Defini¸c˜ao 4.1.1 Diremos que um dom´ınio de Dedekind A possui quocientes finitos se, para todo P ∈ Max(A), o corpo residual A/P ´e um corpo finito.
Defini¸c˜ao 4.1.2 Seja A um dom´ınio de Dedekind com quocientes finitos. Definimos a norma de um ideal I = 0 por IA := cardinalidade de A/I.
Observe que IA = 1 se, e s´o se, I = A, e tamb´em, a priori, IA pode ser infinito. A
seguir, ap´os fazer algum exemplos, estudaremos a finitude de IA.
Exemplo 4.1.1 Seja I = a Z, a = 0. Ent˜ao IZ := |Z/aZ| = |a|. Em particular, dado λ ∈ R+, existe uma quantidade finita de ideais I Z tal que I
Z λ.
Exemplo 4.1.2 O anel A = k[x], onde k ´e um corpo finito com q = pr elementos, possui
quocientes finitos. Seja I =g(x) = 0. Ent˜ao
Ik[x] :=|k[x]/g(x)| = qdeg(g).
De fato, k[x]/g(x) ´e um k−espa¸co vetorial de dimens˜ao deg(g). Dado λ ∈ R+, existe
uma quantidade finita de ideais I em k[x] tal que Ik[x] λ, pois existem no m´aximo
qλ polinˆomios em k[x] de grau menor ou igual a log(λ)/log(q).
O pr´oximo lema ´e um resultado de ´algebra comutativa que nos ser´a ´util, por n˜ao ser enfoque do trabalho n˜ao ser´a demonstrado aqui.
Lema 4.1.1 Sejam A um dom´ınio de Dedekind e P ∈ Max(A). Ent˜ao para todo n ∈ N, os A−m´odulos Pn−1/Pn e A/P s˜ao isomorfos. Em particular, se A/P ´e finito, ent˜ao
A/Pr ´e finito e |A/Pr| = |A/P |r.
Demonstra¸c˜ao: Veja [6], p´agina 161.
Lema 4.1.2 Sejam A um dom´ınio de Dedekind com quocientes finitos e I A. Ent˜ao IA ∈ N e a aplica¸c˜ao · A :M(A) → N ´e multiplicativa.
Demonstra¸c˜ao: Seja I := Pa1
1 · · · Prar A n˜ao nulo. Pela hip´otese, os quocientes
A/Pi, i = 1, . . . , r, s˜ao finitos. Utilizando o isomorfismo A/I ∼= A/P1a1 × · · · × A/Prar e o
lema 4.1.1, conclu´ımos IA:=
r
4.1 An´eis com Quocientes Finitos 93
Proposi¸c˜ao 4.1.1 Seja A um dom´ınio de Dedekind com quocientes finitos, K seu corpo de fra¸c˜oes e L|K um extens˜ao finita. Suponha o fecho integral B de A em L um A−m´odulo finitamente gerado. Ent˜ao B ´e um dom´ınio de Dedekind com quocientes finitos. Al´em disso, se 0= I B, ent˜ao IB=NB/A(I)A.
Demonstra¸c˜ao: A primeira parte foi demonstrada no primeiro cap´ıtulo. Sejam M ∈ Max(B) e P := M ∩ A. Ent˜ao B/M ´e um (A/P )−espa¸co vetorial de dimens˜ao fM/P.
Portanto, B/M ´e um corpo finito e
MB =|B/M| = |A/P |fM/P =PfM/PA=NB/A(M )A.
Pela multiplicatividade de NB/A, para todo ideal I B, IB=NB/A(I)A.
Deixemos agora a teoria de an´eis com quocientes finitas um pouco de lado e nos concentraremos em dois casos muito importantes: Nos pr´oximos trˆes lemas, A denotar´aZ ou k[x], com k corpo finito. Denotaremos por L uma extens˜ao finita do corpo de fra¸c˜oes K de A, e B o fecho integral de A em L. Al´em disso, vamos supor que B ´e um A−m´odulo finitamente gerado e, portanto, pela proposi¸c˜ao 4.1.1, B ter´a quocientes finitos.
Lema 4.1.3 Dado λ∈ R+, existe uma quantidade finita de ideais I de B comI B λ.
Demonstra¸c˜ao: Uma vez que a fun¸c˜ao · B ´e multiplicativa e positiva, para provar
este lema, basta mostrar que existe uma quantidade finita de ideal maximais M tais que MB λ. Como um ideal maximal de A est´a contido numa quantidade finita de ideais
maximais de B, e por
MB =M ∩ A fM/M ∩A
A M ∩ AA,
´e suficiente mostrar que dado λ ∈ R+, existe uma quantidade finita de ideais maximais
P de A com P A λ. Mas como A = Z ou A = Fq[x], a ´ultima condi¸c˜ao ´e claramente
satisfeita, veja o exemplo 4.1.1.
Observa¸c˜ao 4.1.1 O lema 4.1.3 vale para B um anel Noetheriano, veja [4], p´agina 15. Lema 4.1.4 O grupo Cl(B) ´e finito se, e somente se, existe λ ∈ R, dependendo de B, tal que cada classe ideal de B cont´em um ideal I com IB λ.
Demonstra¸c˜ao: Suponha o grupo Cl(B) = {C1, . . . , Ch} finito. Tome Ii um ideal na
classe Ci e considere λ := max{lIiB, i = 1, . . . ,}. Reciprocamente, pelo lema 4.1.3,
existe uma quantidade finita de ideais I de B tal que IB λ. Assim, como toda classe
4.1 An´eis com Quocientes Finitos 94
Lema 4.1.5 Seja λ ∈ R+. Toda classe ideal de B cont´em um ideal com I
B λ se
cada ideal n˜ao nulo J de B cont´em um elemento α com αB λJB.
Demonstra¸c˜ao: Seja C = 1 um classe ideal de B. Fixe J um ideal na classe C−1.
Seja α ∈ J tal que αB λJB. Como α ∈ J, podemos escrever α = IJ, para
algum ideal I de A. Assim, I ∈ C e a desigualdade IJB = αB λJB mostra
que IB λ.
Teorema 4.1.1 Seja A =Z ou A = k[x], com k um corpo finito. Sejam L uma extens˜ao separ´avel de grau n do corpo de fra¸c˜oes K de A, e B o fecho integral de A em L. Ent˜ao, existe λ∈ R+, dependendo somente de B, tal que todo ideal n˜ao nulo I de B cont´em um
elemento n˜ao nulo α com αB λIB. Em particular, o grupo de classe ideal de B
´e finito.
Demonstra¸c˜ao: Quando A = Z observe que B ´e livre de posto finito. Assim, tome {α1, . . . , αn} uma base para B sobre A e σ1, . . . , σn os monomorfismos de L em C. Seja
λ := n i=1 n j=1 |σi(αj)| .
Mostraremos que todo ideal I n˜ao nulo de B cont´em um elemento n˜ao nulo α tal que αB λIB. Sejam I B e m o ´unico inteiro positivo tal que
mn IB < (m + 1)n.
Considere o seguinte conjunto de (m + 1)n elementos distintos de B :
n j=1 mjαj|mj ∈ Z e 0 mj m,∀j = 1, . . . , n .
Como (m + 1)n > IB = |B/I|, existem dois elementos distintos do conjunto anterior
que s˜ao congruentes modulo I. Tomando a diferen¸ca desses dois elementos, obtemos um elemento n˜ao nulo de I da forma
α :=
n
j=1
4.1 An´eis com Quocientes Finitos 95 Ent˜ao αBB =NB/A(αB)A=|NormL/K(α)| = n i=1 |σi(α)| n i=1 n j=1 |mj||σi(αj)| mn n i=1 n j=1 |σi(αj)| λ· IB.
Isto conclui a prova do teorema quando A = Z. Para o caso em que A = k[x], veja 4.4.
Para o caso em que A = k[x] precisamos de alguns outros conceitos que introduziremos nas duas pr´oximas se¸c˜oes. A prova ´e dada em 4.4.
Defini¸c˜ao 4.1.3 Seja K um corpo de n´umeros. A ordem do grupo de classe ideal Cl(OK)
´e chamado de n´umero de classe de K e ´e denotado por hK.
Defini¸c˜ao 4.1.4 Dados um corpo de n´umeros K e σ : K → C um monomorfismo. Defina σ : K → C, com x → σ(x) a conjuga¸c˜ao complexa do monomorfismo σ. Se σ = σ diremos que σ ´e um monomorfismo real, caso contr´ario diremos que σ ´e um monomorfismo complexo.
Sejam r1 a quantidade de monomorfismos reais e r2 a quantidade de pares de
monomorfismos complexos (σ, σ) de K em C. Segue da defini¸c˜ao anterior que [K : Q] = r1+ 2r2.
Seja OK um anel dos inteiros alg´ebricos, para descrever o grupo Cl(OK) ´e importante
obter cotas superiores precisas para λ ∈ R+ encontrado no teorema 4.1.1. O pr´oximo
teorema, devido a Minkowski, cuja demonstra¸c˜ao pode ser encontrada em [3], p´agina 136, apresenta uma cota muito boa para λ.
Teorema 4.1.2 Seja K um corpo de n´umeros de grau n. Seja dK o gerador positivo do
ideal discriminante ΔOK/Z. Ent˜ao toda classe de ideais de OK cont´em um ideal I tal que
IOK n! nn( 4 π) r2d K.
4.1 An´eis com Quocientes Finitos 96
Corol´ario 4.1.1 Seja K um corpo de n´umeros. Ent˜ao existe um primo p ∈ Z tal que p ramifica em OK.
Demonstra¸c˜ao: Seja [K :Q] = n. Pelo teorema 4.1.2, dK n! nn( 4 π) r21 OK = n! nn( 4 π) r2.
Assim, se n 2, dK > 1. Logo, pelo teorema 3.3.1, todo primo p que divide dK ramifica
em OK.