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1 (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NA SOCIEDADE CAPITALISTA

2. METROPOLIZAÇÃO E METRÓPOLES NO BRASIL E NA AMAZÔNIA: CONSTITUIÇÃO DE ANANINDEUA COMO MUNICÍPIO METROPOLITANO

2.3. REALIDADE PERIURBANA NA AMAZÔNIA: AFINAL DO QUE SE TRATA?

O debate acirrado acerca do efetivo entendimento dos dilemas e conflitos relacionados às dimensões regionais e territoriais do país vem ocorrendo com maior frequência no período pós década de 1990, momento em que se afirmam instâncias legais que discutem de modo jurídico-institucional à problemática das cidades (Ministério das Cidades, Estatuto das Cidades e Política Nacional de Desenvolvimento Urbano) visando dar conta da compreensão dos reais processos ocorridos na histórica ocupação do território rural e urbano no Brasil e especificamente na região amazônica.

No âmbito destas discussões merece destaque o aprofundamento da compreensão acerca das diferentes formas de produção dos espaços urbanos e rurais existentes nos municípios brasileiros com maior ênfase para a Amazônia e para o Nordeste, tendo em vista que nestas áreas ocorrem problemas urbanos específicos e peculiares aos modos de vida existentes, técnicas que são próprias de manejo dos recursos naturais, os saberes coletivos oriundos das diversas manifestações étnico- culturais e relações sociais características da reciprocidade cotidianamente vivenciada pelo homem com os ecossistemas.

Nesse quadro a importância de discutir as especificidades do tema principalmente quando visualizado a partir das condicionalidades das regiões anteriormente apontadas, se enquadraria como um desafio de realizar uma analise não segmentada, tal como defende Castro (2006), mas de entender esse processo enquanto parte inseparável da dinâmica territorial que definitivamente não possui somente uma

face urbana, tendo em vista que a formação dos espaços urbanos historicamente tem nas estruturas rurais sua gênese.

O processo de formação dos espaços na Amazônia teria como fio condutor um emblemático quadro de desenvolvimento histórico de luta pela terra no processo de ocupação das diversas áreas existentes na região, onde o incremento de determinado território está envolto em distintas formas sociais do uso da terra e em seu significado social que necessariamente delega à terra um sentido de produto da relação social, conforme defendia Ianni (1978), ao desenvolver importantes considerações sobre a formação do espaço, território e produção do homem em uma área especifica da Amazônia situada no sul do Estado do Pará.

Singer (1981) entende que a relação entre cidade (urbano) e campo (rural) constitui dos modos distintos de organização da vida social, pois a cidade para existir precisa realizar o domínio sobre o campo, haja vista que para permanecer, a cidade precisa do campo e por outro lado o espaço rural só depende da cidade devido o grau de especialização das atividades que nesta se desenvolvem, a saber: os bens e serviços, e a dinamicidade da circulação de capitais.

Percebe-se que historicamente há um desenvolvimento entrelaçado entre os espaços rurais e urbanos, e que atualmente essa dinâmica de relações recíprocas ultrapassa os esquemas simplórios da distinção meramente ecológico-demográfica que dava conta da diferenciação do que seria rural e urbano apenas pelo tamanho da população e/ou densidade demográfica, ou através do nível de desenvolvimento de determinado espaço.

Segundo afirma Miranda (2010), é preciso considerar que o desafio existente no exercício do entendimento da interface rural-urbano, requer a avaliação das inúmeras diversidades e processos econômicos, políticos e sociais ocorridos na trama das relações socioeconômicas e culturais estabelecidas entre as cidades e territórios, pois,

Na medida em que a urbanização se expande e assume uma forma cada vez mais espraiada, e em alguns casos descontínuas, as áreas de transição urbano- rural tornam-se objetos de interesses diversos e de conflitos cada vez maiores. Essas áreas concentram um grande estoque de terras, mananciais, matas, a produção rural e o transbordamento dos conflitos urbanos expressos, principalmente, na produção da moradia (MIRANDA, 2010, p. 06).

Esse espraiamento e expansão da malha urbana e os interesses envolvidos nesse processo tem sido cada vez mais regulares na região amazônica, pois há um contínuo fluxo migratório inter-regional, sobretudo de trabalhadores rurais que comercializam suas terras para morar na cidade. Onde conforme asseguram Alonso & Castro (2006, p. 191), essa situação é determinada pela aceleração do “processo de concentração fundiária pelos pecuaristas (fazendeiros), comerciantes e políticos da região” que se beneficiaram da política de créditos por parte do Governo federal, bem como dos incentivos dos governos locais quanto à regularização de novos espaços urbanos através do loteamento de novas áreas.

A ocupação das áreas urbanas disponibilizadas pelo governo local na região foi responsável por gerar divisões socioespaciais materializadas no espaço físico-territorial a partir da ideia de áreas rurais e urbanas que se formam culturalmente na concepção dos próprios sujeitos do espaço. Evidentemente que esse processo está diretamente relacionado com a existência de uma dinâmica sócio-política responsável por disseminar a diferenciação existente e reproduzida no âmbito das relações locais.

Uma descrição notória do processo de diferenciação entre o rural e urbano na região amazônica é feita por Sá; Costa e Tavares (2006), quando expõem de modo claro as representações identificadas pelas falas dos próprios sujeitos pertencentes à área situada no Oeste paraense – cidade de Santarém, esboçando a cristalização das representações constatadas por aqueles que são os verdadeiros partícipes da construção do território, nestas condições destacam que na visão destes:

[...] O rural passou a ser associado a uma forma de vida com contato direto com a natureza, áreas espaçosas, vida simples, de paz, tranquilidade, liberdade, conforto, paraíso, aconchego, valorização do trabalho, trocas positivas, lugar do trabalho coletivo, lugar da organização comunitária. Ao urbano foram associadas ideias de realização plena, de progresso, de saber, de formas avançadas de comunicação, de prestação de serviços – saúde e educação, lugar de venda de produtos diversos (comercialização/consumo), de abastecimento de outros bens, mas também de falta de liberdade, de excessiva padronização e aglomeração (vida imprensada e comprimida), lugar de difícil organização comunitária (SÁ; COSTA & TAVARES 2006, p. 149).

O entendimento acerca do conteúdo ideológico da sociedade capitalista pode ser visivelmente percebido através das definições expostas pelas autoras, pois a percepção apresentada sobre os espaços rurais e urbanos contidos num mesmo território demonstram que as áreas rurais ainda são consideradas cadeias produtivas que tem por finalidade o

fornecimento de produtos responsáveis por subsidiar a sobrevivência imediata dos citadinos. Por outro lado, a cidade é considerada entreposto de troca, nestas condições, atua como responsável pelo fornecimento de bens e serviços inexistentes nas áreas rurais, o que assinala uma intensa relação de trocas materiais e subjetivas entre os espaços.

É preciso considerar ainda que no caso da região amazônica as áreas rurais que possuem aproximação com as zonas urbanas enfrentam problemas socioeconômicos que são acentuados pela perceptível ausência de serviços básicos e essenciais. Situação não condizente com a realidade dos grandes centros urbanos que apesar de apresentarem déficits de oferta de bens e serviços necessários ao bem-estar da população, oferecem minimamente condições para que o acesso às políticas públicas seja alcançado pelas demandas por meio da integração político-administrativa existente.

3. DO CONJUNTO HABITACIONAL CIDADE NOVA AO CONJUNTO