profissionais para o mercado de trabalho, apesar de permitir aos formandos, segundo a própria legislação, o ingresso em cursos de mestrado e doutorado, desde que obedecidas as especificidades de cada programa. Inicialmente os cursos tecnológicos não estavam presentes na LDB de 1996, mas foram incluídos na legislação a partir da Lei nº 11.741, de 2008, no Capítulo III, da Educação Profissional, conforme inciso: “III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós- graduação” (MEC, 2008).

O documento que serviu como diretriz para a criação dos cursos tecnológicos foi o Parecer do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior (CNE/CES), de n° 436/2001, aprovado em 02 de abril de 2001. Nele temos a justificativa da criação da formação de tecnólogos para suprir uma educação voltada para o trabalho num cenário econômico e produtivo que se estabeleceu com o desenvolvimento e emprego de tecnologias complexas agregadas à produção e à prestação de serviços (MEC, 2001:01). No parecer temos uma das áreas profissionais com a denominação de “Artes”, caracterizada da seguinte forma:

Compreende atividades de criação, desenvolvimento, difusão e conservação de bens culturais, de idéias e de entretenimento. A produção artística caracteriza-se pela organização, formatação, criação de linguagens (sonora, cênica, plástica), bem como pela sua preservação, interpretação e utilização eficaz e estética. Os processos de produção na área estão voltados para a geração de produtos visuais, sonoros, audiovisuais, impressos, verbais e não verbais. Destinam-se a informar e a promover a cultura e o lazer pelo teatro, música, dança, escultura, pintura, arquitetura, circo, cinema e outros (MEC, 2001:18).

Atualmente os cursos de graduação tecnológica no campo da organização da cultura estão inseridos em “Produção Cultural e Design”, identificada como uma área que:

(...) Abrange atividades de criação, desenvolvimento, produção, edição, difusão, conservação e gerenciamento de bens culturais e materiais, idéias e entretenimento, podendo configurar-se em multimeios, objetos artísticos, rádio, televisão, cinema, teatro, ateliês, editoras, vídeo, fotografia, publicidade e nos projetos de produtos industriais. Tais atividades exigem criatividade e inovação com critérios sócioéticos, culturais e ambientais, otimizando os aspectos estético, formal, semântico e funcional, adequando- os aos conceitos de expressão, informação e comunicação, em sintonia com o mercado e as necessidades do usuário.135

Dentro dessa área teríamos como exemplos de cursos citados pelo MEC: Produção audiovisual, Produção cultural, Produção cênica e Produção fonográfica. O tecnólogo em

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produção cultural, após uma formação mínima de 2.400 horas, segundo o MEC, estaria apto a atuar:

(...) na produção, organização e promoção de eventos, projetos e produtos artísticos, e culturais, esportivos e de divulgação científica, desenvolvendo ações que perpassam todas as etapas desse processo: pesquisa, planejamento, marketing, captação de recursos, execução, controle, avaliação e promoção de qualquer evento ou produtos de interesse da área, tais como: shows, espetáculos de teatro, de música, de dança, artes visuais, produções cinematográficas, televisivas e de rádio, festivais, mostras, eventos e exposições, entre outros, tanto em instituições públicas como privadas. Esse profissional deverá exercitar em seu cotidiano a reflexão crítica acerca da produção artística e cultural no país e no exterior, estimulando e contribuindo para a promoção de novos mercados e potencialidades criativas e expressivas no cenário da cultura, da arte, da divulgação científica e do esporte.136

Já os cursos técnicos, não apontados como cursos superiores, normalmente são destinados para os alunos que estão finalizando o curso de nível médio e não buscam uma formação superior, ingressando no mercado de trabalho como profissionais em nível médio. Os cursos técnicos de nível médio foram incluídos na LDB também a partir da Lei nº 11.741, de 2008. Esses cursos oferecem uma formação mais simplificada em comparação com os cursos tecnológicos, pensados como uma complementação profissionalizante para técnicos de nível médio. No campo da formação em organização da cultura temos como exemplo nacional dessa formação o ProJovem137 Urbano – Programa Nacional de Inclusão de Jovens138, ligado a Secretaria Nacional da Juventude, onde na área de “Arte e Cultura I” temos uma formação técnica para Assistente de Produção Cultural.

Outro exemplo se refere ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul- rio-grandense (IFSul), que dispõe de um curso técnico em Gestão Cultural139 – campo pouco explorado de formação como vimos no terceiro capítulo. Opção diferenciada em relação aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte, que oferecem graduações tecnológicas na área – experiências que serão apresentadas

136 http://catalogo.mec.gov.br/index.php?pagina=desc_cursos&id=100&cu (acesso em 02/11/2009).

137 “A qualificação profissional do ProJovem é composta por uma base técnica geral, onde todos os alunos têm uma preparação comum que abarca um grupo de conhecimentos gerais para o trabalho e uma base técnica específica onde os participantes têm aulas de conhecimentos típicos de um determinado arco de ocupações” (LORDELO et al., 2008:135).

138 http://www.projovemurbano.gov.br/site/ (acesso em 22/08/2010).

139 http://www.ifsul.edu.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=26&Itemid=175 (acesso em 22/08/2010).

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no panorama de cursos de graduação plena e de cursos de graduação tecnológica do próximo capítulo.

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