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Reapreciação da decisão de mérito da acção

3.4. Reapreciação da decisão de mérito da acção

No que se refere à decisão jurídica propriamente dita importa agora apreciar se deve a mesma manter-se, analisando os demais fundamentos invocados pelo Recorrente.

Recorrente, não versa sobre o pedido por si formulado em e) (fechar a

abertura reconstruindo o que destruiu, repondo a situação anterior às obras por si levadas a cabo) relativamente ao qual se mostra transitada em julgado a decisão proferida em 1ª Instância que condenou o Réu a fechar a abertura, reconstruindo o que destruiu, repondo a situação anterior às obras por si levadas a cabo, e nem sobre o pedido formulado em f), não obstante a decisão ter sido absolutória, pois que não é objecto do presente recurso.

Pretende assim o Recorrente seja revogada a decisão recorrida e condenados os Réus (Réu e Interveniente):

a) a compensar o Autor num montante nunca inferior a €5.500,00 por todos os danos não patrimoniais por si sofridos, nos termos dos artigos 70.º, 483.º e 496.º do Código Civil;

b) a abster-se, nos termos do artigo 70.º n.º 2 do Código Civil, de

comportamentos que afectem o descanso, o sono, o silêncio, o sossego e a saúde do ora Autor, mormente a não prosseguir trabalhos inerentes à

exploração do seu estabelecimento comercial, em horário compreendido entre as 20h às 08h, devendo ser condenados no pagamento de €100,00 (cem euros) ao Autor por cada vez que o fizer;

c) a retirar, nos termos do artigo 70.º n.º 2 do Código Civil, os motores e tubos, do local onde se encontram, não podendo os substituir por outros;

d) no pagamento de uma multa indemnizatória, nos termos do artigo 70.º n.º 2 do Código Civil, ao Autor de €100,00 (cem euros) por cada dia em que se

verifique a situação referida na alínea anterior, a contar desde a data da citação até total e efectivo cumprimento da obrigação de remoção dos referidos motores/tubos.

O Recorrente baseia a sua pretensão na violação do seu direito,

designadamente ao descanso (sono e repouso) e ao silêncio, ao sossego e à saúde.

Como é consabido tais direitos integram-se nos direitos de personalidade, que são direitos absolutos e que gozam efetivamente de protecção constitucional e legal.

In casu ninguém duvidará que o Recorrente e sua família gozam do direito ao sono e repouso, ao descanso nocturno e a dormir durante a noite, que

constituem na prática a tradução concreta do seu direito à integridade física e moral e a um ambiente de vida sadio.

E também não é questionável que o direito à integridade física e psíquica “ constitui um paradigma de defesa da personalidade contra ameaças e agressões que se traduzam em lesões da integridade física e psíquica das

pessoas (…)” não só ameaças e agressões intencionais pois “Também as práticas não propositadamente dirigidas à lesão física e psíquica, mas que a tenham como resultado, são ilícitas. Tal sucede, nomeadamente, no caso de ruídos intensos produzidos durante a noite por obras ou estabelecimentos de diversão, que sejam de molde a impedir o sono, ou com a emissão de gases de instalações industriais que sejam nocivos à saúde, ou de maus cheiros

insuportáveis” (Pedro Pais de Vasconcelos, Direito de Personalidade, Almedina, 2014, página 70 a 72).

Temos pois como certo que o ruido intenso quando impeditivo do sono e do repouso deve ter-se por violador do direito à integridade física e psíquica, e, por isso, dos direitos de personalidade, ainda que esse ruído em concreto não exceda os limites regulamentares, pois que os direitos de personalidade não podem ser restringidos por um simples regulamento; como afirma Pedro Pais de Vasconcelos (ob. cit., página 71) “A compatibilização jurídica do

Regulamento do Ruído com o direito de personalidade deve ser feita no sentido de que todos devem limitar a emissão de ruídos, em geral, ao

estabelecido no Regulamento; mas desse Regulamento não resulta um “direito a fazer ruído” e muito menos a licitude do impedimento do repouso alheio. O direito de personalidade prevalece sobre o regulamento do ruído” (neste sentido v. também os Acórdãos desta Relação de Guimarães de 09/06/2016, relatado pelo Desembargador António Beça Pereira, de 14/04/2016, relatado pela Desembargadora Maria Amália Santos, de 08/02/2018 relatado pelo Desembargador João Diogo Rodrigues e de 26/09/2019, relatado pelo Desembargador António José Saúde Barroca Penha, todos disponíveis em www.dgsi.pt, bem como todos os de ora em diante citados).

O que aqui se questiona é se, em face do concreto quadro factual que resultou provado nos autos, o ruido produzido pelo aparelho de refrigeração (pois não há dúvida que o aparelho produz ruido – cfr. ponto 15 dos factos provados) e o barulho resultante da atividade de exploração do estabelecimento de

pastelaria são lesivos dos referidos direitos do Autor. Vejamos.

O artigo 70º do Código Civil consagra o que podemos chamar de princípio geral da tutela da personalidade ao estatuir que “1. A lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física ou moral” e “2. Independentemente da responsabilidade civil a que haja lugar, a pessoa ameaçada ou ofendida pode requerer as providências adequadas às circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já cometida”.

Dispõe também a Constituição da Republica Portuguesa que a integridade moral e física das pessoas é inviolável (n.º 1 do artigo 25º), que todos têm direito à proteção da saúde e o dever de a defender e promover (n.º 1 do artigo 64º) e que todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender (n.º 1 do artigo 66º). Por sua vez, prescreve o artigo 335º do Código Civil que havendo colisão de direitos iguais ou da mesma espécie, devem os titulares ceder na medida do necessário para que todos produzam igualmente o seu efeito, sem maior

detrimento para qualquer das partes (n.º 1) e se os direitos forem desiguais ou de espécie diferente, prevalece o que deva considerar-se superior (n.º 2).

No caso concreto o direito do Recorrente estará em conflito com o direito do Réu e da Interveniente à propriedade privada e à iniciativa económica, que são também constitucionalmente protegidos, pois está em causa a atividade económica (exploração de pastelaria) levada a cabo em fração pertencente ao Réu, que faz parte do mesmo edifício da fracção (habitação) do Recorrente. Mas, ocorrendo tal colisão de direito, tal não significa sem mais uma

prevalência de um dos direitos por pertencer a uma categoria superior uma vez que no referido artigo 335º do Código Civil “estamos em presença de uma cláusula indeterminada, necessitando as afirmações aí contidas de ser

objetivadas, devendo ser tomado em consideração de que forma os direitos em confronto colidem e a intensidade com que o exercício de cada uma afeta o outro” (Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 18/09/2018 relatado pelo Conselheiro Pedro de Lima Gonçalves), sendo necessário decidir os casos concretos “a via indicada parece ser a que harmonize os direitos em conflito ou, se necessário, dê prevalência a um deles, de acordo com as circunstâncias concretas e à luz de uma hierarquia decorrente das próprias normas

constitucionais (...) ou de aplicação de critérios metódicos abstractos que orientem a tarefa de ponderação e/ou harmonização concretas, tais como o princípio da concordância prática e a ideia do melhor equilíbrio possível entre os direitos colidentes” (Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 9 de

Janeiro de 1996, apud o citado Acórdão de 18/09/2018).

A protecção do direito ao descanso e ao sono não se traduz assim numa exigência de que nenhum ruído possa ser produzido, antes impõe que tal direito não seja sacrificado para satisfação de outros interesses

(designadamente de ordem económica) quando se ultrapassam determinados limites, sendo que tais limites têm de ser aferidos em cada caso concreto, casuística e ponderadamente, tendo por base o princípio da proporcionalidade (artigo 18º n.º 2, da Constituição da República Portuguesa) e com referência à intensidade e relevância da invocada lesão da personalidade (neste sentido o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 29 de novembro de 2016, relatado

pelo Conselheiro Alexandre Reis, onde se afirma que “são frequentes as colisões entre direitos fundamentais: os conflitos entre o direito fundamental de um sujeito e o mesmo ou outro direito fundamental ou interesse legalmente protegido de outro sujeito hão-de ser solucionados pelo poder judicial

mediante a respectiva ponderação e harmonização, em concreto, à luz do princípio da proporcionalidade, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros e realizando, se necessário, uma redução proporcional do âmbito de alcance de cada qual).

E se na hierarquia dos direitos conflituantes, a Constituição da República Portuguesa confere predomínio aos direitos, liberdades e garantias sobre os direitos económicos, sociais e culturais, o que levará a considerar

prevalecentes os direitos de personalidade do Autor sobre o direito ao exercício da actividade económica, tal não significa que o direito

hierarquicamente inferior não deva ser respeitado, dentro do que for possível, devendo este ser apenas limitado na exata medida em que o imponha a

protecção do direito de personalidade, o que deve ser alcançado segundo uma análise casuística e ponderação à luz do referido princípio da

proporcionalidade, evitando se possível o sacrifício total de um direito em relação aos outros.

Tendo em atenção todas estas considerações que acabamos de tecer e

ponderando os factos dados como provados, não se pode deixar de manter a decisão da 1ª Instância.

Vejamos.

No caso dos autos encontra-se provado que desde 2001 que o Autor,

juntamento com a sua mulher e filho, habita e faz uso da sua facção; a fracção onde labora a padaria encontra-se inscrita desde 1996 a favor do 1º Réu, sendo aquela explorada pela firma N. S. Unipessoal, Ldª, aqui Interveniente principal existindo o estabelecimento no prédio desde data anterior ao Autor habitar a sua fracção.

Todos os dias da semana, a Interveniente inicia os trabalhos realizando cargas e descargas, entre as 6.30 e as 7.00 horas, de produtos de padaria e

pastelaria, o que o faz atravessando com Veículos de Mercadorias (Carrinha) de onde retira, em carrinhos metálicos, os aludidos materiais/produtos,

emitindo, no processo, ruídos e utiliza na exploração daquele Estabelecimento Comercial, diversos equipamentos, nomeadamente de frio, como arcas

frigoríficas, e outros de calor, como fornos de cozer pão e outros produtos de padaria e pastelaria.

seu estabelecimento comercial e nessas obras colocou, na parte traseira do seu estabelecimento comercial (que corresponde frente da parte habitacional do prédio), um aparelho de refrigeração cujo motor produz ruido. Quando procedeu às obras de remodelação teve o cuidado de reforçar o isolamento acústico da mesma para atenuar o som decorrente da actividade bem como adquiriu equipamentos mais modernos, eficientes e silenciosos.

Cumpre referir desde logo que não resulta dos autos que a Interveniente esteja impedida de exercer a sua atividade na fração em causa e o

estabelecimento tem alvará de Licença de Utilização para Estabelecimento de bebidas com o nº 18/06, emitido pela Câmara Municipal de Viana do Castelo em 18/07/2006, sendo o horário de funcionamento do estabelecimento, de acordo com o licenciamento administrativo, entre as 7.00 e as 20.00 horas; provou-se nos autos que a actividade da Interveniente se inicia entre as 6.30 e as 7.00 horas da manhã, apenas com a carga e descarga de produtos de

padaria e pastelaria mas já não que acaba pelas 22.00 horas.

Tal como consta da sentença recorrida não ficou demonstrado que a

actividade da Interveniente, assim exercida, violava quaisquer direito do Autor (v. pontos a), b) e c) dos factos não provados).

E também não ficou demonstrado que o ruído causado pelo funcionamento do aparelho de refrigeração causava grave incómodo ou perturbasse o descanso, o sono, o silêncio, o sossego e a saúde do Autor, não permitindo o quadro factual que resultou provado nos presentes autos retirar a conclusão pretendida pelo Recorrente de que o ruído é lesivo do direito do Autor e justificativo de poder determinar a remoção do aparelho e nem a restrição do horário de funcionamento para as 08.00 horas conforme peticionado pelo Autor (sendo certo que segundo o horário do estabelecimento o encerramento é pelas 20.00 horas, não tendo ficado demonstrado que os trabalhos na

pastelaria se prolonguem para além dessa hora).

Não podem, pois, proceder tais pedidos formulados pelo Recorrente e nem de condenação em sanção pecuniária compulsória, que da procedência daqueles era decorrência lógica.

O mesmo se diga relativamente à pretendida retirada de tubos, uma vez que nada ficou provado relativamente aos mesmos.

E terá ainda de improceder o pedido de condenação no pagamento de uma indemnização a título de danos não patrimoniais pois que não só não ficou demonstrada a violação do direito do Autor, como não resultaram provados quaisquer danos que pela sua gravidade mereçam a tutela do direito (cfr. artigo 496º do Código Civil).

Assim, o incómodo que possa ser causado ao Autor decorrente do ruido

decorrente do motor do aparelho de refrigeração o qual é imprescindível ao funcionamento do mesmo) não justifica, uma vez que não está provado que a saúde, o descanso e o sossego do Autor estejam em causa, que se decretem as medidas de remoção pretendidas pelo Recorrente e nem a restrição do horário de funcionamento do estabelecimento, improcedendo desde já, e nesta parte, o recurso.

Mas o tribunal a quo apreciou ainda, e bem, a questão da remoção do aparelho (uma vez que quanto aos tubos nada resulta provado) segundo o regime próprio da propriedade horizontal uma vez que aquele se encontra instalado na fachada do edifício, concluindo que a instalação do aparelho não afeta a linha arquitetónica, mas prejudica o arranjo estético do edifício. Entendeu, contudo, que o comportamento do Autor se traduz no exercício ilegítimo do seu direito nos termos do disposto no artigo 334º do Código Civil. O Recorrente insurge-se contra este entendimento.

O artigo 334º do Código Civil prevê o abuso do direito dispondo que “é

ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente os limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim social e

económico desse direito”.

Segundo Pires de Lima e Antunes Varela (Código Civil Anotado, Volume I, página 298) a concepção adoptada de abuso de direito é objectiva pois “não é necessária a consciência de se excederem com o seu exercício os limites

impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico do direito, basta que se excedam esses limites”.

Esta complexa figura do abuso de direito é uma válvula de segurança, uma das cláusulas gerais com que o julgador pode obtemperar à injustiça gravemente chocante e reprovável para o sentimento jurídico prevalecente na comunidade social, à injustiça de proporções intoleráveis para o sentimento jurídico

imperante, em que redundaria o exercício de um direito por lei conferido (cfr. Manuel de Andrade, Teoria Geral das Obrigações, 1958, página 63 e

seguintes; Almeida Costa, Direito das Obrigações, 12ª Edição, 2014, página 80 e seguintes; Pires de Lima e Antunes Varela, Ob. Cit. página 299).

Poderá dizer-se, em síntese, que existirá abuso de direito quando alguém, detentor embora de um determinado direito, válido em princípio, o exercita, todavia, no caso concreto, fora do seu objetivo natural e da razão justificativa da sua existência e em termos apoditicamente ofensivos da justiça e do

sentimento jurídico dominante, por exceder manifestamente os limites

impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou fim social ou económico desse direito (Acórdão do Supremo tribunal de Justiça de 03/10/2019, relatado pela Conselheira Maria Rosa Tching).

assembleia de condóminos para instalar o aparelho numa parte comum do edifício e que a deveria ter obtido em conformidade com o preceituado no artigo 1425º do Código Civil.

Porém, tal aparelho veio apenas substituir outros do mesmo tipo que já lá se encontravam e relativamente aos quais o Autor nunca se insurgiu, sendo certo que o estabelecimento existe no prédio desde data anterior ao Autor ir habitar a sua fracção e que existem outros aparelhos que foram instalados por outros condóminos.

Conforme se afirma na sentença recorrida no “caso em apreço, constata-se que o autor reside nesta fracção desde 2001, isto é, há cerca de 17 anos, sendo que quando para ali foi viver já existiam na fachada do prédio, no

mesmo local onde se encontram actualmente, aparelhos semelhantes aos que estão aqui em discussão.

O A. conformou-se desde sempre com a existência dos referidos aparelhos, pois nunca se insurgiu expressamente contra eles tal como fez, logo de imediato, em relação à instalação de tubos.

Veio apenas agora a propósito do início das obras para abertura de uma porta para o exterior, alegar que a colocação desse aparelho, que na verdade se tratou de uma substituição, não foi submetida à deliberação da assembleia de condóminos.

Para além de que se constata a existência de outros aparelhos semelhantes nessa mesma fachada, pertencentes a outros condóminos que não o réu, contra o que o A. não se insurge, não obstante essa existência afecte de igual forma a estética do edifício.

Nesta medida, entendemos que a pretensão deduzida pelo A. quanto à retirada do aparelho consubstancia uma situação de abuso de direito nas

modalidades de suppressio e de desequilíbrio entre o seu exercício e os efeitos dele derivados.

Com efeito, segundo esta última modalidade, o exercício do direito do A., na qualidade de condómino, não lhe traz qualquer benefício directo e acarreta um dano considerável à interveniente pois que tais aparelhos são

imprescindíveis ao funcionamento do seu estabelecimento, ou seja, a

vantagem obtida pelo titular do direito exercido não supera o sacrifício por ele imposto a outrem”.

Acrescentamos ainda que nas obras de remodelação do estabelecimento em que foi colocado o aparelho, levadas a cabo em 2017, o interveniente teve o cuidado de reforçar o isolamento acústico do mesmo para atenuar o som decorrente da sua actividade, adquirindo equipamentos mais modernos, eficientes e silenciosos.

aparelhos antigos, relativamente aos quais não há conhecimento que se tenha insurgido, e também não se insurge relativamente aos outros aparelhos

colocados na mesma fachada por outros condóminos, e que afetam de igual forma a estética do edifício.

Vir agora invocar que a colocação do novo aparelho, que até é mais moderno, eficiente e silencioso, não foi submetida à deliberação da assembleia de

condóminos para com tal fundamento pretender obter a retirada do mesmo representa efectivamente o exercício de um direito que se apresenta como ofensivo do sentido ético-jurídico.

De facto, em 2017 esteve apenas em causa a substituição por um único aparelho dos que há muito lá se tinham sido colocados e relativamente aos quais o Autor nunca reagiu.

Sendo tal aparelho imprescindível ao funcionamento do estabelecimento temos de concluir pela efectiva verificação de uma significativa

desproporcionalidade entre a vantagem que o Autor retiraria enquanto

condómino e o sacrifício que a Interveniente teria que suportar com a retirada do aparelho (que para si é imprescindível): o exercício do direito do Autor, na qualidade de condómino, que se prende nesta parte com o prejuízo para o arranjo estético do edifício, não só não lhe traz benefício direto, como acarreta um dano considerável à Interveniente; e na verdade a verificar-se o prejuízo para o arranjo estético do edifício, o mesmo ocorreu realmente muito tempo atrás com a colocação dos primeiros aparelhos contra os quais o Autor não reagiu.

Por conseguinte, temos de concluir também estar verificada uma situação de inadmissibilidade de exercício do direito por parte do Autor, por contrário à boa fé, assente num desequilíbrio entre o exercício do direito e os efeitos dele derivados.

Perante tudo o que foi exposto, entendemos ser de manter o decidido improcedendo, assim, e na íntegra, a presente apelação.

As custas são da responsabilidade do Recorrente em face do seu integral decaimento (artigo 527º do Código Civil).

***

SUMÁRIO (artigo 663º n.º 7 do Código do Processo Civil):

I - Os direitos ao descanso (sono e repouso), ao silêncio e ao sossego integram-se nos direitos de personalidade à integridade moral e física, à protecção da saúde e a um ambiente de vida humano sadio e equilibrado, que são direitos absolutos e que gozam de protecção constitucional e legal.

II - O ruído provocado pela actividade de exploração de uma pastelaria

do motor do aparelho de refrigeração instalado no exterior, configura um conflito de direitos: o direito do Autor à integridade física e moral e a um ambiente de vida sadio e o direito da Interveniente ao exercício da sua

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