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Fonte: Arquivo pessoal. Tirada em 23/11/2007.

As formas de sociabilidade apresentadas pelos integrantes do movimento Hip-Hop da cidade de João Pessoa vão além da perspectiva pedagógica, elas ultrapassam as expectativas teórico-práticas que me orientavam. O Fórum Municipal de Hip-Hop, liderado e conduzido pela Rapper Kaline Lima, e também pela pesquisadora Márcia Félix, foi o local onde pude constatar essas trocas de saberes e solidariedade dos Hip-Hopers pessoenses, assim como nos encontros que aconteciam praticamente todos os sábados no Sesc, centro localizado na região da Lagoa no centro da cidade, onde eu tive a oportunidade de acompanhá-las durante o ano de 2006 e 2007.

As falas dos componentes do Fórum, em sua maioria, sempre vinham em tom de reivindicação, salientando as necessidades de criar um mercado local para a cultura Hip-

parcela dos integrantes do movimento; enfim, de criar canais de solidariedade para promover o sujeito histórico coletivo.

O Fórum também servia como aglutinador da juventude negra paraibana, um espaço onde vinham B-Boys, Dj, Graffiteiros e Rappers de todas as regiões da cidade de João Pessoa, sobretudo da região metropolitana. Cada participante colocava seus objetivos com o Hip-Hop, Algumas dessas reuniões do Fórum Municipal de Hip-Hop foram tensas, pois os interesses de alguns dos seus integrantes em produzir eventos utilizando o nome do Fórum, correspondiam ao interesse geral dos seus componentes. Isso fez com que o fluxo de participantes do Fórum às vezes diminuísse, mas não o suficiente para comprometer a continuidade e a ação dos projetos do Fórum, que foram concretizados no ano de 2007, no Encontro de Hip-Hop Paraibano realizado no Sesc Centro, no II Encontro Nordestino de

Hip-Hop e no I Encontro Nacional de Rap e Repente.

O Fórum Municipal de Hip-Hop, como representação dos jovens que compõem o movimento Hip-Hop na cidade de João Pessoa, foi um instrumento reivindicatório muito significativo para as várias conquistas que o movimento teve no ano de 2007, principalmente junto ao poder público tanto municipal como estadual, que reconheceram a sua legitimidade. Tanto é que apoiaram os encontros citados acima. Fica a expectativa de retomada e continuidade deste Fórum, uma vez que até a presente data, abril de 2008, as reuniões ainda não se realizaram. Sabendo da importância que foi este instrumento criado pelos próprios integrantes do movimento Hip-Hop na cidade de João Pessoa, acredito que logo as atividades serão retomadas, pois foi no Fórum que pude sentir na veia a essência de poder transitar entre o saber acadêmico e o saber prático da cultura Hip-Hop nordestina.

A importância do Fórum Municipal de Hip-Hop nesta pesquisa ocupa um lugar central, pois foi a partir dele que pude opinar, concordar, discordar, e também ser pressionado e cobrado, pelos demais jovens negros, no sentido da necessidade de que uma pesquisa sobre o Hip-Hop, fosse autêntica, principalmente porque feita por um sobrevivente da causa étnico-racial, por um jovem negro.

O convívio com os Rappers, Djs, B. Boys e Graffiteiros paraibanos proporcionou também a minha aproximação e amizade com outros líderes do movimento Hip-Hop no Nordeste, a exemplo de Jorge Hilton Rapper e do líder do grupo Simples Rap’ortagem da cidade de Salvador, grupo que está na cena do Hip-Hop brasileiro há mais de dez anos e que lançou uma campanha nacional em favor da valorização das artes e dos artistas das periferias brasileiras, campanha esta denominada “cadê o cachê”, num apelo contra a

atitude de vários produtores de eventos que, ao convidar e contratar grupos artísticos oriundos das periferias, geralmente propõem o pagamento da apresentação com o famoso transporte dos artistas e o lanche. Por sua vez, a campanha via mídia eletrônica tem ganhado espaço em todo o território nacional, o que mostra uma outra amplitude que o movimento Hip-Hop atinge.

As redes de contato com o movimento Hip-Hop nordestino também me fizeram conhecer o Rap e lideranças do movimento Hip-Hop do estado do Para, Ceará, Alagoas, Natal, sertão da Paraíba, Pernambuco e Maranhão. Neste último estado, merece destaque um grande líder negro do movimento Hip-Hop nordestino, Lamartine, que, com o microfone na mão, transforma-se de articulador cultural em um grande intelectual orgânico do movimento Hip-Hop.

Dentro desta caminhada de luta com o movimento Hip-Hop da cidade de João Pessoa, as conquistas foram muitas. Uma delas foi a produção e execução do Seminário “a luta de Zumbi dos Palmares não acabou”, idealizado pelo prof. Dr. Wilson Aragão, por Solange Cavalcante, pela doutoranda Ana Paula Romão e pelo mestrando Valmir Alcântara.

O evento foi realizado no Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, no mês de março, em 2007, e se repetiu em 2008, contando com a participação de mais de mil pessoas, divididas entre debates, grupos de discussões e trabalhos, shows e oficinas de arte afro-brasileira.

Estes eventos, que para muitos professores da UFPB tomaram uma dimensão de Congresso, tiveram a participação de personalidades nacionais e estudiosos da questão étnico-racial, a exemplo do Prof. Dr. Henrique Cunha Jr., da universidade Federal do Ceará – UFC, da Profa. Dra. Fúlvia Rosemberg, da USP e Puc-São Paulo e Coordenadora da Fundação Ford no Brasil, além da Dra. Renata Bittencurt gerente do núcleo de Educação Cultura e Arte do Instituto Itaú Cultural, além das presenças do então presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos e deputado federal Luiz Couto e do Dr. Evair Santos, funcionário do Ministério de Direitos Humanos e militante do movimento negro da cidade de São Paulo.