• Nenhum resultado encontrado

1. Introdução

2.6. O STAFF desta cozinha

“Os olhos viram as letras do tempo” (Cury, 2005, p. 97) e ao longo deste ano eu fui observando e escrevendo o meu livro, tendo o privilégio de contactar com pessoas fenomenais que por meio do meu humilde parecer os coloca no auge do ensino em prol do alunos e não numa educação correspondente aos interesses dos educadores, mais que aos dos educandos (Savater, 2006). Toda a rosa carece de espinhos e também na escola existem humanos não tão interessantes com os quais contactei (o mínimo que consegui confesso) que me deixaram um pouco titubeante. Na constatação, sinto-me na melancolia de Pessoa uma vez que “a educação constitui algo de semelhante a uma obra de arte colectiva, que dá forma a seres humanos em vez de escrever no papel ou de esculpir o mármore” (Savater, 2006, p. 96). Por certo, se nem todos os artistas são exímios a obra pode dar-se por terminada pobre e desfalcada. No que ao grupo de EF diz respeito também assim o foi. O ambiente entre todos

26

foi cordial, de respeito e de consideração pelo outro. No entanto, não bastaria simplesmente seguir os preceitos da boa educação uma vez que por lá estivemos com o propósito de cumprir uma função e aí considero que alguns ficaram aquém das expectativas. “Numa palavra, pores-te no lugar do outro é

tomá-lo a sério, considerá-lo tão plenamente real como tu próprio” (Savater,

2005, p. 109). Esta noção do outro foi uma variável constante entre todos os professores do grupo de EF e que nem todos souberam respeitar.

Com respeito ao NE devo dizer que este foi um ponto central ao longo deste período, se não mesmo o tronco sobre o qual se desenrolou toda a ação do meu EP. “Todos gostam de ser lisonjeados, mas quando o elogio é específico, a sua percepção é de sinceridade – e não algo que se diz apenas para que o outro se sinta bem” (Carnegie, 2015, p. 246). Assim, pude ver no seio do NE, um lugar de sinceridade e honestidade, de análise e apreciação construtiva (não direi crítica construtiva porque ainda assim, é crítica). O acrescento que pudemos dar aos outros dentro do NE foi enorme e penso ter «sentido na pele» a justificação que toda a literatura aponta para a importância e o lugar que este ocupa no EP. “Cada acção tenta fazer algo por determinado motivo, de acordo com uma linha de pensamento do sujeito e não por coacção irresistível das leis físicas da realidade ou por um não menos irresistível impulso instintivo” (Savater, 2003, p. 41). Assim, todos estivemos sobre a mesma linha de pensamento o que nos levou a agir ao longo deste ano na convergência do crescimento mútuo e na realização de um ano proveitoso, preenchido e recompensador.

Foi um lugar não só de trabalho, de azáfama tarefeira…

É também um espaço de partilha de opiniões, conversa sobre alguns problemas sentidos e formulação de soluções ou sugestões sobre formas de os resolver. Ao longo desta semana todos nós colegas de estágio estivemos mais tempo na escola para além do horário estipulado, por entendermos ser necessário ajudarmo-nos mutuamente e reunirmo-nos para a formulação das fichas com os critérios das avaliações diagnósticas, a ficha de observação a ser utilizada por nós quando vamos observar a aula dos colegas e iniciar outras tarefas inerentes ao EP.

27

Mas também de crescimento, partilha, complemento, vivências. Um lugar de descontração séria e labuta meritória.

Não poderia deixar de referir o trabalho desenvolvido até então pelo NE. E a hora é oportuna para expor um acontecimento. Durante a tarde de terça-feira, uma vez mais tal como referido anteriormente, ficamos a trabalhar na escola. O que é certo, é que trabalho pouco adiantamos, no entanto, partilha de experiências houve e muita. Ao longo da tarde fomos discutindo sobre a ação de formação que temos de preparar, sobre o qual a temática se desenrolará sobre a ginástica (ou assim temos alinhavado). Tive a oportunidade de partilhar com as minhas colegas, um pouco do meu entendimento sobre a modalidade, visto ter alguma formação e experiência empírica na área. A discussão alargou-se e as horas passaram-se, curiosamente no fim acabamos todos por concordar e passo a transcrever “é isto que levamos do estágio”. “Das expetativas enunciadas pelos estudantes estagiários, a relação com o grupo de estágio surgiu como a mais relevante. Os discursos revelaram uma preocupação imediata com aspectos relacionados com a dinâmica de trabalho coletivo, necessária no processo de aprendizagem formativa, no qual a atitude colaborativa é imprescindível ao desenvolvimento das tarefas de estágio” (Costa et al., 2013). De facto, assim o é. A partilha de experiência, a sobreposição de pontos fortes e supressão de pontos fracos entre nós, elevam o NE nos propósitos em que este foi idealizado.

– Diário de Bordo 2, 26 de setembro a 30 de setembro

Certos de que um dia, o final nos bateria à porta.

O desselar do momento é oportuno e a hora acertada para resvalar sobre o NE, este tem sido fruto de divagações percucientes sobre vários temas que estão relacionados com o ser professor. E ao sermos desta feita professores – além disso estagiários – as dúvidas assaltam-nos, os procedimentos certos a tomar face à rebeldia dos alunos, nunca estão certos, mas também não estão errados. Por vezes nem com o miscrar dos pensamentos chegamos a uma conclusão. Ainda assim, reina o argumento acerto, o raciocínio cuidado, com disponibilidade e vontade de ser mais e melhor. Ao aproximar-se do fim, sobressalta-se a hombridade dos momentos que fomos passando, maus, tensos, frustrados, bons, hílares, joviais e divertidos. Fomos tentando por meio de atitudes construir um corpo de conhecimentos e lembranças que certamente resistirá às areias do

28

tempo, pois considero que as atitudes são aquilo que fazemos, e os valores aquilo que pensamos e que está na génese daquilo que fazemos! Assim num surtido de personalidades fomos coexistindo domados pelo rigor e compromisso, certos do termo que um dia chegaria.

– Diário de Bordo 33, 15 de maio a 19 de maio