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Uma ação racional é sistemática quando ela é concernente a fins. Ou seja, considera-se e vislumbram-se condições e meios que sejam adequados e que tenham sido intencionalmente escolhidos, portanto, de forma consciente e calculada (RAMOS, 1983).

Quando um processo organizacional busca atingir objetivos prefixados, existindo uma razão com relação a fins, predominando a instrumentalização da ação social dentro da organização, tem-se a racionalidade instrumental, ou também chamada racionalidade funcional ou, ainda, formal. Neste tipo de racionalidade há um predomínio “centralizado na formalização mecanicista das relações sociais em que a divisão do trabalho é um imperativo categórico”, justificando-se as condutas administrativas nas organizações (TENÓRIO, 2004, p. 33).

Segundo afirma Ramos (1983, p. 39), a qualidade das ações não tem validade, mas tão somente “seu maior ou menor concurso” com vistas ao alcance do

propósito já estabelecido; não sendo importante, de forma alguma, o conteúdo das ações.

Existe aqui uma lógica voltada para a razão instrumental, que, de acordo com Serva (1997), é embasada em um sucesso voltado para o cálculo utilitário e êxito econômico.

Com o desenvolvimento da sociedade, particularmente com a industrialização e surgimento da sociedade capitalista, a racionalidade instrumental vem à tona. Tenório (2004, p. 55) afirma que, nas relações sociais, a Terceira Revolução Industrial chega tornando mais forte ainda o aspecto instrumental dentro das organizações: “[...] a racionalidade instrumental é filha predileta do capital”.

A racionalidade instrumental é predominante das sociedades industriais, e se tornam mais bem estruturadas e dominantes no contexto social contemporâneo – sendo as organizações ainda condição importante para o desenvolvimento tanto político, quanto econômico e social no mundo moderno (MOTTA; PEREIRA, 2004).

Na conjuntura industrial a sobrevivência do indivíduo fica extremamente dependente de sua própria racionalização. O que significa que ele deve ter uma organização mental e apresentar um autocontrole moral e físico, em função da execução de tarefas racionalizadas (RAMOS, 1983).

Para Serva (1997, p. 19) este tipo de ambiente organizacional está propício a problemas como os abusos de poder, a dominação, “mascaramento de intenções pela substituição da verdadeira comunicação humana por padrões informativos”, levando o indivíduo às “ansiedades e patologias psíquicas”.

De acordo com Tenório (2000, p. 41) há uma “equivalência que provoca a desumanização, já que o homem fica privado de uma racionalidade que oriente a sua práxis”.

A racionalidade que a tecnologia e a industrialização difundem, quando entregues a um processo cego, é a que submete o homem a critérios funcionais, antes que substanciais, de entendimento e compreensão. E esta perspectiva que se fala hoje dos perigos da massificação e da robotização da conduta humana, é que se indaga sob que condições pode o saber tornar-se um modo de preservação da liberdade, num mundo em que a tecnologia, incoercivelmente, terá aplicação cada vez maior em todos os domínios da existência (RAMOS, 1983, p. 40).

Ramos (1983) traz a tona problemas que envolvem o equilíbrio entre o indivíduo e a organização sob a luz da racionalidade instrumental. Como a

concentração de poder de decisão e de organização que se torna mais evidente deixando de fora uma grande parte das pessoas; e, também, a onipotência da organização, causando desarmonia e conflito entre a organização e o indivíduo, pois há uma tendência de se tornar legítima as pressões contra o indivíduo.

Mais precisamente, Ramos (1983) aponta para o que Whyte chama de ética social, ou seja, uma ideologia anti-humanista, com a intenção de tornar legítimas as pressões que grupos ou sociedades venham a investir contra o indivíduo, tratando de fazer com que este último se conforme mais facilmente.

Ainda para o autor (1983, p. 41-42) a incorporação do indivíduo na organização, em fases mais avançadas da “cultura social tende a ser obtida mediante a deliberada auto-racionalização da conduta, em alto nível de consciência e compreensão. Supõe a ética da responsabilidade”.

Interessante que Serva (1997, p. 22-23, grifo do autor), com base nos estudos de Alberto Guerreiro Ramos e Jürgen Habermas, elabora o conceito da ação racional instrumental: “ação baseada no cálculo, orientada para o alcance de

metas técnicas ou de finalidades ligadas a interesses econômicos ou de poder

social, através da maximização dos recursos disponíveis”; e expõe uma lista de

elementos que constituem este tipo de ação racional:

a) cálculo – projeção utilitária das consequências dos atos dos humanos; b) fins – metas de natureza técnica, econômica ou política (aumento de poder);

c) maximização dos recursos – busca da eficiência e da eficácia máximas, sem questionamento ético, no tratamento de recursos disponíveis, quer seja humanos, materiais, financeiros, técnicos, energéticos ou ainda, de tempo; d) êxitos, resultados – o alcance, em si mesmo, de padrões, níveis, estágios, situações, que são considerados como vitoriosos face a processos competitivos numa sociedade capitalista;

e) desempenho – performance individual elevada na realização de atividades, centrada na utilidade;

f) utilidade – dimensão econômica considerada na base das interações como um valor generalizado;

g) rentabilidade – medida de retorno econômico dos êxitos e dos resultados esperados;

h) estratégia interpessoal – aqui entendida como influência planejada sobre outrem, a partir da antecipação das reações prováveis desse outrem a determinados estímulos e ações, visando atingir seus pontos fracos (SERVA, 1997, p. 22-23, grifo do autor).

É compreensível, portanto, que as organizações fundamentadas na racionalidade instrumental sejam marcadas por preceitos como a supremacia excessiva da organização sobre o indivíduo, o que faz com que as manifestações de

valores e de convicções desses indivíduos se tornem limitados (PAULA, 2007; SERVA, 1993).

3.2 Racionalidade Substantiva

Weber (2004) define a ação social de modo racional referente a valores quando existe uma relação com a crença consciente no valor, seja este ético, religioso ou de qualquer outra interpretação, independente do resultado.

A partir deste conceito Ramos (1983, p. 38) sinaliza que na ação social há uma consciência sistemática da sua intenção, envolvendo o que o autor chama de conduta heroica e até mesmo polêmica, pois, como testemunha fé (ou crença) em um valor ético (ou de outra essência qualquer), “sua racionalidade decorre apenas de que é orientada por um critério transcendente”.

Ramos (1989) remete que o termo razão era entendido antigamente como algo que influenciava o indivíduo e permitia que ele diferenciasse o bem do mal, o conhecimento falso do verdadeiro. O conceito de razão é ainda considerado pelo autor como a pedra fundamental para qualquer ciência relacionada à sociedade e às organizações, já que basicamente estabelece a forma que os indivíduos devem ordenar tanto a sua vida pessoal quanto a social. Para Ramos (1989, p. 23), neste entendimento, a racionalidade substantiva “sustenta que o lugar adequado da razão é a psique humana”.

Não obstante, o termo sofre alterações com o decorrer do tempo, principalmente em virtude das consequências da modernização advindas das sociedades industriais (poluição, degradação da qualidade de vida, desperdício dos recursos do planeta, dentre outros). Mas, mesmo com a sociedade centrada no mercado, o conceito não é abandonado visto que é um ponto central no caráter da vida humana (RAMOS, 1989).

Cançado, Carvalho e Pereira (2011, p. 8) dizem ser possível observar que:

[...] a razão moderna ficou subordinada à técnica, ao cálculo utilitário de meios e fins, com base em fatos mensuráveis visando alcançar a ideologia da Racionalidade econômica imposta pelo mercado que prega o consumismo desenfreado, o sucesso individual, o lucro máximo, em detrimento das demais Racionalidades.