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5 FALA JUVENTUDE!

M) Na Pampulha também tem umas paradinhas mais adequadas para

5.5 SOBRE OS EVENTOS GRATUITOS

A centralização dos equipamentos específicos de lazer, também gerou a centralização dos eventos culturais. Os melhores shows, espetáculos e festivais ainda acontecem na antiga zona urbana da cidade que foi planejada61 pelo engenheiro Aarão Reis. Os eventos são patrocinados pelas leis de incentivo a cultura, que disponibiliza recurso a fundo perdido ou por renúncia fiscal, recursos estes que são acessadas principalmente por empresas produtoras culturais.

Segundo Oliveira Júnior (2009), ao fazer levantamento detalhado e por região, do acesso aos recursos disponibilizados pela lei de incentivo a cultura municipal, diagnosticou um quadro concentrador na regional Centro-Sul em detrimento das demais regionais da cidade. Citou por exemplo a desproporcionalidade na relação população versus distribuição de recursos, enquanto as Regionais Barreiro, Venda Nova e Norte, que juntas tinham 30% da população da cidade, receberam somente 6% dos recursos.

Mesmo com a centralização buscamos conhecer a relação dos jovens com os eventos que a cidade oferece. Fizemos a opção de focar a discussão na relação específica com os eventos gratuitos ou a preços populares realizados com recursos das leis de incentivo a cultura. Obviamente este fato não impediu que os jovens apresentassem outras vivências.

A opção por este tipo de evento foi motivada pela pesquisa anterior62, que constatou que os jovens não frequentavam e/ou não conheciam grandes as produções culturais gratuitas da cidade, principalmente os Festivais de Arte Negra, o Festival Internacional de Teatro e o de Dança. Ao longo do ano de 2012, recolhemos materiais de divulgação de eventos gratuitos ou a preços populares, realizados com recursos das leis de incentivo a cultura Municipal, Estadual e Federal, para provocar as discussões no grupo focal.

61 CEREZO, F.L.B. Sobre a história do Planejamento Urbano de Belo Horizonte. 1997.

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5.5.1 Fiquei Sabendo não! A questão da divulgação

Figura 6 – Balcão da EEFTO da UFMG

Fonte: Autor

Circulando pelos equipamentos culturais do centro da cidade - públicos ou privados, conseguimos perceber que ao longo do ano acontecem diversos eventos do tipo cultural, financiados pelas leis de incentivo a cultura. Principalmente no segundo semestre do ano, quando a quantidade de eventos é tão grande que eles acabam competindo entre si.

Na entrada da Escola de Educação Física Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG (FIGURA 6), sempre nos chamou atenção a quantidade de material de divulgação de shows, espetáculos de dança, teatro, festivais e afins, expostos no balcão de entrada. Inclusive foi deste balcão que ao longo do ano de 2012 coletamos o material de estímulo para as discussões no grupo focal.

Ao terem contato com o material coletado e ao serem indagados se ficaram sabendo dos eventos, a maioria dos jovens de ambos os grupos, respondeu que não, mesmo tendo interesse por alguma temática, como é o caso desta jovem

que achou interessante o evento de hip hop:

(Entrevistador/Mediador 1) Este aqui ó!! Este aqui foi uma Festa de Hip

Hop ó (G2-P12-F) Ah esse aqui foi bacana mas eu não fui não!

(Entrevistadora/Mediadora 2) Por que? (Entrevistador/Mediador 1) Você

ficou sabendo? (G2-P12-F) Fiquei sabendo também não.

(Entrevistador/Mediador 1) Este Festival Internacional de Dança que teve

este ano? (G2-P12-F) Não fui também não nem fiquei sabendo. Este aqui eu fiquei oh: Teatro Palco e Rua. Fiquei Sabendo mas não fui não.

O Festival Internacional de Teatro de Palco e Rua – FIT, foi o evento que os jovens mais citaram embora somente um afirmou ter ido. Este tipo de evento foi classificado pelos jovens como um evento tipo cultural63 e segundo ele, raramente é divulgado nas mídias de massa.

(G2-P13-M) Só um negócio que este negócio cultural aí não é muito

divulgado não. Não é divulgado muito. Só no Super de vez enquanto sai tipo sexta-feira a programação de sábado e domingo aí rola (…) (G2-P9-M) Eu fico sabendo de alguns. Não é de todos não! Poderia ser mais divulgado. Entendeu? É pouco divulgado. (G2-P13-M) É porque na televisão eles não passam isto aqui a maioria não. (G2-P9-M) É um ou outro que é bem divulgado (G2-P13-M) Se passa é num horário bem. Aquele que não tem ninguém vendo televisão (G2-P11-F) É com certeza (G2-P9-M) 03:30 da manhã

A resposta dos jovens deixou claro que o material de divulgação dos eventos culturais não é acessível e a informação não chega com facilidade até eles. Em alguns casos chega na hora do evento ou depois que o evento já aconteceu:

(G1-P2-M) Dei mole também não fui no da Ivete Sangalo (Entrevistador/Mediador 1) Cê foi? (G1-P2-M) Não fui! Esqueci perdi! (Entrevistador/Mediador 1) Vocês ficaram sabendo desde? (G1-P5-M) e (G1-P3-F) Não! (G1-P5-M) Fiquei sabendo no dia mas eu não fui (G1-P2-M)

Eu fiquei sabendo sábado seis horas. E que horas que acabava? Seis horas. (G1-P4-F) Gargalhada

(G2-P13-M) Se tiver em cima da hora e for gratuito não tem como não viu.

Isso aí nem adianta. Praça da Estação. Ivete Salgado se o show for 08:00 você ficar sabendo 07:50 pode desistir. (G2-P11-F) – Risos (G2-P12-F) Fora os ingresso que tem que trocar antes também né? Esgota assim né (estalando a mão). Quando tem que trocar um quilo de alimento por um

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O termo tipo cultural foi apresentando pelos jovens para fazer referência aos eventos públicos que não são de apelo de massa, como os bailes funk. Também nos pareceu ter relação com espetáculos de teatro, dança etc.

ingresso esgota assim. (G2-P13-M) - Ah teve um que teve Paralamas do Sucesso que tinha que trocar isto. (…). Eu fui e já tinha esgotado. Eles não divulgou os posto que tinha que trocar direito. Só falou tem que trocar mas não falou onde tinha que trocar. (G2-P10-M) Eles tem que falar mais o lugar que tem que trocar você fica sabendo de altos show mas

Um jovem chegou a dizer que fica impressionado como as pessoas descobrem a existência de tais eventos já que eles não são divulgados na mídia oficial de massa:

(G2-P13-M) Mas como é que você faz para saber destas programação. Por

que não é divulgado não passa na televisão? Eu fico de cara com é que vocês descobrem vai ter um show ali. Eu falo pera aí não passou na televisão e todo mundo tá sabendo. Tipo assim ocê tá sabendo. Eles divulgam isto no site?

Figura 7 – Divulgação de Eventos Jornal Super.

Fonte: Autor

O veículo de comunicação de massa apareceu como a grande referência dos jovens dos bairros populares para se informarem sobre os eventos. Destaque

para a Programação Cultural do Programa MGTV - Noticiário do canal aberto de televisão e do Jornal Super Notícias, que é vendido a R$ 0,25 (FIGURA 7).

(G2-P13-M) Saiu até no Super Paralamas do Sucesso vai tocar em Betim

(…) (G2-P13-M) Só um negócio que este negócio cultural aí não é muito divulgado não. Não é divulgado muito. Só no Super de vez enquanto sai tipo sexta-feira a programação de sábado e domingo aí rola

(G1-P5-M) Quando eu não tava trabalhando eu sempre assistia jornal né! E

no MGTV, toda sexta-feira falava das programações culturais e as gratuitas também, só que era nos bairros mais distantes né (…)

Voltando ao balcão da EEFFTO-UFMG, detivemos nosso olhar para a divulgação de um evento em especial, que nos chamou bastante atenção em função de sua divulgação não ter chegado ao conhecimento do público em tempo hábil. Referimo-nos ao consagrado Festival de Arte Negra – FAN 2012, que foi duramente criticado por ter sido mal divulgado. Chamou-nos atenção a grande quantidade de catálogos de divulgação colocada no balcão da escola nos últimos dias do Festival (FIGURA 6).

Extrapolamos a situação de somente descrever e refletir sobre o fato nesta dissertação para problematizar esta situação do mau uso do dinheiro público. Postamos a foto da Figura 6 na rede social virtual Facebook, provocando os produtores do evento, que responderam que uma empresa terceirizada era quem fazia a entrega dos materiais de divulgação.

Este fato nos faz refletir sobre algumas questões: qual o critério que os produtores utilizam em relação ao público que deve ter acesso ao material de divulgação dos eventos? Uma vez que este material não é encontrado em qualquer local da cidade, ficando fechado em um pequeno circuito. Se a proposta é de democratizar o acesso aos eventos, o acesso à informação também não deveria ser democratizado, saindo do círculo tradicional? Parece-nos que a divulgação é feita para um suposto público, que potencialmente é consumidor de arte e de cultura. Não seria o momento de este material chegar onde acontece a vida cotidiana? Nas escolas de ensino fundamental e médio, nas associações de bairro, nas igrejas, no comércio local, nas padarias, mercearias, salões de beleza, nos diversos grupos de convivências das comunidades (juventude, mulheres, terceira Idade), nos centros de saúde, nas academias da cidade e nas creches.

Conforme Marcellino (2008), para democratizar o Lazer, se faz necessário democratizar o espaço, acreditamos que mais um elemento deva ser acrescentado: a democratização do acesso à informação e da existência dos eventos nos espaços que a cidade oferece.

Lembro que em certa ocasião, na condição de educador dos projetos da PBH, trabalhando com jovens, solicitamos à Fundação Municipal de Cultura o Programe BH, informativo oficial que contém a programação de todos os centros culturais da cidade. Na ocasião fui informado que só enviavam para os equipamentos municipais de cultura, ou seja, para um público potencial consumidor de arte e cultura – um mesmo circuito fechado.

Nesta direção um jovem disse que para ficar sabendo dos eventos você tem que ser um frequentador do circuito.

(G2-P13-M) Mas dependendo se você for lá eles te dão este aqui ó (Entrevistadora/Mediadora 2) Lá onde? (G2-P13-M) No evento!

Geralmente eles dão o panfleto na hora do evento que você vai cultural (G2-

P9-M) Tipo num evento que tá rolando hoje eles vão dá num evento que vai

rolar futuramente cê fala (G2-P13-M) Ou então eles dão amostra dos caras que tão fazendo lá dentro tipo assim eu vou cantar aqui hoje e vou te dar uns panfletinhos aqui. Se você for neste evento você vai ficar sabendo do próximo. Quem vai nos eventos quem estar por fora é muito difícil (G2-P11-