• Nenhum resultado encontrado

Rádio e aspirações para o futuro

No documento Download/Open (páginas 98-101)

De acordo com o que foi constatado nos depoimentos das entrevistadas, em Nazaré da Mata, as radialistas da Alternativa FM têm o trabalho reconhecido pela comunidade, o que influencia de forma positiva na autoestima dessas mulheres e gera incentivo para que elas continuem se aperfeiçoando profissionalmente, incrementando seu capital humano. Esse reconhecimento da população de Nazaré da Mata se exemplifica nos relatos:

As pessoas passaram a me conhecer mais e eu passei a conhecer pessoas que eu não conhecia (Entrevistada 1).

Às vezes a gente passa e as crianças: „Nathallya!‟ Eu nem conheço, mas passo a conhecer, elas conhecem o meu talento. O bom é isso, eles começam a conhecer o talento de uma

pessoa que não é quase nada na vida. Eles começam a inspirar a pessoa a continuar (Entrevistada 2).

Mesmo tendo esse reconhecimento das pessoas da comunidade onde moram e trabalham e demonstrarem controle sobre as atividades que desenvolvem na Alternativa FM, todas as radialistas entrevistadas relataram não se sentir absolutamente preparadas para a atuação no mercado de trabalho, embora tenham consciência da evolução que obtêm diariamente com as atividades na Rádio.

Eu não vou despreparada, eu vou com uma bagagem, que, por menor que ela seja, eu não vou hoje para o mercado de trabalho sem ter noção do que é o trabalho (Entrevistada 1). Eu nunca tive aula de voz, foi chegando aqui, me colocando para falar e pronto, é essa voz que vai para o ar. Esses programas [de áudio] eu não sei para que servem... Então para ser uma profissional, estar pronta para sair, ir para outros lugares, eu tenho que saber tudo isso (Entrevistada 2).

Não, para trabalhar com rádio ainda não, o que eu sei é o básico. Eu não sei gravar, eu não sei editar (Entrevistada 3).

Sinto a necessidade de uma faculdade, já que eu tenho tentado todos os anos o vestibular de Rádio e Tv (Entrevistada 4).

Sempre falta alguma coisa, eu acho que eu preciso me capacitar mais, conhecer equipamentos mais modernos... Faltam mais capacitações (Entrevistada 5).

Os depoimentos demonstram a consciência das jovens radialistas de que precisam aprender mais dentro da atividade radiofônica para desenvolver melhor a ocupação profissional. Isso já demonstra nelas a presença de capital humano em formação, visto que para a existência desse não é necessário o controle absoluto de todos os conhecimentos e as práticas executadas com total perfeição, o empoderamento total, mas, ao contrário, o capital humano corresponde à construção constante de aprendizado e o capital social requer tempo, trata-se de um processo (JARA, 2001). Além disso, a intenção das radialistas em se aperfeiçoarem para executar melhor as práticas radiofônicas é um indício de que a proposta da Amunam, via Alternativa FM, de formação profissional e geração de capital humano apresenta sustentabilidade.

Em relação à equipe de radialistas da Amunam, em seu conjunto, a maior parte das entrevistadas relatou que a equipe está caminhando para a aptidão completa para atuar profissionalmente em outras rádios, até nas comerciais, embora uma das entrevistadas tenha destacado que, no grupo, também há pessoas que não demonstram nenhuma condição de atuar profissionalmente no meio. Entre as entrevistadas também houve quem dissesse que a equipe

de produtoras da Alternativa FM está totalmente preparada para trabalhar em outras emissoras de forma profissional:

As produtoras da rádio são nota 10. Elas estão capacitadíssimas porque conseguem tudo, nunca vi umas meninas para conseguir tudo, conseguiram até Cristina Buarque13 aqui. Eu acho que elas estão muito bem capacitadas para trabalhar em outras rádios (Entrevistada 5).

Independente de desejarem ou não atuar profissionalmente como radialistas no futuro, é importante observar que a consolidação do capital humano e social obtidos com a prática radiofônica na Alternativa FM em muito tende a contribuir para as experiências profissionais dessas jovens mulheres em qualquer área onde desejem atuar, o que reforça a sustentabilidade da proposta da Amunam e da Alternativa FM de gerar nessas mulheres formação e perspectivas profissionais.

A atuação em rádio demonstra ser um caminho a ser seguido por algumas das entrevistadas:

O que eu queria, de verdade, era fazer a minha faculdade de Rádio e Tv. É o que eu mais quero na minha vida. Tenho isso, assim, como ponto chave para fechar, assim, minha profissão (Entrevistada 4).

Mesmo que não seja na locução, mas que seja voltado à produção de programas de rádio, auxiliar de notícias (Entrevistada 1).

A mais nova das entrevistadas, de apenas de 16 anos, revela ter o sonho de ser cantora e também gostaria de se capacitar na área de rádio, fazendo locução. Apesar desses desejos, a escolha profissional da jovem foi determinada pela necessidade que ela possui de ter garantia de emprego:

Eu tô pretendendo fazer faculdade de Enfermagem, pelo motivo de ser, aqui em Nazaré mesmo, tem muitos postos de saúde faltando profissional... (Entrevistada 2).

Outras entrevistadas relataram outros desejos para o futuro profissional e não pensam em atuar em rádio, apesar de gostarem do meio:

Não pretendo fazer carreira nessa área não. Eu gosto de outra coisa, eu quero fazer química industrial, eu prefiro essa outra área. Eu me interessei bastante quando eu conheci na minha escola uma pessoa que trabalha na área de química numa empresa e desde esse dia, que eu gostei muito e eu vou fazer (Entrevistada 5).

13

Cristina Buarque é a Secretária Especial da Mulher do Governo do Estado de Pernambuco, ocupou o cargo em 2007. Tem experiência no campo do feminismo e na defesa dos direitos das mulheres. (SECMULHER, 2010).

Eu tô fazendo o curso de Letras, mas o que eu gosto é de História, tentei fazer várias vezes vestibular aqui, mas eu não consegui. A última vez, por pouco eu não entrei... Mas eu pretendo fazer um curso técnico em análises clínicas, que eu acho interessante. Se eu não conseguir, eu pretendo fazer outra faculdade, tentar fazer a faculdade aqui para História, senão eu vou tentar a minha especialização no curso que eu tô fazendo mesmo, tentar me habituar a esse curso (Entrevistada 3).

Assim, de acordo com os relatos das entrevistadas sobre suas perspectivas profissionais, constata-se que a atuação na rádio comunitária, de uma forma ou de outra, se mostra importante e interfere nessas escolhas.

Embora a perspectiva de atuar como profissionais de comunicação não esteja presente em todas as mulheres entrevistadas, há de se considerar que a atuação diária em atividades que requerem colaboração, busca constante por informação, comprometimento com as funções executadas tecnicamente, contato com pessoas das mais diversas formações e engajamento em espaços onde são debatidos assuntos de interesse social em muito servem para criar nessas, hoje radialistas em formação, as condições de serem futuramente profissionais - de qualquer área – melhor preparadas para lidar com as situações do mercado de trabalho. Isso porque em qualquer área de atuação profissional deve existir a boa comunicação e bom predomínio de capital humano e social, que são incentivados e construídos a partir das experiências atuais dessas jovens mulheres na Rádio Comunitária.

No documento Download/Open (páginas 98-101)