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Neste grupo encontram-se organizadas todas aquelas razões que tocam fortemente os aspectos técnicos do uso destes softwares, o que eles trazem de benefício ao estado da arte do já constituído no campo da tecnologia.

a) A disponibilidade do código fonte - Melhorar e adequar o que for necessário. A disponibilidade do código fonte é uma das principais vantagens do uso do software livre. Ter acesso ao código fonte implica em conhecer o software, não como alguém que só conhece as aparências, mas como aquele que conhece a alma daquele programa. Devido ao acesso ao código, e se tenho os conhecimentos necessários sou capaz de manipular esse código promovendo alterações. Essas alterações podem servir para dois fins específicos:

a. 1) Melhorar: muitas vezes existem problemas que precisam ser solucionados; é preciso aumentar a performance do software em algum processo; necessita-se adicionar uma nova funcionalidade ou remover uma desnecessária, entre tantas outras razões pelas quais o acesso ao código fonte é fundamental para promover a melhoria do programa.

a. 2) Adequar: com o acesso ao código fonte, posso também customizar (adaptar) esse programa para que atenda as minhas necessidades específicas. Posso mudar suas cores, suas caixas de diálogo, seus menus, a sua forma de interação com o “usuário final”, traduzi-lo, alterar ícones, fotos, imagens; enfim, tenho a liberdade de adequá-lo da forma que eu quiser para que atenda às minhas necessidades.

b) O direito de redistribuir - Devido às licenças livres – me refiro aqui especificamente à GPL –, temos o direito garantido de redistribuir estes programas e suas alterações, sem infringir os direitos autorais daquele programa; isto é, não só poderei fazer uso pessoal desse programa e dos melhoramentos/adaptações que tenha feito para meu uso particular, mas também poderei compartilhar esse programa ou suas versões melhoradas com a comunidade.

Com a possibilidade de redistribuir o programa e todas as alterações, forneço à comunidade um material de grande valia. É muito provável até que se forme uma comunidade ao redor desse software, uma comunidade colaborativa como discutimos antes. Comunidade esta que virá a contribuir mais ainda para a melhoria do programa, para a correção de erros (bugs), para a sua publicação.

c) O direito de usar o software para qualquer fim - Embasados ainda na GPL, é garantido a nós o uso do software livre para qualquer fim. Esta liberdade é muito benéfica porque não se faz necessário pedir a um número exaustivo de pessoas a autorização para qualquer uso que se pense em fazer do programa. Se quero usá-lo na minha escola, eu simplesmente o uso; se agora quero adaptá-lo para usar na universidade, sou livre para fazê-lo; se quero novamente adaptá-lo para usar como ferramenta para a promoção de educação a distância, nada me impede de realizá-lo; tenho a liberdade garantida, sem incorrer em falta alguma.

d) Não somos reféns da tecnologia proprietária - Esta razão é apresentada por diversos dos autores citados no início deste tópico. O código fonte – entendido pelo European Working Group on Libre Software neste contexto como uma caixa preta, isto é, que armazena informações fundantes daquele programa –, caso se perca, todo o “segredo” do programa se perde junto com ele. É o que aconteceu e acontece com diversos softwares proprietários que, por não disponibilizarem seus códigos fontes, quando vêm a falir ou “saem do negócio”, com eles morre ou é soterrado toda e qualquer possibilidade de que outras pessoas venham a realizar alterações, melhorar, corrigir bugs, adaptar, manter esse programa. E mais, se somos fiéis clientes daquele programa, com ele acabamos por “afundar” também. O que resta ao cliente é migrar para a versão nova que o fornecedor tenha desenvolvido ou, caso descontinue o software, partir para uma outra empresa, para um outro software.

Se o fornecedor decidir, por razões que lhe são peculiares, descontinuar um produto, ou uma linha de produtos, para lançar uma ‘nova’ e ‘melhorada’ versão, os usuários não têm outra alternativa a não ser adotar esta nova versão e arcar com os custos da migração de seus sistemas (HEXSEL, 2002, p. 12).

Com o software livre não se corre esse risco porque, devido ao acesso ao código fonte, somos capazes de dar continuidade ao programa mesmo que a empresa que o mantêm retire seu financiamento ou abandone o mercado. É possível manter o desenvolvimento do software com programadores que tenham conhecimentos na linguagem de programação em que o programa foi feito sem qualquer limitação legal ou prática.

e) Não estamos sujeitos ao ciclo da obsolescência do hardware - Segundo Hexsel (2002, p. 13), as empresas incham os programas com funcionalidades e ferramentas, que ele chamou de cosméticas, sendo que grande parte dos usuários não as usam porque não tem utilidade, só tornam o programa maior (ocupando mais espaço em disco) e mais pesado (maior uso de memória RAM54 do

computador).

Este movimento de inchaço do software exige máquinas com mais espaço em disco e com maior memória (quando não exigem outras coisas, como uma placa de vídeo no caso de jogos), criando uma vinculação e um ciclo de dependência entre hardware e software, o que beneficia as grandes produtoras de equipamentos em seus acordos/parcerias com as grandes fabricantes de software. Um exemplo é a comparação entre alguns dos requisitos mínimos para hardware exigidos pelo MS Windows XP Professional, o MS Windows Vista Home Premium, e aproveitamos para apresentar os requisitos de uma das distribuições mais usadas no mundo livre, o Ubuntu. Veja o quadro abaixo:

Windows XP Pro55

Windows Vista Home Premium56 Ubuntu com Interface Gráfica57 Ubuntu sem Interface Gráfica³³ Processador Pentium 233 32 bits de 1 gigahertz ou

64 bits de 1 GHz Pentium 100 Pentium 100 Memória 64 MB (128 MB Recomendado) 1 Gigabytes (GB)128 Megabytes (MB) 32 MB Espaço em Disco (HD) 1,5 GB (Mínimo) 15 GB 2 GB 400 MB Outros recursos Unidade de CD- ROM ou DVD- Rom, etc 128 MB de memória gráfica, Unidade de DVD interna ou externa Unidade de CD- ROM Unidade de CD-ROM

54 Memória RAM (Random Access Memory), ou memória de acesso aleatório, é um tipo de memória que permite a

leitura e a escrita, utilizada como memória primária em sistemas eletrônicos digitais. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mem%C3%B3ria_RAM. Acesso em: 26 jul. 2007.

55 Disponível em: http://support.microsoft.com/kb/314865/pt-br. 56 Disponível em: http://support.microsoft.com/kb/919183. 57

O software livre tem uma forte vantagem sobre o proprietário porque normalmente não está submetido às pressões do mercado, ou pelos necessários lançamentos ou por acréscimo de funcionalidades para “encher os olhos” de ávidos compradores.

f) Outras vantagens - A partir dos resultados primários apresentados no texto “Pesquisa Impacto do Software Livre na Indústria de Software do Brasil” (SOFTEX, 2004, p. 8) foi possível levantar mais algumas vantagens tecnológicas de uso do software livre. Eis algumas delas:

Robustez: o software livre é normalmente utilizado em servidores de alto risco, devido à sua capacidade de suportar processos de alto grau de complexidade e exigência.

Segurança: essa vantagem é fulcral sobre o software proprietário. Aquele que não conhece o código fonte não sabe quais os processos que estão se passando por detrás do uso daquele software; isto é, esse programa pode estar capturando informações do seu computador (como o fazem os programas espiões) e, por não termos o acesso a esse código, somos vítimas fáceis de programas maliciosos (malwares)58. A própria Comissão Européia59, no ano de 2004,

exigiu que parte do código dos softwares da Microsoft fossem abertos para outras empresas no intuito de combater o monopólio da empresa. Sabe-se o quanto é arriscado confiar segredos de estado ou país em um programa que não se conhece na essência. Não é possível confiar na boa vontade, idoneidade de grandes corporações. Não estamos querendo gerar nenhum tipo de polêmica com essas afirmações, mas somente deixar claro que, no momento em que não conhecemos o código, podemos ser, ou já estamos sendo, vítimas de qualquer tipo de invasão à nossa privacidade, entre outros infortúnios. Qualquer empresa que tenha uma séria preocupação com a segurança não deveria usar qualquer tipo de software de código fechado.

Flexibilidade: o acesso ao código fonte nos dá um nível de flexibilidade inexistente no software proprietário. Temos a liberdade para adaptá-lo ao nosso bel prazer, modificá-lo para que atenda às nossas necessidades, da nossa instituição ou da nossa empresa. O programa pode usar as cores de nosso gosto, as fontes, a disposição dos objetos; enfim, qualquer coisa é customizável quando temos acesso ao código.

Qualidade: com freqüência, os projetos de software livre tem maior qualidade que os de software proprietário. Essa qualidade advém do movimento colaborativo que sustenta o software livre. Enquanto que no software proprietário o número de desenvolvedores,

58 O termo Malware é proveniente do inglês Malicious Software; é um software destinado a se infiltrar em um sistema

de computador alheio de forma ilícita com o intuito de causar algum dano ou roubo de informações (confidenciais ou não). Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Malware. Acesso em: 26 jul. 2007.

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testadores do software não é muito alto, no software livre temos testadores do mundo inteiro, centenas, milhares de pessoas usando, testando, apresentando erros, problemas, necessidades, propondo correções, traduzindo para as mais diversas línguas, refletindo acessabilidade, entre outras coisas. É este processo de colaboração que não se encerra em um laboratório de uma grande empresa, mas que tem o mundo por fonte de retroalimentação, que promove a geração de softwares de alta qualidade, como os que têm sido produzidos, fruto de um saber compartilhado.

Estabilidade: os softwares livres, em sua grande maioria, são muito mais estáveis que os proprietários. Incorrem em menos problemas, em menos erros ou finalizações inesperadas, travamentos e coisas do gênero.

Confiabilidade/Transparência: quando conhecemos o código e nos apropriamos dele, podemos estar mais tranqüilos com relação ao que “está rodando por detrás”, quais as rotinas, procedimentos que este ou aquele software está realizando que nos escapa aos olhos. O software é transparente para nós, não há nada de oculto. Esta vantagem tecnológica está diretamente vinculada à segurança.

Disponibilidade: o software livre, pela sua própria natureza de software público, compartilhado e sem restrições de direitos autorais para disponibilização na web, se torna muito mais comum, mais partilhado, por isso mais acessível. Pode estar disponível em qualquer página da web, no meu ou no seu site, sem nenhum problema.

Privacidade: com o software livre, o respeito à nossa privacidade pode ser atestado devido à possibilidade de acesso ao código fonte.

Escalabilidade: o software livre é capaz de atender a simplicidade de uma pequena empresa ou instituição como também a magnitude de uma empresa gigante, sejam elas máquinas PCs ou servidores.

Interoperabilidade: o software livre propicia uma maior aderência a padrões de interoperabilidade60.

Disponibilidade de “recursos humanos” qualificados: com o crescimento do número de “usuários finais” e de empresas usuárias do software livre, aumentou no mercado a demanda por profissionais qualificados para atenderem essa demanda específica. Ao mesmo tempo, cresceu a quantidade de cursos, de pós-graduações relativas a esses softwares. O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC - http://www.senac.br) tem proporcionado

60

Interoperabilidade é a capacidade de um sistema (informatizado ou não) de se comunicar de forma transparente (ou o mais próximo disso) com outro sistema (semelhante ou não). Para um sistema ser considerado interoperável, é muito importante que ele trabalhe com padrões abertos. Disponível em:

com freqüência cursos de programação usando linguagens livres e sobre o GNU/Linux. E quanto menos empresas e o governo brasileiro comprarem softwares importados, enviando royalties para o exterior, mais poderá ser investido nos profissionais locais, em tecnologias genuinamente brasileiras.

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