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2.1 CONTABILIDADE E ORÇAMENTO PÚBLICO

2.1.3 Receita pública

A administração pública deve atender às necessidades da população, por meio de prestação de serviços públicos e outras ações em diversas áreas. Para isto, deve dispor de recursos que cubram todas as despesas incorridas para a disponibilização destes serviços aos cidadãos. Assim, o Estado tem sua arrecadação e dispõe destes valores para suprir as demandas que lhes são cabíveis. Desta forma, o Estado obtém receitas com vistas a custear suas despesas para que a sociedade usufrua dos serviços públicos essenciais.

Para Silva (2004), receita pública é o recebimento de recursos ou rendas que são entregues ao Estado pela contribuição da coletividade. Cruz (2009, p. 47) conceitua receita pública como “o conjunto de recursos constituído de todos os réditos, proventos e créditos que o Estado tem por direito, consentimento para arrecadar”.

De acordo com Kohama (2008, p. 60), receita pública é

[...] todo e qualquer recolhimento feito aos cofres públicos, quer seja efetivado através de numerário ou outros bens representativos de valores – que o Governo tem o direito de arrecadar em virtude de leis, contratos ou quaisquer outros títulos de que derivem direitos a favor do Estado –, quer seja oriundo de alguma finalidade específica, cuja arrecadação lhe pertença ou caso figure como depositário dos valores que não lhe pertencerem.

A partir destes conceitos, entende-se que receitas públicas são todos os recursos que as entidades públicas arrecadam com vistas a dar continuidade às suas atividades administrativas, manter a máquina pública e servir para os gestores aplicá-los visando o bem comum, seguindo os instrumentos de planejamento estatal.

Se tratando do conceito de receita, o Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público (MCASP) traz a abordagem em dois sentidos em sua parte I da 6ª edição (STN, 2014), sendo eles o sentido amplo e estrito.

Em sentido amplo, os ingressos de recursos financeiros nos cofres do Estado denominam-se receitas públicas, registradas como receitas orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário, ou ingressos extraorçamentários, quando representam apenas entradas compensatórias. Em sentido estrito, chamam-se públicas apenas as receitas orçamentárias.

Neste contexto, a receita pública, em sentido amplo, pode ser orçamentária ou extraorçamentária, diferenciando assim as que pertencem ao orçamento e, que, portanto, pertencem ao patrimônio e causam um aumento financeiro aos cofres públicos. Por não integrarem a LOA, os ingressos extraorçamentários são de caráter temporário e compensatório, sendo o Estado mero depositário dos valores.

A Lei n.º 4.320/1964 aborda a receita pública e faz uma menção à LOA, definindo que “compreenderá tôdas as receitas, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei” (BRASIL, 1964, art. 3º). Segundo Cruz (2009, p. 47), conforme o art. 3º da Lei n.º 4.320/1964, “receita, pelo enfoque orçamentário, são todos os ingressos disponíveis para cobertura das despesas orçamentárias e operações que, mesmo não havendo ingresso de recursos, financiam despesas orçamentárias”.

Em consonância com o que foi abordado sobre receita orçamentária na Lei n.º 4.320/1964, a mesma define que “não se consideram para os fins deste artigo as operações de credito por antecipação da receita, as emissões de papel-moeda e outras entradas compensatórias, no ativo e passivo financeiros”(BRASIL, 1964, art. 3º, parágrafo único).

Neste contexto, outro artigo desta mesma Lei (1964), traz que “serão classificadas como receita orçamentária, sob as rubricas próprias, tôdas as receitas arrecadadas, inclusive as provenientes de operações de crédito ainda que não previstas no Orçamento” (BRASIL, 1964, art. 57). Portanto, todas as receitas arrecadadas são classificadas como orçamentárias, mesmo não estando previstas em LOA, exceto os ingressos de recursos financeiros de caráter temporário.

Quanto à classificação da receita pública, Silva (2004, p. 103) classifica quanto à natureza como orçamentária ou extraorçamentária; quanto ao poder de tributar, sendo receita Municipal, Estadual ou Federal; originária ou derivada quanto à coercitividade; efetivas ou por mutações patrimoniais quanto à afetação patrimonial; e ordinária ou extraordinária quanto à regularidade.

Conforme o art. 11 da Lei n.º 4.320/1964, as receitas orçamentárias podem ser classificadas em duas categorias econômicas: Correntes ou de Capital. De acordo com a referida Lei, estas categorias têm as seguintes definições (BRASIL, 1964, art. 11,§ 1º e 2º):

§ 1º - São Receitas Correntes as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes.

§ 2º - São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente.

As Receitas Correntes e de Capital são ingressos financeiros que têm como objetivo o financiamento das ações definidas no orçamento. De acordo com a 6ª edição do MCASP, uma das principais diferenças entre estas duas classificações, é que, diferentemente das Receitas

Correntes, “as Receitas de Capital em geral não provocam efeito sobre o Patrimônio Líquido” (STN, 2014, p. 36).

O Anexo Ementário da Receita (STN, 2014) e o Anexo I da Portaria Interministerial STN/SOF n.º 163/2001 trazem os desmembramentos em códigos de receita, conforme classificação especificada na lei do orçamento. A Portaria Interministerial STN/SOF n.º 163/2001 define que “a classificação da receita, a ser utilizada por todos os entes da Federação, consta do Anexo I desta Portaria, ficando facultado o seu desdobramento para atendimento das respectivas peculiaridades” (STN/SOF, 2001, art. 2º). Assim, as categorias econômicas são desmembradas em origens, que são desmembradas em espécies e estas últimas em rubricas (STN, 2014, p. 35). As rubricas são desmembradas em alíneas, que poderão ser divididas em subalíneas (STN, 2014, p. 35).

As receitas devem ser registradas conforme os códigos estabelecidos, assim como com seu código de Fonte de Recursos. A classificação por Fonte de Recursos permite identificar as receitas que financiam determinadas despesas. Esse mecanismo permite o cumprimento do que é tratado na LRF: “a disponibilidade de caixa constará de registro próprio, de modo que os recursos vinculados a órgão, fundo ou despesa obrigatória fiquem identificados e escriturados de forma individualizada” (BRASIL, 2000, art. 50, inciso I).

Assim, é possibilitado também o atendimento a outro parágrafo da Lei: “Os recursos legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender ao objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em que ocorrer o ingresso” (BRASIL, 2000, art. 8, parágrafo único). Desta forma, os recursos serão destinados à finalidade a que eles estão propostos por sua classificação, sendo as suas fontes essenciais para a devida destinação.

Neste contexto, as receitas são importantes para o Estado, pois a partir delas é possível cumprir as suas obrigações e atender às necessidades da população. Cada órgão e entidade pública deve buscar a arrecadação de receitas com vistas a custear suas ações objetivadas em lei do orçamento, devendo utilizá-las de maneira mais eficiente e responsável.