• Nenhum resultado encontrado

3. O I Plano Municipal para a Integração de Imigrantes de Lisboa: projeto

3.6. Elaboração do PMIIL, etapas e atividades desenvolvidas

3.6.3. Realização do diagnóstico

Para a realização do diagnóstico, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) assinou um protocolo com o Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT). O grupo de

53Mais tarde, no workshop do PMIIL (20 de março de 2015), a questão da mediação intercultural acabou

por ser apelada como algo fundamental para uma boa integração dos imigrantes.

54Fazem parte da rede CLIP 30 cidades europeias.

55O Índice dos Municípios Amigos da Diversidade (IMAD) é uma ferramenta do ACM, I.P. de apoio à

monitorização das políticas de integração dos imigrantes. O IMAD é inspirado no trabalho levado a cabo pelo Conselho da Europa.

26 trabalho realizou ao longo do processo de elaboração do PMIIL diversas reuniões com a equipa de investigação.

Seguem-se agora as principais considerações e conclusões do diagnóstico realizado pelo IGOT, que envolveu, entre outros pontos, a caracterização da população imigrante, a sua distribuição geográfica, situação laboral e económica56.

a) Caracterização da população

Uma das primeiras considerações referenciadas pelo IGOT prendeu-se com a questão estatística sobre a população imigrante residente em Portugal. Existe uma tendência decrescente de população imigrante no país ao contrário do que acontece na Área Metropolitana de Lisboa (AML), onde o volume de população estrangeira residente continua a aumentar e, especialmente, no município de Lisboa.

Há uma maior diversidade de origens, evidenciando-se a crescente presença de populações asiáticas, da China, do Nepal ou do Bangladeche. A par disto, dá-se um decréscimo dos grupos tradicionais, correspondentes à nacionalidade cabo-verdiana, brasileira, angolana, ucraniana, guineense ou são-tomense.

b) Refugiados

A população refugiada é uma população sobre a qual também se pretendeu trabalhar visto a atualidade e emergência da questão. Assim e, como já referido anteriormente, o objetivo de apoiar refugiados estava previsto na missão 4 do Plano de Ação do Pelouro dos Direitos Sociais.

Neste sentido, no dia 9 de fevereiro de 2015, realizou-se uma reunião na Assembleia Municipal de Lisboa com um grupo de refugiados (pertencentes à Plataforma Refugee 1951) em que também estiveram presentes técnicos e investigadores na área do trabalho com refugiados. Nesta reunião foi possível averiguar as principais dificuldades sentidas no dia-a-dia dos refugiados, nomeadamente, as dificuldades económicas, a integração no mercado de trabalho e as barreiras que se colocam por motivos de desconhecimento da língua portuguesa e o difícil acesso aos cursos de português por inconveniência de horários ou meios de transporte. O porta-voz do grupo de famílias refugiadas em Portugal sublinhou a discriminação existente, salientou as promessas de petição por parte do

56 Opta-se por não incluir todos os pontos explorados no estudo mas sim aqueles que se consideraram mais

27 governo português, tendo apenas dois partidos políticos dado resposta (o partido comunista e os verdes).

No campo dos refugiados, o IGOT referiu no diagnóstico que Portugal tem recebido um número reduzido de requerentes de asilo, ainda que tenha havido um aumento considerável em 2013 devido à chegada da população síria e, em 2014, com a vinda de população ucraniana.

No momento do diagnóstico, a equipa de investigação concluiu que existia falta de informação referente aos requerentes de asilo quanto à sua distribuição geográfica para além da sua estadia proporcionada pelo Conselho Português para os Refugiados (CPR), no Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR), na Bobadela, e no Centro de Acolhimento para Crianças Refugiadas (CACR), no Parque da Bela Vista. No entanto, há várias deslocações, por parte das pessoas que aí residem, à cidade de Lisboa por motivos de trabalho, consumo ou tratamento de questões burocráticas.

c) Acesso à habitação

No contexto do acesso à habitação, as políticas de habitação e de realojamento social foram apenas direcionadas para situações de carência acentuada. As áreas com maior presença de imigrantes são o centro histórico e zonas envolventes e a Freguesia de Santa Clara.

A maioria dos estrangeiros vivem em casas arrendadas, com exceção dos estrangeiros europeus e chineses. Em termos de condições de habitação verifica-se que existe uma percentagem de população a viver em alojamentos sobrelotados.

Na área da habitação social, o IGOT recorreu a informação e estudos da GEBALIS, empresa responsável pela gestão do arrendamento social, que aponta diversos problemas relacionados com o isolamento urbano, desemprego, insucesso escolar, insegurança, estigmatização e ainda, pontualmente, conflitos interétnicos entre população de países africanos e população cigana.

A par da informação disponibilizada pela GEBALIS, também se considerou o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no âmbito do programa BIP-ZIP (projeto desenvolvido pela CML em bairros considerados zonas de intervenção prioritária).

28 No aspeto da saúde, os principais problemas diagnosticados ligam-se sobretudo aos desafios colocados na prestação de cuidados de saúde dado as vulnerabilidades e diferenças específicas, culturais e linguísticas.

O diagnóstico refere como fenómenos de intervenção a questão da mutilação genital feminina, sendo esta uma prática pouco conhecida em Portugal57, o desencadeamento de

depressões e distúrbios psicológicos na população estrangeira adolescente relacionado com o processo de adaptação a um novo código cultural ou, ainda, problemas derivados de má alimentação num contexto de dificuldades económicas.

Quanto aos profissionais de saúde, existe muita falta de informação sobre o igual direito dos estrangeiros no acesso à saúde, bem como, um desconhecimento de diferentes hábitos culturais dos pacientes como, por exemplo, certas restrições alimentares. Há também uma referência quanto ao potencial desconhecimento de determinadas doenças por parte dos profissionais de saúde.

e) Educação

Na área da educação as principais barreiras tem que ver com a falta de informação e conhecimento sobre os direitos e deveres no acesso à educação, sobre as instituições de ensino. A dificuldade de comunicação ou o pouco domínio da língua também se constitui como uma das principais barreiras. O estudo aponta ainda a falta de conhecimento e interação mútua entre a comunidade escolar e as famílias e a falta de docentes com competências para o ensino da língua portuguesa e para se adaptarem à diversidade dos seus conhecimentos linguísticos.

f) Participação Política e Cívica

Dentro da população estrangeira residente no concelho de Lisboa, apenas 11% é recenseada. A discriminação do enquadramento político português sobre os direitos de voto dos estrangeiros manifesta-se também numa menor taxa de estrangeiros não- comunitários recenseados. Pelo contrário, a taxa de estrangeiros provenientes de países da União Europeia é superior.

g) Associativismo

57 Sobre o tema, veja-se Sofia Branco, a única jornalista portuguesa a explorar o tema. Inclusivamente, o

29 No campo do associativismo, o IGOT realizou inquéritos a 18 associações com sede no concelho de Lisboa, das quais seis foram selecionadas para a realização de entrevistas58.

São associações relativamente pequenas no número de associados, na sua maioria contando com menos de 500 (com exceção da Solidariedade Imigrante que declara ter 24.800 membros associados). As associações são também pequenas no número de funcionários, sendo de realçar que apenas sete associações declararam ter funcionários imigrantes. O tecido associativo conta também com a colaboração do trabalho voluntário, especialmente as associações que se destinam diretamente ao serviço de imigrantes e aquelas de cariz cívico-religioso.

Financeiramente, recorrem, substancialmente, aos donativos e quotas dos associados e aos financiamentos de origem pública. No entanto, enfrentam várias dificuldades económicas, insuficiência de recursos humanos, problemas logísticos e de instalações, falta de divulgação das atividades e pouco apoio jurídico.

Os entrevistados mencionaram a excessiva burocratização das candidaturas a fundos públicos que atrasam os processos. Assim referiram também a necessidade da criação de uma entidade que financiasse as associações quando estas estão sem recursos para pagar os salários dos seus funcionários.

Segundo os entrevistados, os apoios são sobretudo da Câmara Municipal de Lisboa e do Alto-Comissariado para as Migrações. Neste contexto precisam de mais apoio e divulgação através de estratégias nos meios de comunicação. A articulação com empresas privadas seria mais uma forma de dinamização das suas atividades.

Nas entrevistas, foi ainda apelada a necessidade de uma entidade responsável pela articulação entre as associações e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), sendo que a regularização é uma das questões fulcrais para a população imigrante, sobre a qual as associações nem sempre conseguem dar resposta.

É interessante como um dos entrevistados não espera ajuda das Câmaras quanto à falta de profissionalização dos seus funcionários. Neste aspeto encara que pedir ajuda na valorização dos profissionais associativos seria uma forma competição com os

58 As associações selecionadas para entrevistas foram a Associação Cabo-verdiana de Lisboa, Associação

Guineense de Solidariedade Social, Casa do Brasil, Solidariedade Imigrante – Associação para a Defesa dos Direitos dos Imigrantes, Associação dos Ucranianos em Portugal e a Comunidade Islâmica de Portugal.

30 funcionários das autarquias. Neste sentido, não espera que a Câmara ajude na valorização e formação profissional dos trabalhadores associativos.

Um dos representantes associativos entrevistados, quando questionado sobre o que é integrar, afirma que a integração é o acesso à habitação (face aos valores tão elevados das rendas em Lisboa), ao emprego e o domínio da língua portuguesa. Esta afirmação coincide em parte com os resultados dos inquéritos Delphi realizados pelo IGOT, que demonstram que as principais dificuldades dos imigrantes são, em primeiro, o acesso ao emprego, a regularização e o acesso à habitação ou segregação espacial.

h) Diálogo inter-religioso e intercultural

Quanto à área do diálogo inter-religioso e intercultural, o IGOT refere como principais conclusões: a ausência de conflitos entre fés, mesmo quando existe proximidade no espaço urbano. No entanto, a população local mais antiga não conhece bem as novas comunidades religiosas. Dá-se também a ocorrência de alguns episódios de discriminação ao nível individual contra os muçulmanos e sikhs ou episódios de conflitos ligados à prática cultural por motivos de barulho e uso do espaço público. O estudo denota ainda uma falta de representatividade dos novos grupos de cada comunidade religiosa, havendo uma representatividade local forte mas fraca ao nível metropolitano.

Documentos relacionados