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3. Modelos de Regeneração urbana

3.3. S OCIEDADES DE R EABILITAÇÃO U RBANA

3.3.3. T RATAMENTO AO N ÍVEL DO Q UARTEIRÃO

3.3.3.1. Plano de Pormenor

Com base na informação reunida pelos estudos de base será possível proceder à delimitação das Unidades de Intervenção previstas na legislação. Segundo o art. 12º do DL n.º 104/2004 de 7 de Maio [32], caso as operações urbanísticas, previstas no âmbito destas unidades de intervenção, se insiram em zona para a qual não existe plano pormenor, compete à SRU notificar a Câmara Municipal para

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que esta se pronuncie sobre se entende conveniente ou necessária a elaboração de tal instrumento de gestão territorial.

Segundo o art. 91º do DL n.º 380/99 de 22 de Setembro [44], em termos de conteúdo material, há que considerar as seguintes competências do plano pormenor:

1. Sem prejuízo da necessária adaptação à especificidade da modalidade adoptada, o plano de pormenor estabelece, nomeadamente:

a) A definição e caracterização da área de intervenção identificando, quando se justifique, os valores culturais e naturais a proteger;

b) A situação fundiária da área de intervenção procedendo, quando necessário, à sua transformação;

c) O desenho urbano, exprimindo a definição dos espaços públicos, de circulação viária e pedonal, de estacionamento bem como do respectivo tratamento, alinhamentos, implantações, modelação do terreno, distribuição volumétrica, bem como a localização dos equipamentos e zonas verdes;

d) A distribuição de funções e a definição de parâmetros urbanísticos, designadamente índices, densidade de fogos, número de pisos e cérceas;

e) Indicadores relativos às cores e materiais a utilizar;

f) As operações de demolição, conservação e reabilitação das construções existentes; g) A estruturação das acções de perequação compensatória a desenvolver na área de

intervenção;

h) A identificação do sistema de execução a utilizar na área de intervenção.

2. O plano de pormenor pode ainda, por deliberação da câmara municipal, adoptar uma das seguintes modalidades simplificadas:

a) Projecto de intervenção em espaço rural;

b) Plano de edificação em área dotada de rede viária, caracterizando os volumes a edificar com definição dos iecífica de aproveitamento;

c) Plano de conservação, recuperação ou renovação do edificado;

d) Plano de alinhamento e cércea, definindo a implantação da fachada face à via pública; e) Projecto urbano, definindo a forma e o conteúdo arquitectónico a adoptar em área

urbana delimitada, estabelecendo a relação com o espaço envolvente.

Segundo o art. 92º do DL n.º 380/99 de 22 de Setembro [44], em termos de conteúdo documental, há ainda que considerar que:

1. O plano de pormenor é constituído por: a) Regulamento;

b) Planta de implantação;

c) Planta de condicionantes que identifica as servidões e restrições de utilidade pública em vigor que possam constituir limitações ou impedimentos a qualquer forma específica de aproveitamento.

2. O plano de pormenor é acompanhado por:

a) Relatório fundamentando as soluções adoptadas;

b) Peças escritas e desenhadas que suportem as operações de transformação fundiária /previstas, nomeadamente para efeitos de registo predial;

25 3. Os demais elementos que acompanham o plano de pormenor são fixados por Portaria do

Ministro do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território.

3.3.3.2. Documento Estratégico

De seguida, após tomada a decisão relativa à definição de uma concreta unidade de intervenção e, se aprovado o plano pormenor, compete à SRU elaborar o documento estratégico para a reabilitação da unidade em questão. Segundo o ponto 2 do art. 15º DL n.º 104/2004 de 7 de Maio [32], o documento estratégico deve conter:

1. A definição dos edifícios a reabilitar e a extensão das intervenções neles previstas;

2. A indicação dos respectivos proprietários, demais titulares de direitos reais e arrendatários; 3. Um projecto base de intervenção, no qual se descrevem as opções estratégicas em matéria de

reabilitação, designadamente no que concerne a habitação, acessibilidades, equipamentos, infra-estruturas ou espaço público, quando a intervenção inclua estas áreas, explicando sumariamente as razões das opções tomadas de modo a reflectir a ponderação entre os diversos interesses públicos relevantes;

4. A planificação e estimativa orçamental das operações a realizar;

5. A indicação dos eventuais interessados em colaborar com os proprietários na recuperação dos imóveis;

6. O auto de vistoria de cada uma das edificações, identificando o respectivo estado de conservação do ponto de vista da segurança, salubridade e estética.

3.3.3.3. Parcelamento

Na cidade, os factores para a formação do tecido urbano correspondem ao parcelamento, urbanização e edificação. A primeira situação, a divisão da propriedade, constitui o “cheio” do espaço urbano; a segunda corresponde à transformação de solo rural em espaço urbano e à infraestruturação e ligação entre as partes com o território envolvente e, por fim, a edificação diz respeito à construção segundo a dimensão do lote, cércea, tipologia, etc. [45].

O parcelamento do solo é hoje um dos itens de maior relevância, tanto sob o aspecto técnico como no jurídico, no que se refere ao ordenamento da cidade, principalmente na organização espacial de novas áreas urbanas. É através deste instrumento que o município pode exigir uma distribuição adequada dos lotes, equipamentos e vias públicas, bem como as suas respectivas dimensões, taxas de ocupação, áreas para recreação e outros usos comunitários e infraestrutura mínima. No parcelamento que estamos a analisar, e que está interligado com o anterior, trata-se da divisão territorial em parcelas, as quais devem ter igual importância na regeneração de uma cidade.

Sendo assim, várias são as teorias criadas ao redor destas decisões. Podemos destacar a teoria dos 10 minutos de Krier, em que a unidade parcelar é definida pelo movimento e percurso quotidiano do peão, com o objectivo fundamental de reduzir o tempo e espaço a percorrer entre a residência, trabalho e lazer [46]. Noguera destaca a definição de “sistemas de ordenação”, distinguindo por parâmetros as agrupações necessárias na proposta de normas e regulamentos e dividindo-se em: alinhamentos do plano de fachada; edificação isolada (tamanho da parcela, ocupação, volume edificável, distâncias aos limites, etc.) e pela definição da volumetria (características geométricas do volume) [41]. Já Testa, ao referir-se à arquitectura de Álvaro Siza Vieira, põe em causa a divisão em parcelas sem uma análise mais cuidada das razões para a fragmentação do sector. Siza Vieira procura “reunir esses fragmentos

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sem esconder a sua realidade, e aproximá-los de outros fragmentos”, induzindo muitas vezes espaço público para o interior do quarteirão [47].