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1.4 MODELOS DE PRÁTICAS CLÍNICAS PSICOLÓGICAS EM

4.2.3 Questionário família

O Questionário Família (APÊNDICE B) foi desenvolvido para ser aplicado nos familiares de crianças e adolescentes desaparecidos durante a entrevista inicial. Esse instrumento foi construído a partir de algumas perguntas presentes nos B.Os de desaparecimento (ANEXO A), tais como data da ocorrência, data do desaparecimento, nome do desaparecido, apelido, sexo, idade, altura, peso, tamanho de roupa, tamanho de sapato, cor de pele, cor de cabelo, tipo de cabelo, cor de olhos, marcas físicas (tatuagem, cicatriz, piercing, nascença), deficiência, distúrbio de conduta (álcool, drogas, infração) e completado com outras que não eram abordadas no registro policial. O modelo de questionário apresentado nessa pesquisa foi sendo modificado à medida que novas situações originadas durante os atendimentos exigiam a inserção de perguntas que até então não tinham sido contempladas. Todavia, a pesquisadora observou que os B.Os não contemplavam aspectos considerados importantes para uma compreensão maior sobre o desaparecimento e sobre as circunstâncias que o envolveram. Sendo assim, o questionário foi elaborado conservando alguns itens do B.O. e inserindo questões consideradas pertinentes. No Questionário Família os itens que constam nos B.Os estarão em azul e os itens elaborados para o questionário estarão em preto, para uma melhor vizualização do mesmo. (APÊNDICE B).

No Questionário Família, o no do DHPP refere-se ao número da queixa que o B.O. recebe quando é processado no DHPP e é por meio deste número que os investigadores de polícia referem-se ao caso. O no do Boletim de Ocorrência é o número que é processado no DP no qual foi aberta a ocorrência. O no do DP indica qual o Distrito e em que região da cidade ele se localiza. O item Cidade refere-se onde foi aberto o B.O, pois alguns casos vem de cidades do interior ou até de outras Unidades da Federação, a qual essa cidade pertence. Data da queixa refere-se ao dia em que foi aberto o B.O. e data do desaparecimento, dia em que a criança ou adolescente desapareceu. O número de Registro CV, corresponde ao número da família cadastrada no Banco de Dados do Projeto Caminho de Volta.

Após o preenchimento deste cabeçalho, o passo seguinte foi o preenchimento do Item I do questionário referente às informações sobre a Identificação Familiar, iniciando-se pelas perguntas sobre a mãe. Um aspecto fundamental é indicar se a mãe é biológica ou adotiva, pois esta informação é relevante quando se trata da análise e cruzamento dos Bancos de DNA, pois uma mãe adotiva jamais terá o mesmo DNA de seu filho. A cor de pele da mãe também é importante no estudo do DNA e no cruzamento dos Bancos, uma vez que alguns

polimorfismos de DNA, isto é, formas alternativas de uma sequência de pares de base (adenina, citosina, guanina, timina) que aparecem na população (Gattás, 2007), podem aparecer com maior frequência em alguns grupos étnicos. A indicação se a mãe é viva ou falecida se deve ao fato de que nem sempre é a mãe que comparece para abrir o B.O. de desaparecimento de seu filho. Informações como idade, estado civil com o pai biológico do desaparecido e estado civil atual (isto é, se a mãe possui algum relacionamento afetivo que não seja com o pai biológico da criança) também são importantes quando observamos os dados sobre faixa etária e números de filhos e quantidade de relacionamentos conjugais. Ou seja, há quanto tempo a mãe possui ou não vínculos afetivos, se resultaram em filhos, se os mesmos possuem ou não contato com seus pais biológicos. Foi contemplada a possibilidade de a mãe possuir relacionamentos homoeróticos e por isso foi colocado um item indicativo do sexo do atual relacionamento materno. Foram colocadas duas possibilidades de endereço, pois há casos nos quais a mãe não mora na mesma casa da pessoa com quem mantém um relacionamento atual ou com o pai biológico do filho(a) desaparecido. Outro item importante é saber se a mãe possui ou não algum tipo de vínculo empregatício, se possui alguma ocupação e local de trabalho, sendo este dado comparado ao nível de escolaridade da mãe. Todas estas perguntas relacionadas à mãe biológica também são feitas com relação ao pai biológico da criança e/ou adolescente desaparecido.

Ocorrem situações nas quais o desaparecido não mora nem com a mãe biológica nem com o pai biológico, mas com um responsável, que pode legalmente deter a sua guarda, ou não. Portanto, optou-se por incluir uma pergunta que fornecesse informações sobre quem é este responsável, ou seja, qual seu sexo, idade, cor de pele, escolaridade, estado civil, se tem filhos, grau de parentesco com o desaparecido, porque se tornou reponsável pela criança ou adolescente, endereço, profissão, ocupação e local de trabalho. Outro fator contemplado refere-se a quantos irmãos o desaparecido possui, qual o nome, idade, sexo, se são biológicos, ou não, irmãos por parte de pai ou mãe, além de abortos da mãe. Pergunta-se também se estes irmãos já despareceram antes.

O item II do questionário refere-se à Identificação da Criança ou do Adolescente desaparecido. Algumas perguntas foram aproveitadas dos Boletins de Ocorrência, como nome, apelido, sexo, data de nascimento, naturalidade, compleição, cor de pele, cor de olhos, cor de cabelo, tipo de cabelo, marcas físicas, distúrbio de conduta, ou seja, se o desaparecido consome bebida alcoólica, drogas ou se pratica ou praticou atos infracionais. Outras perguntas foram inseridas como escolaridade, repetências escolares, se parou ou não os estudos e o motivo, presença de deficiência (intelectual, física, visual, auditiva e de fala), histórico de

gravidez/abortos, presença de algum problema de saúde. Também foi inserida uma pergunta relacionada aos aspectos emocionais da criança ou do adolescente, ou seja, foram elencadas algumas características emocionais e foi solicitado ao familiar entrevistado que indicasse aquelas que mais caracterizavam os desaparecidos em sua opinião, como por exemplo, se ele era uma criança ou um adolescente alegre, triste, isolado, agitado, agressivo, sociável, ciumento, desinibido, tímido, falante, quieto e mentiroso. Neste item, os pais também poderiam descrever espontaneamente outros aspectos referentes ao desaparecido e que era preenchido na opção “outros”.

O Item III do questionário, refere-se às informações sobre o Desaparecimento. Um dos primeiros aspectos a ser investigado refere-se a quantas vezes o desaparecimento ocorreu. Neste sentido, a opção para Primeira Vez e Mais de uma Vez nos fornece indícios se aquele foi um evento isolado ou uma reincidência. Verifica-se ainda qual o período que durou o desaparecimento.

Foi incluída uma pergunta sobre o Conselho Tutelar (CT), ou seja, se a família já procurou anteriormente esse serviço, em função do desaparecimento ou de algum outro problema envolvendo o desaparecido. Esta pergunta possibilita que a família diga por que já buscou ajuda do conselho tutelar de seu bairro e assim é possível começar a delinear um pouco mais sobre que desaparecido começa a ser apresentado no discurso do familiar e que problemas já podem ser percebidos. Com relação ao item Queixas anteriores à polícia, o objetivo foi investigar se a polícia já havia sido procurada anteriomente pela família. Esta pergunta também possibilita que a família indique o desaparecimento ou outros motivos que a levaram a procurar a instituição policial. Esssa pergunta também é reveladora de conflitos presentes na dinâmica familiar (violência doméstica, por exemplo), e como a mesma tentou resolvê-los. Quanto à pergunta referente ao Local do desaparecimento, procurou-se contemplar várias possibilidades que incluíram a casa, locais urbanos, estrada e uma opção para qualquer outra possibilidade que não tivesse sido pensada. Quanto ao Tipo de Desaparecimento, foi contemplada a fuga de casa, extorsão mediante sequestro, e a possibilidade do desaparecido ter sido subtraído por um estranho, por um conhecido ou por um familiar. Todavia, a criança pode ter desaparecido por ter se perdido e, nesse exemplo, o item Outros seria registrado, assim como qualquer outra possibilidade que não as selecionadas. Fundamental investigar se a criança ou adolescente desapareceu sozinho ou acompanhado, e por quem. Se quando ele desapareceu estava sozinho, se estava em casa com a família toda presente e fugiu sem ser percebido, ou fugiu na companhia do namorado (a) ou de amigos. Este dado pode ser vinculado com a pergunta que aparece na sequência do

questionário, que refere-se a Quem percebeu o ocorrido e que Medidas foram tomadas pela família. Este dado é relevante quando investigamos o tempo entre a descoberta do desaparecimento e a abertura de um Boletim de Ocorrência sobre o fato, ou seja, se a família demorou ou não para procurar a polícia e por que a demora. Como abertura de B.O. em casos de desaparecimento deve ser feita imediatamente após o fato, sem a necessidade de esperar 24 ou 48 horas para isso, foi importante o tempo que a família levou para fazer isso e se a demora foi por negligência, por não considerar isso importante, por não saber que precisava ou até por não ter conseguido ser atendida em uma delegacia. A pergunta referente à procura, por parte da família, por algum tipo de Acompanhamento Psicossocial é um dado importante que pode indicar se a família fez esta busca devido ao desaparecimento ou não, revelando dessa forma mais um aspecto sobre o desaparecido, suas dificuldades e a implicação, ou não da família para tentar ajudá-lo. O mesmo pode ser investigado na pergunta sobre Tratamento Medicamentoso, ou seja, se o desaparecido ou alguém da família está tomando algum tipo de medicação e se isso é, ou não, em decorrência do desaparecimento.

O Item IV do questionário família que diz respeito aos aspectos da Organização Familiar e nele procura-se investigar se a família era nuclear, com pais e irmão biológicos morando na mesma casa, ou de múltipla composição, composta por pessoas de casamentos anteriores ou posteriores, com filhos destas uniões ou não. E por fim, se a família era composta por agregados, ou seja, familiares de outras gerações e com outras funções de parentesco convivendo sob o mesmo teto, como por exemplo, famílias nas quais moram pais, filhos, avós, tios, sobrinhos etc. Além da composição familiar, foi investigada a descrição e a condição desta moradia, quantos cômodos, se o banheiro é externo ou interno e quantas pessoas habitam a moradia. Esses dados podem fornecer um panorama sobre quem compõe essa família, em que condições habitam juntos e os conflitos daí decorrentes.

Foi incluída um questão referente às chamadas Queixas Anteriores, com a finalidade de observar se havia na história familiar a ocorrência de episódios de maus-tratos, (violência física praticada no desaparecido ou em outros irmãos); abuso sexual intrafamilial (incesto); abuso sexual (quando o desaparecido e/ou outros irmãos são abusados sexualmente por não familiares); violência conjugal (a violência praticada entre os pais biológicos (ou não) e destes com seus companheiros); violência sexual (quando algum adulto da família sofre ou pratica este tipo de violência em outra pessoa); alcoolismo (se o desaparecido consome muita bebida alcoólica ou alguém na família é alcoolista); adição (se o desaparecido ou alguém na família é adicto e qual o tipo de adição); tráfico de drogas (se o desaparecido ou alguém na família é vinculado ao tráfico de drogas); ato infracional (se o desaparecido e/ou outros irmãos

cometeram atos infracionais); infração penal (se algum familiar cometeu algum tipo de contravenção ou crime); exploração sexual comercial (se o desaparecido e/ou outros irmãos estão na exploração comercial sexual ou há suspeita disso); miserabilidade (condições precárias nas quais vive a família); negligência (atitudes negligentes da família para com a criança ou adolescente desaparecido, ou com outros familiares) e internação (situação na qual o desaparecido ou algum outro familiar tenha sido internado, por exemplo, em clínicas, hospitais, abrigos, Fundação Casa e qual o motivo). A última pergunta do questionário refere- se à religião da família. As religiões devem ser detalhadas, principalmente no caso da religião evangélica, que possui várias denominações. Foi fundamental perguntar o nome da denominação evangélica para identificarmos as diferenças entre elas. A questão da religião foi contemplada, pois a mesma pode ter sido um fator importante para a ocorrência do desaparecimento, por exemplo, rigidez de costumes, obrigatoriedade de frequentar uma igreja e até a influência do líder religioso nos assuntos familiares.

O Item V, Finalização do Processo, visou o preenchimento das informações que ocorreram após o cadastro da família, ou seja, se a família compareceu às três entrevistas de retorno agendadas com o psicólogo entrevistador e quais familiares compareceram a estas entrevistas. Além disso, foi anotado também se a criança foi encontrada viva ou morta, se foi encontrada pelo Banco de DNA, ou se o caso não foi registrado, por exemplo, no caso de crianças abrigadas que não tiveram um Boletim de Ocorrência de desaparecimento, mas que possuem filiação duvidosa ou indefinida.

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