• Nenhum resultado encontrado

1. Introdução

2.2. Receita para um Estágio Profissional

As expectativas deste ano coadunaram-se com a minha forma de estar e filosofia de vida. Queria extrair o máximo que conseguisse no tempo que cá estivesse. Onde estou, estou a 100%, claro está, atendendo a todas as responsabilidades dos meios de trabalho onde estive inserido. Acredito na responsabilização máxima das minhas ações, se algo falhou é culpa minha se algo correu bem é mérito meu. Desta forma, tenho a garantia que vou aprender com os dois outcomes. Embora seja cliché, ter a desenvoltura de percecionar algo de positivo em qualquer momento ou campo da nossa atividade não é fácil. É algo que atribuo a uma forma de estar, de pensamento constante e redireccionamento para o pretendido ou idealizado em impulsos nervosos que tento manter presente. Não vou dizer que a paixão da minha vida é o ensino nas escolas. Até porque não penso ter conseguido ainda definir uma paixão, algo pelo qual mova fundos e mundos para alcançar. Honestamente acho difícil conseguir faze-lo aos 25 anos, quando considero haver ainda tanto para aprender e explorar. Ter o discernimento de apreciar o singular, destreza para domar o todo, leva tempo, experiência e sabedoria. Contudo este mestrado é o único que me dá uma profissão garantida, não garantidamente que a consiga exercer. No entanto gosto de trabalhar com crianças. A minha paixão momentânea é com o desporto, seja este expresso de que forma for. Não tinha

13

uma expectativa formulada, bem delineada, sentia-me preparado para o que viesse, pois não tendo medo de errar o que viesse era sempre aprendizado, vim consciente da condição de eterno aprendiz que considero ser inerente à profissão de professor, alinhando-me com as palavras de Queirós (2014, p. 70) quando nos diz que “a aprendizagem da docência não se inicia com o ingresso na profissão, é um processo construído ao longo da vida, desde a escolarização inicial, momento em que se constituem crenças e conceções que serão submetidas à reflexão e questionamento nos cursos de formação inicial”.

“Porque educar é crer na perfetibilidade humana, na capacidade inata de aprender e no desejo de saber que a anima, no haver coisas (símbolos, técnicas, valores, memórias, factos…) que podem se sabidos e que merecem sê-lo, na possibilidade de nos podermos – nós, os homens – melhorar uns aos outros por intermédio do conhecimento” (Savater, 2006, p. 25). Assim vejo o meu papel na escola e só acreditando ferverosamente nesta ideia conseguirei fazer face aos ardores do ensino, às pedras no caminho, aos contras de todas as circunstâncias com prós.

– Diário de Bordo 4, 10 de outubro a 14 de outubro

Talvez me identifique com a docência e tenha tomado este caminho pela similitude com a minha condição de aprendiz incurável anteriormente referida e com a vontade de contribuir para melhoramento do Homem de que Savater nos fala.

Vi pois no EP, o laboratório que sempre fui ambicionando desde o começo das minhas vivências na faculdade. Ter a oportunidade de aplicar, engendrar, reconstruir, modelar, refletir e voltar a fazer tudo de novo. Tudo num ambiente controlado e de aprendizagem. Passar da teoria à prática foi assim uma mais-valia do EP. Este “constitui uma peça fundamental da estrutura formal de socialização inicial na profissão, isto é no processo pelo qual os candidatos à profissão vão passando de uma participação periférica para uma participação mais interna, mais ativa e mais autónoma, no seio da comunidade docente, através de um processo, que se quer gradual e refletido, de imersão na cultura profissional e de configuração e reconfiguração das suas identidades profissionais” (Batista & Queirós, 2013, p. 47). Assim esta “passagem a

14

estagiário significa uma descontinuidade tripartida: da instituição de formação para a escola, de aluno para professor, da teoria para a prática, destacando-se como fortes e marcantes factores de socialização o contexto prático em que se passa a actuar e os elementos que têm responsabilidade de o avaliar” (Cunha, 2008, p. 122).

Em suma, não podemos dizer que existe uma receita estereotipada, mas uma súmula de ingredientes que cada um deve trabalhar, talvez o meu preparado precisasse de uma dose maior sobre as questões da gestão da aula, talvez fosse um pouco mais de aplicação prática de conhecimentos ou talvez uma medida média de ambos, não saberia dizer. Assim o EP veio dar resposta às necessidades de cada um que se propôs a este, por certo que as necessidades de cada um não foram as mesmas e que os proveitos foram diversos.

Tendo eu experienciado todas as fases a que este se propõe no crescimento do estudante-estagiário compondo este fragmento a consciencialização da minha primeira dificuldade face à gestão da aula.

Por último, na última aula lecionada por mim foi onde me senti verdadeiramente frustrado. “Importa reconhecer que entre aquilo que o professor ou o treinador pretendem dizer e aquilo que efetivamente dizem pode haver diferença, que aquilo que o praticante ouve não é, necessariamente, aquilo que compreende, e aquilo que compreende não é, também, muitas vezes, retido ou, finalmente, executado” (Rosado & Mesquita, 2011, p. 72). Aliado a este ponto é também importante garantir a qualidade da informação, que segundo Rosado & Mesquita (2011, p. 75) tem três fases: “uma fase de instrução propriamente dita, uma fase de controlo da qualidade dessa informação e uma fase, eventual, de reformulação dessa informação.” É daqui que deriva a minha sensação de frustração, pois considero ter falhado na segunda fase e consequentemente na última. Ao longo da aula a minha principal preocupação centrou-se na gestão da aula. Devo referir que embora não estivesse no plano lecionei a aula em grupos diferentes. Sei bem que isto é possível na minha turma devido à forma responsável de estar na aula por parte dos alunos. Assim, havia dois grupos de níveis diferentes e a minha instrução era direcionada primeiro a um grupo que colocava logo em atividade e depois ao

15

outro grupo. Foi acontecendo sucessivamente ao longo de todos os exercícios da aula exceto a condição física. Adjudico a este aspeto a razão pela qual estive muito tempo preocupado com a gestão da aula, ficando com a sensação de tarefeiro e não de professor. Com isto, não consegui concentrar-me tanto em identificar erros, emitir feedbacks, preocupar-me com a qualidade da informação transmitida e com a compreensão desta como referido anteriormente.

– Diário de Bordo 3, 3 de outubro a 7 de outubro

Num segundo ponto surge o meu crescimento aquando a caminho da segunda fase.

O tema principal esteve relacionado com as fases de aprendizagem que o estudante estagiário (EE) experiencia ao longo do ano de estágio. Numa primeira fase, conseguir o controlo da turma, numa segunda uma evidência da problemática da gestão da aula a sobrepor-se ao domínio do conteúdo e posteriormente uma eficaz abordagem dos conteúdos por ter ultrapassado estes dois níveis. Em retrospetiva, todos nós pertencentes ao núcleo de estágio (NE) ultrapassamos já a primeira fase e no que ao controlo da turma diz respeito não temos dificuldades. De momento, uns mais que outros ou evidenciando algumas lacunas e pontos diferentes, encontramo-nos no segundo estádio, relativo à gestão da aula. É essencial perceber a combinação do conhecimento do conteúdo com o conhecimento pedagógico, como fundamento da compreensão da importância de todos os elementos do ensino da EF (Capel & Whitehead, 2010). Neste sentido, importa não só dominar o conteúdo mas acima de tudo ter a capacidade de integrá-lo no desenrolar e gestão de todas as componentes da aula. Este ponto é onde apresento um maior hiato. Foi-me evidenciado pelos intervenientes na reunião, com o qual estou em plena concordância. Principalmente na abordagem aos jogos desportivos coletivos tenho imensa dificuldade na gestão da aula, na escolha dos grupos de trabalho e nas adaptações imprevistas que necessariamente tenho de fazer. Tal como referido acima, este aspeto tem afetado a minha habilidade em transmitir eficazmente aos alunos os conteúdos a abordar.

– Diário de Bordo 8, 7 de novembro a 11 de novembro

Dando seguimento ao acima exposto chega a consciencialização do avanço e crescimento que fui tendo ao longo do EP. Traduz uma perceção sobre a

16

evolução das minhas colegas do NE, que por sua vez reflete também o meu alcance a esta terceira fase em que a gestão da aula e o domínio do conteúdo são questões ultrapassadas.

Um segundo ponto sobre o qual gostaria de discorrer tem que ver com o crescimento e evolução das minhas colegas de estágio. Após as observações e agora aqui sentado em frente a este teclado dei por mim a pensar no nível de evolução que elas demonstraram. Quando vivemos o quotidiano a diferença é parca e a mudança nunca vem com grande alvoroço, mas quando nos retiramos para fora da pintura olhamos para a primeira pincelada e agora para os contornos da obra de arte a meio de ser finalizada percebemos a mudança significativa que ocorreu. Bem me lembro dos primeiros momentos em que os planos de aula demoravam dias a ser terminados, em que aulas eram uma azáfama tarefeira para que os tempos de exercitação batessem certo, para que todo fosse dito como deveria ser dito para que chegados ao fim da semana os erros tivessem diminuído e o à vontade aumentado. Agora, as preocupações são com o detalhe, com a melhoria de determinado aspeto, como por vezes a gestão psicológica e de relacionamento entre os próprios alunos, bom, apraz-me dizer que estão num patamar diferente. Deleitado com a extrapolação e contente por tomar parte ativa desse crescimento. De uma forma geral, são muito mais seguras de si, mais robustas (num sentido de força mental) e menos preocupadas com a possibilidade do erro pois já entenderam que tudo faz parte do processo e sem ele é bem mais difícil haver um crescimento significativo. Como o diz Anthony Robbins (2003, p. 96) “as pessoas de sucesso estão dispostas a fazer o que for preciso para terem sucesso” e elas tem-lo feito, o que é de louvar.

– Diário de Bordo 23, 27 de fevereiro a 3 de março