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5 FALA JUVENTUDE!

M) Depois do colégio vai para praça!! Depois do serviço! Toma um banho e

5.3 A RELAÇÃO COM OS EQUIPAMENTOS CENTRAIS

5.3.1 É raro eu ir nestes lugares: Centro Sul

Durante o período que trabalhei como educador social dos projetos de qualificação profissional da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (2006-2012), com jovens de bairros e vilas consideradas prioritárias para inclusão social, era comum realizarmos visitas técnicas em empresas públicas e privadas, a fim de apresentar para os educandos o que era um ambiente de trabalho e como uma empresa se estruturava para atingir seus objetivos.

Na ocasião do planejamento da atividade e das visitas, que quase sempre eram na região central da cidade, sempre nos chamou atenção o fato de diversos educandos nunca terem ido ao centro da cidade sozinhos, o que consideramos bastante problemático. Como um jovem depois de passar por um processo de formação profissional iria buscar oportunidade de emprego se este não conhecia sua própria cidade? Se não sabiam deslocar-se no centro, que ainda é o espaço econômico que concentra diversos serviços e oportunidades de trabalho?

Em uma das atividades resolvemos extrapolar a questão da visita técnica em si, e aproveitamos a ocasião do deslocamento ao hipercentro – ou a passagem por ele - para contar um pouco da história de Belo Horizonte, fazendo um pequeno tour no centrão, partindo da Praça Sete de Setembro, utilizando um roteiro que havia construído nos tempos da graduação de turismo. Um roteiro focado na história da Cidade e na educação patrimonial que tinha o nome de “Um Olhar Sob o Caos” 51.

No dia seguinte, avaliando a atividade com os jovens, em diversas vezes, a visita técnica à empresa se mostrou secundária ao tour. A história de Belo Horizonte e as curiosidades sobre alguns edifícios despertavam mais atenção dos jovens, se mostrando extremamente prazerosa e significativa em detrimento da visita técnica à empresa, superando assim a expectativa do que fora planejado.

51 Partindo da Praça Sete de Setembro, o roteiro contemplava a Igreja São José, o Edifício Acaiaca, o Castelinho, o edifício Sulacap, o Viaduto Santa Tereza e o Edifício Maleta. Acrescido de um equipamento específico de lazer: Praça da Estação/Museu de Artes e Ofícios, ou Palácio das Artes, ou Centro de Cultura de Belo Horizonte, ou antigo Instituto Moreira Sales - Centro de Referência da Fotografia da FCS.

Daí em diante, além da questão da história da cidade, incorporamos nas formações a visita a equipamentos culturais de modo a apresentar para os jovens o que a cidade tinha para lhes oferecer. Esta experiência despertou reflexões sobre a importância daquele ato, para além da questão de aprender a se deslocar pela cidade em busca de trabalho, mas para questões sobre o ato de pertencer à cidade. Como um jovem vai valorizar e se identificar com uma cidade que ele não conhece? Uma cidade que a ele não pertence? Refiro-me especialmente ao centro da cidade, ao espaço localizado dentro da Avenida do Contorno.

Os resultados da pesquisa de Silva (2010) e as informações coletadas durante os grupos focais foram de encontro com o que já vivenciava com os educandos dos projetos sociais da Prefeitura. Ou seja, o desconhecimento dos jovens sobre a existência de diversos equipamentos de lazer e cultura no centro da cidade ou, quando conhecem, o fato de não conhecerem sua programação.

(G2-P13-M) Isto aí é onde? (Entrevistador/Mediador 1) Palácio das Artes!

Dentro do Palácio das Artes! (G2-P11-F) Nó que lindo (G2-P13-M) Nuuuuu

(Entrevistador/Mediador 1) Afonso Pena né!! Palácio das Artes!! Parque

Municipal. (G2-P9-M) Dá para ver até as tilápias pulando lá ó (G2-P13-M) Parque Municipal nem paga para entrar né? (Entrevistador/Mediador 1) Não!! (G2-P13-M) Nossa nem sabia disto mais!! (Rindo)

Apesar de não irem com muita frequência ao Centro foi possível identificar a ida esporádica em alguns eventos, tais como a Parada Gay na Praça da Estação, o Duelo de Mcs embaixo do Viaduto Santa Tereza, o Evento Noites Brancas, que aconteceu no período da noite para a madrugada no Parque Municipal no ano de 2012, e alguns que iam para a Praça Sete de Setembro para “ficar de bobeira”.

(Entrevistador/Mediador 1) Esta aí é a Praça Sete também tá (G2-P13-M)

Já deu um rolé de Skate ali assim de quebradinha.

(Entrevistador/Mediador 1) Na Praça Sete ali? (G2-P13-M) É aqui! (G2- P12-F) A Praça Sete e cheia do hip né? (G2-P11-F) Nó é mesmo! Cada

coisa que a gente vê (rindo) (G2-P13-M) (…) A ó este aí eu já fui. sexta-

feira debaixo do viaduto, o rap eu tinha até esquecido.

(Entrevistador/Mediador 1) Duelo de mcs (…) (G2-P11-F) Tem um lá que todo ano tem a parada Gay. (G2-P12-F) E a concentração é sempre aí né. Aí daí sobe a Afonso Pena vai até.. (Entrevistador/Mediador 1) Praça da Estação (G2-P9-M): Deu ida lá P13? (G2-P13-M) Tô fora (rindo) (G2-P11-F) Eu só curto assim as músicas né. Eu não sô (Rindo).

Embora a metrópole Belo Horizontina tenha vários centros comerciais, e disponha de uma quantidade bastante diversificada de serviços, inclusive nos setores de alimentos e bebidas, a região central da cidade, nitidamente dentro da Avenida do Contorno e nos bairros arredores, ainda são referências e concentram os melhores estabelecimentos de alimentos e bebidas, casas de shows, boates e espaços públicos para realização de eventos. Além dos equipamentos do “tipo cultural”, como conceituou um jovem, fazendo referência aos teatros, museus, centros culturais, galerias de arte etc.

Neste sentido concordamos com Rolnik (2004) ao afirmar as diferenças entres os territórios das grandes cidades, onde é fácil identificar os bairros que concentram mansões e palacetes, centros de negócios, bairros boêmio onde rola a vida noturna; o distrito industrial é o bairro do proletariado.

Na investigação anterior52 havíamos identificado que os jovens raramente frequentavam os equipamentos e eventos culturais gratuitos da região central da cidade. A limitação do método de coleta de dados daquela pesquisa não conseguiu alcançar a resposta dos motivos. Nesta já conseguimos identificar que alguns espaços públicos abertos tais como as praças e alguns eventos despertam o interesse dos jovens.

(G2-P9-M) É igual o (G2-P13-M) falou. A praça esta chamando muito a

juventude. Tô notando isto aí a galera tá gostando bastante de uma pracinha nestes momento vago ai que não tem nada para fazer. (G2-P13-M) Depois do colégio vai para praça!! Depois do serviço! Toma um banho e fala vai ficar de boa aí e ver o que vai pegar hoje. Fica lá de boa assim.

Também já temos algumas pistas que nos ajudam a especular a relação dos jovens com os equipamentos da região central da cidade. Entre elas identificamos: a falta de dinheiro para se deslocar até o evento ou equipamento, a falta de companhia para ir nos lugares, o desconhecimento sobre a programação e recentemente o maior rigor com a lei seca.

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