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RÁDIO ABRÃO: MEMÓRIAS, EXPERIÊNCIAS E

“A memória grupal é feita de memórias individuais” (BOSI, 1994, p. 419).

Analisamos que a experiência da linguagem radiofônica promoveu a travessia da comunicação nas práticas de aprendizagem da EMEF Abrão de Moraes porque na educação a Aprendizagem é, pois, “dinâmica reconstrutiva”, de dentro para fora. Quer dizer que o aluno somente aprende se reconstruir conhecimento. Não pode permanecer em escutar, copiar e devolver de modo reproduzido na prova. Esta tese está bastante assentada, desde a obra de Piaget, cujas ideias, apesar das críticas atuais de estruturalismo e cognitismo, mostram-se adequadas: conhecimento não copia, se constrói. Prefiro usar o conceito de “reconstruir” apenas porque me parece mais modesto: partimos do que já conhecemos, dos saberes disponíveis, de nossa cultura e passado e reconstruímos isto tudo. Mas isto em nada muda o argumento, como se pode apreciar na obra de Becker, entre outros. (DEMO, 2014, p. 14).

Investigamos que houve sempre desafio e progressão no que se refere a elaborações curriculares. Dada a diversidade da linguagem radiofônica construiu-se programas cujas produções foram variadas: vinhetas, chamadas, trilhas sonoras, efeitos especiais, locução, edição de áudio, programação, reportagem, pesquisa, trabalho em equipe e curiosidade em torno à “novidade tecnológica”. Processo de aprendizagem complexo no qual buscamos nos situar e ex-por que havia compreensões em jogo, sempre... porque “[...] não é possível compreender o pensamento fora de sua dupla função: cognoscitiva e comunicativa” (FREIRE, 1977, p. 67). Em meio a esta compreensão, emergiram propostas.

Movimentos como a tropicália e bossa nova foram contextualizados em perspectiva histórica para enriquecer as aulas com arte; por exemplo, a produção radiofônica sobre Tom Jobim, conforme o roteiro subsequente:

Locutora educanda Gisele – Tom foi iniciado, musicalmente, pelo maestro alemão, radicado na Bahia, Hans-Joachim Koellreuter, por quem nutria profunda admiração. Juntamente com João Gilberto, Tom foi um dos principais movimentos musicais do Brasil e do mundo.

Sonoplasta educando Vinícius – Aumenta o volume da canção intitulada “Águas de março”, interpretada por Elis Regina.11

Observamos que o coletivo com estudantes protagonizou a locução, a sonoplastia e a produção executiva de programas radiofônicos gravados, editados e transmitidos diretamente do estúdio da rádio educativa da EMEF Abrão de Moraes. Simultaneamente, as professoras Adriana e Filomena monitoraram a gravação radiofônica e orientaram educandas(os) tanto no processo de pesquisa sobre o tema em pauta na rádio quanto na execução da produção dos programas.

Verificamos que a relação entre educandas(os) e educadoras fluiu na linguagem radiofônica. De acordo com Freire (1977, p. 67) é “[...] indispensável ao ato comunicativo, para que este seja eficiente, o acordo entre os sujeitos, reciprocamente comunicantes”.

O resgate de narrativas em práticas de ensino através de depoimentos de educandas(os) foi realizado em 2004 pela professora Adriana Leila Trentin e demonstrou a perspectiva dialógica desta experiência radiofônica educomunicacional. Confira:

Educanda Gisele (repórter e locutora) – Eu sou Gisele, da 7ª A, a minha função, aqui, na Rádio, é de locutora e repórter.

Professora Adriana – Gisele, o que você está achando desta experiência de trabalho?

Educanda Gisele – Eu tô achando uma coisa muito boa, eu achei que mudou muito, influenciou muito na minha vida. Eu acho que eu amadureci mais e tá sendo muito bom.

Professora Adriana – É... sobre a entrevista com a Marta Suplicy, na última sexta-feira, ah, o que você tem a revelar sobre isso?

Educanda Gisele – Bom, primeiro gelou um pouco a mão, deu uma tremedeira, mas depois saiu tudo certo. Foi, assim, uma experiência diferente. Eu nunca pensei que eu fosse conseguir chegar perto dela, mas aí eu consegui: eu, o Gustavo e o William. Aí a gente conseguiu fazer essa entrevista e foi, assim, uma experiência muito boa.

Professora Adriana – Qual a sua expectativa deste trabalho na escola? Educanda Gisele – A minha expectativa é que vá pra frente, que nunca morra tudo isso que a gente conseguiu construir. E que os alunos, cada vez, vão se empenhando mais. O pessoal que vai saindo, que vai deixando a escola, que possa deixar alguma coisa pra quem tá ficando. Pra nunca morrer isso que a gente conseguiu construir aqui.

Professora Adriana – Qual a sua mensagem para todos os alunos que participam do Educom.Rádio?

Educanda Gisele – Que não desistam! Que não é fácil! Não é assim: ah, eu vou chegar e vou ser da rádio e pronto! Tem críticas, tem obstáculos e eles precisam ser vencidos. E pra isso não é fácil! A gente tem que batalhar um pouco, mas que não desistam! Persistam, insistam, que um dia vocês alcançam o objetivo de vocês.

Professora Adriana – Obrigada.12

A educanda Gisele apresentou sua experiência. Na perspectiva de Larrosa (2002, p. 25),

O sujeito da experiência é um sujeito “ex-posto”. Do ponto de vista da experiência, o importante não é nem a posição (nossa maneira de pormos), nem a “o-posição” (nossa maneira de opormos), nem a “imposição” (nossa maneira de impormos), nem a “proposição” (nossa maneira de propormos), mas a “exposição”, nossa maneira de “ex-pormos”, com tudo o que isso tem de vulnerabilidade e de risco. Por isso é incapaz de experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se propõe, mas não se “ex-põe”. É incapaz de experiência aquele a quem nada lhe passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem nada ocorre. (LARROSA, 2002, p. 25).

Mais estudantes também compartilharam suas narrativas de experiências e (con)vivências. Verificamos, então, que a linguagem radiofônica praticada na EMEF Abrão de Moraes ressignificou as práticas de ensino nas interações cotidianas. Vejamos, a seguir, o depoimento do estudante Gustavo, gravado no estúdio da Rádio Abrão:

Educando Gustavo (repórter) – Meu nome é Gustavo, da 8ª D e sou repórter.

Professora Adriana – Gustavo, o que você está achando deste trabalho do Educom.Rádio?

Educando Gustavo – É um trabalho importante pra escola porque ele ajuda no ensino e a educação.

Professora Adriana – Qual a sua sensação em entrevistar a prefeita Marta Suplicy, na última sexta-feira?

Educando Gustavo – Pra mim foi uma coisa legal, gostei muito, e, posso, tomara que mais chances dessa.

Professora Adriana – O que você deixa como mensagem para todos os alunos que participam do Educom.Rádio?

Educando Gustavo – Que é difícil, mas não desistam. Professora Adriana – Obrigada.13

Analisamos que depoimento deste tipo, como o do estudante Gustavo, expressa a satisfação em vivenciar a experiência da linguagem radiofônica na escola; o processo de aprendizagem agregou ludicidade, afetividade e interatividade. Tal experiência despertou a motivação de Gustavo (e de muitos outros) para continuar experienciando a leitura de mundo.

Conforme Larrosa (2002, p. 21),

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que nos toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-se-ia

que tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça. Walter Benjamin, em um texto célebre, já observava a pobreza de experiências que caracterizava o nosso mundo. Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais rara.

Observamos que a motivação proporcionada pelas práticas de educomunicação abriu perspectivas para a aprendizagem associada à criatividade. Não apenas o aprendizado escolarizante estava em jogo, mas, sim, vidas em processo estavam sendo assumidas.

De acordo com Luck (2008, p. 111),

Sabe-se que não são apenas as condições de vida das pessoas que determinam perspectivas vivenciais limitadas, mas sim o desconhecimento de condições mais amplas e diversificadas, assim como a imaginação para superá-las. Estas são determinadas, em grande parte, pelo que conhecemos, como vemos a realidade, como nos vemos nela e como a imaginamos, aspectos que podem ser facilmente expandidos segundo os nossos próprios horizontes.

Examinamos que as gravações, os programas radiofônicos, os documentos oficiais e as narrativas dos protagonistas das ações educomunicacionais materializaram vivências de atores como testemunhas, como reflexos e, portanto, como reveladores de uma época na história da EMEF Abrão de Moraes. Além de gravações, programas radiofônicos, edições e documentos oficiais, esta pesquisa apoiou-se em narrativas de protagonistas. O pesquisador realizou entrevistas baseando-se nas contribuições da pesquisa em história oral de vida, pois, segundo Meihy (2005, p. 63),a história oral de vida

[...] é o retrato oficial do depoente. Desse modo, a verdade está na versão oferecida pelo narrador, que é o soberano para revelar ou ocultar casos, situações e pessoas. Pelo encaminhamento mais comum que se adota para a história oral de vida, a periodização da existência do entrevistado é um recurso importante, posto que organiza a narrativa de fatos que serão considerados em contextos vivenciais subjetivos.

Consideramos, então, que “[...] o depoente é quem tem maior liberdade para dissertar sobre sua experiência pessoal e deve ser dado a ele espaço para que sua história seja encadeada segundo sua vontade” (MEIHY, 2005, p. 62). Nessa perspectiva, a professora Adelina, entrevistada, relembra os encontros de educomunicação com todas as 15 rádios de cada EMEF situada na região da Coordenadoria de Educação da Penha:

Professora Adelina - Eu viabilizava arrumando ônibus que passava de escola em escola pegando os alunos e os professores do projeto pra se encontrar na Penha pra ter... esses seminários, né? Pra ir àqueles encontros

semestrais do Educom. Fazia no CEU Aricanduva também. Então, eu tentava viabilizar, né... é... a parte burocrática, tentava viabilizar tudo isso. Tanto é que na época eu colocava para o coordenador Fernando Peres... que no orçamento do início do ano na educação... os ônibus tinha que tá incluído como material pedagógico! Que era um instrumento pedagógico para os alunos. Então eu incluía lá, não sei quantos ônibus lá... na nossa dotação orçamentária. Que isso fazia eu viabilizar todos os projetos. Troca de experiência entre as escolas...era muito importante e com a criação do CEU... o CEU com aquele Teatro era um ponto de encontro... os alunos ficavam maravilhados porque... com palco, com computador, com cortina, com tudo... eles pode apresentar todos trabalhos deles lá... nos encontros... nossa! Era assim... valorizado... a dignidade pro aluno, entendeu? Dá voz, dignidade e... ele ter um local que era deles, né? Justamente pra motivar as outras escolas nessa troca de experiência, num é? Pra uma ver o que a outra está fazendo e todas irem melhorando! [...] Solicitava espaço lá no CEU Aricanduva e pra... estimular todas escolas... eu não sei se você lembra... a gente fez a exposição do rádio antigo na entrada... e eu fiz o Manassés, que era da minha equipe, levar quinze monitores... cada escola teve que levar o seu monitor pra mostrar o programinha da sua escola... que tava lá no rodando pra quem quisesse assistir, num é? Pra contemplar todas escolas, porque no palco só dava pra contemplar, acho que, dois ou três porque o tempo era muito curto! Então esse... eu me preocupava com esse estímulo! Para os professores, pro aluno e pra escola! Entendeu? A gente selecionava três pra falar, mas todos estavam lá presentes! [...] Eu fazia... dava muita motivação aos professores, justamente, fazendo esses encontros.14

A professora Adelina comenta, ainda, como os estudantes de todas as EMEFs da Coordenadoria de Educação da Penha começaram a fazer reportagens externas:

Professora Adelina - E aí, na proposta do Educom, pras repórteres-mirim... surgiu... porque era assim... todos eventos... da... Secretaria da Educação... a gente envolvia todas as escolas pra encaminhar os repórteres-mirins. Então, tinha o Fórum da Educação... que levava os alunos pra participar dos repórteres. Tinha... a inauguração do CEU... levava... repórteres... Então, em outros eventos da Secretaria, a gente convidava as escolas que queria... e ia dois repórteres de cada escola.15

Entrevistamos, também, no dia 18/12/2016, a professora Adriana Leila Trentin, da EMEF Abrão de Moraes. Ao lado da professora Adelina, a professora Adriana compartilha conosco, voluntariamente, seu vínculo afetivo com a EMEF Abrão de Moraes, iniciado na sua infância: “É, eu fui aluna do Abrão! É... de setenta até oitenta! Né? Depois fui fazer magistério. Retornei em 2001 e tô até hoje”.16

14 Transcrição de entrevista gravada, em áudio, no dia 18/12/2016. 15 Transcrição de entrevista gravada, em áudio, no dia 18/12/2016. 16 Transcrição de entrevista gravada, em áudio, no dia 18/12/2016.

Emocionada, a professora Adriana, que teve oportunidade de vivenciar tantas histórias na EMEF Abrão de Moraes, ao longo de sua vida, revela-nos a importância da experiência de desenvolver a linguagem radiofônica nesta escola:

Professora Adriana - Essa rádio resgatou o nome do Abrão de Moraes. Ela elevou a escola, sabe!? Como... como uma referência até! [...] diminuiu a incidência de indisciplina [...] o aluno começou a ser mais participativo... olhar a escola diferente... a gostar mais da escola, a gostar de ficar mais na escola, entendeu? Porque, assim, geralmente, o aluno, ele fica as quatro horas, dá o sinal e ele quer ir embora pra casa dele. E esses alunos que faziam a rádio [...] eles não se importavam de ficar. Até, é... eu pedi... eu solicitava que eles tivessem acesso à merenda fora do horário deles. Porque eles ficavam lá, às vezes, o dia inteiro, né?17

Observamos, no testemunho da professora Adriana, as contribuições da linguagem radiofônica no processo de aprendizagem. Segundo ela, esta prática educomunicacional corroborou para a escola ser um território de descobertas, desafios, sentidos e ressignificações.

Nesse sentido, Josso (1999, p. 10) afirma que

O trabalho de pesquisa a partir da narração das histórias de vida ou, melhor dizendo, de histórias centradas na formação, efetuado na perspectiva de evidenciar e questionar as heranças, a continuidade e a ruptura, os projetos de vida, os múltiplos recursos ligados às aquisições de experiência, etc., esse trabalho de reflexão a partir da narrativa da formação de si (pensando, sensibilizando-se, imaginando, emocionando-se, apreciando, amando) permite estabelecer a medida das mutações sociais e culturais nas vidas singulares e relacioná-las com a evolução dos contextos de vida profissional e social.

Durante a entrevista, a professora Adriana lembra, ainda, da apresentação das atividades desenvolvidas na rádio educativa da EMEF Abrão de Moraes, realizada nos encontros de educomunicação promovidos pela Diretoria de Programas Especiais da Coordenadoria de Educação da Subprefeitura Penha:

Professora Adriana - [...] eu nunca vou me esquecer desse momento que eu... nossa... eu planejei uma megaprodução pra poder expor o trabalho do Abrão de Moraes! Até coloquei uma [música] do Queen, que é Radio Ga Ga... e... é... com a tradução do significado da música! Pra mostrar que, realmente, tinha a ver com o trabalho pra abertura desse trabalho todo. 18

17 Transcrição de entrevista gravada, em áudio, no dia 18/12/2016. 18 Transcrição de entrevista gravada, em áudio, no dia 18/12/2016.

Verificamos que os encontros de educomunicação valorizaram as produções radiofônicas das escolas. Nas reuniões gerais, em cada macrorregião, as experiências foram compartilhadas entre as escolas e suas comunidades.

A professora Adriana, com alegria, relembra, ao longo de nossa entrevista, os avanços desenvolvidos na EMEF Abrão de Moraes, por meio de produções radiofônicas transmitidas nas ondas do rádio de frequência modulada e, também, via internet.

Professora Adriana - E é assim... foi uma coisa muito emocionante! Né? Porque a nossa escola foi, assim, um destaque, né?... desse dia, desse encontro! E destaque, também, em outros eventos, né?... Eu... eu... eu falo, agora, e me vem aquele entusiasmo! Que eu sentia da época, né? Por que é... sem dúvida nenhuma, foi um momento muito emocionante da educação! [...] Foi o momento mais marcante da minha carreira profissional. Eu acho que eu mais amei fazer. A coisa que eu mais amei fazer dentro da educação... foi esse projeto.19

Analisamos que o depoimento da professora Adriana denota que a linguagem radiofônica na prática de ensino configurou-se numa experiência agregada, complementar e estimulante da aprendizagem. Cada produção radiofônica desenvolvida despertava alegria, curiosidade, prazer e motivação sobre uma rotina sem monotonia na escola. Vivenciamos a experiência de um processo de comunicação comunitária com diálogo e alteridade, visto que

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (LARROSA, 2002, p. 24).

Verificamos que a experiência da linguagem radiofônica no processo de aprendizagem desenvolvido na EMEF Abrão de Moraes foi, para ela, tão significativo que chegou a ser registrado em cartório pela professora Adriana Leila Trentin.

O projeto Rádio Escola On Line surgiu da necessidade em se disponibilizar, de forma imediata e compartilhada, utilizando para isso o meio da Internet, a programação da Rádio Educativa da Escola, bem como transmissão de Reuniões, Palestras, Cursos, Debates, Conselhos Escolares e Eventos,

utilizando-se da Rádio Educativa e/ou transmissão direta amparada e divulgada por computador. (TRENTIN, 2004, p. 92, anexo).

Observamos que a adoção da linguagem radiofônica nos processos de aprendizagem contribuiu para uma prática dialógica que reconhece os saberes da oralidade num espaço em que há hegemonia grafocêntrica, pois

O aumento do envolvimento das participações nas atividades da Rádio On Line reforça em todos os sentidos que a tecnologia empregada na propositura deste enunciado é mola propulsora para, digitalmente, incluir o indivíduo menos favorecido e dar voz à sua manifestação intelectual, social e moral (TRENTIN, 2004, p. 94, anexo).

Imagem 37 – Estudantes do ensino fundamental I e II apresentam programa radiofônico juntos

Fonte: arquivo pessoal do pesquisador.

Examinamos que o exercício da radiodifusão na comunidade escolar favoreceu a prática do saber de experiência num cenário em que “[...] a educação é um ato de amor, por isto, um ato de coragem. Não pode temer o debate. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa” (FREIRE, 1969, p. 96). Desta forma, o

[...] educador precisa sempre, a cada dia, renovar sua forma pedagógica para, da melhor maneira, atender seus alunos, pois é por meio do comprometimento e da “paixão” pela profissão e pela educação que o

educador pode, verdadeiramente, assumir o seu papel e se interessar em realmente aprender a ensinar (FREIRE, 1969, p. 31).

Observamos que grupos de estudantes visitaram o estúdio para conhecer como eram feitos os programas de rádio que eles ouviam na escola. A curiosidade dos ouvintes despertou a curiosidade de conhecer o estúdio de radiodifusão de sua própria escola. Assim, na hora do intervalo ou durante as atividades educativas, os estudantes descobriram como era produzido e transmitido um programa de rádio na EMEF Abrão de Moraes. Deste contato, emergiram ideias para a criação de novas produções radiofônicas com mais estudantes motivados em ser locutores, repórteres, sonoplastas, redatores, comentaristas, produtores etc.

Imagem 38 – Radialista Cosmo Luciano do Nascimento ministra oficina de linguagem radiofônica para estudantes do ensino fundamental I da EMEF Abrão de Moraes

Fonte: arquivo pessoal do pesquisador.

Graças à preocupação de registro da professora Adriana Trentin, sabemos que a rádio educativa da EMEF Abrão de Moraes fomentou os seguintes avanços:

[...] redução no número de faltas; melhora comportamental; convívio social melhorado; integração entre as faixas etárias e níveis escolares (fundamental e médio). Além de, indiretamente, promover, nos grupos não-participantes do projeto, maior interesse na participação social e consequentemente a evolução dos índices de melhora nos conceitos acadêmicos. (TRENTIN, 2004, p. 95, anexo).

Verificamos a participação de turmas de estudantes, desde o ensino fundamental I, com atividade programada por seus professores para visitar o estúdio de rádio e participar de oficinas de linguagem radiofônica.

Observamos que estudantes viveram a experiência de ouvir a própria voz ao ouvir seus programas de rádio. Tal experiência despertou reações diversas diante da descoberta de escutar a própria voz. A riqueza desta experiência ampliou-se ao compartilhar o fenômeno de ouvir os outros e de ser ouvido por eles também, possibilitando, assim, sensibilizar-se de que “[...] a comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social” (BORDENAVE, 2006, p. 19).

Investigamos que, ao ser instaurada a experiência da comunicação radiofônica no processo de educação da EMEF Abrão de Moraes, foram desenvolvidas inúmeras ações de

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