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Sistemas construtivos industrializados, como o LSF, para que tenham todo seu potencial de ganho explorado, devem ser trabalhados, pelas equipes responsáveis pelo projeto, levando-se em conta todas as suas particularidades e conceitos de racionalização construtiva inerentes aos processos desta natureza.

Segundo SABBATINI (1989), racionalização construtiva é “um processo composto pelo conjunto de todas as ações que tenham por objetivo otimizar o uso de recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos, tecnológicos, temporais e financeiros disponíveis na construção, em todas as suas etapas”.

O processo de racionalização construtiva deve começar ainda na fase de concepção do empreendimento, passando pelo desenvolvimento dos projetos, análise e especificação de componentes e materiais, detalhamento e compatibilização de projetos e subsistemas. As fases de construção e, posteriormente, utilização vão mostrar o comportamento do processo e do produto planejados, fornecendo dados para melhoria da qualidade no sistema e no processo, em futuros empreendimentos.

Os principais recursos ou ações a serem aplicados para promover a racionalização no processo de projeto são: a Construtibilidade, devendo incluir tanto a execução das atividades no canteiro quanto a fabricação e transporte de componentes; planejamento de todas as etapas do processo; uso da coordenação modular e dimensional; associação de estruturas industrializadas a sistemas complementares compatíveis; formação de equipes multidisciplinares; coordenação e compatibilização de projetos antes da execução; detalhamento técnico; antecipação de decisões; elaboração de projetos para produção; e existência de visão sistêmica. (CRASTO, 2005):

A racionalização do processo construtivo pretende integrar a produção de materiais de construção à execução da edificação propriamente dita, que compõem, freqüentemente, duas partes distintas e desvinculadas na indústria da construção civil. A utilização de um sistema de coordenação modular é uma das bases para a normalização de componentes construtivos, industrialização de sua produção e execução de edifícios de

Entende-se por coordenação modular o sistema dimensional de referência que, a partir de medidas com base no módulo predeterminado, compatibiliza e organiza tanto a aplicação racional de técnicas construtivas como o uso de componentes padronizados em projeto e obras. A coordenação modular tem como objetivo racionalizar a construção, do projeto à execução (GREVEN e BALDAUF, 2007).

A coordenação modular e a racionalização construtiva visam eliminar a fabricação, modificação ou adaptação de peças em obra, evitando a tomada de decisões por profissionais não capacitados e sem conhecimento global da construção, reduzindo também o trabalho de montagem das unidades e seus subsistemas. Para o emprego eficiente da coordenação modular, é fundamental que a indústria disponibilize seus produtos dimensionados como múltiplos de um único módulo, considerado como base dos elementos constituintes da edificação.

O módulo tem sido utilizado desde a antiguidade, mas foi a partir da revolução industrial que a modulação se tornou uma ferramenta primordial para a evolução da construção civil. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a necessidade de sistematização dos princípios de coordenação modular tomou grande dimensão, tendo em vista o rápido desenvolvimento da tecnologia da indústria frente à demanda cada vez maior por habitações.

O crescimento do intercâmbio comercial entre os países foi fator determinante para a afirmação de tal necessidade, que levou ao estabelecimento do módulo básico (unidade de medida de tamanho fixo a qual se referem todas as medidas que formam parte de um sistema de coordenação modular), representado pela letra M e correspondente a 100 mm, adotados nas normas ISO 1006:1983 – Building Construction – Modular

Coordination e NBR 5706:1977 – Coordenação Modular na Construção, que estabelece

o módulo básico (M) também de 100 mm (CRASTO, 2005).

Segundo essas normas, o módulo básico possui como funções fundamentais: ser o denominador comum de todas as medidas ordenadas; ser o incremento unitário de toda e qualquer dimensão modular a fim de que a soma ou a diferença de duas dimensões

modulares também seja modular; e ser um fator numérico, expresso em unidades do sistema de medidas adotado ou a razão de uma progressão.

A Figura 2.20, elaborada por Silva (2004) em sua dissertação de mestrado, ilustra uma relação modular otimizada entre elementos construtivos do edifício proposto em seu trabalho. Nessa ilustração, a distância entre os eixos estruturais é a dimensão a partir da qual se determinam as medidas dos demais componentes dos subsistemas, desde as grandes peças do sistema de fachada (mesmo módulo) até materiais de acabamento (módulos menores, porém sub-múltiplos).

Figura 2.20 - Coordenação modular entre elementos construtivos Fonte: SILVA, 2004, p. 71

A aplicação eficiente da coordenação modular na construção civil passa pela integração da edificação a uma malha modular que permita a coordenação de todas as informações de projeto, servindo de base tanto para a estrutura principal quanto para os outros componentes e subsistemas que obedecem a um padrão de coordenação modular.

As malhas modulares ou coordenadoras funcionam como elo de intercâmbio facilitador entre a coordenação funcional, volumétrica e, principalmente, estrutural da edificação. A base dessas malhas é um reticulado modular de referência que pode ser plano ou espacial, onde são posicionados a estrutura, as vedações, as esquadrias, e outros equipamentos, isolados ou em conjunto (FREITAS e CRASTO, 2006).

A utilização de malha de coordenação modular não deve ser entendida como fator limitante, que gera uma arquitetura pobre e repetitiva. A infinidade de combinações e arranjos permite uma grande flexibilidade, nas mais variadas linguagens arquitetônicas.

O Centre Pompidou (Figura 2.21), em Paris, França, projeto dos arquitetos Richard Rogers e Renzo Piano, 1976, e o Museu Guggenheim (Figura 2.22), em Bilbao, Espanha, projeto do arquiteto Frank Gehry, 1997, são exemplos de obras que foram executadas a partir de malhas modulares.

Figura 2.21 - Centre Pompidou Fonte: GREAT BUILDINGS ON LINE, 2007

Figura 2.22 - Museu Guggenheim Bilbao, durante obras de construção Fonte: GREAT BUILDINGS ON LINE, 2007

Na primeira obra, a malha modular e a repetição de elementos são facilmente percebidos, pois fizeram parte de sua concepção arquitetônica e são partidos para a

forma do edifício, que deixa evidente seus aspectos construtivos. Já na segunda, a forma orgânica e ousada desenvolvida pelo arquiteto foi executada graças a um trabalho de implementação de uma malha reticulada, que guiou o desenvolvimento da estrutura.