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3.1 - O Supremo Tribunal Federal e sua primeira audiência pública.

“A função essencial do STF é a guarda da Constituição Federal.” Este texto abre a autodescrição que o Supremo Tribunal Federal apresenta nos documentos e em seu endereço eletrônico13. Diferentemente de outras instâncias do sistema judiciário brasileiro, o Supremo apenas tem como objetivo salvaguardar os princípios transcritos na Constituição, contando para isso com alguns dispositivos. Em sua competência cabe julgar a ação direta de inconstitucionalidade de lei (ADIN); a ação declaratória de constitucionalidade (ADC), a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) decorrente da própria Constituição e a extradição solicitada por Estado estrangeiro. Basta lembramos do caso de Cesare Battisti. Cabe também ao STF julgar, na área penal, as infrações penais comuns do Presidente da República, do Vice-Presidente, dos membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República, concedendo a estes o foro privilegiado de julgamento em casos de tais crimes. Além disso, outros tipos de julgamentos são competidos ao Supremo, mediante grau de recurso, sendo eles o habeas corpus14, o mandado de segurança15, o habeas data16 e o mandado de injunção17 decididos em única instância pelos Tribunais Superiores.

Formado por duas turmas, cada uma composta por 5 Ministros, cabendo a essas turmas todos os julgamentos, exceto a ação direta de inconstitucionalidade, que compete à corte como um todo. Além das duas turmas, o Supremo é formado por quatro comissões,

13 Site do Supremo Tribunal Federal www.stf.gov.br

14 Habeas Corpus tem o objetivo de garantir os direitos de ir e vir dos indivíduos sempre que os mesmos tenham sido feridos ilegalmente ou estão ameaçados.

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Mandado de segurança concede-se sempre que há ferimento dos direitos que não são contemplados pelo habeas data e habeas corpus. Está previsto na lei 12.106 de setembro de 2009, na qual se disciplina os mandados de segurança individual e coletivo.

16 Habeas data trata-se de uma ação constitucional de proteção ao direito individual de informação e está previsto no artigo 5º, inciso LXXII da Constituição. Parte-se do pressuposto que qualquer indivíduo que impetre (aquele que aciona o judiciário) tenha acesso aos dados relacionados.

17 Mandado de Injunção também está previsto pelo artigo 5º da Constituição e diz respeito a uma consecução sempre que a ausência de uma norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais, e das prerrogativas relacionadas à nacionalidade, a soberania e a cidadania.

48 organizadas de acordo com as atribuições e formada por três a quatro membros, todos Ministros. As comissões são: jurisprudência18, regimento19, coordenação20 e documentação21.

A denominação “Supremo Tribunal Federal” começou a ser usada no decreto nº 520 de 22 de junho de 1890, que lançava a Constituição provisória de 1890 e permaneceu no decreto nº 848 de 11 de outubro que organizava a justiça federal brasileira ainda no mesmo ano. Organizado formalmente em 1891 o Supremo passou a contar com 15 Ministros escolhidos pelo presidente da república. Apenas em 1930, por força de decreto, o número de Ministros foi reduzido para 11, configuração que, exceto durante o regime militar (que aumentou o número de ministros para dezesseis) permanece até os dias atuais.

Sua organização atual conta com 11 Ministros indicados pelo Presidente da Republica e submetidos à aprovação no Senado. Na composição de 2008, ano da audiência da ADIN, faziam parte: Ellen Grace (presidente), Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito.

A Audiência Pública sobre o artigo 5º da lei de Biossegurança consagrou-se como a primeira audiência realizada pelo Supremo. Mesmo com o dispositivo disponível em lei desde 1999, o que permitia em teoria que em qualquer julgamento considerado de notória relevância pública pudesse ser acionado uma audiência, o Supremo só realizou sua primeira audiência nove anos mais tarde. Tal audiência não marcou apenas o inicio de uma sequência de outras que foram acionadas para resolução de outras matérias. Marcou a inexperiência de lidar com tais sessões diante da ausência, em regimento interno, de procedimentos que regulassem e organizassem estes eventos.

Ao mesmo tempo, marca, para os Ministros que se manifestaram sobre o assunto, um tempo em que o Supremo deixa de voltar-se para si e abre suas portas para a sociedade,

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Comissão responsável pela seleção dos acordãos que vão ser publicados pela revista do STF, publicar resumos das decisões e circular um boletim interno antes das publicações dos acordões e serviços de sistematização e divulgação da jurisprudência do STF.

19 Comissão responsável por zelar e manter o regimento interno do STF atualizado de acordo com as solicitações e exigências das outras comissões.

20 Comissão responsável por sugerir medidas destinadas a prevenir medidas discrepantes, aumentar o desempenho das sessões e facilitar as tarefas dos advogados.

21 Comissão responsável pela orientação dos serviços de documentação e arquivamento dos processos, livros e documentos do STF.

49 sugerindo o quão democrático o Supremo pode chegar a ser. Tal característica parecerá contraditória e indicará caminhos e contornos que a controvérsia assumiu diante dos inúmeros atores envolvidos na consolidação dessa tecnologia. O judiciário, ao passo que possibilita o fluxo da ciência no sentido de legitimar seus achados e descobertas, limita-a determinando suas fronteiras e maneiras de agir (JASANOFF,1995). Então, se por um lado alguns ministros destacam a participação dos cientistas na audiência, outros apresentam desconfianças sobre o papel da mesma no mundo moderno. De como a mesma se tornou um dogma em si. Três ministros realizaram pronunciamentos em ambos sentidos. Vejamos as observações realizadas pelos ministros.

O ato de julgar é antes de mais nada um grande exercício de humildade intelectual. Por isso, o Supremo Tribunal Federal se reúne para ouvir a opinião dos especialistas, acrescentar e aprofundar conhecimentos, para que possa, ciente das limitações que são próprias do ser humano, tentar encontrar a solução neste, como nos outros casos (trecho da audiência pública - Ministra Ellen Grace)

Conforme realçou a Ministra Ellen Grace, o Supremo experimenta, no dia de hoje, pela primeira vez, um mecanismo de democracia participativa ou democracia direta, que é essa possibilidade de um segmento, muito bem organizado, científico, da população contribuir para a formatação de um julgado que lhe diz imediato respeito e repercute na vida de toda a população. Metaforicamente, democracia é isso mesmo, é prestigiar as bases, deslocando quem está na plateia, habitualmente, para o palco das decisões coletivas. (trecho da audiência – Carlos Ayres Brito)

Outro destaque ocorreu não na audiência, mas no voto do ministro Gilmar Mendes,

O Supremo Tribunal Federal demonstra, com este julgamento, que pode, sim, ser uma Casa do povo, tal qual o Parlamento. Um lugar onde os diversos anseios sociais e o pluralismo político, ético e religioso encontram guarida nos debates procedimental e argumentativamente organizados em normas previamente estabelecidas. As audiências públicas, nas quais são ouvidos os expertos sobre a matéria em debate, a intervenção dos amici curiae, com suas contribuições jurídica e socialmente relevantes, assim como a intervenção do Ministério Público, como representante de toda a sociedade perante o Tribunal, e das advocacias pública e privada, na defesa de seus interesses, fazem desta Corte também um espaço democrático. Um espaço aberto à reflexão e à argumentação jurídica e moral, com ampla repercussão na coletividade e nas instituições democráticas (trecho do voto de Gilmar Mendes)

50 Mas isto não ocorreu com outros ministros, alguns deles não fizeram referências em seus textos sobre a atitude de convocação dos cientistas para audiência. Em outros casos, como o do Ministro Eros Grau, houve uma relativa rejeição diante da iniciativa do Relator, como podemos observar no próprio texto de voto do Ministro,

Forças sociais manifestaram-se intensamente - de modo mesmo impertinente, algumas delas -em relação à matéria objeto da presente ação direta de inconstitucionalidade. Estou convencido de que, ao contrário do que se afirmou mais de uma vez, o debate instalado ao redor do que dispõe a Lei n. 11.105 não opõe ciência e religião, porém religião e religião. Alguns dos que assumem o lugar de quem fala e diz pela Ciência são portadores de mais certezas do que os líderes religiosos mais conspícuos. Portam-se, alguns deles, com arrogância que nega a própria Ciência, como que supondo que todos, inclusive os que cá estão, fossemos parvos. Como todas as academias de ciência são favoráveis às pesquisas de que ora se cuida, já está decidido. Nada mais teríamos nós a deliberar. Mesmo porque, a imaginar que as impedíssemos, estaríamos a opor obstáculo à cura imediata de doenças. A promessa é de que, declarada a constitucionalidade dos preceitos ora sindicados, algumas semanas ou meses após todas as curas serão logradas. Típica indução a erro mediante artifício retórico. (trecho retirado do voto do Ministro Eros Grau, p.02)

A relação que os Ministros estabeleceram com a audiência não pode ser analisada com profundidade a partir das exposições dos cientistas. Muitos deles não compareceram à sessão para as exposições. Outros acompanharam à distância o julgamento e encaminharam questões. No entanto, cabe ressaltar a maneira como a audiência foi destacada por ambas as partes envolvidas, ministros e cientistas, muitos deles acentuando a importância da audiência e a abertura do Supremo para escutar a comunidade científica, que em alguns discursos marcavam o lugar da representação de grupos sociais e organizações como associação de pacientes, hospitais, centros universitários e grupos de pesquisa distribuídos pelo país.

Depois da realização da primeira audiência pública no Supremo, outras foram convocadas. Um ano mais tarde, em junho de 2008, a Ministra Cármen Lúcia convocara audiência em torno do ADPF/10122, que envolvia as questões ambientais relacionadas à

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51 importação de pneus usados. Outra audiência foi convocada pelo Ministro Marco Aurélio Mello para discutir sobre a ADPF/54, que tratou do aborto de anencéfalo.

Já em 2009 o então presidente, Ministro Gilmar Mendes, convocou outra audiência para tratar do Sistema Único de Saúde. O objetivo da audiência foi o de coletar subsídios para o julgamento de vários processos relacionados à distribuição de medicamentos, suplementos alimentares, próteses, criação de vagas em UTIs e a realização de cirurgias.

Em 2010 foi convocada e realizada outra audiência pública, dessa vez para tratar das cotas raciais. O relator Ricardo Lewandowski pronunciou-se destacando a importância do tema para a sociedade brasileira e para as politicas públicas que visam diminuir a desigualdade e acesso ao ensino superior no Brasil. No ano de 2012 já foram realizadas duas audiências. Sobre o caso do uso de produtos contendo Amianto em todo território de São Paulo (ADIN 3937) e a proibição de venda de bebidas alcoólicas em rodovias e estradas brasileiras, pela Lei Seca (ADIN 4103)23.

Aqui não trataremos em detalhes de todas as audiências realizadas pelo Supremo. Porém, há de se perguntar os motivos pelos quais até a audiência sobre o uso de embriões para pesquisas com células-tronco a Corte não tenha usado tal mecanismo previsto na lei que regulamenta as ADINs, ADPFs e outros dispositivos usados pelo Supremo para julgar matérias em relação com a Constituição. E porque logo depois da audiência sobre as células- tronco tornou-se comum o uso do dispositivo pelo Supremo. De todo modo, destaco que estes aspectos que envolvem os trâmites do sistema judiciário poderão ser mais detidamente informados a partir da literatura jurídica que desenvolveu o tema com mais detalhes.

23 Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/pesquisarPeticaoInicial.asp acesso em junho 20 de 2012.

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3.2 - Passos para ação direta de inconstitucionalidade 3510

Quando, em 1998, a equipe do Professor James A. Thompson24, da universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, publicou o pioneiro trabalho mostrando os resultados com o isolamento de células-tronco embrionárias, o mundo, ali, começara a assistir uma jornada das biotecnologias que marcaria toda a primeira década do século XXI. Depois dele, diversas pesquisas foram produzidas em diversos países, conduzindo a uma reflexão que extrapolaria os limites dos laboratórios onde eram desenvolvidas. Quando divulgados os resultados naquele ano, as células-tronco não eram meros atores desconhecidos da comunidade científica. Estudos com células-tronco vinham sendo desenvolvidos desde o final da década de 60 com pesquisas voltadas para o seu uso em transplantes de medula óssea. A novidade residia não no uso das células-tronco adultas, estabilizadas em diversas práticas médicas e de pesquisa, mas no uso de embriões para a obtenção de linhagens de célula.

O problema do embrião não parece ter sido levantado exclusivamente pelas células-tronco embrionárias. Durante a década de oitenta um amplo debate mobilizou o Parlamento Britânico em torno de um novo estatuto para o embrião emergente das novas tecnologias de reprodução assistida (MULKAY, 1995; SALEM, 1997). Na controvérsia venceu o pré-embrião, tendo como marco o décimo quarto dia, marcado pelo aparecimento do sistema nervoso central.

Assim como o surgimento do embrião extra corporal exigiu esforços de definição de seu estatuto em si mesmo e a hierarquização dos interesses e direitos relacionados a ele e a mulher que o abriga (SALEM, 1997), o uso de embriões para a obtenção de linhagens de células-tronco embrionárias desencadeou e reacendeu uma série questões éticas, morais, políticas e controvérsias sobre a definição do que seria o início da vida nos países em que as pesquisas prosseguiam. Não apenas a definição do início da vida entrou em jogo como também uma série de questões que envolviam desde o desenvolvimento do país até o descarte automático dos embriões excedentes nas clínicas. As fronteiras entre a ciência e a política já

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Thomson, Itskovitz-Eldor, Shapiro et al. “Embryonic cell lines derived from human Blastocysts.Science no 282, 1998. Apesar de Tompson ter isolado as células-tronco embrionárias em 1998, outros trabalhos como dos ingleses da Universidade de Cambridge Martin Evans e Matthwew Kaufman foram responsáveis pela geração da primeira linhagem de células-tronco de embriões em camundongos.

53 não pareciam ser mais delimitadas e rígidas, assegurando à primeira o domínio do natural e à segunda o domínio dos valores.

Em março de 2005 o Congresso Nacional aprovou o novo texto da Lei de Biossegurança (11.105/2005)25, encerrando provisoriamente uma controvérsia e abrindo outra que já estava tomando espaço na mídia e nas agendas do próprio Congresso desde outubro de 2003, quando foi enviado o esboço do projeto de lei com objetivo de legislar sobre a matéria.

Inicialmente o projeto girava em torno das discussões sobre os organismos geneticamente modificados, diante da grande repercussão da soja geneticamente modificada plantada no Rio Grande do Sul desde o final da década de 90. Não figurava no texto da lei pontos que tratavam diretamente da questão dos embriões extranumerários e a possibilidade de uso dos mesmos para obtenção de células-tronco embrionárias (CTEs). Só num segundo momento as pressões pela liberação das pesquisas envolvendo as CTEs ganharam forma, sendo incorporado através do artigo 5º, que legislava sobre o uso dos embriões acima mencionados.

Mesmo com os arranjos no Senado as duas matérias, as CTEs e os OGMs foram para a Câmara dos Deputados em um único texto. A aprovação de nova lei de Biossegurança em 2005 incorporou em seu texto o artigo 5º, que autorizava o uso dos embriões supranumerários ou inviáveis para fins de pesquisa e terapia.

Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células- tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização

in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes

condições:

I – sejam embriões inviáveis; ou

II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.

§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.

25 A lei de biossegurança tem com objetivo regulamentar as práticas relacionadas ao uso dos transgênicos e células-tronco no Brasil.

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§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.

A Lei de Biossegurança, vigente na época e aprovada em 1995, não fazia nenhuma menção aos embriões produzidos em laboratório, para fins de uso na Reprodução assistida. Glaci Zancan, professora da Universidade Federal do Paraná e ex-presidenta da Sociedade Brasileira de Pesquisa Científica (SBPC), que trabalhou na elaboração do texto do projeto de lei em 2003, mediante solicitação do poder executivo, explicou que naquele momento não havia conhecimento suficiente que permitisse vislumbrar a manipulação com vistas a obtenção de células-tronco a partir dos embriões congelados nas clínicas de fertilização. Afirmou, então, que a proibição ocorreu por falta de conhecimento disponível e, subsequentemente, numa audiência no Senado, pontuou que as matérias (os transgênicos e as células-tronco) tramitassem em textos separados, sugerindo que o texto sobre as células- tronco fosse incluído no debate dos projetos de regulamentação da Reprodução Assistida (CESARINO, 2006). A pesquisadora se referiu ao inciso IV do artigo 6º do projeto de lei 2.401/2003 que tinha como objetivo a produção, armazenamento ou manipulação de

embriões humanos destinados a servir como material biológico disponível.

Neste período, tramitava pela Câmara um projeto de lei sobre a Reprodução Assistida (PL nº 1.184/2003)26 elaborado no mesmo ano do texto da primeira lei de Biossegurança. No texto do projeto não fica explicito a possibilidade de armazenamento dos embriões. No artigo 13 afirma-se que só poderá ser produzido e transferido para a mulher apenas dois embriões. Também não apresenta clareza sobre a possibilidade de descarte dos embriões, fazendo menção apenas aos gametas dos doadores, caso os mesmos decidam pelo descarte. Outro ponto que o texto não menciona, e deixa passível de interpretação, está no paragrafo dois do artigo 13: a redução embrionária27. Por não haver uma legislação especifica

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Este projeto de lei tramita no Congresso até os dias atuais. Quando realizei a ultima revisão dessa passagem do texto tive a curiosidade de consultar o tramite do projeto no site da Câmara. Atualmente, a última atualização do processo data de julho de 2012, o deputado João Campos recomendava uma audiência pública para esclarecimentos sobre o projeto. Ver em:

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=118275

27A prática de reprodução assistida considera que é preciso implantar vários embriões para que se obtenha êxito no processo. Quando há nidação (fixação do óvulo fecundado na parede do endométrio) de mais de um embrião a prática seguia o caminho da retirada, evitando assim riscos da gravidez múltipla. Não há nenhuma lei específica que legisle sobre o tema. Havia apenas uma resolução, a mencionada no texto, sobre a qual se

55 à época os embriões extranumerários armazenados nas clínicas de fertilização in vitro (FIV) deveriam ficar criopreservados até a decisão dos pais, pois uma resolução (nº 1.358/92)28 do Conselho Federal de Medicina proibia o descarte dos embriões.

Não havia nenhuma indicação por parte dos Poderes Legislativo e Executivo em regular mediante uma legislação específica (e ainda hoje não há tal legislação) o uso das pesquisas com células-tronco. Diante dos desenvolvimentos das pesquisas no circuito acadêmico internacional e com a preocupação de atraso em relação aos países que já estavam desenvolvendo pesquisas com embriões, diversos grupos de pressão se organizaram em torno da matéria, solicitando de tais poderes um posicionamento a respeito. Além dos grupos de pressão formados por especialistas que já pesquisavam células-tronco adultas29 (CTa) e empregavam com certos resultados positivos em tratamentos de doenças como cardiopatias (doença de Chagas e insuficiência cardíaca), de doenças autoimunes como o Diabetes tipo 1, além do Acidente vascular cerebral (AVC), havia grupos formados por pessoas que percebiam no tratamento a esperança para a cura das doenças.

Diante da pressão exercida pelos grupos, um projeto de lei que inicialmente foi elaborado para resolver o problema dos organismos geneticamente modificados ganhou status de uma lei elaborada para liberar o uso de pesquisas com células-tronco embrionárias em boa parte da opinião pública nacional. Internamente, o projeto não seguiu coeso nas duas matérias. Tanto os organismos geneticamente modificados quanto as células-tronco embrionárias mobilizaram atores que divergiam em opinião e estratégias. No caso das CTEs os arranjos parlamentares mobilizaram a bancada “cristã” (evangélicos e católicos) em torno da retirada dos artigos que liberavam as pesquisas com embriões. Em oposição estavam aqueles que

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