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CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2 Intervenções

2.2.4 Razões das intervenções

Neely (2000) efetuou uma pesquisa com diversos bancos centrais de diferentes países sobre as principais razões de efetuarem intervenções. A conclusão seria que, em geral, se trata de uma defesa contra movimentações de curto prazo. Outra visão comum seria a de corrigir desalinhamentos de médio prazo, que seriam destoantes dos valores fundamentalistas. Mais raras seriam justificativas como limitar alterações sobre preços, defesa de determinada cotação ou incremento das reservas internacionais.

Outra hipótese mencionada pelo autor nesse mesmo artigo dá conta do desejo de rentabilidade sobre as intervenções. O autor cita que, no passado, as autoridades monetárias sofriam prejuízos com tais políticas, mas que este quadro tem se alterado na atualidade. Esta hipótese, no entanto, foi claramente rejeitada pelos respondentes em tal questionário (NEELY, 2000).

Entre as razões para intervenções indicadas por Edison (1993) estariam: acalmar mercados desordenados, influenciar o movimento das cotações das moedas, direcionar a cotação de determinada moeda ou suportar operações de câmbio de outros bancos centrais. Segundo o autor, os estudos sobre o tema concluem que, em geral, as intervenções teriam o objetivo de

direcionar a cotação de determinada moeda ou suavizar a oscilação nas cotações. Seu artigo indica que as intervenções podem, inclusive, ter efeito simplesmente através da sinalização que tais políticas geram, mas que este efeito é temporário.

Já de acordo com Schwartz (2000), a correção de mercados desordenados pressupõe um sentido de ajuste em datas de movimento acima ou abaixo da média diária daquela moeda, mas lembra que moedas são geralmente menos desordenadas que outros ativos como commodities. O funcionamento desta desordem se dá pela antecipação de mudanças em determinados fatores econômicos, originando volatilidade como conseqüência de ajuste de carteira por parte dos investidores.

Macfarlane (1993) corrobora com esta visão em sua resenha publicada pelo Reserve Bank of Australia, indicando que as intervenções são contribuições no sentido de reduzir a extensão e duração de exageros. O autor menciona que este desejo de trazer estabilidade pode ter o objetivo de atuar através de causas de curto prazo, como quando os mercados ameaçam reagir em demasia a notícias, ou causas de médio prazo, como movimentos baseados em fundamentos que foram longe demais.

Um artigo de autoria de Taylor (1982) observa que a maioria dos bancos centrais opera “contra o vento”, em toda oportunidade que buscam moderar o sentido dos movimentos das moedas. O valor da moeda, como o preço de qualquer outro ativo, transmite informação e fornece incentivo a agir conforme esta informação. Distorções sobre este preço levam à má alocação de recursos, portanto retardando o ajuste quando mudanças no equilíbrio impedem o câmbio de realizar sua função ideal. O autor mencionado indica, portanto, que o objetivo das intervenções deveria ser promover eficiência econômica, e não moderar o movimento das moedas.

Na conclusão de seu artigo, Taylor (1982) avalia que os bancos centrais perdem consistentemente do mercado, e que os especuladores podem ter se beneficiado desta aposta (o artigo avaliou resultados dos bancos centrais da Alemanha, Itália, Espanha, Suíça, Canadá, Reino Unido, França e Estados Unidos).

Williamson (1993) argumenta que a regra mais importante para seguir quando existe o objetivo de intervir é que a autoridade monetária não deve buscar defender aquela que é

claramente uma taxa de câmbio desequilibrada, segundo critérios macroeconômicos. Esta discussão sobre taxa de câmbio adequada tem sido muito freqüente no Brasil, especialmente por fruto de críticas de exportadores, que argumentam perda de competitividade internacional. Kenen (1987) complementa esta visão acrescentando que uma grande crítica atual ao regime de câmbio flutuante é uma possível adoção de políticas protecionistas, quando a moeda local se aprecia.

Outro artigo aponta as características necessárias para intervenções de sucesso. Neste caso, o documento elaborado por Chaboud e Humpage (2005) conclui sobre a influência de variáveis como tamanho, freqüência, coordenação entre países (no caso desse estudo, EUA e Japão), além da antecipação do mercado aos movimentos. O resultado desse estudo é que, no período em análise, e para o caso japonês, as intervenções não foram capazes de direcionar a taxa de câmbio. No entanto, as variáveis que mais se destacaram em influência foram volume da intervenção japonesa e volume coordenado entre os países EUA e Japão.

Hauner (2006) indica em seu estudo que reservas além do nível ótimo criam custos ao invés de benefícios, dado que as reservas têm um custo de oportunidade fiscal que poderiam ser alternativamente utilizadas para financiar investimentos públicos ou para pagar dívidas, reduzindo custos de juros. Seu estudo concluiu que a maioria dos países estudados obteve resultados positivos a partir de suas reservas entre os anos de 1990 e 2001, e resultados negativos entre 2002 e 2004.

Outra análise, esta de Aizenman e Marion (2004), indica que fatores políticos têm alta influência na determinação do nível ótimo de reservas. Esse estudo identificou que a probabilidade de mudanças na administração do país e também da existência de corrupção exercem influência sobre a determinação da quantidade de tais reservas. Isto dado que grupos diferentes tendem a manter interesses distintos e de se beneficiar de oportunidades existentes, o que reduziria a motivação de um grupo político de, por exemplo, incrementar reservas internacionais caso estas somente venham a gerar propaganda positiva a seus sucessores.

Em um estudo empírico junto a Bancos Centrais, Neely (2006) pesquisou autoridades monetárias de 52 países, obtendo 23 respostas sobre a percepção de cada respondente com relação a políticas de intervenção. O resultado obtido indicou que os respondentes não acreditam que intervenções aumentam a volatilidade do mercado.

Humpage e Ostergerg (2000) concluem que intervenções na moeda são ineficientes se tomadas de forma independente da política monetária, mas, por outro lado, tomar as intervenções como uma meta da política monetária pode comprometer a estabilidade dos preços.

Argumentando sobre a necessidade de políticas de intervenções regulares, Williamson (1986) defendeu seu uso, especialmente quando combinadas a políticas monetárias, para a manutenção do valor da moeda em um intervalo aceitável, previamente definido e declarado. Estas políticas evitariam custos desnecessários para a economia e volatilidade especulativa.

Moreno (2005) participou de um estudo promovido pelo BIS (Bank for International Settlements) sobre as intervenções em mercados emergentes, que culminou com a publicação de um extenso documento sobre o tema. Em sua abordagem, o autor elaborou um quadro (2.1) sobre as razões que identificou para a existência das intervenções.

Quadro 2.1 - Razões para intervenções

Objetivos Específicos das

Intervenções Controlar a inflação

Balança Externa, Crescimento, Alocação

Eficiente de Recursos

Manter Estabilidade Financeira (Prevenir-se a Crises ou Mercados Desordenados) A - Influenciar a taxa de câmbio

(bandas, barreiras, etc,

anunciados ou não) x x x

B - Suavizar a volatilidade x x x

I - Responder simetricamente a

volatilidade x

II - Prevenir contra movimentos

excessivos (sem alvo fixo) x x x

III - Resistir a movimentos muito

rápidos x x x

IV - Manter a liquidez no mercado

de moedas estrangeiras x

C - Influenciar o volume das

reservas internacionais x

Objetivos Macroeconômicos Taxonomia das Intervenções no Mercado de Câmbio

Fonte: traduzido do relatório BIS n. 24: Foreign Exchange Market Intervention in Emerging Markets: Motives, Techniques and Implications

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