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Cap III Das ondas hertzianas à rádio na Web

3.2. Rádio para ler e ver

Como temos vindo a perceber a rádio utilizou, por muitos anos, apenas o código sonoro, como por exemplo a voz e os ruídos. Tal como Reis (2015, p. 176) afirma, na rádio todos os acontecimentos possuem “ (…) uma correspondência sonora: a voz do protagonista da notícia, o comentário de um especialista, o som ambiente do acontecimento, a música de um concerto, as pausas de hesitação num discurso, a voz embargada ou a irritação de um entrevistado”. Porém, depois de migrar para a internet passou a integrar também outros elementos como o texto, as fotografias, o vídeo, os links e os hipertextos.

Segundo afirma Gazi et al. (2011, p.11) “Now even radio, once the invisible medium, can transmit fully formed, given images like television does, thanks to digital technology.” No presente, os locutores e produtores das emissoras enfrentam o desafio de fazer uma rádio para ser ouvida e lida (Pinheiro & Tavares, 2010). De acordo com Schmidt (2011, p.30), “More than simple shop windows on the web, radio stations’ websites give internet users several functionalities which add to or even support programmes such as podcasts, access to archives and presenters’ blogs.”

No entanto, Travassos (2008) defende que ainda é difícil pensar numa rádio que não use somente o som visto que dessa forma nos afastamos do conceito original de radiodifusão. Por outro lado, Reis (2011, p. 23) opina que “se no éter rádio é som, na Internet tem de ser mais do que isso”. Cebrián Herreros (2001) partilha a mesma opinião e assevera que a rádio hoje se vê obrigada a integrar recursos visuais para melhorar as carências da expressão sonora. O uso de fotografias e vídeos “Aparece, pues, como un complemento y nunca como sustitución o mayor relevancia (ibid., p. 220).” O valor não está, por exemplo, na substituição da voz pela escrita, mas tem a ver sim com a interação e complementaridade entre ambas.

O certo é que as diferentes emissoras radiofónicas têm vindo a trabalhar para que os seus sites assumam um vínculo cada vez mais forte entre a estação e o ouvinte até porque as várias

páginas de internet “reflectem a personalidade da própria estação, com um design que as caracteriza inequivocamente (Cordeiro, 2005, p. 437).” Neste sentido, Reis (2015) reforça a ideia e afirma que ao abrirmos a página de uma qualquer rádio é bastante percetível que cada um desses sites é uma “extensão da marca do meio tradicional e são, por isso, diferentes uns dos outros: estruturas, opções de usabilidade, design, cor, apresentação de conteúdos e recursos” e por esse motivo “espelham visões diferentes do que pode ser o site de uma rádio (ibid., p. 186) ”.

Contudo, existem certos aspetos que são comuns às várias páginas eletrónicas de diferentes rádios. São muitas as emissoras que têm apostado em elementos visuais como os vídeos, as fotografias e os gifs. O ouvinte que desejar saber como se faz um programa de rádio, como é que certas rubricas se concretizam e de que forma os locutores e convidados se relacionam, pode ver tudo isso através dos vídeos facultados nas páginas de internet das rádios. Dessa forma, ficam a conhecer os convidados e os locutores, mas também têm a possibilidade de os ver através de fotografias. Os sites das principais rádios possuem assim uma secção onde é possível ver fotos dos locutores bem como uma breve apresentação dos mesmos, a partir da qual se pode ficar a conhecer algumas das suas caraterísticas pessoais e percurso profissional. A magia de tentar imaginar uma pessoa por detrás daquela voz enigmática já não está mais, por isso, presente.

Nos dias de hoje, também já não precisamos de ficar aborrecidos por não termos ouvido o nome do artista e da música que acabou de ir para “o ar” ou que está a passar no momento uma vez que as rádios disponibilizam nas suas páginas uma secção em que podemos ver isso mesmo. Normalmente anexada a essas informações está sempre uma foto referente ao videoclip do tema ou ao artista. Os ouvintes podem também pesquisar num outro segmento dos sites as músicas mais ouvidas da atualidade e votar naquelas que acham que devem fazer parte do “top”. Algumas emissoras radiofónicas também partilham nas suas páginas entretenimento, como informações sobre cada signo do zodíaco e testes para os ouvintes realizarem com vários temas, como por exemplo a compatibilidade amorosa. A chamada de atenção para alguns passatempos que estão a decorrer também é uma constante.

As informações dadas quanto à meteorologia e ao trânsito também já podem ser consultadas nas páginas eletrónicas das estações radiofónicas. Além de algumas dessas informações serem em forma de texto, as emissoras disponibilizam fotografias do estado do tempo para os dias que se avizinham e incorporam a imagem vídeo em tempo real do trânsito.

Para além de todos estes fatores, normalmente cada emissora possui um ícone para ouvir a emissão em direto e um menu de opções em que o ouvinte pode clicar para ficar a conhecer melhor a história da rádio, a equipa que faz parte da mesma, a agenda de eventos, as notícias, os contactos e os programas que existem, bem como alguns podcasts dos mesmos.

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Quanto ao formato dos sites de rádios de carater noticioso, predominam as notícias escritas. Hoje em dia preside a lógica de que o ouvinte não tem tempo para muitos pormenores, “quer «a última» sem tempo para clicar e ouvir (Reis, 2015, p. 184) ”. Assim, as emissoras apostam na realização de notícias escritas, complementando-as não só com fotografias, áudios e alguns vídeos, mas também com gráficos, tabelas, hiperligações e referências a artigos em arquivo. Porém, Reis (2011, p. 16) relembra e defende que “A notícia de última hora continua reservada à emissão tradicional, assim como a notícia ou a declaração em exclusivo.”

Por conseguinte, atualmente já não se associa a rádio somente ao som. Hoje ela é muito mais do que isso. Os elementos visuais e textuais que agora fazem parte da mesma transformaram- na num meio assumidamente multimédia e os ouvintes passaram também a poder “ver” e “ler” a sua rádio.

3.3. A presença da rádio nas redes sociais e nos dispositivos