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O jornalismo no rádio brasileiro apareceu primeiramente na PRA-2, Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Edgar Roquette-Pinto apresentava o Jornal da Manhã, durante os dias úteis, em 1925.

Não havia, como hoje, reportagens de campo e produção. O programa era integralmente produzido por Roquette-Pinto, que, com seu famoso lápis vermelho, marcava nos jornais fatos interessantes ou curiosos e os lia no ar (JUNG, 2004 apud LOPEZ, 2009). Era o modelo de jornal falado, que depois seria amplamente reproduzido no rádio brasileiro.

na narração de fatos e episódios. Foi através de suas ondas que guerras, conflitos, disputas políticas e eleições foram noticiadas em diferentes regiões e para públicos, embora distintos pela localização, condição socioeconômica, histórica e cultural, recebedores de uma mesma mensagem. Como lembra McLuhan (2000, p. 335), o veículo é como um sistema nervoso de informação, um pioneiro da transmissão ao vivo na era eletrônica.

O rádio provoca uma aceleração da informação que também se estende a outros meios. Reduz o mundo a uma aldeia e cria o gosto insaciável da aldeia pelas fofocas, pelos rumores e pelas picuinhas pessoais. Mas, ao mesmo tempo em que reduz o mundo a dimensões de aldeia, o rádio não efetua a homogeneização dos quarteirões da aldeia, Bem ao contrário. [...] O rádio não é apenas um poderoso ressuscitador de animosidades, forças e memórias arcaicas. mas também uma força descentralizadora e pluralística — tal como acontece com todos os meios e forças elétricas. (MCLUHAN, 2000, p. 334).

Debora Lopez (2009) também lembra do grande jornal Falado Tupi. Citando Ortriwano (2002-2003) a autora destaca que o programa teve a preocupação com a adaptação da linguagem e produção específica para o rádio.

O rádio é protagonista em episódios históricos, e contribuiu para difusão de informações em casos como a luta entre legalistas e rebeldes paulistas em 1932, como lembra Klöckner (2005). Três anos depois, o governo Vargas, preocupado com a dimensão do veículo, colocou no ar o programa “Hora do Brasil”, retransmitido em todas as emissoras nacionais. As regras de linguagem já estavam presentes antes de 1945, mas com mudanças políticas, econômicas e sociais é que a prática se generaliza. Com isso, jornais e revistas passam a qualificar mais o processo de informação.

No rádio, a notícia começa a ganhar essa 'personalidade' com o Repórter Esso. Em 1941, ele entra no ar com regras próprias: veicular somente os fatos, sem opinião, a informação deve ser clara e objetiva, com períodos curtos, sem orações intercaladas, sem adjetivações e abastecido por uma única agência de notícias, a United Press. Associado a isso, a informação ganha caráter exclusivo. O Rádio deixa de ser um simples divulgador coletivo das notícias de jornal e passa a utilizar as características inerentes ao meio: ser instantâneo e ágil, para difundir o fato de imediato, logo que ele acontece. (KLÖCKNER, 2005, p. 29).

Em 1948, Heron Domingues conseguiu implantar na Rádio Nacional a redação pioneira de radiojornalismo, que recebeu o nome de Seção de Jornais Falados e Reportagens. É o berço das redações jornalísticas em rádio que conhecemos até hoje. A proposta da linguagem jornalística implementada pelo Repórter Esso permaneceu sem alterações substanciais até décadas recentes. De fato, noticiários de grande projeção como o Correspondente Ipiranga da Rádio Gaúcha, Correspondente Badesul, da Rádio Guaíba, Repórter CBN, da Rádio CBN e outras grandes emissoras ainda utilizam as bases criadas pelo Esso.

Com a ascensão da televisão no Brasil, o rádio passa a prospectar outros espaços, entre eles, a potencialização do jornalismo. Ortriwano (2002-2003, p. 76) lembra que

Passou a ser possível fazer montagens sonoras editando cuidadosamente os trechos escolhidos, além de reproduzir imediatamente a gravação. As reportagens tiveram com este sistema seu melhor aliado, contribuindo para que, pouco a pouco, fosse menor a quantidade de programas ao vivo, dando à programação um caráter distinto, com maior qualidade e pureza.

Como já citado no subcapítulo sobre a construção histórica tecnológica e econômica do rádio, o jornalismo passou a desenvolver protagonismo na oferta de conteúdo entre as emissoras. Com a mobilidade proporcionada pelo transistor, o incremento em qualidade inerente ao gravador magnético e a completa transformação vigente, se configura um contexto de mudanças na produção, difusão e reflexão, potencializado também pelo crescimento do acesso à internet, tanto para produção quanto consumo de jornalismo.

Importante mensurar que, dadas as particularidades legislativas que envolvem a mídia (longos e burocráticos processos para outorga), bem como o alto custo envolvendo sua transmissão – antena, tecnologia, transmissores – e a própria configuração de

emissoras atreladas a grandes grupos de comunicação, tem-se, hoje, um cenário com milhares de emissoras ditas jornalísticas, mas um grupo de poucas concentrando grande audiência e projeção – e por conseguinte receita de publicidade, incluindo de órgãos públicos11.

Também faz parte da construção histórica, embora recente, do rádio brasileiro hertziano, o decreto que permite a migração do AM para o FM12, sintonizável em dispositivos móveis como o celular (mesmo sem a necessidade de internet), portanto, mais adequada aos novos hábitos da população brasileira, que já detêm, em conjunto, mais de 280 milhões de aparelhos13.

11 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1563460-gasto-de-estatais-com- publicidade-sobe-65.shtml. Acesso em: 03 out. 2015

12 Disponível em: http://mc.gov.br/acoes-e-programas/radiodifusao/migracao-das-radios-am. Acesso em: 08 out 2015.

13 Disponível em: http://www.valor.com.br/empresas/4037952/numero-de-celulares-no-brasil-chega- 2834-milhoes-em-marco. Acesso em: 08 out 2015.

Ilustração 3: Audiência rádios IBOPE

Fonte: Pesquisa Brasileira de Mídia14.

Neste cenário, onde o AM aparentemente perde espaço gradual de sintonia, emissoras jornalísticas de destaque nacionalmente caminham na busca pela crescente

14 Disponível em: http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e- qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf. Acesso em: 06 jul. 2015.

disputa no FM, alterando a configuração de outrora, do FM como espaço para entretenimento e música, que ganham outros contornos de consumo a partir de novos dispositivos criados na internet. Com isso, emissoras tradicionais como CBN, Gaúcha, Guaíba, Rádio Bandeirantes, Itatiaia já realizam em FM, a retransmissão de suas programações originais do AM. Com isso, ocorre menos diversidade nos canais e o desaparecimento de emissoras com aposta na transmissão musical em detrimento do jornalismo. Caso das emissoras de Porto Alegre, Metrô FM15, Ipanema FM16, Guaíba FM17 e Cidade FM18, que deram espaço à retransmissões de emissoras jornalísticas originárias do AM nos últimos anos.