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Vista aérea da Lagoa do Opaia e do conjunto habitacional Planalto Universo.

Uma bacia hidrográfica é considerada por lei a unidade de gestão dos recursos hídricos. A lagoa do Opaia pertence à bacia do rio Cocó e está vinculada à Secretaria Executiva Regional (SER IV). A bacia do Rio Cocó é a mais importante em número de lagoas em comparação à do Maranguapinho, que tem apenas três. Encontra-se entre as áreas dos municípios de Fortaleza, Maracanaú, Aquiraz, Maranguape e Pacatuba, perfazendo uma área total de 500 km2, tendo o seu curso principal uma extensão de quase 50 km. Das suas nascentes em Pacatuba até seu estuário em Fortaleza, recebe várias denominações: riacho Pacatuba, na serra da Aratanha, riacho Gavião, quando passa a alimentar um dos reservatórios que abastece a região metropolitana de Fortaleza e após o encontro com o riacho Timbó, passa a se chamar Cocó. Em seu percurso, ao longo dos segmentos com várias denominações, o rio Cocó drena cerca de 60 % das águas da região metropolitana de Fortaleza.

Em 2003 a Prefeitura Municipal de Fortaleza realizou um levantamento batimétrico31 nos trechos navegáveis dos rios Ceará e Cocó, constituindo o Inventário Municipal de Fortaleza de 2003. Um mapeamento batimétrico visa “disciplinar o aproveitamento, fomentando o uso múltiplo dos recursos hídricos, garantindo uma distribuição equitativa e seu uso racional, propiciando a maximização do desenvolvimento econômico e social e a minimização dos impactos ambientais” (FORTALEZA, 2003). O principal objetivo deste estudo era conhecer, de forma mais detalhada, a profundidade e as seções dos recursos hídricos nos trechos estudados. Uma análise batimétrica possibilita ainda:

a obtenção de mapa de profundidade, garantindo uma maior segurança na correta tomada de decisões que visem o uso e a gestão sustentável de um determinado corpo hídrico, sendo fundamental na elaboração de estudos aquícolas, navegação, dragagem e na prática da atividade pesqueira ou de lazer. Além de subsidiar estes estudos, auxilia na determinação da capacidade de suporte, a qual se estima a possibilidade da inserção de projetos aquícolas, a partir da análise do nível de impacto sobre um ecossistema (PMF, UFC, 2007).

Para isso são utilizados equipamentos eletrônicos denominados GPS e ecobatímetro ou ecossonda. Esse estudo, entretanto, não apresentou informações sobre as lagoas urbanas e apesar da relevância do estudo batimétrico, existe um déficit de informações acerca da atual situação das lagoas costeiras do município de Fortaleza. Órgãos federais, estaduais, municipais não possuem informações mais detalhadas sobre mapas das

31 O mapeamento batimétrico é uma ferramenta que permite verificar as características morfológicas do fundo

profundidades e do relevo dos corpos hídricos lacustres urbanos na cidade de Fortaleza. Esse motivo levou a Prefeitura Municipal de Fortaleza a buscar parcerias para elaborar os mapeamentos batimétricos dos principais sistemas lacustres da capital cearense, com o intuito de obter ferramentas que propiciassem a correta tomada de decisões para o desenvolvimento sustentável de atividades nestes corpos hídricos.

Assim, em março de 2007, uma parceria da Prefeitura Municipal de Fortaleza e da Universidade Federal do Ceará, através do Laboratório de Ciências do Mar - LABOMAR, concluiu um mapeamento batimétrico no Programa Lagoas de Fortaleza.

A implantação do Programa Lagoas de Fortaleza foi um caminho encontrado para fazer a análise sistemática da qualidade físico-química e bacteriológica da água coletada nos finais de semana em dez lagoas: Maraponga, Mondubim, Messejana, Parangaba, Porangabussu, Sapiranga, Itaperaoba, Jacareí, Maria Vieira e Opaia. O início deste trabalho ocorreu em agosto de 2006 e é uma parceria da Prefeitura de Fortaleza, via SEMAM e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Ceará, CEFET-CE.

Os boletins periódicos sobre a balneabilidade e o mapeamento batimétrico representam um marco histórico no processo de reordenamento das lagoas urbanas. Os estudos realizados pelo Labomar levam a concluir que há lagoas adequadas para se implantar, com êxito, empreendimentos náuticos e de pesca, a partir de ações que possam envolver a população do entorno na preservação e requalificação dos espaços lacustres. Como exemplo, o projeto da PMF denominado “Fortaleza em Férias”, que se consistiu na realização de um dia de pescaria na lagoa da Maraponga, ocorrida no dia 14 de janeiro de 2007, contando com a participação de cerca de 150 pessoas.

Lagoas como Opaia, Porangabussu, Parangaba e o Açude Santo Anastácio sangram o ano inteiro e recebem diariamente grande fluxo de efluentes. Isto significa que mantêm seu volume no máximo durante todo o ano e é quase constante a área de espelho d’água. Como apresenta maior volume permite que microrganismos possam agir em uma coluna d’água maior, porém, a qualidade destes efluentes pode afetar a comunidade microbiana, causando situações anóxicas, isto é, ausência de oxigênio, seja no solo, ou na coluna d’água indesejáveis à maioria dos organismos da lagoa. Durante os trabalhos de coletas dos dados, foi detectada a presença de odor característico de águas poluídas,

principalmente, na lagoa do Opaia e de Porangabussu.

Entre as conclusões dos estudos do Labomar, há uma série de indicações para outros estudos, inclusive nas escolas municipais. Há uma orientação para que a SEDAS inclua nos temas transversais das escolas municipais, aspectos ambientais sobre uso e gestão dos corpos hídricos urbanos. O estudo indica que se deve buscar apoio financeiro para incentivar cursos técnicos, de graduação e pós-graduação que visem pesquisas sobre o uso racional dos recursos hídricos urbanos com potencial para pesca, agricultura, turismo, esportes náuticos e a gestão através da participação dos usuários.

O trabalho realizado pelo Labomar considera que deverá se tornar um marco histórico sobre a necessidade de buscar e integrar informações sobre a situação dos recursos hídricos das bacias hidrográficas da cidade de Fortaleza. Além disto, contribuirá para a atualização do Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Ceará - PLANERH, instituído pela Lei nº 11.996/92.

Dentre os vários motivos, estudar a qualidade das águas doces tem consonância com o fato de lagos e lagoas guardarem 100 vezes mais água que os rios. A limnologia, que é a ciência que trata da ecologia de sistemas aquáticos continentais, como lagos, lagoas e lagunas, além de rios, estuários, baías, açudes, represas e reservatórios, ganha cada vez mais importância no cenário atual (PEDROSA, RESENDE, 1999). Assim, as lagoas de Fortaleza, e em particular a Lagoa do Opaia, deverão em curto prazo serem cada vez mais objetos de estudos e de ações governamentais que possam realizar um processo de reconhecimento da sua importância como patrimônio histórico-ambiental da cidade.

Até o final da gestão atual da prefeitura de Fortaleza, é esperada a recuperação de dez lagoas da cidade. Até maio de 2007, a prefeitura registrava a recuperação das lagoas de Porangabussu, Messejana, Maraponga e Opaia, em andamentos as lagoas de Mondubim, Parangaba e Itaperoaba, faltando recuperar Sapiranga, Maria Vieira e Lago Jacareí. Entretanto, a recuperação é ainda limitada à estrutura física, pois a qualidade das águas continua ruim e imprópria para o banho. A Lagoa do Opaia passou pelo processo de recuperação imediata e necessária após ser atestada como poluída no estudo realizado pela SEMAN (2003).

A Lagoa do Opaia, lócus de agregação, de espaço coletivo, tem sua importância no contexto das lagoas de Fortaleza. Por diversas gerações, representou um significativo ponto de referência de lazer e fonte de renda. Encontravam opção de subsistência na pesca, na lavagem de roupa e nos quiosques. Pessoas que viveram a infância na década de 1970, cresceram ouvindo histórias cheias de elementos do folclore referente aos seres que habitavam a Lagoa, adolescentes que se divertiam no “Polo de Lazer do Opaia”, lavadeiras que retiravam seu sustento das suas águas, comerciantes e barraqueiros assistiram, durante a década de 1990, toda essa estrutura desmoronar (CRUZ, 2006).

FOTO 13: As frondosas árvores que resistem ao tempo.

Nos anos de 1970, nas redondezas da Lagoa do Opaia, havia uma comunidade de um número pequeno de moradores denominada “Amazônia” – referência à distância e à grande quantidade de árvores no local. No governo municipal do então prefeito Lúcio Alcântara – 1979/1982, houve a desapropriação de algumas casas para que a área abrigasse o Pólo de Lazer da Lagoa do Opaia, destinado aos moradores da Vila União e adjacências. Foram, então, construídas barracas, playground, jardins, quiosques, quadras de esportes, áreas para apresentações artísticas. Na Lagoa foram colocados os pedalinhos, muito usados para a diversão da população (CRUZ, 2006).

Em meados dos anos 1980, na Lagoa do Opaia, aconteceu uma ocupação habitacional junto ao muro do Aeroporto Pinto Martins. Em meio à luta pela conquista de

direitos sociais e na busca por moradia, ocorreu a ocupação inicial da área próximo à Lagoa. Aos poucos chegavam grupos de pessoas que construíam suas habitações junto ao muro do Aeroporto, na Rua Lauro Vieira Chaves. Esse era o período correspondente ao governo municipal da prefeita Maria Luíza Fontenele (1985-1989) Aconteceu de forma coordenada e apoiada pela Associação dos Moradores da Vila União.

A Associação dos Moradores era a principal entidade representativa dos moradores da Vila União, Nasceu sob a liderança de Francisca das Chagas Gadelha e o incentivo do Projeto Rondon que, na época, prestava assessoria comunitária ao bairro. A criação do Polo de Lazer do Opaia havia reduzido os espaços de trabalho das lavadeiras que se organizavam em um grupo, que, posteriormente, contribuiu para a fundação da Associação de Moradores. Entre suas principais lideranças, Antônio de Pádua Gadelha da Cruz, a Sra. Nilta de Oliveira e o Sr. Eliseu Alves. No entanto, existiam outras reconhecidas expressões populares no bairro que demonstravam preocupação e lutavam por melhorias sociais, mesmo sem uma ligação direta com a Associação dos Moradores, como o Sr. José Maria da Silva, conhecido como o “Zé do Buzo” e o Sr. José Soares.