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R EFLEXÕES F INAIS

No documento A Q UESTÃO DOS P RISIONEIROS DEG UERRA (páginas 48-52)

Iniciei este projecto com a convicção de que os Direitos Humanos estão profun- damente gravados na natureza humana. Deparei-me, no entanto, com a possibilidade de estar errada. Por um lado, essa possibilidade desilude-me, por outro, inspira-me. Desilude- me porque, se assim for, fecham-se os olhos perante abusos de seres humanos por outros seres humanos porque, na verdade, não somos todos iguais. Desilude-me aperceber-me que, em muitas situações, os olhos estão mesmo fechados e a igualdade é apenas uma utopia. Por outro lado, inspira-me a ideia de que, hoje, apesar de tudo, estamos muito melhores do que ontem. Inspira-me pensar que os Direitos de que gozamos hoje foram conquistados ao longo na nossa História e que essas conquistas lhes conferem uma legi- timidade mais forte, sem possibilidade de serem considerados apenas privilégios.

Uma questão semelhante surge em relação à guerra e à paz. Também a História nos mostra que a paz é rara e as guerras constantes. No entanto, o caminho para obtenção da paz não foi nem deve ser descurado em nenhum momento. A proliferação de leis e regu- lamentações sobre a guerra demonstram um esforço genuíno no que diz respeito à busca de uma paz duradoura e, quando esta não é possível, à humanização dos conflitos armados. No entanto, a verdade é que são frequentes as manipulações, oportunistas, por parte de Estados, para levar avante interesses específicos, por vezes desconhecidos. A invasão do Iraque, por exemplo, foi levada a cabo sob argumentos falsos de que existiria no território armamento de destruição maciça. Também as teorias sobre a guerra justa, que têm vindo a ser desenvolvidas desde há séculos, são muitas vezes ilegitimamente usadas como argu- mentos que procuram a aceitação e legitimação de acções armadas, por parte da opinião pública e da comunidade internacional.

Vivemos numa era de novos conceitos, ou de manipulação de conceitos antigos. A “guerra contra o terrorismo” é-nos apresentada como uma guerra justa e necessária, tra- vada sob pretexto da legítima defesa. No entanto, o inimigo não tem território nem rosto, é uma rede globalizada. Esta é uma “nova guerra”, vivida numa atmosfera de medo de amea- ças futuras.

É no mesmo contexto de medo que se questiona a prioridade da aplicação dos Direitos Humanos, em particular sobre prisioneiros de guerra. A disputa pela definição do estatuto dos presumíveis terroristas detidos no campo de detenção de Guantanamo é ilus- trativa do clima de insegurança que se vive actualmente. Colocar-se em debate a possi-

bilidade de legalização de práticas de tortura, ainda que em “circunstâncias excepcionais”, através da distinção de “prisioneiro de guerra” e “combatente ilegal”, é claramente um retrocesso na História.

Os casos de grave violação dos Direitos Humanos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, e em Guantanamo, entre outros, ficarão na História, espera-se, como exemplos a não seguir, como manchas no progresso da universalização da afirmação dos Direitos Humanos. É necessário continuar a procurar uma paz mundial permanente, apesar das extremas dificuldades. É necessária uma maior autoridade e independência dos organismos do Direito Internacional e um maior alargamento da cooperação entre os Estados, através da diplomacia e do diálogo, para que o caminho para a paz tenha seguimento. Os Direitos Humanos devem ser defendidos com todas as forças dos Estados.

Bibliografia

B

IBLIOGRAFIA

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Livre de Direitos Humanos. Lisboa: Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço

A

NEXOS

I. 2.ª Convenção de Haia (1889) 52  

II. Carta das Nações Unidas (1945) 63  

III. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) 87  

IV. 3.ª Convenção de Genebra, relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra (1949)

92  

V. Declaração sobre a Protecção de Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Penas ou

Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1975) 137  

VI. Discurso de George W. Bush ao Congresso Norte-Americano, a 20 de Setembro de

2001 (2001) 140  

VII. “A Just and Lasting Peace” — Discurso de Recepção do Prémio Nobel da Paz de

Anexos

I. 2.ª CONVENÇÃO DE HAIA (1889)

CONVENTION WITH RESPECT TO THE LAWS AND CUSTOMS OF WAR ON LAND

No documento A Q UESTÃO DOS P RISIONEIROS DEG UERRA (páginas 48-52)