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A terapia por componentes sanguíneos não está isenta de riscos. Desconhece-se a frequência com que as reações transfusionais ocorrem em cães e gatos porque o aspecto mais negligenciado, mas provavelmente o mais importante da hemoterapia, é a monitoração durante e depois da administração do sangue na maioria das situações clínicas (KRISTENSEN; FELDMAN, 1997).

A monitoração deve ser feita para verificar se os componentes sanguíneos administrados tiveram o efeito pretendido (o Ht aumentou adequadamente? o sangramento foi interrompido? O paciente hipovolêmico estabilizou? A proteína total aumentou?), e para detectar qualquer efeito adverso da administração (KRISTENSEN; FELDMAN, 1997).

Devem ser observados como aspectos gerais a temperatura retal, pulso, freqüência respiratória, coloração das membranas mucosas, tempo de preenchimento capilar, hematócrito, proteína total plasmática, tempo de coagulação ativada, plaquetometria pós transfusão, freqüência respiratória, coloração das mucosas e tempo de preenchimento capilar, e observar toda e qualquer alteração do paciente (KRISTENSEN; FELDMAN, 1997).

Como aspectos específicos, devemos avaliar a presença de anemia 1, 24 e 72 horas após a transfusão, devendo ser feito hematócrito e dosagem de proteína total plasmática; coagulopatia 1 hora pós transfusão, sendo necessário observar o tempo de coagulação ativada; trombocitopenia 1 hora pós transfusão, exigindo plaquetometria, e hipoproteinemia 1 hora pós transfusão, devendo ser feita a dosagem de proteína total plasmática (KRISTENSEN; FELDMAN, 1997).

As reações adversas à transfusão são mais freqüentes quando se usa sangue total do que quando se usa os componentes sanguíneos. Elas podem se originar da preparação, armazenamento ou administração inadequada. São classificadas em imunes imediata e tardia e não imunes imediata e tardia (BISTNER; FORD, 1997; TAFFAREL;CUNHA, 2003).

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Em geral, as reações imediatas ocorrem dentro de 2 a 4 horas após a transfusão, e as reações tardias ocorrem após dias, semanas ou até mesmo meses (KRISTENSEN; FELDMAN, 1997).

.As reações imunes imediatas são hemólise, reação alérgica e reativação de leucócitos e plaquetas. A hemólise resulta da destruição dos eritrócitos do doador durante ou logo após a transfusão, por isoanticorpos. Hemólise aguda é um evento raro na primeira transfusão em cães, porém em gatos, onde a ocorrência de isoanticorpos é alta, um pequeno volume de sangue incompatível pode resultar em grave hemólise (BISTNER; FORD, 1997; TAFFAREL;CUNHA, 2003).

A reação é caracterizada por depressão, arritmia, apnéia e sinais de choque. Alguns pacientes podem apresentar sialorréia, vocalização, micção ou defecação com subseqüente taquipnéia e taquicardia. Pode ocorrer também hemoglobinúria e hemoglobulinemia, coagulação intravascular disseminada, insuficiência renal oligúrica aguda e morte (BABO, 1998; BISTNER; FORD, 1997; DUNN, 2001).

Em pacientes anestesiados, o único sinal pode ser a hipotensão inesperada ou o aumento da transudação capilar (LEITÃO, 2003).

Diante deste quadro, a transfusão deve ser interrompida, deve ser administrada Dexametasona na dosagem de 4 mg/kg IV e Furosemida. A terapia para corrigir choque deve ser instituída se for necessário e a monitoração da produção de urina e do tempo de coagulação e heparina 75 UI/kg SC deve ser avaliada a cada seis horas (se não houver sangramento) (BISTNER; FORD, 1997;. BOOTHE, 2003).

As reações alérgicas são, normalmente, reações de hipersensibilidade do tipo I a proteínas estranhas ou outro material estranho encontrado no componente do sangue. Os sinais clínicos são edema facial, prurido, urticária, sialorréia, vômito, broncoespasmo, tosse, dispnéia e anafilaxia. Em sua maioria, as reações são resolvidas após a administração de anti- histaminicos, corticóides e adrenalina caso a reação seja severa (BABO, 1998; COTTER; RENTKO, 1996).

A reativação de leucócitos e plaquetas é causada por antígenos, provocando pirexia, calafrios, dispnéia edema pulmonar e taquicardia. A transfusão deve ser interrompida. Geralmente a reação é autolimitante mas, caso se desenvolva uma síndrome de distúrbio respiratório agudo, deve-se administrar dexametasona, furosemida e aminofilina (BISTNER; FORD, 1997; HOSKINS; AUTHEMENT, 1993).

As reações imunes tardias são hemólise e púrpura. A reação hemolítica tardia é resultado da redução do tempo de vida das células transfundidas. Nos gatos está associada à

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indução de formação de anticorpos por antígenos eritrocitários em pacientes com tipo sanguíneo A sem isoanticorpos anti-B, e em cães, à indução de anticorpos anti DEA 1.1 e DEA 1.2 e outras células resultantes de transfusão anterior (BISTNER; FORD, 1997; TAFFAREL; CUNHA, 2003).

Normalmente, o paciente se apresenta assintomático, exceto pela anemia devido à rápida queda do hematócrito. Bilirrubinemia e bilirrubinúria também podem ser observadas (TAFFAREL; CUNHA, 2003).

É geralmente autolimitante, mas deve ser administrado plasma rico em plaquetas se o sangramento for severo (BISTNER; FORD, 1997).

Deve ser realizado teste de Coombs e, para transfusões futuras, reação cruzada e tipificação (ANDRADE, 1997; BISTNER; FORD, 1997).

As células transfundidas são removidas da circulação em 1 a 3 semanas após a transfusão. A púrpura é causada pelo produto ou presença de isoanticorpos plaquetários. Tem como sinais petéquias, equimoses e anemia (BISTNER; FORD, 1997).

As reações não imunes imediatas são sobrecarga circulatória, sépsis, coagulopatia, embolia com ar, microembolia pulmonar, hipocalcemia e hipotermia:

A sobrecarga circulatória é causada pela administração de volume excessivo de sangue em pacientes com doença cardiovascular. Os sinais clínicos são tosse, dispnéia, vômito, sinais de edema pulmonar e insuficiência cardíaca congestiva. A medida necessária é a redução da velocidade da transfusão ou sua interrupção e administração de Furosemida (BABO, 1998; LEITÃO, 2003; MICHELL, 1991).

A sepse é causada pelo crescimento bacteriano no componente sanguíneo. Seus sinais são pirexia, calafrios, náusea, vômito, diarréia e choque. A transfusão deve ser interrompida e ser feito exame de sangue com coloração de Gram e instituída antibioticoterapia (DUNN, 2001; HOSKINS; AUTHEMENT, 1993)

A Coagulopatia é causada por transfusão maciça (diluição dos fatores de coagulação), e o sinal clínico observado é o sangramento. Deve ser monitorada a hemostasia e deve ser feita reposição dos fatores de coagulação (LEITÃO, 2009)

A embolia gasosa é causada pelo ar entrando durante a administração do sangue. Os sinais são dor, tosse e dispnéia. O paciente deve ser colocado sobre seu lado esquerdo para aliviar os sintomas (BISTNER; FORD, 1997; MICHELL, 1991).

A microembolia pulmonar é causada por restos teciduais (plaquetas e fibrina) e o animal apresenta tosse, dispnéia e pirexia. É necessário interromper a transfusão e utilizar equipos com filtro para se evitar a ocorrência deste problema (BISTNER; FORD, 1997).

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A hipocalcemia é causada por excesso de citrato, caso não haja preenchimento suficiente das bolsas. O citrato pode quelar o cálcio fora do plasma, causando a hipocalcemia. Os sinais clínicos são tremores, inquietação, vômito, arritmias e tetania. A administração do sangue deve ser lenta e também deve ser administrado gluconato de cálcio 10% (50 a 150 mg/kg) pela via endovenosa (BABO, 1998; BOOTHE, 2003).

A hipotermia é causada pela administração de componentes sangüíneos frios. Tem como sinais calafrios e queda da temperatura corporal. O sangue deve ser aquecido antes da transfusão e também deve ser utilizado um colchão térmico (BISTNER; FORD, 1997; DUNN, 2001).

A reação não imune tardia que ocorre é a transmissão de doenças. Esta vai ocorrer se o sangue for contaminado por bactérias, vírus ou hemoparasitas. Os sintomas clínicos observados vão depender da doença transmitida. Para que esta reação possa ser evitada deve- se conferir o manejo dos doadores e a manipulação das bolsas de sangue (ANDRADE, 1997; BOOTHE, 2003).

Pode-se administrar difenidramina a 0,5 mg/kg, IM ou IV, 15 minutos antes da transfusão para ajudar a minimizar as reações transfusionais. A administração IV deve ser evitada em gatos, devido ao risco de desenvolvimento de hipotensão. (KRISTENSEN; FELDMAN, 1997).

As reações de transfusão são raras nos gatos mas, quando ocorrem, podem ameaçar a vida do paciente. Os sinais clínicos são passar as patas na face, taquipnéia, inquietação, febre, urticária e vômito. Se forem observados esses sinais, deve-se interromper a administração de sangue imediatamente, e iniciar a administrar de solução Ringer-lactato aquecida e hidrocortisona 50 mg EV (BISTNER; FORD, 1997).

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