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A realização do Grupo Focal: espaço necessário para dizer mais

FOTO 5: EEFM Cel Prof José Aurélio Câmara.

3.3.1.1 A realização do Grupo Focal: espaço necessário para dizer mais

No dia 18 de dezembro de 2008, foi realizado, na EEFM Cel. Prof. José Aurélio Câmara, um grupo focal com dez alunos e alunas do 8º e 9º anos do turno da tarde, sendo seis meninas e quatro meninos. A realização do Grupo seguiu as determinações e orientações recomendadas para sua execução. Foi previamente agendada com a direção da escola, que auxiliou na escolha do espaço e dos alunos que se prontificaram em participar.

A sala escolhida foi uma reservada para as aulas de artes. Todos os alunos sentaram em suas cadeiras e começamos o trabalho às13h. Inicialmente me apresentei e falei sobre o objetivo do nosso trabalho naquela tarde. O Grupo apresentava tranquilidade e disponibilidade. Apresentei Dmitri, aluno do curso de História da UFC e morador do bairro Vila União. Ele seria o nosso relator e nos auxiliaria ao longo do trabalho naquela tarde.

Pedi permissão para gravar e reforcei a importância da participação de forma voluntária e espontânea. Fiz, então, uma saudação a todos e relatei que o tema abordaria a questão ambiental. De forma mais específica, a lagoa do Opaia e sua importância para o bairro Vila União. Expliquei nossas regras e falei que todos deveriam expressar livremente suas opiniões e ouvir também as de todos os outros.

Passamos então para a apresentação de cada um, pois, apesar de serem alunos da mesma escola, pertenciam a salas e turmas diferentes. Na apresentação, falaram nome, turma e todos afirmaram morar no bairro Vila União. Fui então conduzindo o grupo, que seguiu o roteiro contendo as seguintes questões:

• Vocês participam de atividades relacionadas às questões ambientais? • O que entendem por Meio Ambiente?

• O que entendem por Educação Ambiental?

• Conhecem o Programa “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas?”

• Conhecem a Conferência Infanto-Juvenil de Meio Ambiente? Já participaram de

alguma?

• Já participaram de cursos de formação ou seminário sobre as questões relacionadas ao

Meio Ambiente?

• Há interesse e participação dos jovens nas questões ambientais? Qual a opinião de

vocês sobre essa questão?

• E sobre a Lagoa Opaia? Quem conhece? Quem nunca foi lá? A Escola realiza visitas? • Já conversaram com outras pessoas, parentes, pais, sobre como a Lagoa era? Como

vocês pensam como ela deveria ser? Gostariam que fosse uma área de lazer?

Todos os pontos foram discutidos. De forma geral, os dez participantes expressaram suas ideias. Alguns, de forma mais aprofundada, discutiam os temas propostos. Fui fazendo as indagações e cada um se manifestou. Não tive grandes dificuldades na

obtenção das respostas, principalmente na discussão sobre a Lagoa e o bairro Vila União. Apenas na pergunta sobre como entendem Meio Ambiente apresentaram mais dificuldades nas respostas, poucos se manifestaram e a resposta mais comum relacionou-se à ideia de Meio Ambiente como “a natureza, o local que tem vida, a busca de harmonia entre o homem e a natureza” (Aluna A, Grupo Focal, EEFM Cel. Prof. Aurélio Câmara).

Entre as questões ambientais atuais, situam a água como um grande problema: “Há muito desperdício da água. O povo não tem consciência que um dia ela poderá acabar. Lavam calçadas com baldes, deixam caixas d’água transbordando.” (Aluna B, Grupo Focal, EEFM Cel. Prof. Aurélio Câmara). A aluna credita essa falta de consciência à desinformação que ainda existe, pois, segundo ela, mesmo os meios de comunicações abordando, falta um trabalho mais sistemático que desperte nas pessoas um envolvimento maior com essa temática.

Um aluno afirmou que “enquanto no interior há tanta falta de água, aqui as pessoas desconhecem que vivem numa ‘mordomia’ com a disponibilidade de tanta água” (Aluno C, Grupo Focal, EEFM Cel. Prof. Aurélio Câmara). Um jovem acrescentou: “Há, com certeza, a possibilidade da falta de água no planeta. As pessoas continuam no desperdício da água potável, de lagoas e de reservatórios” (Aluno D, Grupo Focal, EEFM Cel. Prof. Aurélio Câmara).

Sobre como entendem Educação Ambiental – “EA é necessária para entender os problemas ambientais”. “Para compreender os problemas causados pelo lixo: as doenças, o mau cheiro” (Aluno A, D, Grupo Focal, EEFM Cel. Prof. Aurélio Câmara).

Os alunos desconhecem o Programa “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas”, a Conferência Infanto-Juvenil de Meio Ambiente e as Com-Vidas. Nunca participaram de cursos ou Seminários de formação referentes às questões ambientais. Apenas um aluno disse saber o que é a Agenda 21.

A discussão ganhou novos contornos com as perguntas relacionadas ao bairro onde residem e à Lagoa do Opaia. Houve, efetivamente, uma maior participação. Como é viver na Vila União? Como se divertem? Há espaços de lazer? Foram categóricos: “Não há espaços de lazer!” Afirmam que não podem frequentar os locais que poderiam ser utilizados

para o lazer. “Há circulação de bicicletas, motos e até carros, tanto na pracinha, como na área da Lagoa, o que torna perigoso para crianças e para quem utiliza essas áreas para diversão” (Aluna E, Grupo Focal EEFM Cel. Prof. José Aurélio Câmara). “Não há shows na praça. Não ocorrem eventos culturais”. “Só tem bar, nem um evento. Deveria ter atividades culturais”. Ou seja, “há uma grande carência de espaços culturais no bairro. Tanto o Polo da Lagoa do Opaia quanto a pracinha, deveriam ser locais para apresentações artísticas e culturais”, mas efetivamente isso não ocorre.

Ao perguntar sobre os problemas ambientais mais comuns na Vila União dizem que eles estão ligados ao lixo, à poluição sonora e à Lagoa do Opaia que não oferece, ainda, condições de limpeza.

A poluição sonora é um problema recorrente em vários bairros de Fortaleza. Muitas pessoas costumam colocar caixas de som nos carros e ao pararem em locais públicos, escutam música em alto volume. Esse fato é comum na Vila União. Mas, a denúncia dos jovens não era só do som dos veículos, mas “dos inúmeros carros-pipas que transportam água da Lagoa do Opaia para aguar jardins na cidade. Eles saem à noite e fazem muito barulho, além de derramarem água no caminho por onde passam” (Aluno C, Grupo Focal EEFM Cel. Prof. José Aurélio Câmara). Há, também, o barulho de alguns bares e restaurantes do bairro – eles têm se multiplicado e incomodam as pessoas que moram em casas próximas a esses estabelecimentos.

Quanto ao problema do lixo, dizem que “não há suficiente lixeiras nas vias públicas, algumas que foram colocadas foram destruídas”. Este problema é bastante conhecido para os alunos, pois na própria escola, “há a rampa de lixo que produz mau cheiro e compromete até a qualidade das aulas. Perto da biblioteca aparecem ratos e baratas”. “Houve inúmeras tentativas de limpá-las, mas é um problema que parece não ter solução. Parece estar relacionado à falta de Educação Ambiental dos moradores, que não entendem os transtornos causados pelo lixo” (Aluno D, Grupo Focal EEFM Cel. Prof. José Aurélio Câmara).

Demonstraram grande interesse na discussão sobre a importância da Lagoa para o bairro. “Ela não é importante só para o Meio Ambiente. Ela é parte viva da história do bairro Vila União (Aluno F, Grupo Focal EEFM Cel. Prof. José Aurélio Câmara). Relataram, empolgados, o imaginário de lendas e crendices que rodam a Lagoa. Falaram de temas tão

comuns à minha própria infância, como a lenda da cobra gigante que dá leite e do gemido que vem da Lagoa para avisar quando alguém ia morrer. Um aluno falou de um “jacaré” que foi encontrado lá, mas outros alunos intervieram para explicar que o animal realmente existiu, apareceu dentro das águas da Lagoa e “alguns moradores retiram e mataram para comer”.

Mas a área do entorno da Lagoa preocupa tais alunos. Confirmando a necessidade de EA, dizem que a questão da educação no país, ainda se apresenta como um desafio a ser resolvido. Para um, “o governo queima dinheiro, não investe na Educação, desperdiça com áreas não prioritárias” (Aluno F, Grupo Focal EEFM Cel. Prof. José Aurélio Câmara). Para outro, “há jovens que não estudam porque não há incentivos governamentais” (Aluno I, Grupo Focal EEFM Cel. Prof. José Aurélio Câmara).

Asseveram que o projeto de reassentamento e reurbanização do entorno da Lagoa tem validade. Houve melhorias com a construção do Conjunto Habitacional Planalto Universo e a recolocação daquela população, que morava bem próximo à Lagoa, pois contribuiu para a limpeza de parte da área. Demonstrou que o poder público vem agindo; mesmo assim, muita coisa ainda precisa ser feita. O polo do Opaia apresenta insegurança, uma vez que acreditam haver problemas de drogas naquela área. Não obstante, diante do que eles estavam relatando e denunciando, quis saber o que poderiam fazer? Havia disponibilidade para trabalhos socioambientais? Sim. A maioria se mostrou interessada numa atuação coletiva e reconhece que há muito que fazer. Na seguinte afirmativa, está expressa a vontade da organização, da discussão e do debate político ausente para aqueles jovens.

Atualmente na Vila União, há apenas grupos de jovens com atuação estritamente religiosa, não há grupos politicamente organizados. Eu mesmo, quando tenho oportunidade, vou até a UECE para me reunir com outros estudantes onde posso travar debates políticos que não tenho oportunidade de fazer no meu bairro (Aluno F, Grupo Focal EEFM Cel. Prof. José Aurélio Câmara).