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CAPÍTULO 2: Questões teóricas e metodológicas

2.2 Reagrupamento dos setores de atividades econômicas segundo o conceito de técnica

Como explicitado, a RMVPLN está dividida em três eixos de residência que refletem distintos níveis de tecnificação do espaço. Contudo, torna-se necessário, também, caracterizar os “sistemas técnicos” que conformam cada um desses eixos, bem como os sistemas produtivos que os qualificam. Para tanto, tornou-se necessário adotar um quesito dos censos demográficos, fonte de dados utilizada neste trabalho, que refletisse a característica do “sistema técnico” vigente em cada sub-espaço adotado para análise. Portanto, este capítulo apresenta a compatibilização das estruturas de atividades dos censos de 1991, 2000 e 2010, que são baseadas na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), segundo o conceito de tecnificação do espaço.

Quanto aos censos demográficos, observaram-se algumas mudanças metodológicas na definição dos conceitos, quesitos e coletas. Uma dessas transmutações diz respeito ao período de referência de coleta de dados: no censo de 1991 era de 12 meses, sendo que nos posteriores foi adotada uma semana como referência temporal. Para Dedecca e Rosandisk (2003), a modificação aperfeiçoou as informações sobre as condições da população economicamente ativa e as condições de emprego e desemprego nos ambientes urbanos. Contudo, para Siqueira (2009), uma mudança na semana de referência dessa magnitude influencia nos indicadores da população desocupada, principalmente em função das atividades agrícolas sazonais.

Portanto, considerou-se parte da população economicamente ativa a pessoa ocupada ou desocupada, mas procurando trabalho nos últimos 12 meses. Essa referência de 12 meses mudou para uma semana nos censos de 2000 e 2010. Outra variação relevante foi a mudança no critério que define a pessoa ocupada: no censo de 1991, considerou-se pessoa ocupada aquela que, nos últimos 12 meses, exerceu alguma atividade - com ou sem remuneração - habitualmente por pelo menos 15 horas semanais, porém, nos censos de 2000 e 2010, as horas trabalhadas diminuíram para uma hora semanal. Para efeito de comparação, adotou-se a metodologia do censo de 1991. Assim, para ambos os censos, considerou-se como pessoa ocupada a que exerceu atividade - com ou sem remuneração -

por no mínimo 15 horas semanais.17 Observa-se na literatura, por exemplo, no trabalho de Siqueira (2009), a mesma adoção metodológica.

Quanto à classificação de atividades e de ocupações adensadas na CNAE e na CBO (Classificação Brasileira das Ocupações), notam-se algumas mudanças metodológicas, como a adoção de alguns parâmetros nos censos mais recentes, e um detalhamento e uma divisão maior nas estruturas de atividades. Para amenizar as diferenças e equiparar as estruturas, optou-se pela compatibilização das estruturas de atividades proposta por Siqueira (2009). A autora concilia as atividades dos censos de 1991 e 2000, sendo que o mesmo procedimento e parâmetros foram seguidos para o recenseamento de 2010.

A partir dessa harmonização, adaptou-se a divisão de atividades proposta por Siqueira (2009) para os conceitos que são as bases desse trabalho. Quanto às atividades industriais, buscou-se seguir, também, os parâmetros do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), que classifica a indústria como de alta, média e baixa tecnologia, as indústrias de alta tecnologia seriam aquelas que se aproximam das atividades produtivas que caracterizam o meio técnico-científico-informacional.

Como apresentado no capítulo 1, Santos e Silveira (2005), periodizaram a história do território brasileiro segundo o processo de tecnificação do espaço em três períodos, sendo eles: o período pré-técnico, em que se observa o predomínio da natureza e o início das transformações do espaço; o período dos diversos meios técnicos, que vai da industrialização incipiente à consolidação da industrialização. E, por fim, a atual fase denominada meio técnico-científico-informacional, no qual a constituição do espaço se dá através da aliança entre ciência, tecnologia e informação.

Contudo, atualmente é difícil identificar um espaço onde exista o predomínio de apenas um sistema pontuado anteriormente, ou seja, onde coexistam apenas as atividades

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A adoção do conceito de pessoa ocupada como aquela que exerceu alguma atividade, com ou sem remuneração, no mínimo por 15 horas semanais, nos recenseamentos de 2000 e 2010 resultou no declínio no número absoluto de pessoas ocupadas, em algumas atividades. No decorrer da manipulação dos dados, viu-se necessário observar a redução do “N” de algumas atividades segundo alguns conceitos adotados. Quanto a este critério, observou-se que as pessoas inseridas nas atividades que perpassam o meio técnico-científico- informacional, possuem uma carga de horas de trabalho inferior às demais atividades. Portanto, a adoção do critério para compatibilidade resultou na redução no número absoluto de algumas classes de atividades.

que caracterizam o período pré-técnico ou meio técnico-científico-informacional, ou ainda onde o último período não tenha adentrado, principalmente com as novas tecnologias de comunicação. Até mesmo o rural já internalizou essas técnicas, dificultando a velha dicotomia rural-urbano.

Considerando tais conceitualizações e limitações, o presente trabalho reagrupa a CNAE segundo a modernidade do trabalho, e considera que as atividades modernas seriam aquelas relacionadas ao “trabalho novo” (JACOBS,1969), em que há cientifização do trabalho.

Portanto, o reagrupamento da CNAE foi feito segundo a divisão proposta por Siqueira (2009), a periodização da história apresentada por Santos e Silveira (2005), o conceito de técnica (SANTOS, 2002) e de “trabalho novo” (JACOBS, 1969), sendo assim a classificação foi adaptada e reagrupada em quatro grandes classes: atividades que não produzem o trabalho novo, atividades que caracterizam o período dos diversos meios técnicos18, atividades que refletem o trabalho novo e o meio técnico-científico- informacional e atividades mal definidas.

A primeira classe de atividades adensa a maior parte da PEA, e abrange atividades agrícolas, de criação de animais, extrativas, de construção, administração pública, prestação de serviços (relacionadas ao terciário) e algumas atividades industriais de característica mais manual. Sobre essas classes, não é certo afirmar que elas não abarcam o meio técnico-científico-informacional, já que, para Santos (2002), existe uma unicidade da técnica nesse período. Na realidade, a própria agricultura se modernizou e internalizou processos científicos, por exemplo, a produção de alimentos transgênicos. Contudo, parte desta cientifização, que é internalizada pelo campo, é produzida em instituições de pesquisa (tais como a Embrapa). Portanto, são essas as instituições que criam o “trabalho novo”. Por essa razão, ponderou-se necessário abarcar essas atividades em um grupo em que, mesmo internalizando ferramentais do período atual, não produzem o trabalho moderno. O próprio

18 Como explicitado no capítulo um, Santos e Silveira (2005) dividem a história da construção do território

brasileiro por intermédio da história das técnicas, ou seja, através da história dos instrumentos de trabalho e sociais, em três grandes fases. Assim, o período dos diversos meios técnicos é aquele que vai da incipiente industrialização brasileira até a consolidação da mesma, ou seja, do inicio dos anos de 1930 até o final da década de 1970.

setor terciário, segundo Sassen (1994), é fundamental para as atividades globais, ou seja, para as atividades que evolucionam os sistemas técnicos.

Já a segunda grande classe abrange as atividades industriais que caracterizaram o país no processo de industrialização, bem com as atividades relacionadas à saúde, educação e o setor de logística. Para Santos e Silveira (2005), o setor de transporte intermedia os setores do circuito inferior e superior e as atividades auxiliares à indústria.

A terceira classe é a que caracteriza o meio técnico-científico-informacional, que alia atividades onde há constante incorporação de ciência, informação e tecnologia, bem como as atividades financeiras, já que o processo de financeirização do espaço é fato crucial nessa nova etapa.

A última classe representa um grupo de atividades na CNAE sem definição e também aquelas que, devido ao detalhamento da classificação ao longo dos censos, não se encaixaram em nenhuma das classes pré-definidas.

Assim, o apêndice I detalha a estrutura de divisão das atividades e seus respectivos códigos nos censos demográficos de 1991, 2000 e 2010.