• Nenhum resultado encontrado

A R EALIDADE “C IBERCRIMINAL ” DO S ÉCULO

II. C OOPERAÇÃO I NTERNACIONAL NO C OMBATE AO C IBERCRIME

II.1. A R EALIDADE “C IBERCRIMINAL ” DO S ÉCULO

É de facto “difícil quantificar o impacto do Cibercrime na sociedade. As perdas financeiras causadas pelo Cibercrime, bem como o número de ofensas, são muito difíceis de estimar”63 (ITU 2009b, 19).

Desde já pelo ambiente virtual, de difícil monotorização, bem como das cifras negras que acompanham este tipo de Ciberataques. Muitas das vezes as vítimas ou lesados são bancos/entidades financeiras que vêm na publicidade da notícia descrédito e prejuízo ainda superior ao realmente causado pelo ilícito Cibercriminal (Rodrigues 2009, 240). No mesmo sentido aponta a UE, classificando as denúncias deste tipo de crime como “inadequadas”, sendo que “alguns crimes não são detectados e em parte porque as vítimas (operadores económicos e empresas) não os denunciam por temerem que a exposição pública das suas vulnerabilidades afecte a sua reputação e as perspectivas comerciais futuras” (UE 2010a, 3).

Rodrigues adianta que “no caso de ataques dirigidos contra pessoas físicas, a ‘cifra negra’ da criminalidade está interligada com a ‘invisibilidade’ do crime informático(…). Trata-se de um tipo de criminalidade onde a cifra negra é, efectiva e exepcionalmente alta” (2009, 240). Ainda o mesmo autor, utilizando uma expressão de Figueiredo Dias, diz-nos que neste tipo de ilícitos Cibercriminais as cifras negras atingem uma “magnitude extraordinária e dificilmente ultrapassável por qualquer outro e, de todo, incomparavelmente superiores aos casos de condenações” (idem, ibid.). Tornando-se assim incerto “até que medida é que o Cibercrime é reportado, não só nos relatórios e estudos, mas também aos agentes da autoridade”64 (ITU 2009b, 62). Repare-se que a Symantec aponta apenas a estimativa de 21%, em 2011, de Cibercrimes reportados às autoridades, o que corrobora o supracitado.

A nível internacional o próprio conceito de Cibercrime não figura como indicador estatístico junto das instâncias policiais e judiciais, sendo a fronteira entre a criminalidade tradicional e económica e os crimes informáticos demasiado ténue, pelo que os mesmos

63

Tradução nossa.

64

27 podem consubstanciar um crime informático na sua génese e não o serem registados como tal. Enfim, é toda esta panóplia de fatores que nos impede a apresentação de números concretos. Segundo a ITU, as estatísticas que se nos apresentam, relativamente à extensão da Cibercriminalidade, estão abertas à interpretação, não havendo de momento provas suficientes que nos permitam prever as tendências e desenvolvimentos do Cibercrime (2009b, 19). A ONU ainda retrata o fenómeno dotando-o de incerteza quanto à vastidão e impacto do mesmo, fazendo referência à insuficiência e não viabilidade de dados e estatísticas relativas ao Cibercrime (ONU 2010a, 1-2).

Dentro das limitações referidas tentaremos, no entanto, apontar o impacto da Cibercriminalidade. Assim veja-se o relatório da Symantec que aponta um valor superior a aproximadamente 291 milhares de milhões de Euros65 como sendo o ónus financeiro do Cibercrime em 2011 (Symantec 2011b). O FBI (apud ITU 2009b, 61), por seu lado aponta que a economia dos EUA em 2005 teve perdas que ascenderam e ultrapassaram os 50 milhares de milhões de Euros66. Tal facto justifica-se dado que o Cibercrime atravessa vários domínios que envolvem elevadas quantias monetárias.

Um estudo deste género e feito à escala mundial está claramente comprometido, contudo acreditamos que as perdas financeiras que o Cibercrime nos apresenta são astronómicas e os valores apresentados, a pecar, será por defeito e não por excesso67. Goodman e Brenner dizem-nos, neste sentido, que “os custos financeiros do Cibercrime não são apenas difíceis de estimar, os custos financeiros em si representam menos do que todo o dano que este tipo atividade inflige”68 (2002, 30). E assim se verifica o levado prejuízo, designadamente os custos diretos de reparação/atualização do software/hardware, a perda de acesso ao serviço e a perda de informação.

Relativamente às novas tendências, diariamente são introduzidas no mercado das TIC novidades que traduzem atualizações e/ou novos produtos de uma pertinência sem igual. Atualmente vivemos o advento dos dispositivos móveis (sem fios), muitos deles ligados em rede69, que cada vez mais fazem parte do quotidiano social e levam ao expoente máximo a interconetividade de “tudo e todos em todo o lado”, o que se traduz

65

Convertido à taxa do dia 2012-03-27 no site do Banco de Portugal do valor que consta no documento: 388 biliões de Dólares Americanos (USD).

66

Convertido à taxa do dia 2012-03-27 no site do Banco de Portugal do valor que consta no documento: 67 biliões de Dólares Americanos (USD). Preste-se ainda atenção que este valor figura apenas para os EUA e relata apenas o ano de 2005, desta feita e num ambiente onde as ameaças se proliferam de forma violenta, em sete anos, e relativamente ao globo inteiro, acreditamos que o valor apontado pela Symantec poderá não condizer com a realidade por defeito.

67

Neste sentido Hamadoun I. Touré, Secretário-Geral da ITU, adiantou o valor de 1 trilião de dólares como sendo o impacto global do Cibercrime (vide Touré 2011).

68

Tradução nossa.

69

Por exemplo os telemóveis, smartphones, PDA’s, tablets, computadores notebook’s, dispositivos

28 num fator de preocupação70. O anteriormente referido cada vez mais se exponencia ao ponto de frigoríficos, máquinas de lavar e secar a roupa e até mesmo balanças se encontrarem ligadas ao Ciberespaço por wi-fi71 onde, através do virtual, enviam mensagens para os seus utilizadores72. Em qualquer local podemos hoje ter acesso (e sem fios) à internet ampliando-se desta feita o flanco face ao Cibercrime. Será interessante idealizar a figura de Deus omnipresente, com a mais respeitosa comparação, que hoje se pode observar nas TIC, também elas cada vez mais em toda a parte.

Prova disto é a estimativa, para 2018, que aponta o número de subscrições móveis igual ao número global de cidadãos (OCDE/ITU 2011, 17). A mesma fonte, para 2020, aponta o número de 50 milhares de milhões de dispositivos móveis ligados à

internet por todo o mundo e o número total de 500 milhares de milhões de dispositivos

ligados à rede de um qualquer modo (OCDE 2012b, 7). As TIC estão assim bem presentes na nossa sociedade e o risco que advém deste facto é, do mesmo modo, perentoriamente real73.

Terá de haver então a referência ao conceito de computação em nuvem74, munido com múltiplas variáveis que consignam a rede e o perigo em tudo e em todo o lado. Várias empresas relacionadas com a segurança das TIC têm vindo a identificar estes dispositivos como sendo a moda dos ataques hodiernos. Dufkova75 (2012) identifica esta tendência que aqui acabamos de explicitar na nossa entrevista. As nossas fontes do SIS também seguem esta opinião76.

Estima-se que mais de um milhão de pessoas por todo o mundo sejam vítimas do Cibercrime todos os dias (UE 2012, 2 e Symantec 2011b, 1). O relatório da Symantec adianta ainda que foram vítimas do Cibercrime 50.000 pessoas por hora, 820 por minuto

70

Acerca desta questão vide a entrevista ao SIS e as questões relacionadas com a Webiquidade e o fenómeno da Convergência e evolução tecnológica. No mesmo sentido veja-se o documento da OCDE 2012b (apêndice n.º2).

71

O wi-fi é um serviço que permite o acesso sem fios à rede em locais públicos, são características deste serviço a mobilidade, flexibilidade e conveniência no acesso à internet. À parte de grandes tecnicismos, interessa apreender que wi-fià semelhança do termo wireless designam redes de comunicações que recorrem à tecnologia sem fios para transferência de dados.

72 Acerca desta afirmação veja-se a reportagem da CNN intitulada “When refrigerators tweet and

washing machines text” no âmbito do evento “Consumer Electronic Show 2011” em

[http://edition.cnn.com/2011/TECH/innovation/01/07/internet.connected.appliances/index.html]. Interessante de ver ainda o evento deste ano em [http://www.cesweb.org/].

73

Salientam-se ainda a título de exemplo os dados da Pingdom (vide Pingdom 2012), uma empresa conceituada de monotorização de sites e servidores da internet, que aponta números relativos ao número de contas de e-mail, sites online, e mesmo dados acerca do n.º de utilizadores (note-se que desta empresa destacam-se clientes como a IBM, Microsoft, Secunia, Vodafone, Siemens, Greenpeace e ONU).

74

Acerca do fenómeno de Computação em Nuvem (Cloud Computing) vide ENISA de 2009.

75

Andrea Dufkova, uma especialista da ENISA em segurança de computadores e resposta a incidentes, cuja entrevista nos foi amavelmente cedida (sob um ponto de vista somente pessoal, não existindo um vínculo formal aqui em relação à ENISA pelo que não será possível extrapolar o aqui mencionado para a agência europeia em questão) (apêndice n.º8).

76

29 e 14 por segundo (Symantec 2011b, 1). De acordo com uma apresentação de Hamadoun I. Touré, Secretário-Geral da ITU, os maiores ataques perpetrados no ano passado77 foram dirigidos a Estados e empresas conceituadas, sendo que admite a existência de demais ataques graves bem como sibila a vinda de muitos mais (2011, 3).

Permanece assim “parcialmente, desconhecido o alcance da criminalidade informático-digital” (Rodrigues 2009, 240), no entanto, os exemplos que temos demonstram o impacto realmente nefasto e em proporções incomensuráveis. Num mundo onde imperam economias frágeis e ataques em larga escala não há espaço para se negar que a abordagem a nível global se afigura urgente.