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REABILITAÇÃO DE PAVIMENTOS RODOVIÁRIOS FLEXÍVEIS

A necessidade de garantir uma adequada conservação/reabilitação do grande parque de autoestradas e vias rápidas que Portugal e as suas Regiões construíram nas últimas décadas deu lugar a um “boom” dessa atividade. Como já acontece nos países e regiões mais desenvolvidas, em detrimento da construção de novas estradas, tende, cada vez mais, para a área de conservação/reabilitação uma maior parcela dos investimentos públicos (Branco, Pereira, & Santos, 2011), diretos ou indiretos.

Devido à degradação dos pavimentos, torna-se necessário potencializar ações de reabilitação dos pavimentos rodoviários, ao longo do seu período de vida, para que possam fornecer as qualidades mínimas exigidas pelos utentes: comodidade, segurança e economia.

As degradações têm dois tipos de interferência com a qualidade do pavimento: a qualidade funcional, que diz respeito à qualidade de circulação captada pelos utilizadores; e a qualidade estrutural, relacionada com a aptidão do pavimento para resistir às cargas dos veículos.

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Convém ressaltar que estes dois tipos de interferências estão frequentemente interligados entre si (p.e., a existência de fendilhamento à superfície do pavimento originados pela variação de temperatura, permite a entrada de água para o interior da estrutura, o que conduz, à redução da capacidade estrutural das camadas granulares).

2.4.1. Reabilitação das características funcionais

Uma reabilitação deste tipo pretende recuperar as características superficiais iniciais de um pavimento ou simplesmente melhorar algumas características que, entretanto, se tenham deteriorado. As técnicas utilizadas a este nível servem assim, sobretudo, para reabilitar características como a rugosidade, a regularidade longitudinal e transversal e a impermeabilidade da camada de desgaste. Incrementos na redução de ruído, principalmente em zonas urbanas, e na drenabilidade, para diminuir a projeção de água, são também propósitos de reabilitações funcionais.

A reabilitação funcional não deve de ser aplicada a pavimentos com importantes lacunas estruturais, como deformações, sendo apenas indicada para a reabilitação de pavimentos levemente fendilhados ou com desagregação.

Todas as técnicas de conservação ou reabilitação das características superficiais consistem no uso de camadas betuminosas delgadas, com pequena alteração da cota da camada de desgaste, sendo, regra geral, soluções económicas e de rápida execução.

As técnicas para reabilitação das características superficiais mais conhecidas e utilizadas em Portugal (Branco, Pereira, & Santos, 2011) são:

Revestimentos betuminosos superficiais, que consistem na aplicação de camadas de

desgaste delgadas, resultantes da sobreposição de uma ou mais camadas de ligante betuminoso e de agregado, de forma alternada, sobre o pavimento existente. Quando se procura apenas melhorar a rugosidade oferece das melhores relações custo/beneficio.

Microaglomerado betuminoso a frio, consiste na aplicação de uma mistura betuminosa a frio

com emulsão betuminosa, geralmente modificada, realizada “in situ” e posteriormente espalhada sobre o pavimento no estado fluído numa camada muito delgada. Trata-se de uma técnica bastante útil para a impermeabilização da camada principal, permitindo também melhorias no que concerne à rugosidade e aderência do pneu ao pavimento.

Lama asfáltica (Slurry Seal), é bastante semelhante ao microaglomerado betuminoso a frio,

tendo como única diferença o fato de se recorrer a agregados de menor dimensão. Proporciona reduzida macro e microrugosidade, a qual diminui a aderência dos pneus ao pavimento, principalmente quando o piso se encontra molhado.

Argamassa betuminosa, consiste numa mistura betuminosa concebida essencialmente para

executar interfaces retardadoras do processo de propagação de fendas (SAMI), pois adapta- se bem a deformabilidades acentuadas.

Betão betuminoso (BB), a sua produção é concebida em central a quente, pela junção do

ligante de betume puro a agregados britados. O betão betuminoso é das misturas betuminosas mais utilizadas em camadas de desgaste com espessura normalmente até 5 cm.

Betão betuminoso drenante (BBD), é aplicado como camada de desgaste e tem o intuito de

melhorar a segurança e comodidade de circulação do utente. Este tipo de mistura foi desenvolvido para melhor drenar a água da superfície melhorando a visibilidade e diminuindo o risco de hidroplanagem. Contudo, devido à elevada percentagem de vazios (20 a 25%), que também reduz o ruído, apresenta uma menor resistência aos efeitos abrasivos do tráfego. As misturas rugosas, em particular o betão betuminoso rugoso (BBR) e o microbetão

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maior segurança e redução do ruído de circulação. Em comparação com o BBD, têm uma maior percentagem agregados finos, conferindo-lhe maior resistência à ação abrasiva do tráfego.

2.4.2. Reabilitação das características estruturais

A reabilitação estrutural consiste na execução de uma ou mais camadas (desgaste, regularização e base) e, caso necessário, de outros trabalhos complementares (p.e., melhoria no sistema de drenagem).

As técnicas de reabilitação estrutural são soluções a longo prazo, geralmente para 10 a 20 anos, que, para além de permitirem melhorias na capacidade estrutural do pavimento, possibilitam melhorias nas características superficiais do mesmo, dado que estas técnicas implicam sempre a aplicação de uma nova camada de desgaste (Miranda & Pereira, 1999). Este tratamento consiste no reforço do pavimento com misturas betuminosas a quente, tendo como principal objetivo o aumento da sua capacidade estrutural. No caso de os pavimentos não apresentarem grandes degradações nem condicionamentos de cota, é aplicado uma camada de betuminoso sobre o pavimento existente, depois de se proceder a pequenas reparações ao nível de selagem de fendas, tapagem de covas, melhoramento da drenagem, etc.

Atualmente existem várias técnicas de reabilitação estrutural de pavimentos flexíveis que passam pela colocação de uma camada de reforço no pavimento existente ou pela reciclagem do pavimento, de maneira a eliminar as fendas presentes.

Havendo limitações ao aumento da cota do pavimento, pode optar-se por utilizar betumes modificados, que permitem diminuir as espessuras das camadas a executar.

A adição de polímeros aos ligantes/misturas betuminosas confere-lhes uma melhoria significativa, nomeadamente na sustentabilidade térmica e na flexibilidade (Sousa, Vorobiev, Ishai, Svechinsky, & Sousa, 2012). Embora a adição de polímeros virgens cumpra com o objetivo de melhorar as propriedades da mistura betuminosa, a utilização de polímeros reciclados deve ser preferida por preocupações ambientais.